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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

'Fui extorquido na Casa Civil', conta deputado - Assessor de Dilma Rousseff teria exigido 100 000 reais de propina

Em reportagem de VEJA desta semana, o parlamentar Roberto Rocha revela que assessor de Dilma Rousseff exigiu 100 000 reais de propina para agilizar processo que dependia de autorização do presidente Lula.

Extorsão na Casa Civil



Vladimir Muskatirovic, o Vlad, da Casa Civil, ao lado da ex-ministra Erenice Guerra. No destaque, Roberto Rocha. Em 2007, o deputado Roberto Rocha, do PSDB maranhense, obteve uma audiência na Casa Civil para tratar de um problema que já se estendia por anos. Como mostra a revista VEJA desta semana, contudo, Rocha não encontrou uma solução para seu problema na visita ao Planalto. Encontrou, isso sim, um outro exemplo de como um balcão de negócios operava na Casa Civil de Dilma Rousseff, Erenice Guerra e companhia.

Sócio da TV Cidade, retransmissora da Record no Maranhão, Rocha aguardava desde 2003 uma autorização para alterar a composição societária da empresa. Como as emissoras de televisão são concessões públicas, negócios desse tipo requerem a chancela do governo. Esse procedimento burocrático deveria ser rápido (na medida em que as burocracias são rápidas, é claro), mas acabou se alongando despropositadamente por razões políticas. Rocha é adversário dos Sarney no Maranhão. Dona de TV no estado, e influente no governo Lula, a família fez de tudo para atravancar o seu negócio. Como no Maranhão o apoio ou a oposição aos Sarney é um divisor de águas, Rocha contou até mesmo com a ajuda de petistas, como o deputado Domingos Dutra, para chegar à Casa Civil.

Lá, encontrou-se com o personagem central da reportagem: o advogado Vladimir Muskatirovic, o "Vlad", que atualmente ocupa a chefia de gabinete da Casa Civil. Subordinado de Erenice Guerra desde a época em que ela comandava a assessoria jurídica do Ministério de Minas e Energia, Vlad foi carregado pela chefe para a Presidência - da mesma forma como Erenice foi carregada por Dilma Rousseff, de quem era braço direito.

Dilma tornou-se candidata à Presidência da República pelo PT. Erenice assumiu a Casa Civil, mas foi derrubada do cargo por comandar uma central de tráfico de influência que beneficiava, entre outros, seu filho Israel. Vlad, no entanto, continua firme no governo. Como mostra VEJA - que ouviu também fontes da Casa Civil e do próprio PT -, ao receber o deputado Rocha ele pediu 100 000 reais de propina para resolver a sua pendência.

"Fui extorquido pela Casa Civil", diz Rocha a VEJA. A revista também narra como uma segunda reunião, no restaurante da Câmara dos Deputados, foi agendada para acertar as prestações. O primeiro pagamento - o único consumado - foi de 20 000 reais. Procurado por VEJA, Vlad negou, em nota escrita, ter pedido ou recebido propina.

Fonte: Revista Veja

Dilma e Serra são a mesma coisa? Entrevista com Chico Oliveira na Folha de São Paulo.

O professor emérito da USP, Francisco Oliveira, que rompeu com o PT logo no início do primeiro mandato de Lula foi entrevistado na Folha de São Paulo. A entrevista e os resultados de um estudo permitem uma narrativa mais precisa deste momento histórico. Por isso irei colocar esta entrevista na frente da matéria seguinte: A nova classe média: um avanço conservador? Esclareço que a pergunta é minha, não do Chico, mas como verão nas duas matérias o estudo complementa a razão pela qual o professor ver poucas diferenças entre os dois a presidente nestas eleições. No meu entender identificando o PSDB como o pior e a Dilma como o ruim. Mas aí leia a entrevista para chegar à própria conclusão.

Como ele avalia que ocorreu no primeiro turno? “fora o horror que os tucanos têm pelos pobres, Serra e Dilma não têm posições radicalmente distintas: ambos são desenvolvimentistas, querem a industrialização…Que os candidatos escondem problemas cruciais: “não se trata mais de provar que a economia brasileira é viável. Isso já foi superado. O problema principal é a distribuição de renda, para valer, não por meio de paliativos como o Bolsa Família. É escolher entre o ruim e o pior.

Sobre setores da igreja pregando o voto anti-Dilma por causa do aborto: “O aborto é uma questão séria de saúde pública. Não adianta recuar para atender evangélicos e setores da Igreja Católica. Isso não salva as mulheres das questões que o aborto coloca.” E diz que o tema só entra na campanha por causa do êxito econômico do país: Essas posições conservadoras ganham força. Há uma tendência a todo mundo ser bonzinho. Com o progresso econômico, há um sentimento de conformismo que se alastra e se sedimenta, as pessoas ficam medrosas, conservadoras. Isso está ocorrendo no Brasil. Gente da classe C e D mostram-se a favor de uma marcha de progresso lenta e contínua. Eles não querem briga, não querem conflito. Por isso o Lula paz e amor deu certo.”

Sobre a divisão do Brasil segundo a votação entre Dilma e Serra: “É um racha. Significa que a questão da desigualdade regional ainda é muito marcante. Aliás, essa é outra questão que está fora da discussão. O que fazer com as regiões deprimidas? Por baixo disso tudo está a velha história de que São Paulo é uma locomotiva que puxa 25 vagões vazios.Esse desequilíbrio vai criando a sensação de que há um lado pobre e um lado rico. Como se houvesse um voto comprado, de curral eleitoral, e outro consciente. Há de fato uma fratura, e isso ressurge em períodos eleitorais.”

Sobre terceira força política representada por Marina: “A ascensão dela se dá pela falta de radicalização dos dois principais, e a questão do ambiente é relativamente neutra. Não vejo eco na sociedade, a não ser de forma superficial. Não é um tema que toca nos nervos das pessoas. A onda verde é passageira.”

Sobre como se lerá no futuro o papel de Lula: “Getúlio Vargas é o criador do moderno Estado brasileiro, sob todos os aspectos. Ele arma o Estado de todas as instituições capazes de criar um sistema econômico. E começa um processo de industrialização vigoroso. Lula, é bom que se diga, não é comparável a Getúlio. Juscelino Kubitschek é o que chuta a industrialização para a frente, mas ele não era um estadista no sentido de criar instituições. A ditadura militar é fortemente industrialista, prossegue num caminho já aberto e usa o poder do Estado com uma desfaçatez que ninguém tinha usado. Depois vem um período de forte indefinição e inflação fora de controle. O ciclo neoliberal é Fernando Henrique Cardoso e Lula. Coloco ambos juntos. Só que Lula está levando o Brasil para um capitalismo que não tem volta. Todo mundo acha que ele é estatizante, mas é o contrário. Lula é mais privatista que FHC. As grandes tendências vão se armando e ele usa o poder do Estado para confirmá-las, não para negá-las.

Sobre o papel de Lula como cabo eleitoral: Ele acaba sendo um elemento negativo, mesmo com sua alta popularidade. O segundo turno foi um aviso. Há uma espécie de cansaço. Essa ostensividade, essa chalaça, isso irrita profundamente a classe média. É a coisa de desmoralizar o adversário, de rebaixar o debate. Lula sempre fez isso. Não vejo como uma ameaça. Mas o Lula tem um componente intrinsecamente autoritário. Ele não ouve ninguém, salvo um círculo muito restrito, e ele tem pouco apreço por instituições. Eu o conheço desde os anos de São Bernardo. Ele tem a tendência, que casa perfeitamente com o estilo de política brasileira, de combinar primeiro num grupo restrito e, depois, fazer a assembléia. Ele sempre agiu assim. Não é pessoal, é da cultura brasileira, ele foi cevado nisso. Mas não que ele queira derrubar a democracia.

E continua generalizando para a política nos sindicatos: Isso é da cultura política em que ele foi criado: o sindicalismo, que é um mundo muito autoritário, muito parecido com a cultura política mais ampla. E ele se dá bem, sabe se mover nesse mundo. As instituições de fato não são o barato dele. Mas ele não ameaça a democracia do ponto de vista mais direto nem tem disposição de ser ditador. Acho essas afirmações um exagero, uma maldade, até. Elas têm um conteúdo político muito evidente.

Ao comentar que “certa ala do PT, com José Dirceu… Esse tem projetos mais autoritários”, responde ao repórter sobre a força do Dirceu num governo Dilma: Acho que não. Porque Lula vigia ele de muito perto. Lula não gosta dele [José Dirceu]. Tem medo, até, do ponto de vista político. Ele veio de outra extração, a qual Lula detesta. Uma extração propriamente política, de esquerda.
Ao responder sobre o que pode acontecer num governo Dilma e Serra: Os governos tucanos têm horror ao povo. Isso não é força de expressão. É uma questão de classe social. Eles não têm contato com o real cotidiano popular. Eles não andam de ônibus, não têm experiência do cotidiano da cidade. Nem de metrô eles andam, o que é incrível. A cidade é grande, tem violência, a gente sabe. Mas eles não sabem como é o transporte, como são os hospitais, as escolas públicas. Há uma fratura real, eles perderam a experiência do cotidiano real. E isso não entra pelas estatísticas, só pela experiência. Por causa disso, o governo deles é sempre uma coisa muito por cima. Eles são pouco à vontade com o popular. Essa é a diferença marcante em relação a Lula. Sobre Dilma eu não sei. Ela pode também sofrer desse mal.

Finalmente a resposta sobre “do ponto de vista da evolução e da função dos movimentos sociais, qual dos dois é preferível?”: Eis uma questão difícil. Os tucanos, com esse horror a pobre, tendem sempre a aumentar essa fratura, essa separação. Os tucanos não têm jeito…

A nova classe média um avanço conservador?

O instituto de pesquisas econômicas, DATA POPULAR, acaba de concluir um estudo que parece demonstrar que uma nova classe média surge no Brasil. Isso tem relação com a entrevista dada pelo Sociólogo Francisco Oliveira, à Folha de São Paulo sobre a disputa eleitoral no Brasil. O mais importante deste estudo, a meu ver é o conservadorismo desta nova classe, substituindo a velha luta contra as forças que comprimiam o progresso dos pobres por um amplo movimento sustentado esta classe. Uma classe que evolui sobre uma base já criada pela sociedade e pelo Estado: escola pública, financiamento público, educação pública, previdência social, todas instituições que reduzem o embate dos assalariados contra o capital.

Os partidos políticos de esquerda e direita no Brasil mudarão muito e os que não mudarem ficarão na contramão deste fato. Do mesmo modo que a classe média tradicional teve um pico de crescimento no Milagre Econômico do governo Médici (inclusive pelas bandeiras do movimento Estudantil da época em busca de mais vagas nas universidades públicas) esta irá fustigar mudanças com a natureza do que veremos abaixo, criando uma maioria conservadora nos partidos políticos.

Claro que uma tentativa política muito clara de contrariar este movimento ou uma crise econômica mundial muito severa, poderá afetar este momento. O mais provável é que a força deste segmento possa dar ao Brasil um lastro duradouro de crescimento.

Vejam os dados segundo o texto original com alguns cortes.

“Na outra ponta os estudos econômicos mostram o surgimento da nova classe média: a juventude nas classes C, D e E. Fala-se muito no chamado "bônus demográfico" brasileiro – isto é, em um período extremamente favorável em que a maior parte da população estará integrando a população economicamente ativa. Nas classes A e B haverá um envelhecimento crescente. Nas classes C e D, preponderância dos jovens.

Na classe A os jovens até 16 anos representam apenas 17%. Na faixa dos 1% mais ricos, os pais ganham dez vezes mais que os filhos. Na nova classe média, apenas duas vezes mais. Com isso, são os mais jovens que influenciam as decisões de consumo das famílias. Na classe A, apenas 10% dos jovens estudaram mais do que os pais. Na classe C, 60%.

Agora sintam a onda conservadora: Para essas classes, o consumo tem um papel simbólico dos mais relevantes. Eles passarão a ditar as tendências, porque – ao contrário dos jovens das classes A e B – além do conhecimento recém-adquirido trarão um componente de luta e determinação novos. Para essa nova classe, o consumo traz o sentido de inclusão social – ou, para usar um termo do sociologuês, de "pertencimento". O segundo, porque representa a bóia capaz de tirá-los definitivamente do universo das restrições. Encaram também como oportunidade e investimento. Finalmente, a satisfação de necessidades e sensação imediata de prazer.

A classe C responde por 54% das vendas de calçados no sudeste, 55% no sul, 57% no centro-oeste, 62% no nordeste e 62% no norte. Em viagens, já responde por 51% das despesas no nordeste a 34% no sudeste. Nos serviços financeiros, detêm 60,2% das contas correntes, 61% dos cartões de crédito, 57,8% das contas de poupança, 63,6% etc.

A nova classe média já movimenta R$ 834 bilhões por ano (contra R$ 216 bi da classe A e R$ 329,5 bi da classe B); responde por 87% da população, 76% do consumo, 69% dos cartões de crédito e 82% dos internautas. O depoimento de uma consumidora classe C dá o fecho para o estudo: "Comprar é perceber que todo nosso esforço vale à pena, que dá para agradar todo mundo, ficar de bem com a gente mesmo".

MEU TIME PREDILETO - por Pedro Esmeraldo

Quando no tempo de criança, comecei a interessar-me pelo futebol e apreciar o time do Botafogo.

Naquela época, havia no time um grande jogador, “Heleno de Freitas”. Devido às suas jogadas geniais, às vezes com intrepidez numa movimentação da bola, era um jogador versátil, técnico e impetuoso.

Era um craque na acepção da palavra, não titubeava, era sóbrio, sem medo de enfrentar o adversário.

Quanto tinha interesse de ouvir partida de futebol, ligava o rádio de meu pai, ouvia uma das narrações do locutor Antônio Cordeiro, das quais configuravam os times do Botafogo e Vasco, ou em outra ocasião ouvia a narração do Botafogo e Flamengo. Sempre deslumbrava com as perícias do craque Heleno fazendo gols, a maioria de cabeça. Nesses dois times, que considerava dois grandes fregueses do Botafogo.

A partir daí, fiquei um fiel torcedor desse time e passei a praticar esporte de pelada no terreiro de minha casa.

Heleno era muito temperamental e por sua maneira intempestiva criava complicações raivosas em toda equipe futebolística. Por várias vezes, era expulso de campo por sua indisciplina.

Heleno deixa o Botafogo e foi se alojar no Vasco da Gama. Tempos depois a gente tomou conhecimento do falecimento de Heleno, talvez tenha sido por forte complicação raivosa que acarretou o embaraço físico em sua saúde.

Após a saída de Heleno, apareceram outros craques de renome no time do Botafogo, como a figura enciclopedista de Nilton Santos, a quem considero o maior jogador de defesa do Brasil de todos os tempos e outras figuras, como o endiabrado Garrincha, “o homem das pernas tortas”, que fazia miséria quando jogava com o Flamengo ou o Vasco, deixando todos com olhar pateta diante da platéia que freqüentava o Maracanã.

Nesta época o Botafogo tinha a melhor defesa do Brasil, constituída por Manga, Joel, Zé Maria e Nilton Santos, Arati e Bobe, e o ataque era contemplado com magistrais Garrincha, Didi, Paulinho Valentim, Quarentinha e Zagalo.

Esse time era entorpecente e vibrador. Dificilmente, poderia rebater a vitória a não ser quando houvesse falha no comando do campo.

Ainda me lembro das grandes desforras do Botafogo que passou, pois deixou um elo de paz de espírito e amor à arte futebolística.

Com a velhice que aparecia nos jogadores, surgiam outros craques, como o goleiro Paulo Sérgio, Marinho, Carlos Roberto e os atacantes Jairzinho, Rogério e Paulo César Lima, esses craques representavam uma maior reserva moral do futebol brasileiro.

Bem, o time do Botafogo depois se arrefeceu, no decorrer dos anos, já que houve o destempero da diretoria passada, deixando o time acabrunhado e ultrapassado no futebol brasileiro. Todo botafoguense pede que o time melhore e venha equilibrar-se para dar muita alegria ao seu fiel torcedor.

Crato, 11 de outubro de 2010.

Texto de autoria de Pedro Esmeraldo

Novamente o aborto - José do Vale Pinheiro Feitosa

O fato do aborto ter sido usado como arma de campanha eleitoral numa sociedade complexa como a brasileira leva e grandes contradições. Uma grande é o comportamento dos próprios casais. Nas classes economicamente mais desprovidas normalmente implica em mortes e danos à mulher e por isso o ex-Ministro da Saúde José Serra regulamentou o que estava em Lei para proteger estas mulheres. Nas classes com mais dinheiro existem médicos e clínicas "clandestinas" com algum apuro técnico e risco menor de complicações.

Antes que me entendam mal: falo no comportamento atual dos casais, mas não estou querendo dizer que isso é a grande maioria. Não é, mas acontece com uma frequência do ponto de vista epidemiológico muito relevante. O assunto é importante por que hoje mesmo tem a notícia de um panfleto ilegal, supostamente editado sob encomenda do bispo de Guarulho, contra a candidata Dilma e, portanto, favorável à candidatura Serra, cujo mote é o aborto. Então o assunto se mantém e continua mote da campanha, pelo menos de modo clandestino.

No sábado a Folha de São Paulo revela a confissão de uma ex-aluna de Mônica Serra, mulher do candidato, relatando que Mônica teria feito aborto numa situação de perigo, na ditadura militar quando eram jovens. A revelação da Folha deu uma revirada no assunto: se voltou contra a tática eleitoral do candidato Serra. Vejam neste insuspeito (não é um amigo do PT) artigo da Folha de São Paulo:

Folha de S.Paulo
FERNANDO DE BARROS E SILVA

Serra em transe

SÃO PAULO - Não resisto a uma provocação inicial: a blogosfera estaria em polvorosa e os serviços da ombudsman da Folha amanheceriam entupidos de mensagens indignadas contra o jornal se a notícia não dissesse respeito a Monica Serra, mas a Dilma Rousseff.

Isso dito, é claro que é polêmica a publicação do relato de uma ex-aluna da mulher de Serra dando conta de que ela (Monica), em sala de aula, revelou já ter praticado um aborto. Não se trata de uma notícia qualquer. Ela coloca em conflito o direito à informação, de um lado, e o direito à privacidade, de outro.

Haverá, neste caso, bons argumentos a favor e contra a publicação. Penso que a Folha acertou, por duas razões principais: com o aborto alçado a tópico da disputa eleitoral (e por obra de Serra), o episódio passou a envolver evidente interesse público. E, tão importante quanto isso: Monica Serra havia dito, há um mês, em campanha pelo marido no Rio, que Dilma era a favor de "matar criancinhas", numa clara alusão à posição da petista sobre o aborto. Ao assumir como sua, e nos termos que fez, a campanha do marido, Monica fixou para si as regras do jogo que estaria disposta a jogar.

O caso (tão desconfortável, tão cheio de implicações desagradáveis a quem o aborda) permite, ou exige, uma reflexão de ordem mais geral. O PT tem sido acusado, quase sempre com razão, de ser capaz de qualquer coisa para se manter no poder. Isso virou um mantra, a despeito da sua veracidade. Mas Serra não está se revelando, já faz tempo, alguém disposto a pagar qualquer preço para chegar ao poder?
Essa pantomima de devoção e carolice que se apossou da campanha tucana (e que nada tem a ver, como parece óbvio, com respeito efetivo pela religiosidade do povo) é a expressão patética de que tudo (biografia, valores, familiares) está sendo sacrificado em nome de uma ideia fixa. Serra sonha ser presidente. Mas se parece, cada vez mais, com o personagem de Paulo Autran em "Terra em Transe".

Marina oficializa neutralidade para segundo turno

Terceira colocada na eleição presidencial, Marina Silva (PV) oficializou na tarde deste domingo a opção pela neutralidade no segundo turno.

Em votação simbólica, a ex-presidenciável, que recebeu 19,6 milhões de votos, referendou a posição para a nova etapa da corrida presidencial.

Dos 92 votantes, apenas quatro declararam apoio a Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB). Mesmo Fernando Gabeira, o candidato derrotado ao governo do Rio que contou com o apoio do tucano no primeiro turno, preferiu a independência do partido.

Individualmente, os filiados estão liberados para aderir às campanhas da petista ou do tucano. É o que Gabeira faz ao endossar a candidatura de Serra.

"O fato de não ter optado por um alinhamento neste momento não significa neutralidade quanto aos rumos desta campanha", disse Marina, na convenção do PV em São Paulo, em um espaço cultural na Vila Madalena.

Ela leu carta aberta com críticas ao que chamou de "dualidade destrutiva" entre PT e PSDB. Segundo Marina, os dois partidos pregam a "mútua aniquilação" na disputa entre Dilma e Serra.

"A agressividade do seu confronto pelo poder sufoca a construção de uma política de paz", atacou a senadora. A verde prometeu ainda defender sua fé --ela é evangélica--, sem contudo usá-la "como arma eleitoral" --uma crítica à dominação da pauta religiosa nesta nova fase da disputa.

O secretário de Comunicação do PV, Fabiano Carnevale, afirmou à Folha antes da convenção que a cúpula do partido se comprometeu a não aprovar decisão diferente da de Marina. "Está combinado que a posição oficial do PV será a mesma de Marina. Vamos marchar juntos."

Fonte: Folha.com