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domingo, 13 de junho de 2010

Diante das bombas, só destroços – A cultura do bom negócio no Ceará


Por Alexandre Lucas

A Expocrato vem a cada ano sendo alvo de críticas no que diz respeito a sua programação cultural. As argumentações são justas e pertinentes diante das atrocidades de exclusão dos artistas da região do Cariri num dos principais eventos regionais. É notório, que esse evento público (privado) só serve para encher os bolsos dos empresários das grandes bandas que fazem parte de um monopólio musical.
Vale destacar que a concessão para exploração privada do evento é publica e não estabelece critérios para que seja garantida a diversidade musical e a inclusão dos artistas neste mega evento.
O fato é que a Expocrato tornou-se um bom negócio para poucos. Poucos estilos musicais, poucos artistas do Cariri, poucos que lucram. Pouco desenvolvimento e rendimento para região, do ponto de vista, da formação de platéia, afirmação de identidade e diversidade cultural e de turismo cultural e sustentável.
O fato é que essa política do “pão e circo” é recorrente em todo o Estado do Ceará e vem provocando uma insatisfação generalizada por parte dos artistas ligados a música cearense que vem perdendo espaço com políticas equivocadas como o “Férias no Ceará” (O secretário de Turismo do Estado possivelmente nunca estudou nada sobre turismo cultural e sustentável, se estudou nunca entendeu) e as descaradas inaugurações ou anúncios de obras regadas pelas bandas ligadas ao monopólio da música, ou seja, as bandas que estão a serviço da reprodução do machismo, da homofobia, da violência, da vulgarização sexual, enfim da forma pela forma, que agora tem o sustentáculo financeiro do Governo do Estado. Fato que só nos faz lembrar algo típico da política desenvolvida nos tempos dos coronéis, aonde por qualquer motivo se fazia uma festa banhada através do desperdício de recursos públicos.
O dinheiro gasto com esse “bom negócio” (termo utilizado pela política desenvolvida pelo governo tucano de Fernando Henrique Cardoso que considerava a “cultura como um bom negócio”) possivelmente poderia ter proporcionado a circulação de grandes shows dos cearenses para os cearenses potencializando a diversidade musical do nosso povo, bem como poderia ter servido para a gravação de milhares de Cds, muitos artistas tentam há anos conseguir o mínimo de recursos gravar o seu trabalho. Já as bandas do tipo “chupa que é de uva” basta piscar os olhos para fazer um “bom negócio”.
Essa postura assumida pelo Governador é contrária a conjuntura nacional e estadual no campo das políticas públicas para a cultura. Contraditória até mesmo com a política defendida e executada pela Secretária de Cultura do Estado do Ceará. O Secretário Auto Filho como todo cearense deve ficar encabulado, mas acredito que ele também fica indignado.
Essa pratica despeita e rasga as resoluções da constituinte cultural, das conferências municipais e estaduais da Cultura. Será que o Governador nunca teve acesso as informações destes fóruns? Será que ele desconhece as reivindicações dos trabalhadores da arte? Será que ele sabe que nestes fóruns os cearenses defenderam o nosso patrimônio, inclusive da música e do direito a diversidade musical? Acredito que sabe sim! Mas enquanto isso prefere financiar a chacina do “jogaram uma bomba no cabaré”.
Enfim uni-vos contra a barbárie cultural.

*Coordenador do Coletivo Camaradas, pedagogo, artista/educador e membro do Conselho Municipal da Cultura

PS. No Crato, o Conselho Municipal da Cultura dará um passo importante na defesa e resistência de um outro formato de evento que privilegie a diversidade musical e a inclusão do nosso patrimônio, que são os nossos combatentes, os artistas.




TEATRO POPULAR NA CAPITAL DA CULTURA

No último sábado, dia 12 de junho de 2010, na Praça da Sé, em Crato-CE, encerrou-se a primeira temporada do espetáculo “A COMÉDIA DA MALDIÇÃO”, modalidade teatro de rua, no contexto do projeto “COMÉDIA NA RUA DAS TRADIÇÕES”. Cerca de seiscentas pessoas lotaram a arena montada pela Cia. Cearense de Teatro Brincante – Ponto de Cultura do Brasil, que teve como convidada a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, ícone da cultura tradicional popular brasileira.

A peça, escrita e dirigida pelo dramaturgo Cacá Araújo, serve como elo entre a contemporaneidade e as raízes culturais do povo nordestino, trazendo à cena o mito da Mula-sem-cabeça, numa grandiosa montagem que tem encantado crianças e adultos.

Orleyna Moura, atriz e assistente de direção, considerada a primeira-dama do teatro cearense, afirma que a experiência de integrar o teatro às manifestações do nosso folclore fortalece os caminhos para se consolidar a identidade nacional.




Dia seguinte, nem bem amanhecia o 13 de junho, a Cia. Cearense de Teatro Brincante, a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, amigos e familiares de Cacá Araújo, realizaram grande e emocionante homenagem pela passagem de seu aniversário. Marchas, frevos, baiões, xaxados e repentes foram entoados como a revigorar o coração brincante e sertanejo daquele matuto-ator.





Um registro de nascimento - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Aconteceu na sexta-feira. Num cartório de alguém muito querido no Crato, mas não vou revelar para não virar motivo de chacota. Um pai com as testemunhas, todos do Distrito do Romualdo entraram no cartório para registrar uma criança.

O funcionário de cara pediu o Documento de Nascido Vivo que é dado pela maternidade. O pai um pouco atrapalhado explicou:

- Nasceu em maternidade não! Aparado na rede. Dona Reimunda cortou o cordão!

O funcionário coçou a cabeça e a testa fez dobras de preocupação. Situação rara nos dias de hoje, quando a maioria faz pré-natal e nasce em maternidade. Consultou um colega para saber como proceder sem o tal documento. Afinal concluíram que as testemunhas serviriam exatamente para esta finalidade: dar credibilidade a quem nasceu, já que o próprio não possuía o verbo necessário para lá comparecer.

O funcionário abriu o livro e começou perguntando pelo sexo do recém-nascido. A pergunta gerou dúvidas no pai:

- Séquiço! Cuma é mermo? Séquiço? – o olhou com o rabo do olho para o compadre que servia de testemunha que deu de cotovelo na outra testemunha, levantando as sobrancelhas e repassando a pergunta. Esta, então, respondeu pelo pai.

- Bote aí no papel viu! O séquiço é muié!

A ladainha de perguntas, dúvidas e contribuições coletivas para as respostas. Para dizer a hora e o dia do nascimento: entre o primeiro e o segundo canto do galo. O nome dos avós foi lenha para resolver, dúvidas até pelos sobrenomes do lado do pai, imaginem para descobrirem o lado da mãe. Finalmente pergunta do nome que queria dar à filha.

O pai abriu um sorriso de superioridade completa, olhou para todos os presentes no cartório como se tivesse diante uma récua de desabonados pela inteligência. O olhar por cima girou o salão e terminou sobre o funcionário do cartório, do outro lado do balcão com as anotações á sua frente.

- Pode botá aí! O nome dela vai ser Jabulane da Silva.

O rapaz do cartório perguntou como ele queria escrever o nome se com um “i” ou um “e” no final. O pai, muito orgulhoso, deu a dica:

- Escreva ingual a bola! Mermim cuma a bola!

Um espírito de porco ouvia tudo com curiosidade. O funcionário folheava o jornal a do nome da bola da atual copa do mundo. O engraçadinho não se conteve e disse:

- Chuta a gol meu patrão!