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sábado, 14 de novembro de 2009

A Cola do Henrique – por Carlos Eduardo Esmeraldo

Nesta sexta-feira 13, eu e Magali participamos de um agradável jantar, a convite do nosso amigo e meu ex-colega do velho Colégio Diocesano do Crato, José Henrique Vieira da Cruz, que nos anos sessenta era conhecido em todo o Crato por “Henrique da Pernambucana.” Para nós, seus colegas do Diocesano, ele era simplesmente o “Nêgo Henrique”, cheio de bossa, criador da “Charanga da Pernambucana” que animava o carnaval de rua cratense. Também foi o fundador da “Sociedade Esportiva Buchada”, uma entidade que, como o nome bem sugere, reunia todos aqueles que gostavam de jogar futebol de salão, mas por jogarem com uma bola bem “quadradinha” eram injustamente relegados pelo selecionado do colégio.
Henrique relembrou para nós muitas histórias daquela época que vale a pena contar. Uma delas era sobre uma “cisma” que Monsenhor Montenegro tinha com ele. Diretor do Colégio e nosso professor de Inglês e OSPB, apesar de austero, o monsenhor tinha muito carinho pelos seus alunos. Para ele, “Henry”, como assim o chamava, “pescava” nas provas de suas duas disciplinas. E tinha toda razão.
Naquela época as carteiras escolares eram para dois alunos, o que possibilitava a visualização de tudo aquilo que o colega ao lado escrevia. Henrique sentava-se na mesma carteira com um colega estudante de inglês no IBEU, cujo programa era bem mais avançado. Os dois combinaram que fariam um acordo de permitir que um pudesse “olhar” o que o outro escrevia. Nas provas de inglês Henrique copiava quase tudo que o colega escrevia, com o cuidado de cometer alguns erros de propósito, de modo a tirar uma nota um pouco inferior que à do colega. Após a prova corrigida, eram devolvidas aos alunos com a respectiva nota. Numa delas, Henrique recebeu sua prova sem nota. Foi perguntar ao monsenhor por que sua prova não estava corrigida. “É a mesma prova do seu colega do lado. Na próxima eu quero ver você colar. Vai se sentar sozinho, bem aqui na minha frente.” Disse-lhe o monsenhor, sob protestos do Henrique de que havia uma questão em branco. O desafio foi lançado. Como não havia mais nenhuma prova de inglês, a seguinte seria de OSPB. Na véspera dessa prova, Henrique preparou uma cola num pedaço de papel um tanto quanto espesso, amarrou-o com uma liga presa na parte inferior da calça, de modo que a folha de papel ficasse rente as meias do sapato. Tudo ele programou, visualizando antecipadamente todas as possibilidades. No dia da prova Henrique disse ao colega: “Ele vai me chamar para frente e eu pego o teu livro de OSPB para levar comigo. Então ele vai me mandar deixar o livro na carteira.” Foi dito e feito conforme o programado. “Deixe o livro na carteira Henry. “Está pensando que hoje você vai colar!”– Disse-lhe o monsenhor. Era o que Henrique queria. Sentou-se numa carteira estrategicamente colocada ao lado da mesa do professor. Durante a prova, a cada descuido do monsenhor, Henrique puxava pela liga e copiava alguma coisa. Mas como antecipadamente dedicara um bom tempo para preparar o seu artefato de pesca, muita coisa havia aprendido e ia respondendo sem necessidade de colar.
No dia da entrega das provas o monsenhor exclamou: “Estão vendo! Quando o Henry quer, ele estuda!” A classe inteira soltou uma estrondosa gargalhada.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Mostra Sesc Cariri de Cultura: do mundo ao sertão

Teatros, praças, centros culturais, escolas e até mesmo a casa do próprio espectador são transformados em palcos durante a Mostra SESC Cariri de Cultura. A décima primeira edição do evento acontece até 20 de novembro em 15 cidades do Vale do Cariri, no sul do Ceará, e depois continua em Fortaleza, entre 21 e 26 de novembro. A programação movimenta mais de 600 artistas de 11 países, em espetáculos de teatro, literatura, música e audiovisual, excursões gastronômicas, debates e oficinas. As apresentações devem atrair cerca de 300 mil pessoas à região.

No Vale do Cariri, o público pode acompanhar a programação em espaços culturais, praças e escolas nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Nova Olinda. Durante o evento outros 11 municípios da região recebem apresentações itinerantes, formando o Circuito Patativa do Assaré. Os espetáculos trazem artistas de Portugal, Argentina, Uruguai, Finlândia, França, Colômbia, Cabo Verde, Cuba, Espanha e Alemanha, além de grupos do Brasil.

Na programação, a Mostra SESC Cariri de Cultura apresenta uma variada interação entre o espectador e os artistas. Em várias apresentações, eles descem do palco e transformam o público em parte do espetáculo. Ainda mais ousada, a peça teatral Bineural-Monokultur, dos argentinos Ariel e Christiane, usa como locações as próprias casas dos espectadores. O Grupo Pedras de Teatro, do Rio de Janeiro, convida o público a se sentar à mesa de jantar durante a apresentação do espetáculo Mangiare.

Durante a Mostra ocorre ainda o seminário Arte e Pensamento – A Reinvenção do Nordeste. A conferência acontece entre os dias 16 e 19 em Juazeiro do Norte e promove palestras sobre as produções artísticas e culturais da Região Nordeste na atualidade. Entre os convidados estão Daniel Lins, filósofo e professor associado da Universidade de Paris, e Durval Muniz de Albuquerque Jr., pós-doutor em história pela Universidade de Barcelona.

No encerramento da Mostra na região do Cariri, em 20 de novembro, diversos artistas participam do OverDoze. O evento acontece em Crato, com programação variada durante 12 horas ininterruptas. Com espetáculos de várias linguagens, o OverDoze traz um compacto do que foi apresentado nos dias anteriores. Em Fortaleza, o público se despede da Mostra no dia 26 com uma aula-espetáculo do escritor pernambucano Ariano Suassuna, no CineSESC São Luiz, e com diversas apresentações na Praça do Ferreira, ponto central da cidade.



Acesse AQUI a programação completa.

Fonte: SESC

Triunvirato da Poesia Cariri: Chagas, Lupeu & Domingos Barroso

que futuro tem a poesia

que futuro tem a poesia?
poetas cortando a própria carne
faca entre os dentes
arte enlatada
tudo por três reais e quinze centavos
ou um pouco mais

que nunca se sabe o valor real das coisas
ainda que falsas
como falsa é a tarde cheia de avisos
que faz todos absolutamente cativos

no meio da avenida tem um menino
ele não cabe num verso
a cidade lhe tem aversão

todas as cidades do mundo
com seus peitos enlameados
amadas como putas
no meio de cada uma um menino
perdido no reverso do amor
acredite em mim!

uma versão do amor que resulta
num inferno de vozes
ruídos roncos estrela solitária
estrelas caçando um céu
mesmo que de aluguel

que futuro tem a poesia?

Poesia de Chagas

(...)

Quero porque quero. E o querer me movimenta como se motor fosse. Ilegal. Como se fosse. Voraz como um afrodisíaco ainda não inventado. Dengo. Como se fosse dengo. Assim como se fosse um sorvete de gosto engraçado. Fruta gelada talvez. Como se fosse. Ansiedade de ver na cidade um caminho que minimize a dor de viver do resto. O cérebro, esse motor engraçado, ainda bem. Sei não das coisas que penso que sei. Abraço dado no que olha a bunda com fome. Silencio quando o que não quero ouvir salta na mesa. Deuses que envelhecem como se envelhecer não fosse. Impossível não se surpreender. Sei lá. Não sei. O a dois é quase três. Reticências onde pode haver interrogação. Eu sou o meu desejo. Eu sou o melhor que deus achou de fazer de mim. Eu sou uma instalação de um artista pop com lobotomia. É sim. Estou entregue. E tenho ânsia. E faço graça do relógio. E faço graça do tempo. Tem porra nenhuma acontecendo. Amanhã eu penso em depois de amanhã. Até porque sempre será domingo quando eu quiser.

Crônica de Lupeu Lacerda

(...)

Livro de Veludo

Eu berro, uivo, corto o dedo
acho a vida intragável
já acendi velas
vomitei no travesseiro
nunca fui amado
nem amei criatura alguma

Eu forjo provas do crime
minto, iludo quem me cerca
tenho inveja do homem belo
meu sonho é traçar divas superstars
sugar-lhes a alma, roubar-lhes os diamantes

Eu não presto atenção no outro
aproveito-me da amizade sincera
adoro minhas flatulências
não tenho paciência com idosos
nem com mancebos arrebatados
amo minhas paredes
já comi na infância muito barro
engordei solitárias
fui um mísero sonhador
sempre levando chutes na bunda
das musas estonteantes e cruéis
experimentei alfenim quente
mastiguei raízes químicas
bebi, fumei, queimei o nariz

Sou um sujeito horrendo
e entre mortos, feridos e loucos
a Poesia sempre vence
nunca vacila.

Poesia de Domingos Barroso

Agenda Cultural

Companhias de Teatro realizam Guerrilha no Cariri
Os grupos de teatro e dança da região do Cariri se uniram para realizar no período de 07 a 22 de novembro a Guerrilha do Ato Dramático Caririense. O evento reune 16 espetáculos de dança e teatro direcionado para o público infantil e adulto. A abertura da Guerrilha aconteceu no último sábado, 7 de novembro, com uma procissão de artistas e brincantes saindo da Praça São Vicente e em direção ao Teatro Rachel de Queiroz , Quartel General dos guerrilheiros do ato dramático.
Programação
14/11 (sábado), 19:30h: “O PECADO DE CLARA MENINA”, de Cacá Araújo, com a Cia. Cearense de Teatro Brincante e Grupo Cênico do Crato, direção de Cacá Araújo.

15/11 (domingo), 19:30h: "A COMÉDIA DA MALDIÇÃO”, de Cacá Araújo, com a Cia. Cearense de Teatro Brincante e Grupo Cênico da SCAC, direção de Cacá Araújo.

16/11 (segunda-feira), 19:30h: “DESMISTIFICANDO TABUS”, de Joylson John Kandahar, com a Cia. Mandacaru de Arte e Eventos, direção de Joylson John Kandahar.

17/11 (terça-feira), 19:30h: “COQUETEL”, de Wanderley Tavares, com a Cia. Wancylus Gat Produções, direção de Wanderley Tavares.

18/11 (quarta-feira), 19:30h: “DENTRO DA NOITE ESCURA”, de Emannuel Nogueira, com a Cia. Livremente de Teatro, direção de Jean Nogueira.

19/11 (quinta-feira), 19:30h: “AS IRMÃS CASTANHOLAS”, de Joylson John Kandahar, com a Cia. Mandacaru de Arte e Eventos, direção de Joylson John Kandahar.

20/11 (sexta-feira), 19:30h: “ESPERANDO COMADRE DAIANA”, de Emannuel Nogueira, com a Cia. Livremente de Teatro, direção de Renato Dantas.

21/11 (sábado), 19:0h: “BR 116”, de Allysson Amancio, com a Allysson Amancio Cia. de Dança, direção de Allysson Amancio.

22/11 (domingo), 19:30: “BÁRBARO”, com o Grupo Ninho de Teatro.

Agenda do CCBNB Cariri
Dia 14/11, sábado
Atividades Infantis - CRIANÇA E ARTE
14h - Bibliotequinha Virtual.
15h30m - Oficina de Arte e Recreação Educativa.
17h - Sessão Curumim: O Espanta Tubarões.

De 14 /11, sábado, a 19/11, quinta-feira
19h - Especiais MOSTRA CONEXÃO BRASIL CCBNB (Mostra SESC - Cariri)

De 16/11, segunda a 20/11, sexta-feira
Das 14h às 15h - Programas de Rádio na Educadora do Cariri AM. Respectivamente: MPB, com Roberto Marques; Cultura de todo Mundo, com Lenin Falcão; Blues, com Michel Macedo. Composiores do Brasil, com Zé Nillton e Cariri Encantado, com Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael.

ABRIR A CORTINA DO EU - Por Emerson Monteiro

Venha comigo. Vamos juntos erguer a barra do horizonte e vislumbrar algumas imagens resistentes ao esquecimento. Parei, ouvi ruídos e flagrei, circulando sorrateiras nesse espaço que habita a fronteira de mim com a memória, algumas ideias do mundo divisório, transcendental, filhas infinitas do ativo das horas e do ritmo trepidante lá no sótão pegajoso das pausas que pulsam sem parar, limite de coisas e inexistências.
Essas nuvens tradicionais de palavras conhecidas, sentimentos às vezes impetuosos, impacientes poças d’água espalhadas ao longo do caminho, deslizavam ligeiras em propulsão acelerada sob pés indecisos desta sombra que passa numa velocidade selvagem, cativa de atitudes ferinas, a conduzir fragmentos ao final de vários dias, causando reviravoltas no céu, algazarra festiva de andorinhas alegres, inconsequente bando afogueado de colegiais no intervalo das vidas.
Formas de juventude eterna, momentânea. Tudo possibilidades juvenis, sonhos afinados com o vento, feira livre de escorregadias ilusões, lógica perene de turmas de formação e contextos impostos por saltimbancos autoritários, na cena que se abre ao expectador sequioso de nós próprios, riscos, papéis, recordações, arquivos jogados fora, lama fermentada de velhos aniversários e alucinada comemoração.
Com isso, a vontade farejava encontros novos, cruzamento genético de letras e sentido, forçando com bravura o pulmão do parágrafo e gerando blocos consistentes de valores, na alma dos calendários, marcas doridas, atos contidos de luzes, cicatrizes, aventuras, pontos assustados no azul do firmamento, corpos suados de notas musicais e pinceladas agressivas, sonhos absurdos, sementes plantadas em outra dimensão, calada, quieta de querer, dentro das dobras dos corações celerados. Energia que circulava toda a pele do momento, tatuagem de cascas de árvore estóica, vítima do imprevisível carrasco pontiagudo, fagulhado, passado de folhas secas na cascata das eras, tintas e sons assoberbados de dúvida ao impacto da emoção cristalina.
Com passos calculados, cuidadosos, de fera na busca do alimento, ações sincopadas, o espectro arrisca estender mãos no oco do imediato e lota de influência cada aspecto no seguinte do imaginário, e avança clandestino pela greta entre as moléculas da ânsia, corredor vazio diante da sequência dos acontecimentos, película dirigida autor genial, mestre do inesquecível e sábio todo imortal.
De pronto, cresce nos olhos clínicos um tato suficiente a florir de esperança fumegante o desejo, na areia da permissão, ainda que, consigo, traga germes de interdição, todavia, consistente qual meteoro enlavecido na farra vertiginosa da transformação dos impulsos em matéria prima, metamorfose de açúcar em sal, mel em pólen.
Houvesse circunstância favorável, abrir-se-ia a cortina num volteio de brisa, aos acordes do silêncio adormecido na leveza do mistério. Então, luvas crispadas, nervosas, romperiam a vitrine da memória, e poemas e prosas jorrariam em traços e sílabas, silvos e gemidos, inundando a antessala do furor, lívidos atores do espetáculo do alvorecer, e pediriam à orquestra que jugulasse a noite com fanfarras maravilhosas. Entretanto, o pano só se renderia aos metais, largando desenhos conclusivos no ar platinado, sonoro, carrancudo, da presença do senhor e soberano do inevitável tudo Isso.

Pensamento para o Dia 14/11/2009



“Quem é você? O Atma. De onde você veio? Do Atma. Para onde você vai indo? Ao Atma. Quanto tempo você estará aqui? Enquanto estiver envolvido em buscas sensuais. Onde você está? No mundo irreal e mutável. Em que forma? Como aquele que não é o Atma (Anatma). Em que você está interessado? Em tarefas efêmeras. Portanto, o que você deveria fazer daqui por diante? Abandonar tais tarefas efêmeras e esforçar-se em fundir-se ao Atma.”
Sathya Sai Baba