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terça-feira, 16 de junho de 2009

Sua Alteza o Príncipe Dom Pedro Luiz – por Ibsen Noronha

(In memoriam)


A vida de um Príncipe tem sempre algo de legendário! O mistério que envolve o nascimento no seio de uma Família detentora de Direitos dinásticos cria expectativas para um sem-número de pessoas que conservam ideais transcendentais e inabaláveis… A morte de um Príncipe gera irremediáveis reflexões acerca da efemeridade das glórias e de tudo que é humano. A tragédia de um jovem Príncipe produz uma onda de especulações sobre o verdadeiro sentido da Vida.

Dom Pedro Luiz de Orleans e Bragança desapareceu na flor da juventude, na primavera da Vida. Nos seus poucos anos de existência procurou ser exímio em tudo que fez. Buscou desempenhar bem os seus deveres de dinasta do Trono do Brasil; e, com a discrição e o charme da alta Nobreza, defendeu e divulgou os ideais monarquistas.
Acompanhei Sua Alteza em duas viagens pela terra de seus antepassados – Portugal – e posso testemunhar seu empenho em representar a Família Imperial com brilho e grande dignidade. Aos dezessete anos representou seu tio, Senhor Dom Luiz, Chefe da Casa Imperial, em diversas solenidades de celebração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. A imprensa lusitana se entusiasmou com um jovem Príncipe, belo, militante e, sobretudo, piedoso, com marcada devoção a Nossa Senhora de Fátima. Pude me emocionar ao ver aquele descendente de São Luiz e São Nuno de Santa Maria ajoelhado, em oração aos pés da Imagem da Virgem em Fátima.

Evidente que um Príncipe que desassombradamente falava de Política e Religião jamais poderia deixar de entusiasmar, nestes tempos de crise e penúria moral. No Brasil, por diversas vezes, tive a honra de acompanhar mon Prince em eventos monarquistas. Suas intervenções, sempre breves, mas densas, serviam de estímulo para a defesa dos ideais de Restauração e de Moralização deste imenso Império chamado Brasil. A delicadeza de Dom Pedro Luiz para com todas as pessoas é outro aspecto inesquecível da sua personalidade. E o seu Amor pela Pátria edificava que bem soubesse observar mais esta virtude.

A Juventude não foi feita para o prazer, mas para o heroísmo! Certa vez citou esta belíssima frase de Paul Claudel. E comoveu a muitos… Eis uma verdade, uma grande verdade, que saída dos seus lábios calava profundamente nas almas. Dom Pedro Luiz foi levado jovem e não mais teremos a honra e o prazer do seu convívio. Voluntas Dei Pax nostra!Mas a sua memória será sempre lembrada com admiração e servirá de constante estímulo para grandes lutas e dedicações em prol da Monarquia.
Dizem os ingleses: the King never dies! De fato, a causa monárquica seguirá em frente e Sua Alteza, o Príncipe Dom Rafael honrará a Memória de seu querido irmão, dedicando a sua Vida a esta nobilíssima Causa, que é a Causa do Brasil. Que a Virgem Santíssima, Padroeira do Brasil, guarde Nossos Príncipes.
Ibsen Noronha - Professor de História do Direito da Universidade de Brasília. Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra

(Transcrito do Jornal do Cariri, edição de 16 de junho de 2009)

Passeio sentimental pelas ruas do Crato (final)

Saudades da Cinelândia

Hora de voltar para casa e encerrar o passeio. O sol estava quente e fazia um calor sufocante. Bebericava a garrafinha d’água enquanto fazia o caminho de volta. Fui pela Rua Dr. João Pessoa, antiga Rua Grande. Pensei sobre a mudança dos nomes das ruas do Crato, outrora poéticas e bucólicas: Travessa Califórnia, Rua das Laranjeiras, Rua do Fogo, Rua da Cruz, Rua da Palha, Rua da Pedra Lavrada, Rua da Saudade... Agora, na sua grande maioria, as ruas homenageiam personalidades políticas que pouco ou nada tiveram a ver com o Crato.

Nas imediações do Calçadão, senti uma tristeza profunda ao ver ainda baldio o terreno que antes abrigava o prédio do antigo Grande Hotel, onde no térreo funcionava a Lanchonete Cinelândia, ponto de encontro de várias gerações de cratenses, onde se tomava um concorrido café expresso, apesar de Genésio, um dos proprietários, não ser uma unanimidade como atendente bem-humorado. Pessoalmente, nunca tive do que reclamar. Genésio, talvez em atenção ao meu pai, de quem era grande amigo, sempre me atendeu bem, até com mesura. Várias vezes, ele me dispensou de pagar o cafezinho.

A Peste Burocrática – por Pedro Esmeraldo



Dizem que quem tem os olhos fundos começa a chorar cedo. Por isso, estamos aqui relembrando do plano do governo estadual em querer tirar do centro do Crato o Parque de Exposição Agropecuária já tem como desejo de esvaziar o Crato. Essas medidas obscuras de transplante de local, tornam-se intoleráveis, visto que não dão acesso aos pobres, em comparecer aos festejos agrícolas que anualmente, comemoramos com muita ênfase e para relembrarmos os efeitos memoráveis dos trabalhos dignos e da movimentação política e social ocorrida durante os anos subsequentes.
Nós, com essa mudança não seríamos contemplados com os festejos brilhantes e passaríamos a permanecer em uma situação de tristeza e de revolta, já que, não seriamos capacitados a nos deslocar a fim de participar desse grandioso festão.
Por essa razão, estamos relembrando ás autoridades locais, pedindo que lutem e não deixem de fazer movimentos contrários com o intuito de evitar essas diabruras de pessoas maldosas que tem por finalidade esvaziar o Crato para engrandecer outro município.
As vezes, pensamos que estamos sendo dominados por políticos maliciosos que têm vontade de esfriar o movimento progressista desta cidade e ao mesmo tempo, temos a nítida impressão que querem acabar com o nosso movimento expositivo, ludibriando o povo com promessas falsas, dizendo que querem dar presente ao Crato visto que trazem verbas avantajadas, que contemplarão com grandes movimentos apreciáveis que beneficiarão ao povo.
Lembramos ao digno povo que não caia mais nas conversas loucas, pois não devemos acreditar em políticos obscuros, dizendo serem amigos, mas o seu único o objetivo é impedir a cidade crescer com equilíbrio.
Já levaram grandes bens públicos desta cidade, é preciso dar um basta nisso pois, a terrinha não pode mais suportar economicamente esse movimento sombrio que nos vem impedir e avantajar o plano ação a fim assegurar o bom desempenho do poder executivo.
Falam em melhorar o Parque de Exposição com tecnologia moderna, mas asseguramos a esses inimigos do Crato que o Parque atual tem condições de empregar meios técnicos para acompanhar o modernismo.
Ainda, queremos lembrar a esses homens astuciosos e aventureiros, que aqui, só vêem a angariar votos, tirando a nossa fatia que seria os nossos votos, deixando-nos de lado os nossos préstimos para que nos agigantem em nosso crescimento. Por isso, somos favoráveis que haja movimento satisfatório em favor do voto distrital o que seriamos favorecidos somente com os candidatos locais e evitaríamos beneficiar esses mamelucos que vêem de fora.
Voltando o assunto da exposição, nós os cratenses, mesmo sem força política, vamos lutar com o intuito de impedir que mudem de local essa exposição, visto que traria uma grande lacuna no desenvolvimento da cidade. A exposição do Crato vem de várias décadas e tem como melhorar tecnicamente sem precisar sair desta cidade e por conseguinte, continuará no ritmo de crescimento e que no futuro próximo, ela se tomará uma das maiores exposições do país.
Enquanto a expansão da URCA, lembramos aos inimigos do Crato, por trás do terreno da agronomia (UFC), há um terreno fabuloso, com cerca de doze hectares para a construção da nova URCA. Dizemos ainda que com essa medida favorável, o povo agradecerá e ao mesmo tempo, ficará satisfeito, pois o local é muito aprazível e será um local que se adaptará ao movimento estudantil das três principais cidades do cariri.
Se quiser melhorar o parque apliquem dinheiro com carinho e dêem ao Crato o que ele merece.

Passeio sentimental pelas ruas do Crato (III)

Da Rua da saudade a saudade daquela rua
Do Largo da Rffsa, depois de constatar a impecável infra-estrutura montada para o São João Festeiro, evento promovido pela administração pública, decidi ir até a feira, já há algum tempo localizada na beira do canal, a partir do Mercado Walter Peixoto. Para chegar lá fui, inicialmente, pela Rua Almirante Alexandrino, com seus armazéns de secos e molhados e o mercado velho. Lembrei do tradicional caldo de carne com tapioca que lá degustávamos, nas madrugadinhas de domingo, depois dos bailes da vida. Dobrei na Rua Nelson Alencar, no trecho onde antes pulsava a Rua da Saudade, um nome poético para uma rua que abrigava os sonhos, as lágrimas e os sorrisos das mulheres de vida fácil (que não era fácil coisa nenhuma). Quando criança, morador da Rua Cel. Raimundo Lobo, distante dois quarteirões dali, sempre pisava a calçada daquela rua, quando ia comprar pão na Panificadora Progresso, bem próximo dos restaurantes O Guanabara, de propriedade do lendário boêmio Neném, e Gaibu Centro, pertencente a Zé Taveira, primeiro empresário da noite cratense. Ontem, quando pisei naquela artéria, que nunca deixou de sangrar, senti saudade de algo que não experimentei, mas, que, no entanto, sempre sentia.

Antes de adentrar a afamada Feira do Crato, passei antes em frente aonde funcionava as boates Pilão e Aquários, respectivamente cada uma no seu devido tempo. Lembro um pouco da Boate Pilão, ambientada em decoração rústica, feita à base de palha. Mas, lembro bem do Aquários, onde, nas noites de domingo, juntamente com meu irmão Helano e os amigos Coquil e Bolinha, ia extravasar a libido característica da puberdade. Tomávamos um trago de bebida e íamos, cheios de artificial coragem, tentar arrumar namorada. No mínimo, éramos contemplados com uma dança ao som romântico de Roberto Carlos, quando aproveitávamos para um esfregão mais demorado, que, na época, chamava-se “pinada”.

A Feira do Crato
A Feira do Crato continua pujante, colorida, movimentada; mas, muito diferente daquela do meu tempo de criança. Na década de 1970, a feira do Crato ocupava as principais e centrais ruas da cidade. E em cada rua, uma especialidade da economia local. A Rua João Pessoa se dividia entre cereais, leguminosas (arroz, feijão e milho) e farinha. A Rua Senador Pompeu, na altura do já demolido prédio onde funcionou o Clube Cariri, era o espaço de comercialização de rapadura. A Rua Bárbara de Alencar, entre os Correios e o Mercado Redondo (hoje o Palácio Alexandre Arraes, sede da Prefeitura), era o “departamento” de produtos artesanais: instrumentos (enxada, foice, facas, facões), utilitários (pote, esteira, vassoura, candeeiro, cachimbo), lúdicos (bonequinhos de barro e de madeira) decorativos (flores de papel crepom) e sacros (estátuas e imagens de santo). Por trás do Mercado Redondo, a feira de frutas e pescados.

Hoje, prevalece a comercialização de produtos industrializados em série, mas os produtos artesanais ainda resistem. O que não se vê, praticamente, são os artistas populares que, outrora, animavam a feira com música, poesia e dança. Nesta última segunda-feira, por conta da programação do São João Festeiro, um grupo de forró pé-de-serra animava os feirantes. E a animação que se celebrava por conta, chamava a atenção dos transeuntes.


A música do centro da cidade
Prossegui o meu passeio, saindo da feira fui em busca do centro da cidade. Passei na loja de Amilton, que vende CDs e DVDs, além de receber pagamento de títulos e contas. Mas, além de vender discos, Amilton é uma pessoa cuja decência nos torna cativa do seu convívio.

Lembrei, então, das lojas de discos que existiam nas imediações, há mais de trinta anos, como as Lojas Primo, O Rouxinol, Nazareno e Discosom.

Naquela época reinavam soberanos, os discos de vinil (compacto e Long Playing) e a fita cassete. Eram produtos caros e considerados supérfluos. Portanto, ouvia-se música, principalmente, no rádio.

O Crato tinha duas emissoras de rádio (que ainda existem): Rádio Educadora do Cariri e Rádio Araripe do Crato. Nas tardes de domingo, um programa era líder de audiência: o Paradinha 1020, transmitido pela Rádio Educadora e apresentado por Evandro Bezerra, desfilando as vinte músicas mais tocadas na semana. Lembro de alguns dos hits daquele tempo: Bilú Tetéia, Farofa-fá-fá, Emanuela (versão de uma canção italiana), Homem com H e a minha preferida, Nuvem Passageira, de Hermes Aquino, cuja letra era mais ou menos assim:

Eu sou nuvem passageira que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito que se quebra quando cai
Não adianta escrever seu nome numa pedra
Pois essa pedra em pó vai se transformar
Sou um castelo de cartas frágil como o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar


Difusoras de som e de sonhos
Quando sai da loja de Amilton, escutei por todo o centro da cidade o som da Rádio Centro, pertencente a Alemberg Quindins, o que me evocou as antigas difusoras existentes na pré-era do rádio local, como a Amplificadora Cratense, da qual o jornalista Huberto Cabral sabe detalhes mínimos. De uma delas, sei de uma história, que ouvi narrada da boca do próprio protagonista.

Luís Sarmento, natural de Cajazeiras, Paraíba, radicou-se muito jovem no Crato, casado que foi com dona Leda, uma das honrada filhas do senhor Zé Camilo, pessoa histórica pelo fato de ter conhecido o Beato José Lourenço, ao o qual serviu como motorista, transportando mercadorias e pessoas. O depoimento de Seu José Camilo faz parte do documentário Caldeirão da Santa cruz do Deserto, de Rosemberg Cariry, filmado em 1984.

Luís Sarmento, dono de uma amplificadora, que estava a dar-lhe prejuízo, a despeito do custo de manutenção ser mínimo, colocou-a à venda e por preço por demais proibitivo a qualquer um dos mais ricos cratenses. Queria, a todo custo, um caminhão em troca da primitiva emissora.

Só restava-lhe uma possibilidade, vender a o trambolho à Diocese do Crato, que, sabia-se bem, era a única que tinha condição de pagar tão alto valor. No entanto, era preciso provocar um alto e relevante interesse para que o senhor bispo, conhecido “mão-de-vaca”, viesse a adquirir a velha amplificadora, cujo maior valor era a sua penetração incondicional nos ouvidos e mentes dos cratenses. Não havia como fugir daquela “irradiação” se não fosse correr para o sopé da serra ou para outra paragem mais distante.

Luís Sarmento, sabendo deste importante e valioso detalhe, foi falar com o bispo. Disse-lhe que, como bom católico que era, vinha resistido a renitentes propostas dos protestantes para vender sua amplificadora, mas que a última proposta tinha sido irrecusável. Portanto, só faria negócio com os protestantes se o bispo lhe desse aval.

Fez negócio com a Diocese. Trocou dez alto-falantes, um amplificador e um microfone por um caminhão e quatro pneus.