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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Imagens - Emerson Monteiro

Elas vêm de novo se achegando aqui por perto espraiando pelo firmamento do juízo, e tomam conta desse universo inteiro de mim. Os fragmentos amarelecidos nas lufadas de vento em folhas sacudidas, multidão impaciente, dão mostras de vida nas árvores da Serra. Junto, cantos esparsos, pipilados intermitentes de aves friorentas, ponteiam cada instante, assinalando o rufar do relógio preso dentro do guarda-roupa indiferente na condição da casa. E fiapos soltos de pensamentos voam libertos pelo ar, quais acordes sincopados de velhas sinfonias do mais distante passado. As cicatrizes do aprendizado, que a história oferece ao sentimento porejam de interrogações, nos toques abandonados de reluzentes aventuras arcaicas ao sol da manhã fria. São porta-lápis de aulas anteriores que invadem o querer da gente de falas, lembranças de filmes, livros, poemas, numa sala vazia das pessoas que se ausentaram, deixando saudades contundentes na existência audaz, enquanto o barco, impávido, seguia sua jornada-correnteza nos caminhos a acima.
Imagens grudadas nas paredes da memória que ardem, pois, notícias agitam o esquecimento ainda meio adormecido. Tantas palavras aqui depositadas em tomos empoeirados, nas prateleiras das coisas fugazes, biblioteca milenar de quimeras, sonhos, névoas, estremecimentos, motores eternos, quase trilhos, que circulam dimensões consistentes, acordes, cantigas, histórias, palmas acesas, o farol aberto das enseadas, grilhões rompidos e normas restabelecidas.
Cruzar pontes levadiças, cavaleiros andantes, vultos escondidos sob capuzes misteriosos, sombras que desfilam na retina imortal de olhos ensolarados, alvoradas festivas ao gosto próspero do viver sorridente que brinca semi-deuses conosco quadro a quadro.
Quantas cartas vagam silenciosas, a transcorrer os espaços aquecidos da alma. Quantas vagas... Então, número infinito de perguntas pulula na tela verde-azul em gotas suaves de ondas quebrando ao acaso, luzes vindas bem de dentro; com isso, mostram avisos de outras formações em movimento, mesma sequência de objetos ofertados às portas e janelas entregues no sereno circunstancial das horas.
Um pulsar de veias no só cuida de aumentar o cenário interior entranhado pela música do vento. Estrelas que latejam céus de ritmos persistentes. Contudo, cheiro de vida preenche o bojo dos sentidos, circula em volta do mastro do coração e desce pelas encostas adormecidas do corpo, tatuando marcas indeléveis, gravadas para sempre na eternidade de um todo coerente sem desaparecer ingrato nas curvas macias e carinhosas dos lençóis.
OBS.: Notas de uma madrugada fria de domingo, inícios do mês de agosto de 2010.

"Escrever não é fácil, não há glamour", diz Ronaldo Correia de Brito

FABIO VICTOR (ENVIADO ESPECIAL A PARATY )

Ronaldo Correia de Brito está atormentado com uma grave lesão cervical, resultado das horas em frente ao computador para finalizar "Retratos Imorais", seu novo livro de contos.

"Escrever não é fácil, não há glamour. E depois você escreve e espera cem anos para ser compreendido. E às vezes não é compreendido. A ânsia por dar sentido à escrita é algo muito doloroso."

Por conta desse tormento, diz que pensa frequentemente em desistir do ofício, no que é dissuadido pelo colega Raimundo Carrero --vencedor neste ano do Prêmio São Paulo de Literatura, ganho em 2009 por Correia de Brito-- e pelo editor Marcelo Ferroni, da Alfaguara, por onde publica.

Talvez as dores da escrita venham sendo, no seu caso, amenizadas cada vez mais, senão por compreensão, por maior reconhecimento.

Cearense radicado no Recife, 59 anos, médico e dramaturgo, Correia de Brito foi alçado ao primeiro time da literatura com a conquista do Prêmio São Paulo, pelo romance "Galileia".

O escritor Ronaldo Correia de Brito

"Retratos Imorais" nasceu de uma provocação do editor Plínio Martins Filho, da Ateliê Editorial, ao ouvir Correia de Brito ler um dos contos.

O autor tinha histórias guardadas há 40 anos, "contos refugados, de gaveta".

Martins quis os refugos, mas, em vez disso, Correia de Brito os juntou com narrativas recentes e publica agora o saldo. "Traí Plínio, porque aproveitei a ideia dele e não publiquei com ele."

Receoso por uma falta de unidade em contos tão distantes cronologicamente, percebeu que todos tinham imagens em sua raiz.

"Duas Mulheres em Preto e Branco", história que abre o livro ("um olhar sobre a histeria feminina", segundo o autor), tem a influência das fotografias de Robert Polidori. Assim como "Romeiros com Sacos Plásticos" foi reescrita depois que o autor viu imagens de Patrick Bogner sobre os romeiros de Juazeiro do Norte, no Ceará.

Correia de Brito escreve desde os 16 anos. Suas peças infantis são sucesso de crítica e público em Pernambuco. O auto de Natal "O Baile do Menino Deus" está em cartaz há 27 anos.

Mas só publicou literatura há cerca de dez anos. "Você se torna escritor quando começa a publicar."

LEITINHO

Se o processo criativo é sacrificante e o produto dele não menos, então não resta prazer quando tudo termina?

Fala o autor: "Sem dúvida há um deleite, um leitinho materno no fim das contas para pagar tudo isso".

Fonte: Folha.com