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terça-feira, 16 de novembro de 2010

CARIRIANAS


SOBRE NÓS

Por Zé Nilton(*)

Recentemente peguei uma mania de ficar pensando pelas madrugadas adentro. Altas horas e eu ali matutando coisas. Antes me pegasse transido do alumbramento bandeiriano quando disse “pensando na vida e nas mulheres que amei”. Não é. Até porque, contrariando Martinho da Vila, pouco as tive. Conto nos dedos. E aqui pra nós eu não sei elas mas eu ainda hoje mantenho uma incomensurável paixão por cada uma. Ih, dirá você que “já passou, já passou”, ele continua com seus superlativos. E eu lhe direi: continuo.

Mas voltando, há momentos melhores pra gente pensar que quando nos entregamos às insônias das horas mortas? Só sabe quem se encontra no limiar da quadra perigosa dos sessenta. Estou nessa.

E assim pensando pensei noutro dia, na ante véspera do amanhecer, sobre a questão da identidade. Sobre os elementos formadores da identidade de um povo. Aí me veio à lembrança a famosa definição do termo Cariri, lida em todos os compêndios de história como sendo um qualificativo tupi, que significa – calado, silencioso –, em contraposição a outros índios tidos como palradores incoercíveis.

Para começo de conversa, após o Tupi o Cariri detém grande importância para a construção da identidade do povo brasileiro, notadamente do Nordeste. Povo numeroso ocupava grande extensão do Nordeste Central, abrangendo uma área cultural desde o norte da Bahia até o sul do Piauí, concentrando-se pelos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Só para você ter uma idéia, quando no Século XVIII inicia-se o paulatino processo de ocupação das terras do sul da província do Ceará, inaugura-se igualmente o processo de genocídio e etnocídio das populações indígenas por empresas portuguesas, paulistas e mesmo nordestinas, por um lado, e por outro por contingentes familiares à procura de terras para a criação de gado, de pedras preciosas e do enriquecimento fundiário. E no meio disto tudo as missões catequéticas fazendo um jogo dúbio entre religião e poder.

Mesmo antes da presença de entradas e bandeiras, de forças militares, de curraleiros e de aventureiros, é bom que se diga, os primitivos habitantes das terras do Nordeste já vinham sofrendo um lento processo de dizimação, mercê de guerras intertribais pelo domínio de melhores áreas para a sobrevivência. É sabido que os Índios Tapuias, como eram denominados todos os índios não tupis, tanto por estes como pelos agentes das entradas e bandeiras, habitavam primitivamente o litoral e sofreram um paulatino processo de expulsão por grupos tupi-guarani para o interior. No interior das províncias tiveram que lutar com outras tribos por locais mais amenos e urbertosos, como beira de rios, planaltos, baixios. O nomadismo indígena levou a extinção quando não aculturação e mistura com outras guildas como sobrevivência étnica.

Um momento de grande turbulência ocorreu na maior tragédia entre os índios do Nordeste de um lado, e de outro, de colonos, de posseiros, de vaqueiros, de militares e missionários na chamada “Guerra dos Bárbaros”, ou Confederação dos Cariris. A maior rebelião dos silvícolas em terras nordestinas se arrastou por quase cinquenta anos, entre 1683 a 1713, com períodos de tréguas, de menor ou maior combate. Os agentes sociais de cabo da superioridade pela força das armas de fogo, das estratégias de combate e do apoio vezes velados vezes por interpretações das dúbias leis do estado português, enfim cumpriram seu ideal, o enfraquecimento da moral indígena e sua rendição às entradas e posses de suas terras.

Este famoso levante por parte das populações indígenas, desde o Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará como um todo resultou numa tomada de atitude do conjunto das tribos frente ao moto-contínuo de violência, covardia, subjugação e escravidão de famílias indígenas praticados por hostes de ádvenas de todas as partes. Crônicas missionárias falam de homens brutais e sanguinários, desconhecedores de leis e de limites da condição humana, despreparados para o exercício da alteridade cujo único interesse a mover sua inteligência e bravura para adentrar os longínquos, desconhecidos e temerosos sertões resumia-se tão-somente na busca do enriquecimento.

Tribos da nação Cariri destas bandas dos Cariris-Novos participaram do levante contra os bárbaros a partir de 1713 como os Icó, os Cariri, os Jenipapo, os Jucá, os Cariú entre outras, na segunda fase da Guerra, declarada pelos índios mansos e aldeados.

A visão idílica e romanceada com a qual alguns historiadores e escritores descrevem a vida das populações indígenas não condiz com a realidade de sua permanência no solo brasileiro, principalmente no nordestino. Desde que o homem branco guiado pelos tupis domesticados e escravizados (os bárbaros) pisou em solo nordestino, plantaram uma rotina de beligerância e desassossego no seio dos povos indígenas.

Usaram e abusaram de seus adjutórios em conflitos estranhos a seus interesses, recrutando-os sob pena de severos castigos para servirem em frentes de batalhas em decorrência das invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco, da francesa no Maranhão, da guerra dos Palmares em Alagoas, do projeto expansionista da Casa da Torre, na Bahia, das lutas de potentados familiares como a dos Monte e Feitosa (nos Inhamuns e Cariri) e, por último, em movimentos pela independência como a Revolução de 1817 e na Guerra do Pinto ,em 1832. Saibam que o governo cearense convocou os últimos remanescentes indígenas para perfilarem-se juntos às forças restauradoras em favor da coroa portuguesa.

E saibam também quer quando ainda se chamava a nossa região de cariris-novos tribos que ocupavam seu espaço eram por demais fragmentadas em função dos embates tribo a tribo e dos constantes avanços de colonos e posseiros em guerras de conquista nesses tristes vales.

E digo mais, para extirpar de vez os últimos dos moicanos em terras caririenses, já que o grosso dos indesejáveis havia sido levados a pé para o litoral, em 1790, em 1860 guarnições bélicas dos estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará insurgiram-se contra remanescente dos Cariri, reduzidos entre Jardim e Milagres. Foi um massacre. O escocês Gardner noticia essas pobres figuras ainda tentando sobreviver, em 1834.

É isto. Nas minhas faltas de sono estou pensando em nós. Continuamos calados, silenciosos, arredios, amedrontados... Os bárbaros estão à vista, palradores e cheios de Crato.

Está tudo certo. Não há nada a dizer.

(*)*Antropólogo. Professor do Departamento de Ciências Sociais da URCA
E-mail: figueiredo.jnilton@gmail.com

O Mundo diz não aos dólares "fake" dos EUA - Eric Margois no Huffingyon Post

Este artigo de Margolis é o que melhor resume os resultados da Reunião do G20. Resultados que se traduziram por um tremendo não às políticas americanas de emitir 600 bilhões de dólares para tentar sair da crise. Isso já ocorrera com aquilo que o articulista chama de uma "bofetada que se ouviu em todo o planeta". Isso por que "a agência estatal chinesa de avaliação de créditos reduzindo a avaliação do crédito dos EUA e o questionando como economia líder do mundo". Na prática "a China denunciou “a deterioração da capacidade de pagamento” de Washington e previu que a emissão de bilhões em papel-moeda resultará “fundamentalmente em redução da solvência nacional”.

O articulista traduz bem o que significa a ação americana: "exportam inflação para o mundo inteiro, para reduzir sua gigantesca dívida, pagando os credores com dólares desvalorizados." A União Europeia, o Japão, China, Brasil e Rússia uniram-se na oposição à segunda “flexibilização quantitativa” de Washington, vendo nela uma ameaça à estabilidade financeira e ao comércio global. Também muito significativamente, reagiram contra a tentativa, pelos EUA, de culpar a moeda chinesa desvalorizada, pela instabilidade atual. Washington acusou a China de manipular sua moeda para mantê-la subvalorizada. Alemanha e Brasil, para grande embaraço dos EUA, acusaram os EUA de também manipular a própria moeda. O dólar depreciado faz crescer as exportações norte-americanas e prejudica as nações que exportam para os EUA. Os economistas chamam isso de “matar de fome o vizinho” – prática comercial destrutiva e predatória que teve papel importante na depressão mundial dos anos 1930.

"A onda de dinheiro fake de Washington está provocando erosão no valor do dólar, principal moeda de troca mundial. Nos dois últimos meses, o dólar norte-americano caiu mais de 6% em relação às principais moedas. Investidores assustados estão correndo para o ouro, que já valorizou 17% em 60 dias.

O governo Obama, que acaba de levar “uma surra braba” [dos eleitores nas eleições de meio de mandato, e precisa desesperadamente reduzir o desemprego, aposta que mais terapia de choque trará a economia de volta à vida. Mas a dívida interna, gigantesca, já levou ao colapso financeiro de 2008, nos EUA.

A dívida interna dos EUA atinge a cifra estratosférica de 14 trilhões de dólares. Ninguém trata vítima de envenenamento com mais veneno. É quimera imaginar que conquistaremos a prosperidade gastando dinheiro emprestado. Antes de 2007, os EUA viveram à larga, crendo em créditos inexistentes. Esse tempo acabou, mas ninguém se atreveu, até agora, a contar aos eleitores.

Além de desestabilizar o câmbio e o comércio, o maremoto de moeda norte-americana jorra sobre os mercados emergentes, onde os investidores norte-americanos vão em busca de melhores taxas de juro que os miseráveis 0,03% que encontram em casa.

De fato, é bem possível que os fóruns econômicos da semana passa na Coreia do Sul e no Japão tenham sido o começo do fim da era do dólar norte-americano, que comandou as finanças e o comércio planetário desde 1945. A fonte primária do poder dos EUA é a economia e a força financeira. O dinheiro tem mais poder que aviões bombardeiros e divisões aerotransportadas.

O dólar continua rei, mas a era de sua supremacia internacional parece estar terminando. À medida que o dólar enfraquece, enfraquece o poder dos EUA no mundo. A culpa por tudo isso é, integralmente, dos políticos norte-americanos e dos oligarcas de Wall Street.

Semana passada, Washington foi varrida por rara onda de bom-senso. Painel presidencial bipartidário sobre redução da dívida pública propôs corte de $4 trilhões nos gastos federais.

No alvo dos cortes propostos, todas as vacas sagradas políticas. O corte proposto na carne da mais sagrada delas – o orçamento militar – é da ordem de $700 bilhões. Um terço das bases militares dos EUA pelo mundo terão de ser fechadas. E terá de haver cortes na seguridade social e nos subsídios para hipotecas; aumento na idade mínima para aposentadorias; e congelamento total de vários dos projetos locais dos quais muitos políticos fazem meio de vida. Além de previsível aumento de impostos.

O ranger de dentes já começou. Infelizmente, cortes de gastos drásticos e impopulares são altamente improváveis, sobretudo num Congresso no qual Republicanos e Democratas estarão em eterno empate. Os EUA precisariam de um ditador econômico, para conseguir implementar todo o Plano de salvação proposto pelo Painel.

A China já tem o seu ditador econômico – por ironia, é o Partido Comunista. Os EUA, mortalmente viciados em guerras e dívidas, só têm paralisia política e fiscal."

Em outras palavra, acrescento a Margolis, o ditador econômico é o mesmo ditador político, não existe separação entre os dois. Não é repetição da história, mas um padrão a lembrar as ditaduras do anos 30.

Transportes públicos - Emerson Monteiro

Urgentes providências exigem os serviços públicos no Brasil, a exemplo dos transportes urbanos, que favorecem sobretudo os proprietários de automóveis, proprietários dos veículos e também das ruas todo tempo. Enquanto disparam suas bólides luxuosas e faiscantes para os lugares aconchegantes das residências e dos escritórios de lucrativas empresas, a pessoa tradicional, egressa das camadas já excluídas da grande massa humana, mofa pelas calçadas à espera dos ônibus trepidantes e morosos, na aventura pelo pão de cada dia.
Sempre falam nisso os parlamentares, no entanto as leis pouco representam dessa preocupação em termos práticos que demonstrem retorno correspondente do quanto custam os nossos legisladores dos três níveis. Notaram o drama do zé povinho dependurado, nos momentos de pico, nas portas empanturradas de gente até o gogó, sem ergueram a voz nas tribunas que traduza medidas correspondentes.
Desde que me entendo de gente vem sendo assim. O transporte público brasileiro deve séculos de respostas aos simples usuários das periferias na sua luta insana pelo sustento e pela sobrevivência, no ir e vir das cidades.
Nesse mundo a fora existem pesquisas de meios alternativos de combustíveis dos transportes, desde álcool de beterraba a energia elétrica, mesmo assim a gasolina ainda reinará por umas duas décadas. Barateando o custo de consumo por certo aparecerão chances de lembrar o operário, a faxineira, o estudante pobre, o pequeno empreendedor, no esforço de vencer distâncias.
O carro elétrico, no Japão, país limitado nas suas reservas petrolíferas, isenta de impostos os consumidores, facilitando uso e aquisição, numa possibilidade menos agressiva aos recursos naturais. A pesquisa da energia solar, outro meio alternativo, cresce todo momento, sem qualquer prejuízo ao meio ambiente, energia renovável e limpa.
Quando adotadas outras fontes energéticas, o petróleo achar-se-á liberado para novas aplicações durante a civilização tecnológica destes tempos petroquímicos.
A expectativa por isso de usar com mais racionalidade os instrumentos oferecidos pela natureza bem que pode somar elementos ao espírito dos governantes, no sentido de olhar a grande população em seu amplo aspecto. Será o que exige a democracia das ruas, livre de ver os índices populacionais qual peças de manobra e lucro das multinacionais, ausente de critérios justos no trato organização política.

O Paradigma da Atual Crise do Capitalismo - resumo de um artigo de Jorge Beinstein

Artigo Original - O naufrágio do Centro do Mundo

A crise pela qual passa o sistema capitalista mundial é um imenso desastre, provocando rupturas radicais, gerando processo amplo de decadência social. Vem da década de 70, deteriorando a cultura produtiva e a precarização laboral que diminui a pressão salarial sobre a rentabilidade capitalista e a competitividade internacional. Degradou a coesão laboral e o interesse dos assalariados pelas estruturas de produção. Ineficácia dos processos de inovação, déficit crônico do comércio exterior (nos EUA foi $815 bilhões em 2007).

Expandem-se os negócios financeiros e a concentração de renda. A expansão absorve capitais industriais e de atividades produtivas. Faltam recursos para as empresas se desenvolverem e competir, e o Estado para financiar gastos militares e civis. A concentração de renda nos EUA é o desastre: em 2007 os 1% mais rico da população absorveu 20% da Renda Nacional (em 1980 ERA 7%). Os 10 % absorvem quase 50% da renda nacional hoje.

A concentração além de não gerar poupança e investimento industrial, gerou consumo e negócios improdutivos. Consumo de tecnologias da informação e da comunicação num universo virtual acima do mundo mágico, onde fantasia e realidade se misturam. Resultou em desintegração social, aumento da criminalidade, criminalização de pobres, marginais e minorias étnicas. A população aprisionada é a maior do mundo nos EUA: 7,2 milhões de norte-americanos sob custódia judicial. Com menos de 5% da população mundial, têm 25% de todos os presos do planeta.

O centro dinâmico da economia dos EUA é o Complexo Industrial Militar convergindo o Estado, a indústria e a ciência. Em 2008 este Complexo gerou um gasto de 1,1 trilhões de dólares. Nesse ano, aproximadamente 30 milhões de pessoas (número equivalente a 20% da População Economicamente Ativa) viviam dele. Embora responsável pela expansão do consumo de massa, a partir daí ele se transformou em fator decisivo do déficit fiscal, causando inflação e desvalorização internacional do dólar.

A outra questão é que a sofisticação tecnológica se encapsulou nas armas e não em aplicações civis, reduzindo a competitividade industrial. A separação entre a ciência militar (devoradora de fundos e de talentos) e a indústria civil lembra o período terminal da ex-União Soviética. O Complexo está na raiz da decadência do Estado com perda da sua capacidade integradora (declínio da segurança social, predominância da cultura elitista em seus centros de decisão, etc.), da degradação da infra-estrutura, déficit fiscal crônico e aumento da dívida pública.

A dependência energética é um paradigma das agruras do futuro. Os EUA importam 65% do petróleo que consomem, num cenário mundial de redução da produção de petróleo por esgotamento das reservas. A substituição por biocombustíveis reduz a disponibilidade de terras agrícolas para alimentos, com aumento geral dos preços e efeito inflacionário. O EUA além de não aproveitaram a vantagem energética do século XX não aplicaram qualquer racionalidade para encontrar alternativas. Em parte por pressão das petroleiras cada vez mais detentoras do “espírito selvagem” do capitalismo e ávidas por lucros. Resultado: mergulharam na cultura de curto prazo da hegemonia financeira, subordinando-se completamente aos interesses imediatos dos grupos econômicos dominantes.

O modelo, revestido por um manto ideológico de liberalismo, subordinou o sistema tecnológico ocidental-moderno à cultura individualista (por exemplo, o automóvel), como estilo de vida dominante. Tal cultura vive da exploração intensiva de recursos naturais não renováveis ou na destruição dos ciclos de reprodução dos recursos renováveis. Desse modo o capitalismo industrial se tornou “independente” dos ritmos naturais, submetendo brutalmente a natureza. O que era progresso nos séculos XIX e XX, como a grande proeza da civilização burguesa, era uma de suas irracionalidades fundamentais.

O sistema produtivo perdeu dinamismo e recebeu transfusões de artificialidades: expansão do consumo privado (das classes altas), gastos militares e atividades parasitárias lideradas pelo sistema financeiro, provocando crescentes desequilíbrios fiscais, acumulação incessante de dívidas públicas e privadas. A dívida pública americana atingiu em 2008 a quantia de $ 9,5 trilhões e a dívida total dos norte-americanos (pública mais privada) estava em $ 53 trilhões o equivalente ao Produto Bruto mundial. As bolhas são a imagem de um caldeirão fervendo: consumindo muito além das suas possibilidades produtivas.

Os EUA passaram a observar na sua paisagem o levantar de vôos de uma série de tendências perversas: déficits comercial, fiscal e energético, os gastos militares, o número de presos e as dívidas públicas e privadas. Enquanto os corpos nocivos subiam, os objetos benéficos começaram a cair: redução da taxa de poupança pessoal e a queda do valor internacional do dólar, com declínio da supremacia imperial. Totalidade social decadente com convergência de fatos culturais, tecnológicos, sociais, políticos, militares, etc. Ó conjunto leva a uma visão da degradação do capitalismo estatista-keynesiano. Tem-se uma louca corrida militar contra um inimigo (terrorista) global imaginário, bolha imobiliária e das dívidas que estavam ocultas pelos números de aumento do Produto Interno Bruto e a sensação (midiática) de prosperidade.

Os EUA são o paradigma da crise mundial por ser o centro do mundo (do capitalismo global) e seu declínio é a redução do espaço essencial da interpenetração produtiva, comercial e financeira em escala planetária. Estamos numa trama muito densa da qual nenhuma economia capitalista desenvolvida ou subdesenvolvida ousa escapar (a não ser rompendo o funcionamento do capitalismo composto por classes dominantes locais altamente globais). A expansão econômica na Europa, China e outros países subdesenvolvidos e o efêmero japonês, foi apenas a prosperidade da expansão consumista-financeira norte-americana.

Os EUA tem 25% do PB Mundial é o primeiro importador global e principal cliente da China, Índia, Japão e Inglaterra, e o da Alemanha, fora da Europa. A rede dos negócios com produtos financeiros derivados (mais de 600 trilhões de dólares ou 12 vezes o Produto Bruto Mundial) articula-se a partir da estrutura financeira norte-americana. As bolhas que nascem nos EUA se espalham no mundo como, as ondas de uma pedra sobre as águas de um lago. A movimentação econômica do mundo articula-se a partir do mercado americano.

Os Estados Unidos consomem em excesso, pagando com seus dólares desvalorizados e impondo seu entesouramento (na forma de reservas) e títulos públicos, que financiaram seus déficits fiscais. Foi também, graças a esse parasitismo que europeus, chineses, japoneses, etc., puseram no mercado imperial as suas exportações de mercadorias e de excedentes de capitais. O parasitismo financeiro é norte-americano e universal e reproduz capitalismos centrais e periféricos que precisam ultrapassar seus mercados locais, para fazer crescer seus benefícios. A Europa Ocidental, o Japão e a China, exportam graças aos seus baixos salários (comprimindo seu mercado interno).

Em outras palavras é a própria “globalização” que está afundando: não a nave principal da frota (se assim fosse, numerosas embarcações poderiam salvar-se). Neste sentido as saídas apontadas não passam de ilusões conservadoras: descolamento de várias economias industriais e subdesenvolvidas da recessão imperial e renascimento do intervencionismo keynesiano. Nos países centrais houve um fenômeno duplo: degradação geral dos Estados submetidos aos grupos financeiros, perdendo legitimidade social e sendo progressivamente ultrapassados pelo sistema econômico mundial. O estado intervencionista (de raiz keynesiana) nos países centrais nunca desapareceu, apenas modificou as estratégias: reforçando a concentração de renda e os desenvolvimentos parasitários. Deixou de ser, ontem, integrador social, produtivista-industrial para ser, hoje, elitista, neoliberal e virtualista-financeiro. No mundo subdesenvolvido regrediu até ser triturado, e o retorno ao Estado interventor-desenvolvimentista é impossível: as burguesias dominantes locais, estão transnacionalizadas ou sob a tutela direta de empresas transnacionais.

A crise, neste sentido, seria da degeneração estrutural do Estado, sua insuficiência e sua impotência perante um mundo capitalista grande e complexo demais. Estaríamos numa decadência global (econômica-institucional-política-militar-tecnológica). Como os EUA não constituem um mundo à parte como a URSS, mas o centro da cultura universal, a implosão americana faria um estrago sem precedentes na história humana. Neste sentido esta seria uma crise superior à 1914 e afeta a todos, indistintamente. Todo o edifício de idéias, de certezas de diversos matizes, construído ao longo de mais de dois séculos de capitalismo industrial, está começando a apresentar rachaduras.

HOJE NA GUERRILHA (TERÇA-FEIRA, 16/11/2010)

TEATRO RACHEL DE QUEIROZ
Tel.: (88) 8801.0897 / (88) 3523.2168
Crato - Ceará - Brasil


19h00min - Palco: DONA PATINHA VAI SER MISS (Comédia Infantil, 50min), Cia. Teatral Anjos da Alegria


20h30min - Arena: BURRA, NÃO É NADA DISSO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO (Dança / Livre, 60min), Allysson Amâncio Cia. de Dança