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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

MENSAGENS ESPIRITUAIS PARA TODOS OS DIAS

Prezadas Amigas e Amigos,

Estou enviando abaixo duas mensagens espirituais do mestre indiano Sathya Sai Baba que devem ser gravadas em nossos corações (principalmente a primeira delas - dia 23/02/2011).

A primeira delas foi responsável pela minha saida da depressão no dia 23 de fevereiro último.

Atenciosamente,

Um abraço,

Bernardo



Pensamento para o Dia 23/02/2011
“A menos que uma crença seja mantida inabalável dia e noite, ela não pode ser usada para alcançar a vitória. Quando uma pessoa afirma que é inferior, desprezível e que tem muito pouco conhecimento, ela torna-se inferior, desprezível e seu conhecimento diminui. Nós nos tornamos aquilo que pensamos que somos. Nós somos os filhos de Deus Todo-Poderoso, dotados de supremo poder, glória e sabedoria. Somos filhos da Imortalidade. Devemos entender essa verdade fundamental e nos apegarmos a ela sempre. Quando vivemos nesse pensamento, como podemos ser inferiores e ignorantes? A cultura Bharathiya (Índia antiga) ordena a todos que acreditem que a verdadeira natureza do homem é suprema e que todos devem estar sempre conscientes dessa verdade.”
Sathya Sai Baba


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Pensamento para o Dia 28/02/2011
“Religião significa "experiência" e nada menos. É realmente lamentável que muitas vezes esqueçamos esse fato importante. Esse segredo deve ser impresso no coração de cada um, e somente então pode haver proteção e segurança. É preciso também compreender que as coisas não podem ser alcançadas apenas por esforço próprio; a Vontade Divina é a base de tudo. Princípios religiosos devem ser praticados e sua validade experienciada. Ouvir sua exposição não tem qualquer utilidade; aprender um conjunto de argumentos e conclusões e repeti-los como papagaio não é suficiente. Se eles apelam para o seu intelecto e são aprovados por ele como corretos, isso não o ajudará de forma algum; isso deve transformá-lo.”
Sathya Sai Baba

Sou o que faço de mim - Emerson Monteiro

A tradicional conceituação de existirem os três aspectos comuns de personalidade para formar a constituição da individualidade, quais sejam id, o eu primitivo; o superego, o eu ideal; e o ego, o centro real da pessoa, a consciência do eu, o que representa a base original de onde procede ao que se fará de si mesmo. Tais são conteúdos iniciais de um longo itinerário a chegar na transformação do ser rumo à realização maior das existências, o que se dará sob as leis fundamentais do reconhecimento dessa longa estrada, até a individuação definitiva. Há, em consequência dessa dialética, uma personalidade suprema das individualidades em formação, o que admite, desde as religiões mais arcaicas, passando pelas teses estruturalistas das escolas científicas que estudam a psicologia humana, uma confluência ao Eu verdadeiro, que ora recebe nomes diversificados, a depender dos códigos que aprofundam o assunto. Cristo, Senhor, Consciência Cósmica, Suprema Personalidade de Deus, Eu Superior, Krishna, etc.
Enquanto de um dos lados, na vida de relações, observa-se essas configurações para a formação da personalidade instalada em todo ser humano, o aspecto instintivo animal; o eu moralista que a tudo define sob o prisma da fundamentação teórica do que deveria ser e ainda não o é; e o eu das relações consigo mesmo e com o universo, o que expressa nomes, pessoas, memórias, pensamentos, sentimentos e valores externos do ente social; no outro pólo dialético apenas a ordenação objetiva da síntese, ou nova tese, indica tão só a completa integração da personalidade com a natureza mais perfeita, inclusive acima dos juízos de valor, justificativa da existência da espécie e causa primeira à qual regressará à medida que reencontre o ele perdido, na vertente universal de tudo. Será o regresso à casa do Pai, qual dito nalgumas escolas místicas.
Todo o sentido daquela interpretação fragmentária da realidade, que obedece ao prisma dos três aspectos científicos das variações que formam a personalidade conhecida, apenas, portanto, significa uma fase primária de localização dos conceitos do eu consigo próprio, à mercê dos vetores da realidade interpretativa enquanto inexiste a conversão a que se destina no objeto do processo vida, uma razão maior e motivo primordial da existencialidade humana e dos demais seres e objetos materiais.
Ao instante da percepção criadora do Ser definitivo, o que aborda a epopéia da civilização no decorrer da história das existências, revela em si o ápice da criação e o crepúsculo das coisas na matéria, conquanto fundir-se-ão as consciências na luz espiritual da imortalidade eterna, a resultar na totalidade plena e satisfação absoluta da existência e do movimento que formam a Natureza.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Lula Gonzaga – Redescobrindo o Brasil com muita animação

Aos 15 anos, o pernambucano Lula Gonzaga se encantou com o cinema e hoje é a principal referência da cinematografia de animação do Brasil. Comunista, cineasta, disseminador da arte de animação no Norte-Nordeste, defensor da política de Pontos de Cultura como forma de empoderamento dos movimentos sociais. Lula Gonzaga será homenageado no Cariri – Estado do Ceará com Mostra de Animação que levará o seu nome e será realizada pelo Coletivo Camaradas em 2011.

Alexandre Lucas - Quem é Lula Gonzaga?

Lula Gonzaga - Pernambucano, cineasta de animação onde iniciou sua trajetória no desenho animado em 1971. Realizou sete curtas-metragens nas mais variadas bitolas: Super-8, 16mm, 35mm e em vídeo. Coordena o Ponto de Cultura Cinema de Animação e o Pontão de Cultura Cine Anima em Pernambuco. O nosso Ponto é principalmente um projeto itinerante que percorre todo o país realizando oficinas e mostras de animação em especial nas regiões Nordeste e Norte, já realizamos etapas também em outros países.
Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Lula Gonzaga - Aos 15 anos quando entrei pela primeira em uma sala de cinema de bairro no Recife, decidi que iria trabalhar com cinema. Aos 18, no final dos anos 70, fui para o Rio de Janeiro e 1971, comecei minha carreira profissional na PPP Produtora francesa no bairro da Glória.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?


Lula Gonzaga - Várias, partindo das salas de exibição onde assisti vários filmes de animação da Disney, a produção francesa e checa pois havia amigos que tinham estes filmes em Super-8, fundindo com as influências do grafismo regional da xilogravura, da literatura de cordel que observava nas feiras e mercados públicos, dos bonecos de barro de Caruaru que comprava para brincar, dos mamulengos e da música regional de Luiz Gonzaga etc.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Lula Gonzaga - O ser humano não suportaria a vida sem a música, sem o cinema, sem a pintura, é inerente a condição humana, e tudo que diz respeito ao ser humano passa pela política, desde o preço do pão, a educação, a saúde, os rumos de uma nação, então todos precisam da arte e da política, não tem como separar, você pode não fazer política partidária, mas a política no sentido amplo está intrínseca a cada pessoa.

Alexandre Lucas - Contextualize a produção de animação no Brasil ?

Lula Gonzaga - A animação no Brasil como em todo o planeta está em momento de expansão, a animação está em todos os lugares: no cinema, na TV, na Internet, no celular. No Brasil, a animação sempre foi marcada pela dominação da indústria americana que monopoliza todos os canais de comunicação com o público, começando nas salas de cinema, na TV, agora na Internet, no celular e em todas as novas mídias que surgem. Em função desta dominação, a animação exibida no país sempre muito focada no público infantil, pois é onde começa a funcionar a “lavagem cerebral”, crianças a partir dos 2 anos de idade são alienadas pela produção exibida pelas “xuxa´s” e Cia. Trabalhando sem cessar nas cabeças dos nosso filhos para formar os novos aliados e futuros consumidores dos shoppings, delivery, Coca-cola, fost food etc. Hoje com as salas de exibição alternativas e em especial a internet, os jovens começaram a descobrir as produções de outros países que produzem filmes também para crianças e para outras faixas etárias em especial para a juventude. Com a chegada dos vídeos-games, vídeos clips e animação para celular, além do acesso às novas tecnologias digitais que barateiam e fazem com que um jovem possa realizar sua animação e finalizar em um computador simples, a animação entrou de vez na juventude, que enxerga também uma oportunidade de mercado de trabalho. Grande parte das empresas de produção de animação opera com equipe de jovens, hoje o Brasil produz uma grande quantidade de filmes de curta e longa-metragem, séries para TV, animações para comerciais, vídeos-games. Nossa produção atual além de muito diversificada em gênero e estilo também está espalhada pelo país inteiro, temos núcleos funcionado em São Paulo e Rio, também no interior de São Paulo, no Rio Grande Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo em Minas, Brasília, Goiás, em Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão, Rondônia e Amazonas.

Alexandre Lucas - Quais as dificuldades que você encontrou no início de sua carreira?

Lula Gonzaga - No início o maior complicador era de o país ter uma produção muito pequena, basicamente reduzida aos comerciais para TV e fixada exclusivamente no eixo Rio-São Paulo. A grande dificuldade de assistir os filmes de diferentes países como ainda acontece hoje. Não havia nenhum instrumento de fomento, como os editais que existem hoje.

No meu caso tive sorte pois em 1981 a CAPES/MEC acertou um convênio com a Embrafilmes para a parceria de um projeto de 3 bolsas de estudo para animação no exterior, 3 vagas para todo o país e eu peguei a vaga do Nordeste e fui estagiar na Croácia e República Checa o que me deu um outra dimensão do universo da animação no planeta.

Alexandre Lucas - Ainda consumimos muita animação de outros países? Como você vê produção de animação no Brasil e o monopólio da Mídia?

Lula Gonzaga - Claro, e sempre vamos consumir o desenho de outros países. A questão é que basicamente só consumimos a produção dos Estados Unidos da América e uma parte menor da produção comercial japonesa. Temos que abrir nosso mercado para a produção de todos os países, para que nossas crianças e jovens possam conhecer as diferentes culturas, isto é essencial. E para exibir as nossas produções, durante muito tempo, nem mesmo a turma da Mônica era exibida nas nossas TVs! Também é necessário abrir os espaços para a produção brasileiras nos cinemas e TVs para os outros países. Hoje a animação nacional está no mesmo nível de qualidade da produção dos países produtores mais avançados, as animações importadas geram bilhões de dólares, citamos por ex. Bob Esponja, no ano de 2008 rendeu 1 bilhão de dólares em licenciamento, com a venda de bolsas, sapatos, cadernos etc. O mercado não brinca em serviço! A discussão agora é cultural, pois trata da afirmação da nossa identidade como povo, de economia e tudo passa é claro por decisão política.

Alexandre Lucas - A circulação é um dos desafios para democratizar a produção de animação no Brasil?

Lula Gonzaga - É o nosso grande gargalo, como estamos completamente dominados pela engrenagem de distribuição nas grandes mídias optamos, por falta de força política, operar pela beirada, nos Festivais de Audiovisual, nos diversos projetos de exibição itinerantes, nas TVs públicas como a TV Brasil e a TV Cultura, nos Cines Clubes, nos Cines+Cultura, na Programadora Brasil etc. São muito importantes os meios de acesso a produção brasileira, mais ainda estamos muito longe de chegar aos grandes sistemas de comunicação.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Lula Gonzaga - Nosso trabalho sempre foi focado na cultura brasileira em especial nas regiões Nordeste e Norte, sempre trabalhamos com formação, produção e difusão. Toda nossa equipe é de jovens que foram formados no próprio projeto, todas as nossas oficinas sempre foram com jovens alunos das escolas públicas e as exibições do cinema itinerante ou de cineclube sempre priorizamos as cidades sem ou com muito poucas salas de exibição para comunidades sem acesso a este importante veículo de comunicação de massa e divulgação da nossa cultura.
Alexandre Lucas - A atual conjuntura política no campo da cultura tem contribuído para ampliar a produção e circulação do cinema de animação no Brasil?
Lula Gonzaga - Sim e muito, na era Lula / Gil estivemos no melhor momento da nossa produção e acesso à cultura, em especial com o programa Cultura Viva que tem como locomotiva os 2.500 Pontos de Cultura funcionando no país, nos diversos editais para a produção audiovisual, na SAV - Secretaria de Audiovisual - que incluiu editais específicos para animação e nos avanços dos Cineclubes, da Programadora Brasil e nos cinemas itinerantes
Alexandre Lucas - O Coletivo Camaradas realizará em 2011 a “Mostra de Animação Lula Gonzaga” o que isso representa para você?

Lula Gonzaga - O Nordeste do país, hoje tem uma importante produção de Animação que o público da nossa região ainda não teve a oportunidade de conhecer.

A Mostra que vamos realizar com o Coletivo Camaradas, será uma oportunidade para prestar contas a sociedade do que estamos realizando com os recursos públicos em nosso Ponto de Cultura, vamos apresentar como funciona o nosso processo de formação, de produção e de difusão do Cinema de Animação que atua nas regiões Norte e Nordeste, nesta Mostra apresentaremos um painel através da exibição dos filmes e vídeos produzidos no nosso projeto, buscando permitir o acesso a cultura cinematográfica, a informação, abrir novas oportunidades no mercado de animação, a troca de idéias e a busca de novas parcerias.

Lula Gonzaga – Redescobrindo o Brasil com muita animação

Aos 15 anos, o pernambucano Lula Gonzaga se encantou com o cinema e hoje é a principal referência da cinematografia de animação do Brasil. Comunista, cineasta, disseminador da arte de animação no Norte-Nordeste, defensor da política de Pontos de Cultura como forma de empoderamento dos movimentos sociais. Lula Gonzaga será homenageado no Cariri – Estado do Ceará com Mostra de Animação que levará o seu nome e será realizada pelo Coletivo Camaradas em 2011.

Alexandre Lucas - Quem é Lula Gonzaga?

Lula Gonzaga - Pernambucano, cineasta de animação onde iniciou sua trajetória no desenho animado em 1971. Realizou sete curtas-metragens nas mais variadas bitolas: Super-8, 16mm, 35mm e em vídeo. Coordena o Ponto de Cultura Cinema de Animação e o Pontão de Cultura Cine Anima em Pernambuco. O nosso Ponto é principalmente um projeto itinerante que percorre todo o país realizando oficinas e mostras de animação em especial nas regiões Nordeste e Norte, já realizamos etapas também em outros países.
Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Lula Gonzaga - Aos 15 anos quando entrei pela primeira em uma sala de cinema de bairro no Recife, decidi que iria trabalhar com cinema. Aos 18, no final dos anos 70, fui para o Rio de Janeiro e 1971, comecei minha carreira profissional na PPP Produtora francesa no bairro da Glória.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?


Lula Gonzaga - Várias, partindo das salas de exibição onde assisti vários filmes de animação da Disney, a produção francesa e checa pois havia amigos que tinham estes filmes em Super-8, fundindo com as influências do grafismo regional da xilogravura, da literatura de cordel que observava nas feiras e mercados públicos, dos bonecos de barro de Caruaru que comprava para brincar, dos mamulengos e da música regional de Luiz Gonzaga etc.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Lula Gonzaga - O ser humano não suportaria a vida sem a música, sem o cinema, sem a pintura, é inerente a condição humana, e tudo que diz respeito ao ser humano passa pela política, desde o preço do pão, a educação, a saúde, os rumos de uma nação, então todos precisam da arte e da política, não tem como separar, você pode não fazer política partidária, mas a política no sentido amplo está intrínseca a cada pessoa.

Alexandre Lucas - Contextualize a produção de animação no Brasil ?

Lula Gonzaga - A animação no Brasil como em todo o planeta está em momento de expansão, a animação está em todos os lugares: no cinema, na TV, na Internet, no celular. No Brasil, a animação sempre foi marcada pela dominação da indústria americana que monopoliza todos os canais de comunicação com o público, começando nas salas de cinema, na TV, agora na Internet, no celular e em todas as novas mídias que surgem. Em função desta dominação, a animação exibida no país sempre muito focada no público infantil, pois é onde começa a funcionar a “lavagem cerebral”, crianças a partir dos 2 anos de idade são alienadas pela produção exibida pelas “xuxa´s” e Cia. Trabalhando sem cessar nas cabeças dos nosso filhos para formar os novos aliados e futuros consumidores dos shoppings, delivery, Coca-cola, fost food etc. Hoje com as salas de exibição alternativas e em especial a internet, os jovens começaram a descobrir as produções de outros países que produzem filmes também para crianças e para outras faixas etárias em especial para a juventude. Com a chegada dos vídeos-games, vídeos clips e animação para celular, além do acesso às novas tecnologias digitais que barateiam e fazem com que um jovem possa realizar sua animação e finalizar em um computador simples, a animação entrou de vez na juventude, que enxerga também uma oportunidade de mercado de trabalho. Grande parte das empresas de produção de animação opera com equipe de jovens, hoje o Brasil produz uma grande quantidade de filmes de curta e longa-metragem, séries para TV, animações para comerciais, vídeos-games. Nossa produção atual além de muito diversificada em gênero e estilo também está espalhada pelo país inteiro, temos núcleos funcionado em São Paulo e Rio, também no interior de São Paulo, no Rio Grande Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo em Minas, Brasília, Goiás, em Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão, Rondônia e Amazonas.

Alexandre Lucas - Quais as dificuldades que você encontrou no início de sua carreira?

Lula Gonzaga - No início o maior complicador era de o país ter uma produção muito pequena, basicamente reduzida aos comerciais para TV e fixada exclusivamente no eixo Rio-São Paulo. A grande dificuldade de assistir os filmes de diferentes países como ainda acontece hoje. Não havia nenhum instrumento de fomento, como os editais que existem hoje.

No meu caso tive sorte pois em 1981 a CAPES/MEC acertou um convênio com a Embrafilmes para a parceria de um projeto de 3 bolsas de estudo para animação no exterior, 3 vagas para todo o país e eu peguei a vaga do Nordeste e fui estagiar na Croácia e República Checa o que me deu um outra dimensão do universo da animação no planeta.

Alexandre Lucas - Ainda consumimos muita animação de outros países? Como você vê produção de animação no Brasil e o monopólio da Mídia?

Lula Gonzaga - Claro, e sempre vamos consumir o desenho de outros países. A questão é que basicamente só consumimos a produção dos Estados Unidos da América e uma parte menor da produção comercial japonesa. Temos que abrir nosso mercado para a produção de todos os países, para que nossas crianças e jovens possam conhecer as diferentes culturas, isto é essencial. E para exibir as nossas produções, durante muito tempo, nem mesmo a turma da Mônica era exibida nas nossas TVs! Também é necessário abrir os espaços para a produção brasileiras nos cinemas e TVs para os outros países. Hoje a animação nacional está no mesmo nível de qualidade da produção dos países produtores mais avançados, as animações importadas geram bilhões de dólares, citamos por ex. Bob Esponja, no ano de 2008 rendeu 1 bilhão de dólares em licenciamento, com a venda de bolsas, sapatos, cadernos etc. O mercado não brinca em serviço! A discussão agora é cultural, pois trata da afirmação da nossa identidade como povo, de economia e tudo passa é claro por decisão política.

Alexandre Lucas - A circulação é um dos desafios para democratizar a produção de animação no Brasil?

Lula Gonzaga - É o nosso grande gargalo, como estamos completamente dominados pela engrenagem de distribuição nas grandes mídias optamos, por falta de força política, operar pela beirada, nos Festivais de Audiovisual, nos diversos projetos de exibição itinerantes, nas TVs públicas como a TV Brasil e a TV Cultura, nos Cines Clubes, nos Cines+Cultura, na Programadora Brasil etc. São muito importantes os meios de acesso a produção brasileira, mais ainda estamos muito longe de chegar aos grandes sistemas de comunicação.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Lula Gonzaga - Nosso trabalho sempre foi focado na cultura brasileira em especial nas regiões Nordeste e Norte, sempre trabalhamos com formação, produção e difusão. Toda nossa equipe é de jovens que foram formados no próprio projeto, todas as nossas oficinas sempre foram com jovens alunos das escolas públicas e as exibições do cinema itinerante ou de cineclube sempre priorizamos as cidades sem ou com muito poucas salas de exibição para comunidades sem acesso a este importante veículo de comunicação de massa e divulgação da nossa cultura.
Alexandre Lucas - A atual conjuntura política no campo da cultura tem contribuído para ampliar a produção e circulação do cinema de animação no Brasil?
Lula Gonzaga - Sim e muito, na era Lula / Gil estivemos no melhor momento da nossa produção e acesso à cultura, em especial com o programa Cultura Viva que tem como locomotiva os 2.500 Pontos de Cultura funcionando no país, nos diversos editais para a produção audiovisual, na SAV - Secretaria de Audiovisual - que incluiu editais específicos para animação e nos avanços dos Cineclubes, da Programadora Brasil e nos cinemas itinerantes
Alexandre Lucas - O Coletivo Camaradas realizará em 2011 a “Mostra de Animação Lula Gonzaga” o que isso representa para você?

Lula Gonzaga - O Nordeste do país, hoje tem uma importante produção de Animação que o público da nossa região ainda não teve a oportunidade de conhecer.

A Mostra que vamos realizar com o Coletivo Camaradas, será uma oportunidade para prestar contas a sociedade do que estamos realizando com os recursos públicos em nosso Ponto de Cultura, vamos apresentar como funciona o nosso processo de formação, de produção e de difusão do Cinema de Animação que atua nas regiões Norte e Nordeste, nesta Mostra apresentaremos um painel através da exibição dos filmes e vídeos produzidos no nosso projeto, buscando permitir o acesso a cultura cinematográfica, a informação, abrir novas oportunidades no mercado de animação, a troca de idéias e a busca de novas parcerias.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Governos de conveniência - Emerson Monteiro

A onda que varre dos comandos governantes de países árabes deixa no ar uma séria lição, qual seja: o capitalismo ocidental brincou em serviço quando apoiou a maioria desses ditadores que o próprio tempo se encarrega de eliminar, atitude que demonstra por demais a irresponsabilidade das democracias ricas em relação aos países atrasados deste mundo. Ninguém avalie, portanto, sua posição acima do mal e do bem, como agem detentores da riqueza, nas poderosas economias nacionais.
Depois da crise do petróleo, verificada com a Guerra dos Seis Dias entre árabes e judeus, no ano de 1967, os países detentores das reservas decidiram aumentar o preço do barril do ouro negro a níveis pouco imagináveis. As nações árabes descobriam, enfim, o quanto vale o subsolo nesta civilização contemporânea. O Ocidente, principal consumidor, instalava, naquelas economias crescentes, através dos ardis de bastidores, líderes que lessem nas suas cartilhas, para, mais adiante, dado o despreparo da maioria deles, haver de exterminá-los ao preço das dores civis, notícias que, antes, vieram do Afeganistão, do Iraque, e, agora, num rastro de pó e sangue, das ditaduras de conveniência que afundam, impostas que foram às nações em crise pela barganha dos potentados capitalistas.
Eis uma história marcada, programada de longo prazo. Nas décadas de 60 e 70, as Américas sofreram da mesma fórmula, que serviu, durante 20 ou mais anos, ao pretexto de manter a ordem nesta parte do chão. Os custos disso, atraso na maturidade dos povos, taxa elevada em termos de aperfeiçoamento histórico negativo, subserviência e alienação de gerações inteiras.
Tais exercícios de intervenção alimentaram elites reacionárias e corruptas, ocasionando consequências perversas de vazios profundos no futuro, visando o lucro das conquistas do mercado imperialista.
Essa crise fenomenal que ora elimina titulares carimbados no Egito, na Tunísia, e se espraia pela Líbia, pelo Iêmen e outros países, representa, pois, a derrocada dos esquemas absolutistas impostos pelos ocidentais a povos do Oriente, engordando famílias e governos ilegítimos, quais novos cônsules da Antiga Roma dos césares.
Os resultados da ação equivocada sujeita, com isso, perder a humanidade, expondo conquistas democráticas, devido à injustiça que contagia vizinhanças e domínios equilibrados, pondo risco, por exemplo, na estabilidade da Europa, comunidade que, através dos séculos, ficava distante das convulsões da Ásia e da África. Já que existem, porém, nos tempos atuais, o excesso populacional e as facilidades do deslocamento das massas humanas, o Velho Continente sofre com as angústias do futuro., nuvens escuras crescem das bandas do Nascente, na geopolítica internacional, e, queira Deus, uma autocrítica honesta de quem responsável motive rumos novos aos tristes acontecimentos verificados.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A uma mestra com carinho – Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Tenho muito carinho e gratidão por uma grande professora que o Crato já teve. É a saudosa professora dona Lurdinha Esmeraldo. Ela dedicou toda a sua vida ao magistério. Lembro-me muito bem do amor que ela tinha pelos alunos, sempre com o objetivo de formá-los para a vida. Por ser solteira tinha todo um carinho filial com seus alunos. Fui sua aluna de Francês e Religião. Ela era muito competente em tudo que ensinava. A bondade e o amor transpareciam nos seus gestos. A sua fé em Deus e o seguimento de Jesus eram demonstrados na sua animação ao falar de Jesus para os alunos e através do seu testemunho de vida. O comportamento dela fazia com que entendêssemos que o seu objetivo era nos levar para o caminho do bem. O bom professor, além de dar a instrução aos alunos, proporciona a educação como um todo. Dona Lurdinha era assim, cuidava da instrução e da alma, educando também para a vida, através do seu testemunho, da sua bondade e da vocação parar ajudar aos jovens. Pessoa de grande espiritualidade, vivência cristã e testemunho de fé. Freqüentadora diária da igreja e participante da Eucaristia. Lembro sempre dessa querida professora quando leio um trecho do Evangelho de Mateus: “Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve só para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu.” (Mt 5, 13-16)

Fomos feitos para brilhar. Devemos acreditar na luz de Deus em nós, pois agindo com justiça e retidão, estaremos manifestando a beleza de Deus. Ser sal da terra é dar sabor as coisas e livrar o mundo da podridão dos costumes e da corrupção. Os discípulos de Jesus precisam dar testemunho de suas obras. A querida dona Lurdinha como seguidora de Jesus, irradiava a luz para os outros e principalmente para os seus alunos. Sabia que não devemos esconder a luz de Deus que brilha em nós, pois para sermos discípulos de Jesus, devemos nos comprometer com a construção do Reino de Deus. Essa professora a quem rendo a minha homenagem era comprometida com esse Reino e, transbordava através do seu grande coração o amor de Deus para seus alunos e para todos que a conheciam. Através dela, aproveito para homenagear todos os meus professores e professoras.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CURSOS DA SOCIEDADE DE CULTURA ARTÍSTICA DO CRATO

As emissoras internacionais - Emerson Monteiro

Houve um tempo quando apreciei com intensidade as transmissões da radiofonia mundial em ondas curtas, reservando horas e horas noturnas para ouvir as programações em português e espanhol, elaboradas nos mais diversos países. Esse gosto veio despertado por amigos e colegas de colégio que nutriam interesses ocasionais em colecionar selos, quadros de fitas de cinema, estudar inglês e acompanhar lançamentos cinematográficos, assuntos que preencheram a minha adolescência.
Além de seguir de perto as grades de programação, também escrevia às emissoras, dando notícias das recepções e apresentando ideias e motivos talvez a serem aproveitados pelas estações de rádio.
Era uma época de extrema efervescência e movimentação das forças políticas, na primeira metade da década de 60, auge da Guerra Fria, quando, inclusive, o rádio se prestou à divulgação e propaganda ideológica dos blocos nela envolvidos. De um lado, o capitalismo internacional do Ocidente, liderado pelos Estados Unidos. Do outro, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ponta de lança do que propunha o comunismo, já instalado também na China, desde 1949, com Mao-tsé-tung no poder; em Cuba, após a revolução de Fidel Castro, em 1959; no bloco dos países da Europa Oriental, na Coréia do Norte, como alternativa ao modelo da democracia americana para as outras nações, após a Segunda Guerra.
Recordo que, nessa fase, ouvia com assiduidade transmissões da Rádio Difusão e Televisão Francesa, Rádio Canadá, BBC de Londres, Rádio Havana, Voz da América, Rádio Holanda, Rádio Suíça Internacional, Rádio Suécia, Rádio Praga, Rádio Sofia, Rádio Cairo, Rádio Espanha Internacional, Rádio Pequim, Rádio Central de Moscou, Rádio Tirana, Rádio Vaticano, Voz da Alemanha, dentre outras, que mantinham horários para o Brasil e os demais países de língua portuguesa.
Informações fervilhavam a cruzar os céus logo que chegava a noite, das 19 às 23h, horário de melhor propagação das ondas. O meu receptor, rádio a válvulas, permanecia ligado todo tempo, enquanto promovia anotações e apurava os ouvidos, nas faixas de 16 a 49m, vezes sob chiados e ruídos intensos que dificultavam as audições.
No país, eram as notícias peneiradas pelos órgãos de segurança e que, entretanto, vazavam pelos correspondentes estrangeiros, chegando ao nosso conhecimento pelos departamentos internacionais, época de clandestinidade e repressão, anos de chumbo, quais se dizem.
Remetia cartas aos endereços dessas emissoras, que as respondiam com regularidade e juntavam às respostas publicações dos países; livros, revistas, jornais, postais, selos, broches, flâmulas e outros brindes. Cada recebimento dessas respostas era um dia de festa. Abria o envelope e examinava com cuidado seu conteúdo, estimando o valor em face da distância que percorrera. Nisso, espécie de fetichismo logo invadia a alma de mistério.
Depois, novos apegos surgiriam com a descoberta do prazer da literatura e seus variados autores brasileiros e estrangeiros. Mais adiante, os filmes de Hitchock, do Cinema Novo, os clássicos da Cristandade, os faroestes inolvidáveis, o cinema de arte europeu, além dos festivais da canção, e a MPB, reunidos às emoções dos primeiros namoros, para, assim, excluir em definitivo o pouco espaço que restara entre os estudos e aqueles solitários serões radiofônicos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sabença de caboclo - Emerson Monteiro

Talvez por pretender contrariar o princípio de que cavalo ruim se vende longe, Chico Ivo tratou de camuflar muito bem a deficiência do animal com a instala-ção mais do que perfeita de outro belo rabo no baita cavalo luzidio, untado com esmero numa mistura gosmenta de breu e cola de marceneiro, disfarce primoro-so da alisada vassoura de longos fios selecionados.
Junto ao toco, implantara a nova cauda, recolhida de outros bichos no decorrer de longos meses, cabelo a cabelo, que, de firme, mostrava-se suficiente para confundir os maiores especialistas, como deixará provado. Concedia, inclusive, ao equino ginga do tanto de esboçar ligeiras e saudosas abanadas, qual nos ve-lhos tempos de inteiro.
Bom, foi assim que resolveram desafiar o furdunço da feira de Lavras da Man-gabeira, buscando o pátio dos bichos, onde não teve mesmo quem viesse de no-tar a gauribagem. Tudo limpo no céu do meio-dia.
Interessados não custaram a aparecer com suas pretendências e propostas. E-xaminavam o cardão de cima a baixo, coleando a pelagem, friccionando o lom-bo, sempre cuidando de olhar dentes, cascos, orelhas, na mania dos espertos. Porém foram, de verdade, os ciganos que primeiro se fixaram na intenção explí-cita da compra, seguindo logo, logo, saber do preço.
Conversa vai, conversa vem; regateia daqui, regateia dali; negócio realizado. Ca-bresto na mão, dinheiro no bolso, e, satisfeitos, certos de uma boa transação, restava aos negociantes pegarem estrada e buscarem o destino da tropa nas es-tradas poeirentas do sertão.
...

Passadas se foram algumas luas, ritmo obediente das coisas naturais. A tranquila cidade mudou quase nada em meio à falta de acontecimentos marcantes.
Lá noutro dia, noutra feira de grande movimento, gente muita, muita animação comercial, difícil até de se achar quem se procura entre as tantas caras, eis com quem Chico Ivo se defronta, de imediato reconhecido... Com os mesmos ciga-nos que lhe haviam adquirido o cavalo. Vinham de longe acenando, para garan-tir o encontro casual inevitável:
- Ganjão, ganjão! Aguarde um pouco que seja.
- Não quero nem saber, - reagiu enfático o antigo proprietário do animal. - Ne-gócio feito ninguém desfaz. Fechado está, assim restará.
E quão admirado ficou da resposta que lhe veio do cigano à frente dos demais:
- Se despreocupe, ganjão. Nosso objetivo é outro. O que passou tá pra trás. Vi-emos aqui foi lhe fazer uma outra proposta, de que o senhor aceite, a partir de hoje, seguir com a gente e chefiar nosso bando.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mestre Armando Leão visita o Cariri para articular congresso da UNEGRO




O mestre de Capoeira de Angola, Armando Leão esteve nesta segunda-feira (21/02) na região do Cariri para se reunir com lideranças do movimento negro com o objetivo de articular a mobilização para o congresso nacional da União de Negros pela Igualdade – UNEGRO que será realizado em julho deste ano.

O Congresso da entidade é composto por etapas regionais e estaduais. De acordo com o coordenador estadual da UNEGRO, Armando Leão o congresso desempenha papel importante na defesa de bandeiras de lutas pela igualdade racial, tolerância religiosa e também serve para ampliar as lutas e fortalecer as conquistas políticas e sociais para o conjunto da população.

No Ceará será realizado neste sábado, dia 26, no auditório do Sindicato dos Bancários, em Fortaleza, o Seminário preparatória para etapa estadual do Congresso. Armando frisa que do Cariri deverão participar cerca de 15 lideranças dos diversos segmentos do movimento negro, como quilombolas, copoeiristas, MCs, mães e pais de Santo. Ele destaca que manteve contato com representantes do Grupo de Valorização Negra do Cariri – Grunec, Coletivo Camaradas, Berimbalarte, quilombolas e pessoas de terreiro.

A Pró-Reitoria de Extensão PROEX da Universidade Regional do Cariri – URCA, A secretária de Esporte e Juventude de Juazeiro do Norte e a Prefeitura de Potengi são algumas das parcerias no Cariri da UNEGRO, além dos movimentos sociais.

RELEMBRANDO O CRATO ANTIGO - Pedro Esmeraldo


Foto capturada do Blog do Crato

Estamos tentando relembrar o Crato antigo. Era uma cidade pequena, mas de aspecto agradável, semelhante a uma cidade civilizada do sul do país. Seu povo vestia-se bem, andava bem trajado, sempre elegante, não fazia vergonha ao se apresentar em qualquer reunião social no cenário de todas as camadas da sociedade. O homem, enfatiotado e circunspecto, não se envergonhava de freqüentar os maiores convívios sociais.

Era uma cidade que quase não tinha indústria, a não ser pequenas indústrias de beneficiamento de arroz e algodão. O algodão, após ser beneficiado, tinha a lã transportada para os grandes centros do país. Também havia duas indústrias de ração para bovinos, satisfazendo o provimento da pecuária leiteira da região.

As suas principais praças eram localizadas no centro da cidade como: Francisco Sá, que é uma das praças mais bonitas do Ceará. Lá está instalada a coluna da hora e a estátua da samaritana, oferecida pelo artista e jogador de futebol Mundinho, grande craque cratense.

Também serviu de palco da antiga fonte luminosa, talvez abandonada por falta de recursos financeiros. Mesmo na parte central da cidade, havia um antigo mercado público, cognominado pela massa popular de arapuca, onde hoje é localizado o Banco do Brasil.

Naquele tempo, o crescimento do Crato era lento, mas digamos, com força de expressão, era uma cidade quase civilizada que tinha aspecto de cidade grande porque seu comércio era bastante intenso, devido a predominância da cana-de-açúcar e do algodão, que se encontrava no apogeu, considerada como um grande centro elevado de economia regional.

Os engenhos, ao redor da cidade, adocicavam a economia com o afago do seu mel, transmitindo um cheiro agradável ao visitante da cidade.

Posteriormente, essas duas culturas, ou seja, da cana-de-açúcar e do algodão arruinaram-se e o agricultor cratense estava totalmente despreparado para outra atividade correlata. Daí surgiu o descrédito econômico do agricultor que não sabe sobressair-se das dificuldades financeiras e ficou arrasado financeiramente, deixando cair no ostracismo social.

Quanto á queda do consumo da rapadura, observamos que, nos tempos modernos, o homem passou a mudar de hábito alimentar, abandonando certos costumes, afastando-se dos costumes regionais, mudando-se de costumes alimentares, esquecendo dos produtos da região, deixando o agricultor arrasado e desinteressado pelo trabalho agrícola.

Os homens de outrora, principalmente os da classe política encontravam-se totalmente despreparados para enfrentar o trabalho efetivo e ponderando com muita reflexão, não procuravam pormenores para descobrir a causa da queda da nossa economia, cruzavam os braços e não observavam os prós e os contras, a fim de qualificar o homem para exercer, com dignidade, novas profissões com trabalho que lhe fosse favorável ao seu sustento.

Lembramos ainda que o procedimento negativo do agricultor trouxe péssimas consequências para a economia cratense.

Não recorremos aos melhores métodos que fossem apropriados ao homem, sem aflição, verificar qual seria a sua melhor inclinação que adiantasse o seu trabalho de acordo com o seu capital, procurando a parte favorável e preferida pelo povo.

Crato-CE, 17 de fevereiro de 2011.

Uma anfitriã em pânico - Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Em l995, nosso apartamento estava lotado de irmãos e alguns sobrinhos de Carlos, que vieram à Fortaleza para apoiar uma irmã dele que ia se submeter a uma operação de ponte de safena. A cirurgia era de risco, o que fez com que os irmãos e todos os familiares ficassem preocupados. Estávamos todos unidos em oração e torcendo para que tudo desse certo. E eu, no meu papel de anfitriã, organizava tudo a tempo e a hora para que todos se sentissem bem acolhidos e confortáveis.

Nessa época o prédio em que moramos, estava sem síndico, pois ninguém queria assumir tal missão. Sem nenhuma liderança, já que nem o subsíndico quis se responsabilizar, não foi tomado nenhuma medida para que fosse realizada a dedetização. Por mais que colocássemos isca em nossa casa, apareciam algumas baratas voadoras e outras que vinham dos esgotos do edifício.

Em determinado momento, ao entrar na despensa com a minha cunhada ao mesmo tempo, para pegarmos alguma coisa, passaram por cima de nossas cabeças duas enormes baratas voadoras vindas da varanda. Na hora, em pânico e sem pensar no meu papel de anfitriã acolhedora e educada, saí correndo e tranquei a porta da despensa deixando minha hóspede lá com as duas baratas. Corri o mais longe possível daquele local. Depois que passou o susto e as baratas já estavam mortas, envergonhada fui pedir desculpas a minha cunhada, justificando minha atitude pelo medo que tenho de baratas. Ainda bem que ela perdoou. Passado o meu constrangimento, demos boas risadas.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Luiz Domingos de Luna*

A Cela do existencialismo dos seres humanos é inexorável. A inteligência em projeção pouco, ou nada tem feito para outros dados amostrais da arte do existir. A busca de fundamentação teórica dos componentes químicos para a composição da existência somente consolida a tela da fortaleza da prisão, pois em nada acrescenta ao substrato de outras formas de se fazer presente no panorama permeado a todos, vez o estudo do passado, seja como principio ativo ou não, o processo culminará sempre com a realidade do agora.
A filosofia tem se debruçado sobre a justificativa para a devoradora de vida no planeta terra – Na verdade, a peregrinação epistemológica tem sido mais para a justificativa da morte, dificilmente, se encontra uma escola filosófica para um estudo sério de como vencê-la, a ciência pouco tem feito para derrotar esta assassina de vidas. Dessa forma até parece que a morte é soberana é algo que está acima da compreensão humana. O reinado da morte parece ser eterno.
A morte de fato não derrota ou devora a vida, mas sim, apenas limita, pois a sobra da morte, a história, que a seqüência, forma a epistemologia genética da humanidade que é base para a civilização humana.
O Problema nasce quando a vida é estudada como a variável e a morte como a certeza, quando de fato, deveria ser o contrário, a vida como certeza e a morte como variável, isto acontece porque a humanidade se curva a inferioridade de uma existência perecível, ou seja, o presídio é concreto, vive em todas as abstrações dos humanos e sempre é vencedor, sendo a morte a heroína que fecha qualquer ciclo vital.
A solução se torna inatingível, pois tanto a inteligência quanto a ciência qualifica este caracteres como parte do Carrossel existencial, pois, a falta de uma forma diferenciada de existir faz sempre a vida no encaixe do tempo: passado, presente e futuro, até hoje esta fatalidade tem sido uma constante na vida dos seres vivos no planeta ainda azulado.
A desfragmentação da existência em outros patamares é base a libertação do homem, se não existe espaço dentro da lógica real, palpável, ou do alcançável, que seja oferecido novos modelos existenciais, se esta possibilidade inexiste dentro do campo racional do existencialismo que se busque uma ferramenta para tal fim, assim, a fé será sempre um caminho de Luz.
(*) Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora - Ceará.

Lifanco – Um guerreiro da Nação Cariri



Compositor, músico e fundador do reisado Nação Cariri. Lifanco deve produzir em breve uma coletânea de músicas engajadas. Lifanco tem composições com artistas do Cariri como Fatinha Gomes, Luciana Dantas, Cacá Araujo e o musico paraibano Rangel Junior, além de várias outras parcerias.
Alexandre Lucas - Quem é Lifanco?

Lifanco - Uma pessoa do bem

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Lifanco - Como musico aprendiz em 74, tempos de rock´s, baladas e leves blues que falavam de paz e de amor...que tempo !!!!

Anos 80 comecei a tocar em bandas, só a partir de 98 comecei a compor e cantar minhas vivências e também imaginações, pois ninguém é de ferro, né?!

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Lifanco - Todas!! Ainda hoje tenho influências... Desde que passem pelo crivo critico da minha capacidade de sentir.

Alexandre Lucas - O que é música para você?

Lifanco - Tudo !!! A musica tem o poder tipo: moldar pensamentos e atitudes, por isso o cuidado meu e de outros artistas na qualidade do que faz !!

Exemplos ??!! Temos de sobra estão ai no ``mêi do mundo´´ o que se esta criando em termos de comportamentos tendo como meio divulgador a musica ??!! É brincadeira!!
Os que podem fazer alguma coisa preferem ficar em suas casas e mansões com os seus, ouvindo e assistindo o que acham melhor. Ao resto? Resta a pergunta : Será ?!!

Alexandre Lucas - Você tem composições em parcerias com vários artistas. Fale dessas parcerias.

Lifanco - Ressumo numa pequena frase : É o que sustenta a vida e me dar a alegria de vivê-la.

Alexandre Lucas - Você tem composições engajadas?

Lifanco - Sim, divulgadas ? Esta perto(espero).

Alexandre Lucas - O seu novo trabalho será uma coletânea dessas musicas engajadas?

Lifanco - Com certeza !! Aguardo paciente o que falta, não depende mais só de mim.

Alexandre Lucas - Como você analisa o cenário musical do Cariri?

Lifanco - Sobre apresentações musicais com os nossos artistas não sei se posso analisar, até porque saio muito pouco, se esta acontecendo alguma coisa, falta divulgação.

Alexandre Lucas - Qual a sua relação com a brincadeira do Reisado?

Iiihhh !!! A mais prazerosa e descontraída possível !! A gente vira criança! É um outro mundo !!

Fundamos o ``Reisado Nação Cariri´´ gravamos 02 cd´s que considero uma das coisas mais importantes na minha historia. Mas.... (tem sempre esse mas, né?) Por força da falta de força tivemos que parar.

Alexandre Lucas - Como você ver a participação dos músicos e interpretes do Cariri nos grandes eventos da Região?

Lifanco - Relação intima nenhuma rsrsrsrsr, temos eventos promovidos com outras intenções.

O trabalho dos nossos artistas deve ter uma boa estrutura financeira e estética pra poder ser mostrado aos que nos visitam, ficamos com um espaço quase que vergonhoso em expocratos, expoafres, berros e etc... Os artistas da região foram os pioneiros, hoje não são nem chamados, mesmo que seja pra se submeterem a uma seleção... Também pudera !! Então é isso (os artistas que falo são os que estão engajados num bem comum, que fazem um trabalho consciente, musical e poético) os que estão na midia (nada contra) não passam por esse tipo de coisa.

Valeu !! E viva a nossa guerrilha, o nosso coletivo camaradas, a Mostra Sesc de teatro, o nosso festival cariri da canção, a mostra sesc de musica, nossas terreiradas com seus mestres e mestras, nossos compositore(a)s, atore(a)s,poetas, poetisas e cantores e viva nossa cultura viva e pulsante nas veias dos pensantes e atuantes caririzeiros.

Alexandre Lucas - Quais são os seus próximos trabalhos?

Lifanco - Compor sempre que sentir ser necessário e gravar quando for possível.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Algumas noites da Bahia - Emerson Monteiro

Havia sempre o que agitar nas noites de Salvador, no tempo em que lá vivi e posso contar, anos da década de 70. Eram ocasiões plenas dos chamamentos de uma cidade maior e cheia das diversões e alternativas mais diversas. Visitei pessoas, lugares; assisti a espetáculos teatrais, musicais, folclóricos; percorri festas de largo, exposições artísticas, palestras, festivais de música, cursos, museus, filmes, gama de permanentes novidades inesgotáveis. Em movimentos contínuos, sobremodo aos finais de semana, jamais reclamaria de rotina ou monotonia, caso avaliasse o período, considerando, no entanto, a saudade que mexia comigo, por dentro, na ausência que sentia de minha família, dos amigos caririenses e das belezas que aqui deixara, o que marcava as lembranças, quisesse ou não. Agora isso acontece no sentido contrário, ao rever pela memória aqueles tempos de tantas presenças marcantes e alegres, súbito deixadas para trás no turbilhão das circunstâncias, ao regressar e aqui permanecer.
Enumerar os principais argumentos das histórias passadas chega como instrumento de analisar algumas delas. Uma noite, no Teatro Castro Alves, por exemplo, assisti ao Balé da China, mostra de música e dança que, de tão longe, veio ao Brasil com grupo formado por mais de 200 figurantes, festa de cores e movimentos que preservo nos arquivos das maiores emoções. Enormes figuras mitológicas chinesas e evoluções impressionantes envolveram a platéia entusiasmada, numa apresentação sem termos comparativos.
Por volta dessa mesma oportunidade, chegaria também o Balé do Senegal, que utilizou as dependências do ginásio de esportes Antônio Balbino, trazendo danças típicas africanas, executadas por centenas de homens e mulheres, em trajes, ritmos autênticos e quadros sucessivos, superlotando e sacudindo o público feliz, turnê que viajaria o mundo inteiro naquela ocasião.
Outras dessas gratas reminiscências ficam por conta de peças e shows musicais montados no Teatro Vila Velha, sempre palco de apreciados eventos, onde se encontravam os amigos e conhecidos da época, pessoas que se relacionavam através dos interesses artísticos e culturais, quando pude admirar grandes valores da nossa música popular, quais Milton Nascimento, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ivan Lins, Jorge Mautner, Gonzaguinha, dentre outros.
Visto gostar de cinema, usufrui ao máximo as chances de ver filmes raros, no Cine Clube da Bahia, no Instituto Brasil - Alemanha e no circuito comercial, comparecendo a exibições, festivais e seminários.
Então, nestas pinceladas rápidas, quis resumir a rica gama do que experimentei de um turno baiano e suas situações, o que preservo com afeto no íntimo depósito da memória, resultado de caminhadas vividas, e bem vividas, da existência.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Como ficou a região metropolitana do Cariri? José do Vale Pinheiro Feitosa

Refletindo sobre este blog, com o Agora que traduza o Cariri, lembrei-me de um tema um tanto esquecido. O quê aconteceu de prático e legal para os poderes municipais com a criação da chamada região metropolitana?

Parte da minha pergunta se deve à ignorância, pois tenho acessado muito pouco o noticiário regional. Mas de qualquer forma, até mesmo se existem enganchos com lei, uma curiosidade no rodeia com esta questão. Não é uma questão banal e terá muita repercussão no futuro. Especialmente para o planejamento das verbas estaduais e federais.

Se há algo em dependência no imbróglio das disputas regionais, isso é importante para sabermos localizar melhor. Lembro muito bem de uma questão e ao lembrar gostaria de esclarecer algo a meu respeito.

Sou funcionário federal e trabalhei em muitos governos, desde Figueiredo até o governo Lula. Inclusive com FHC. Nunca fui ligado, politicamente, a FHC e embora ocupando função, não foi por acordo político, mas pela questão técnica que felizmente sempre existiu no Estado brasileiro, apesar de tanto arranjo que é feito. Esclareço isso pois um mau entendido estimulou que fosse um dos quadros no tempo do governo dele.

Mas o motivo do aproveitamento é que isso guarda uma relação. Quando Violeta Arraes era reitora, estive envolvido naquele projeto federal sobre a APA do Araripe. Esclareço, muito mais com opiniões e participando de algumas reuniões. Na verdade o trabalho já estava quase definido quando me aproximei do assunto.

Então, vou ao Crato e junto com uma grande comitiva da região, fomos até o Clube Serrano para um ato de assinatura do Decreto, com a presença de FHC e Tasso Jereissati. Na ocasião surgiu um destes imbróglios que interrompem as coisas.

Algumas lideranças regionais não gostaram do conteúdo do decreto e entendiam que a preservação prejudicaria o desenvolvimento de alguns municípios. Isso levou um tempo longo de vai e vem e foi uma grande decepção para todos. O presidente da República na região para assinar um decreto que era questionado. Inclusive por autoridades do governo estadual, incluindo Tasso. Olhem que, compreensivamente, o Estado de Pernambuco e Piauí, também atingidos pelo decretos não apresentaram queixas. Só o Cariri e o Ceará.

Compreensivo, pois a parte mais dinâmica da APA é esta. A mesma região que estaria sob o projeto de criação da região metropolitana. Se alguém tiver disposição para levantar o assunto estará fazendo um bom debate.

TEATRO NO CRATO: O HÓSPEDE

PROGRAMA GUERRILHA EM MOVIMENTO
APRESENTA


SINOPSE

Uma família desestruturada a partir da chegada de um hóspede, “o Garanhão”, em sua casa, em suas vidas e “em suas camas”, trazendo à tona desejos e sentimentos outrora guardados e hoje revelados, enfim “chutaram o balde”. Albânia a matriarca, é o sinônimo de preconceito, arrogância e hipocrisia, “uma recalcada, isso sim!”, tentando com isso comandar a vida de todos e, não vendo seu autoritarismo surtir efeito, entra em total desajuste emocional, “uma surtada”. É aí que se dá o desenrolar da trama. Amores não correspondidos, desejos aflorados, morte, descoberta, libertação... Tudo isso está reunido em “O Hóspede”.

É HOJE

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ENCONTRO DE GUERRILHEIROS DAS ARTES

ÚLTIMAS NOTÍCIAS - Prefeito Samuel Araripe consegue 4 milhões de reais para as obras emergenciais do Canal do Rio Grangeiro


ATENÇÃO - A notícia que todos os Cratenses aguardavam!


O prefeito Samuel Araripe informa que acaba de conseguir com o ministro da integração nacional, Fernando Bezerra Coelho, recursos para a recuperação emergencial do canal do Rio Grangeiro. O valor já foi creditado na conta da Prefeitura do Crato no início da noite de ontem , quinta-feira ( 17 ). O prefeito Samuel Araripe frisa que o Crato trabalha pela liberação de duas verbas federais distintas: a emergencial, que é da órdem de 4 milhões de reais, que servirá para atender às situações mais urgentes do município, e outra verba maior, para a reconstrução do canal do Rio Grangeiro através de um novo projeto.

O prefeito do Crato ressalta a intermediação do deputado Federal Arnon Bezerra, que esteve também na reunião realizada na semana passada com o ministro da integração nacional em Brasília, a fim de solicitar a liberação desses recursos federais hoje conseguidos.

Por: Dihelson Mendonça

Cortando o cordão – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O acaso sempre esteve presente na minha vida. Sem que eu planejasse muita coisa, como muitos o fazem, deixei que a vida me levasse e, ela me conduziu por caminhos retilíneos e belos. Em janeiro de 1964, eu pensava que iria continuar estudando no Crato, na minha zona de conforto, sob a proteção dos meus pais, entre meus familiares e colegas de estudos, uma turma unida e muito amiga. Dizem que o destino sabe traçar a estrada daqueles que sem querer, a ele se entregam. Talvez tenha sido esse o meu caso.

Um primo que estudava engenharia no Recife, estava de férias e visitava nossa casa, no São José. Ao vê-lo, fui conversar com ele, saber como era o curso de engenharia, suas dificuldades e sobre o vestibular. Sabedor de que eu desejava cursar engenharia, ele me aconselhou a ir estudar no Recife durante o curso científico. Disse-me que se eu ficasse no Crato, correria o risco de não ser aprovado no vestibular. Respondi que não dependia de mim. E então ele foi falar com o meu pai. E o fez de uma forma tão convincente, que eu senti naquele contato a concordância do meu pai. Mas este não disse nem sim e nem não. Para mim dizia ser impossível, pois não estava podendo arcar com as despesas.

Dias depois, um parente do meu pai, diretor da Escola de Engenharia de Minas de Ouro Preto, visitava meus pais, sempre que vinha ao Crato em suas férias. Ao saber do meu desejo de cursar engenharia, aconselhou-me que eu fosse estudar em Ouro Preto, colocando sua casa à minha disposição. Fiquei receoso de meu pai aceitar aquele convite protocolar, pois além de não ter nenhuma intimidade com aquele parente distante, Ouro Preto, para mim, era um fim de mundo.

No inicio do mês de fevereiro daquele ano, nada estava definido. Pensava tranquilamente que iria continuar no velho Colégio Diocesano e isso me dava certo alento, pois por ser o filho caçula, eu era muito apegado aos meus pais e irmãos. Entretanto, dias depois, o meu pai recebeu uma carta de uma irmã dele, a tia Anete, que residia em Salvador, dizendo que já reservara a minha matrícula e que eu poderia ir estudar na Bahia. Olhei no sobrescrito o meu futuro endereço: Avenida Beira Mar 404. Na minha imaginação surgiu, como que de repente, a avenida de mesmo nome que eu vira em Fortaleza na única visita que fizera até então a uma cidade maior que o Crato, além do Juazeiro, é claro! E imaginava que iria viver num paraíso. Fiquei ainda mais contente, quando soube que o meu primo e companheiro de brincadeiras, José Esmeraldo Gonçalves também iria.

Tudo então ficou decidido e às pressas, mamãe preparou um enxoval que fez minhas lembranças recuarem cinco anos, quando fui estudar no Seminário. Um medo disfarçado se apoderou de mim. Era a primeira vez que iria sair do Crato e debaixo das asas e da proteção dos meus entes queridos.

Um novo mundo se descortinava à minha frente, o desconhecido, a sensação de uma nova vida. Viajar de avião, coisa impensada, conhecer a cidade de Salvador e suas inúmeras igrejas e tantas outras belezas das quais ouvia falar com insistência.

Viajei com meus primos que lá já estudavam e residiam com minha tia Anete. Por causa de um defeito no DC3 que nos levaria, esperamos um dia inteiro no velho Aeroporto de Fátima, sem nada para enganar o estômago e sem comunicação. Somente no dia seguinte é que conseguimos voar num DC6 que veio em substituição ao avião danificado. O DC6 era um avião grande, com assentos com três cadeiras de cada lado e capacidade para mais de cem passageiros. Ao chegarmos a Salvador, uma Kombi da Varig levou os passageiros de porta em porta até a residência de cada um. O aeroporto distava mais de trinta quilômetros da cidade. Fomos os últimos a chegar ao destino, pois onde tia Anete morava era na Ribeira, final de uma península na cidade baixa.

Senti um misto de arrependimento e tristeza. A Avenida Beira Mar não era nada daquilo que eu imaginara. Era uma rua larga, às margens da Baia de Todos os Santos, sem calçamento, cheia de poças d’água, muita lama e enormes amendoeiras no meio, cujas folhas caídas se misturavam e recobriam as poças de lama. O bairro era triste, composto por um monte de casas velhas. Onde íamos morar era numa escola, o Educandário Pio XII, alojado num velho casarão de três andares, com piso de tábua corrida, que ecoava sob nossos passos. No terceiro andar havia um pequeno apartamento composto de três quartos, um banheiro, um vestíbulo com guarda-roupa coletivo e uma ante-sala ao lado da escada, onde estudávamos. Ao todo éramos seis pessoas que morávamos neste pequeno apartamento, eu, e os primos João Barreto, José Esmeraldo, Luciano Gonçalves, além do cratense Dailton, professor do Pio XII e dois jovens de Alagoinhas: Wedner e Ananias. Daílton era o mais velho do grupo. Ele tinha na época 26 anos, e por causa disso recebeu o apelido de “O Velho”.

A tia Anete ao nos receber, entregou a mim a Zé Esmeraldo uma chave da porta de entrada e nos disse: “vocês saem e entram na hora que quiserem e não precisam me avisar nada.” Senti um enorme peso, pois lá em casa, eu vivia sob certo controle e acompanhamento. Mas aos poucos aprendi a usar minha independência e isto me foi de grande importância para meu amadurecimento pessoal.

Ainda hoje, eu sou grato a essa minha querida tia por ter tornado possível a realização de um sonho. Se não fosse sua solicitude não teria oportunidade de estudar num grande centro. Por isso eu tenho por ela um enorme carinho e gratidão. Ela é a única das minhas tias ainda viva. Reside no Crato, com bastante lucidez e invejável memória, aos oitenta e nove anos. Em julho próximo, esperamos festejar seus 90 anos.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Roberto Siebra - O ajudante de pedreiro que se fez doutor

Filho de merendeira e marceneiro, Roberto Siebra tem uma história de vida que orgulha os filhos da classe do proletariado deste país. Quando menino vendeu pão picolé, inventou de ser engraxate, já adulto foi ajudante de pedreiro e atualmente é professor doutor da Universidade Regional do Cariri – URCA. Siebra foi perseguido na sua juventude por causa da sua militância política e é uma das figuras históricas do Partido Comunista do Brasil na Região do Cariri por ter ajudado a construir o partido no período da semi-cladestinidade.

Alexandre Lucas - Quem é Roberto Siebra?

Roberto Siebra - Um rapaz nascido e criado no bairro do Seminário, no município do Crato, tendo uma bela vista do Sopé da Chapada do Araripe, filho de uma merendeira de escola pública e de um marceneiro, casal que criou seus 4 filhos de forma honesta e ética, ensinamentos estes que até os dias atuais tomo como guia nas ações que pratico no cotidiano.


Alexandre Lucas - Como teve início o seu contato com o Partido Comunista do Brasil – PCdoB?

Roberto Siebra - O meu contato foi no inicio da década de 80, quando na oportunidade participava dos movimentos de juventude existentes no nosso município. Naquele período o Brasil vivia os dias finais da ditadura militar, com grandes manifestações da sociedade civil e política participando de milhares de movimentos pela liberdade e pela democracia. Foi em um destes momentos que conheci o PCdoB, ainda na clandestinidade.

Alexandre Lucas - Você teve um trabalho importante na construção do PCdoB na região do Cariri, no tempo em que o partido ainda vivia na clandestinidade. O que foi ser comunista neste tempo?

Roberto Siebra - Lembro bem que neste período éramos obrigados a termos nomes falsos, o meu era Mauricio, e as reuniões eram feitas obedecendo a várias regras de segurança, entre as quais, a de nunca exceder o numero de três pessoas, não fazer anotações, não se reunir sempre no mesmo lugar, etc.

Foi um período muito difícil para mim, então com 17 anos, que tive que trocar vários prazeres da juventude, pela prática política semi-clandestina. Significou por um bom tempo ter que mentir para família (Ex. varias vezes tinha reunião em Fortaleza e ai dizia que íamos para um encontro religioso, uma viagem de ferias, etc.)

Significou também enfrentar um grande preconceito de pessoas e instituições, e como exemplo lembro um episodio que mim marcou profundamente, a solicitação, na época de pessoas da Igreja Católica exigindo que retirasse do movimento de juventude, pois isto podia prejudicá-lo, etc.

Outro exemplo marcante foi a minha expulsão do Colégio Agrícola do Crato, depois de ter sido arrombado o meu armário e retirado alguns pertences, entre os quais alguns documentos tidos como subversivos. Mas, nada disto nos tirava a certeza de que o novo sempre vem, como diz o poeta Belchior. E, poucos anos depois, pudemos comprovar isto na prática com o fim da ditadura militar e o retorno a um país democrático.

E como as coisas mudaram, sinto feliz em ter dado esta contribuição. Esta é a melhor coisa que tenho, é o meu bem mais precioso, que deixo aos meus filhos, meus netos e próximos da minha geração. Dizer-lhes e provar-lhes que ajudei a construir um país livre da opressão e da miséria, tarefa que ainda continuo até hoje e pretendo levar até os dias finais de vida.

Alexandre Lucas – Quais eram os desafios?

Roberto Siebra - O grande desafio da época era combinar o trabalho semi-clandestino com o trabalho legal, mas o grande trabalho era organizar o combate a Ditadura Militar, daí tínhamos uma grande participação no movimento secundarista e de bairros.

Alexandre Lucas – Você vem da classe operária e teve uma vida sem facilidades. Antes de receber a titulação de doutor foi servente da
construção civil.

Roberto Siebra - Desde cedo aprendemos a lição reservada aos filhos das classes pobres – TRABALHAR. Comecei vendendo pão, depois picolés e até, sem muito sucesso tentando ser engraxate. Depois fui contratado por uma construtora para trabalhar nas casas populares, inicialmente como servente e depois, por conta de algumas facilidades, ascendi para apontador. Infelizmente esta carreira na construção civil durou pouco, pois ao descobri que tinha uma militância política e na obra estava tentando sindicalizar alguns funcionários, fui demitido.
Consegui emprego junto aos trabalhadores em transportes rodoviários, passando a atuar especificamente no sindicato dos trabalhadores desta categoria por um longo tempo, e ao sair fui ser Agente de Saúde no Crato, sendo posteriormente conduzido ao Sindicato Estadual dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde.

No decorrer da minha vida sempre mim virei para conseguir trabalho, mas o que é fundamental que nunca larguei os estudos. Mesmo tendo que trabalhar, conclui a minha graduação em História na Faculdade de Filosofia e fiz duas especializações na UECE, o que mim qualificou a trabalhar inicialmente na URCA como professor colaborador sendo contratado como professor efetivo, em decorrência de ter passado no primeiro concurso publico promovido por esta instituição. Foi uma das maiores alegrias da minha vida e da minha família.

Dentro da universidade, e com muita dificuldade lutei para conseguir galgar a patamares maiores. Afirmo com orgulho que eu sou um destes casos excepcionais numa sociedade como a nossa que reservou os melhores lugares sociais, políticos e econômicos, para as classes dominantes e abastardas. Imaginar que uma pessoa que teve a minha origem e história chegar a um dos maiores títulos acadêmicos em uma universidade brasileira – SER DOUTOR.

Alexandre Lucas – Essa sua trajetória é marcada por momentos difíceis?

Roberto Siebra - É verdade, aminha vida não foi nem é fácil. O importante nisto tudo é como enfrentamos e resolvemos estas dificuldades e tomei a decisão de enfrentá-las através de muito trabalho, de ser sincero, honesto e ético. Principalmente de nunca esquecer minha origem e em especial o esforço que o meu pai e mãe (Cristovão e Altina) fizeram para chegar aonde cheguei. Sem meus genitores, não estaria onde estou hoje e a eles dedico todas estas conquistas.

A esta trajetória gostaria de tirar uma lição aprendida na prática, por mais difícil que seja a vida, podemos conseguir sair vitorioso, mas isto significar ir a luta e não só ficar em casa se lamentando ou criticando os outros. Eu sou a prova viva disto.

Alexandre Lucas – Antes você ajudava a construir prédios e hoje ajudar a construir consciências?

Roberto Siebra - Esta é maior tarefa que existe e que enfrento. Construir consciências é um prédio muito difícil de levantar, até porque nunca estará concluso, sempre terá um andar para subir, o que exige um cotidiano de práticas e compromissos. Na construção das consciências existem dois fatores importantes, de caráter objetivo e subjetivo. O primeiro está relacionado como a pratica da educação formal e informal e o fator subjetivo engloba outras situações, muito difíceis de enfrentar numa sociedade onde o valor supremo é o dinheiro e o poder material, em detrimentos de outros valores éticos e morais transformados em moeda de troca no mercado de ações capitalistas.

Construir consciência significa construir um novo mundo calcado em valores supremos de dignidade e respeito aos valores fundamentais dos seres humanos. Significa em primeiro lugar acabar com a fome a miséria da maioria de nossa população.

Alexandre Lucas – O que significa a educação para você?

Roberto Siebra - Um passo importante, mas não o único, para iniciarmos o processo da construção de nossas consciências, um aliado fundamental para darmos dignidade a pessoa humana, e um instrumento valiosos na construção de uma ova sociedade. Não podemos prescindir do papel da educação como essencial no processo de produção e transformação das riquezas materiais, ou melhor dizendo, alavanca fundamental no avanço das forças produtivas e conseqüente mudança das relações sociais.

Alexandre Lucas – Existe uma crença de que a educação fará a revolução. Você acredita nisso?

Roberto Siebra - Não acredito que educação faça revolução até porque se isto fosse verdade os professores seriam agentes altamente revolucionários e aqueles que tem mestrado e/ou doutorado seriam seus lideres. E a realidade é bem diferente, pois a história mostra que este segmento nunca foi capaz de avançar ou liderar processos revolucionários significativos, ficando sua participação política restrita a lutas especificas, como melhoria salarial, etc.

É bem verdade que a educação formal pode ser um componente importante no processo de transformações de uma sociedade, mas se isto for acompanhado de um processo de conscientização política que ocorra em outras arenas da vida.

Alexandre Lucas – Qual o seu papel enquanto professor?

Roberto Siebra - O mesmo que tinha quando estava na fabrica, contribuir para a construção de um mundo melhor. Não mudou nada o fato de ser professor no que diz respeito ao meu papel, só o terreno da prática, pois é mais difícil ser professor universitário do que ser operário. O palco é diferenciado com grande predominância da vaidade e da falta de humildade, fatores que impedem que vejamos as outras categorias como parceiras e que exercem um papel fundamental na construção de uma nova realidade


Alexandre Lucas – O índice de analfabetismo em Cuba é baixíssimo. Quando você esteve em Cuba pode perceber diferenças no sistema educacional brasileiro?

Roberto Siebra - Tenho viajado muito, Europa, América Central e mais recentemente vários países da América Latina e isto mim fez ter muito cuidado na hora de fazer avaliações sobre as realidades especificas de cada país. São contextos históricos, sociais e políticos completamente diferentes dos nossos e temos que levar isto em consideração sob pena de cometermos erros de avaliação.

O caso cubano é mais complicado porque temos que levarmos em consideração um fator importante na construção histórica deste país, refiro-me a tentativa deste povo construir uma nova sociedade diferente daquela que estamos acostumados e que tem como base a mercantilização das relações. Isto é diferente e vai de encontro a falsa realidade que permeia a maioria da humanidade construída principalmente pelas classes dominantes dos grandes países imperialistas modernos, especialmente os Estados Unidos.

Não precisamos aqui fazemos nenhuma apologia a realidade cubana, pois os dados estatísticos referentes a conquistas sociais, nos quais está inserido a educação, são provas cientificas da vitalidade do sistema e dos grandes avanços conseguidos por este povo. É bem verdade que existem grandes problemas a serem enfrentados e vencidos e isto tem sido uma pratica cotidiana deste povo.

Alexandre Lucas - O seu doutorado é em Sociologia e sua tese tem como título: Os subterrâneos do poder: corrupção e instituições de controle no Estado do Ceará. O que você pode concluir a partir desta pesquisa?

Roberto Siebra - São varias as conclusões, mas especialmente, no que se diz respeito a corrupção podemos afirmar que é um fenômeno histórico, datado e não natural como afirma o senso comum. Isto significa dizer que esta pratica política, assim como teve inicio pode ter fim.

A corrupção é uma prática política de poder relacionada às elites dominantes que sempre a usaram como forma de manter os seus privilégios, motivo pela qual persistem nas instituições governamentais.

Outro fator importante diz respeito a relação entre corrupção e democracia, na medida em que esta ultima pode ser um antídoto poderoso para combater esta pratica ilícita.

Alexandre Lucas – No final do ano passado você vez uma aventura pela America Latina que lembra o revolucionário Ernesto Che Guevara. Como foi essa experiência em conhecer os países vizinhos como mochileiro?

Roberto Siebra - Estive recentemente na Bolívia, Peru, Chile e Argentina, conhecendo estes lugares, seu povo e historia de uma forma que lembra Guevara.Mas apesar de ter adotado a mesma forma de conhecimento, isto é, usar meios alternativos para esta aventura, nunca tive a presunção de imitar o comandante, até porque isto seria impossível, por vários motivos. Foi uma viagem de conhecimento, já que tive acesso a povos, culturas e costumes em tempo real, sem intermediários, vivenciando o cotidiano de nossos irmãos latino americanos. Isto é fundamental para o aprendizado de um cientista social de profissão e de coração que acredita que a busca do conhecimento tem que ter dois pilares inseparáveis: a teoria e a prática.

Todo este roteiro foi feito a pé, de bicicleta e de ônibus, seguindo um projeto que foi pensado por cerca de 10 meses e que foi finalmente concretizado, com todos os percalços que uma empreitada desta pode oferecer, inclusive risco de vida. Certamente foi uma das maiores aventuras de minha vida e mim impulsionou a transformá-la numa rotina a ponto de esta já planejando uma próxima

Roberto Siebra - O ajudante de pedreiro que se fez doutor

Filho de merendeira e marceneiro, Roberto Siebra tem uma história de vida que orgulha os filhos da classe do proletariado deste país. Quando menino vendeu pão picolé, inventou de ser engraxate, já adulto foi ajudante de pedreiro e atualmente é professor doutor da Universidade Regional do Cariri – URCA. Siebra foi perseguido na sua juventude por causa da sua militância política e é uma das figuras históricas do Partido Comunista do Brasil na Região do Cariri por ter ajudado a construir o partido no período da semi-cladestinidade.

Alexandre Lucas - Quem é Roberto Siebra?

Roberto Siebra - Um rapaz nascido e criado no bairro do Seminário, no município do Crato, tendo uma bela vista do Sopé da Chapada do Araripe, filho de uma merendeira de escola pública e de um marceneiro, casal que criou seus 4 filhos de forma honesta e ética, ensinamentos estes que até os dias atuais tomo como guia nas ações que pratico no cotidiano.


Alexandre Lucas - Como teve início o seu contato com o Partido Comunista do Brasil – PCdoB?

Roberto Siebra - O meu contato foi no inicio da década de 80, quando na oportunidade participava dos movimentos de juventude existentes no nosso município. Naquele período o Brasil vivia os dias finais da ditadura militar, com grandes manifestações da sociedade civil e política participando de milhares de movimentos pela liberdade e pela democracia. Foi em um destes momentos que conheci o PCdoB, ainda na clandestinidade.

Alexandre Lucas - Você teve um trabalho importante na construção do PCdoB na região do Cariri, no tempo em que o partido ainda vivia na clandestinidade. O que foi ser comunista neste tempo?

Roberto Siebra - Lembro bem que neste período éramos obrigados a termos nomes falsos, o meu era Mauricio, e as reuniões eram feitas obedecendo a várias regras de segurança, entre as quais, a de nunca exceder o numero de três pessoas, não fazer anotações, não se reunir sempre no mesmo lugar, etc.

Foi um período muito difícil para mim, então com 17 anos, que tive que trocar vários prazeres da juventude, pela prática política semi-clandestina. Significou por um bom tempo ter que mentir para família (Ex. varias vezes tinha reunião em Fortaleza e ai dizia que íamos para um encontro religioso, uma viagem de ferias, etc.)

Significou também enfrentar um grande preconceito de pessoas e instituições, e como exemplo lembro um episodio que mim marcou profundamente, a solicitação, na época de pessoas da Igreja Católica exigindo que retirasse do movimento de juventude, pois isto podia prejudicá-lo, etc.

Outro exemplo marcante foi a minha expulsão do Colégio Agrícola do Crato, depois de ter sido arrombado o meu armário e retirado alguns pertences, entre os quais alguns documentos tidos como subversivos. Mas, nada disto nos tirava a certeza de que o novo sempre vem, como diz o poeta Belchior. E, poucos anos depois, pudemos comprovar isto na prática com o fim da ditadura militar e o retorno a um país democrático.

E como as coisas mudaram, sinto feliz em ter dado esta contribuição. Esta é a melhor coisa que tenho, é o meu bem mais precioso, que deixo aos meus filhos, meus netos e próximos da minha geração. Dizer-lhes e provar-lhes que ajudei a construir um país livre da opressão e da miséria, tarefa que ainda continuo até hoje e pretendo levar até os dias finais de vida.

Alexandre Lucas – Quais eram os desafios?

Roberto Siebra - O grande desafio da época era combinar o trabalho semi-clandestino com o trabalho legal, mas o grande trabalho era organizar o combate a Ditadura Militar, daí tínhamos uma grande participação no movimento secundarista e de bairros.

Alexandre Lucas – Você vem da classe operária e teve uma vida sem facilidades. Antes de receber a titulação de doutor foi servente da
construção civil.

Roberto Siebra - Desde cedo aprendemos a lição reservada aos filhos das classes pobres – TRABALHAR. Comecei vendendo pão, depois picolés e até, sem muito sucesso tentando ser engraxate. Depois fui contratado por uma construtora para trabalhar nas casas populares, inicialmente como servente e depois, por conta de algumas facilidades, ascendi para apontador. Infelizmente esta carreira na construção civil durou pouco, pois ao descobri que tinha uma militância política e na obra estava tentando sindicalizar alguns funcionários, fui demitido.
Consegui emprego junto aos trabalhadores em transportes rodoviários, passando a atuar especificamente no sindicato dos trabalhadores desta categoria por um longo tempo, e ao sair fui ser Agente de Saúde no Crato, sendo posteriormente conduzido ao Sindicato Estadual dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde.

No decorrer da minha vida sempre mim virei para conseguir trabalho, mas o que é fundamental que nunca larguei os estudos. Mesmo tendo que trabalhar, conclui a minha graduação em História na Faculdade de Filosofia e fiz duas especializações na UECE, o que mim qualificou a trabalhar inicialmente na URCA como professor colaborador sendo contratado como professor efetivo, em decorrência de ter passado no primeiro concurso publico promovido por esta instituição. Foi uma das maiores alegrias da minha vida e da minha família.

Dentro da universidade, e com muita dificuldade lutei para conseguir galgar a patamares maiores. Afirmo com orgulho que eu sou um destes casos excepcionais numa sociedade como a nossa que reservou os melhores lugares sociais, políticos e econômicos, para as classes dominantes e abastardas. Imaginar que uma pessoa que teve a minha origem e história chegar a um dos maiores títulos acadêmicos em uma universidade brasileira – SER DOUTOR.

Alexandre Lucas – Essa sua trajetória é marcada por momentos difíceis?

Roberto Siebra - É verdade, aminha vida não foi nem é fácil. O importante nisto tudo é como enfrentamos e resolvemos estas dificuldades e tomei a decisão de enfrentá-las através de muito trabalho, de ser sincero, honesto e ético. Principalmente de nunca esquecer minha origem e em especial o esforço que o meu pai e mãe (Cristovão e Altina) fizeram para chegar aonde cheguei. Sem meus genitores, não estaria onde estou hoje e a eles dedico todas estas conquistas.

A esta trajetória gostaria de tirar uma lição aprendida na prática, por mais difícil que seja a vida, podemos conseguir sair vitorioso, mas isto significar ir a luta e não só ficar em casa se lamentando ou criticando os outros. Eu sou a prova viva disto.

Alexandre Lucas – Antes você ajudava a construir prédios e hoje ajudar a construir consciências?

Roberto Siebra - Esta é maior tarefa que existe e que enfrento. Construir consciências é um prédio muito difícil de levantar, até porque nunca estará concluso, sempre terá um andar para subir, o que exige um cotidiano de práticas e compromissos. Na construção das consciências existem dois fatores importantes, de caráter objetivo e subjetivo. O primeiro está relacionado como a pratica da educação formal e informal e o fator subjetivo engloba outras situações, muito difíceis de enfrentar numa sociedade onde o valor supremo é o dinheiro e o poder material, em detrimentos de outros valores éticos e morais transformados em moeda de troca no mercado de ações capitalistas.

Construir consciência significa construir um novo mundo calcado em valores supremos de dignidade e respeito aos valores fundamentais dos seres humanos. Significa em primeiro lugar acabar com a fome a miséria da maioria de nossa população.

Alexandre Lucas – O que significa a educação para você?

Roberto Siebra - Um passo importante, mas não o único, para iniciarmos o processo da construção de nossas consciências, um aliado fundamental para darmos dignidade a pessoa humana, e um instrumento valiosos na construção de uma ova sociedade. Não podemos prescindir do papel da educação como essencial no processo de produção e transformação das riquezas materiais, ou melhor dizendo, alavanca fundamental no avanço das forças produtivas e conseqüente mudança das relações sociais.

Alexandre Lucas – Existe uma crença de que a educação fará a revolução. Você acredita nisso?

Roberto Siebra - Não acredito que educação faça revolução até porque se isto fosse verdade os professores seriam agentes altamente revolucionários e aqueles que tem mestrado e/ou doutorado seriam seus lideres. E a realidade é bem diferente, pois a história mostra que este segmento nunca foi capaz de avançar ou liderar processos revolucionários significativos, ficando sua participação política restrita a lutas especificas, como melhoria salarial, etc.

É bem verdade que a educação formal pode ser um componente importante no processo de transformações de uma sociedade, mas se isto for acompanhado de um processo de conscientização política que ocorra em outras arenas da vida.

Alexandre Lucas – Qual o seu papel enquanto professor?

Roberto Siebra - O mesmo que tinha quando estava na fabrica, contribuir para a construção de um mundo melhor. Não mudou nada o fato de ser professor no que diz respeito ao meu papel, só o terreno da prática, pois é mais difícil ser professor universitário do que ser operário. O palco é diferenciado com grande predominância da vaidade e da falta de humildade, fatores que impedem que vejamos as outras categorias como parceiras e que exercem um papel fundamental na construção de uma nova realidade


Alexandre Lucas – O índice de analfabetismo em Cuba é baixíssimo. Quando você esteve em Cuba pode perceber diferenças no sistema educacional brasileiro?

Roberto Siebra - Tenho viajado muito, Europa, América Central e mais recentemente vários países da América Latina e isto mim fez ter muito cuidado na hora de fazer avaliações sobre as realidades especificas de cada país. São contextos históricos, sociais e políticos completamente diferentes dos nossos e temos que levar isto em consideração sob pena de cometermos erros de avaliação.

O caso cubano é mais complicado porque temos que levarmos em consideração um fator importante na construção histórica deste país, refiro-me a tentativa deste povo construir uma nova sociedade diferente daquela que estamos acostumados e que tem como base a mercantilização das relações. Isto é diferente e vai de encontro a falsa realidade que permeia a maioria da humanidade construída principalmente pelas classes dominantes dos grandes países imperialistas modernos, especialmente os Estados Unidos.

Não precisamos aqui fazemos nenhuma apologia a realidade cubana, pois os dados estatísticos referentes a conquistas sociais, nos quais está inserido a educação, são provas cientificas da vitalidade do sistema e dos grandes avanços conseguidos por este povo. É bem verdade que existem grandes problemas a serem enfrentados e vencidos e isto tem sido uma pratica cotidiana deste povo.

Alexandre Lucas - O seu doutorado é em Sociologia e sua tese tem como título: Os subterrâneos do poder: corrupção e instituições de controle no Estado do Ceará. O que você pode concluir a partir desta pesquisa?

Roberto Siebra - São varias as conclusões, mas especialmente, no que se diz respeito a corrupção podemos afirmar que é um fenômeno histórico, datado e não natural como afirma o senso comum. Isto significa dizer que esta pratica política, assim como teve inicio pode ter fim.

A corrupção é uma prática política de poder relacionada às elites dominantes que sempre a usaram como forma de manter os seus privilégios, motivo pela qual persistem nas instituições governamentais.

Outro fator importante diz respeito a relação entre corrupção e democracia, na medida em que esta ultima pode ser um antídoto poderoso para combater esta pratica ilícita.

Alexandre Lucas – No final do ano passado você vez uma aventura pela America Latina que lembra o revolucionário Ernesto Che Guevara. Como foi essa experiência em conhecer os países vizinhos como mochileiro?

Roberto Siebra - Estive recentemente na Bolívia, Peru, Chile e Argentina, conhecendo estes lugares, seu povo e historia de uma forma que lembra Guevara.Mas apesar de ter adotado a mesma forma de conhecimento, isto é, usar meios alternativos para esta aventura, nunca tive a presunção de imitar o comandante, até porque isto seria impossível, por vários motivos. Foi uma viagem de conhecimento, já que tive acesso a povos, culturas e costumes em tempo real, sem intermediários, vivenciando o cotidiano de nossos irmãos latino americanos. Isto é fundamental para o aprendizado de um cientista social de profissão e de coração que acredita que a busca do conhecimento tem que ter dois pilares inseparáveis: a teoria e a prática.

Todo este roteiro foi feito a pé, de bicicleta e de ônibus, seguindo um projeto que foi pensado por cerca de 10 meses e que foi finalmente concretizado, com todos os percalços que uma empreitada desta pode oferecer, inclusive risco de vida. Certamente foi uma das maiores aventuras de minha vida e mim impulsionou a transformá-la numa rotina a ponto de esta já planejando uma próxima