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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fazendo tranças nos cabelos dos outros - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Não lembro quem e se realmente a fonte de seu descontentamento era a Propaganda da Petrobrás cantando o hino nacional e falando de bandeirinhas. A pessoa falava da questão do amor à pátria e lá pelas tantas desancou um discurso sobre as estatais, o uso político delas e, claro, aliviado, defendeu as privatizações dos anos 90. Tomei aquele trecho como o renitente discurso do liberalismo econômico, só que agora tratado como neo, pois não é mais vinculado ao capital produtivo, mas ao financeiro.

A verdade é que com toda esta lambança mundial das economias centrais, muito por desregulamentação - a outra perna das privatizações - pôs em xeque o discurso liberal. Mas ele continua vigoroso, inclusive agora com a fase da crise, a Européia, com ataques ao funcionalismo público, às aposentadorias e todas as políticas de “Seguridade Social”, tão caras à Europa.

No Brasil o discurso neoliberal não está nesta campanha. Melhor explicando, não nos candidatos e seus discursos (tenho a íntegra dos discursos dos dois principais), mas está na Rede Globo de Televisão, na Veja, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. E, claro, como a pessoa lá do início, repercutida na rede social da internet e nos blogs.

Um tripé desta visão de mundo: os impostos, a eficiência privada e a autonomia da mídia em tornar instituição o que é apenas visão de mundo de uma parcela da sociedade. A melhor aquinhoada e a classe média tradicional que se encantou com as promessas frustrantes do mercado.

Atacar impostos, como faz, por exemplo, o último filme de Ridley Scott, Robin Hood. Empresas paulistas criaram o impostômetro, as televisões transformam um simples painel em frontispício da notícia nacional e a canalhice (procure a raiz da palavra canalha e a tome por pessoa malvada) nacional repete sem saber bem a razão exata.

Acontece que o sentido ontológico de se achar ruim o imposto é para que sobre mais recurso no bolso de cada um. Ou seja, que a renda de todos aumente. Mas não existe isso na parte de quem manipula o impostômetro: não gostam de pagar salários, têm horror a direitos trabalhistas que significam mais renda para o trabalhador, para esta gente cujo lucro é sagrado, pagar salário pelo trabalho é despesa, ou seja, custo.

Quando um sindicato ao invés de receber um aumento maior para o trabalhador, concede em receber um Plano de Saúde, por exemplo, está fazendo exatamente o que o pessoal do impostômetro ontologicamente condenaria. O pagamento do plano é imposto com o nome de mensalidade e este dinheiro não entra no bolso do trabalhador. Quando alguém compra uma assinatura seja de jornal, de revista semanal, de televisão a cabo, está simplesmente pagando um imposto mensal para se informar sobre o impostômetro. Aliás, tal despesa não está no impostômetro.

O sagrado é o que eles ganham. Pois os liberais brasileiros não têm horror ao Estado, têm horror às regulamentações públicas, à cadeia que prende delinqüentes que monopolizam a vida econômica. Quando vêm com aquele papo das privatizações para o lado da educação e da saúde, apenas querem ter o monopólio dos fundos estatais para fazerem negócios. Um funcionalismo pago, regulamentado, com uma renda determinada por lei, não interessa a este liberal do venha vós ao meu reino e ao vosso reino nada.

Só um dado de hoje. A eficiência privada, numa universidade aqui no Rio. Quando passava a pé pela rua em frente ao complexo educacional, existiam entre 340 e 380 automóveis estacionados. Acontece que o valor maior em economia nesta civilização é a energia, a maior parte não renovável e poluidora da atmosfera. Então se cada um destes automóveis, que leva um único aluno, consumir 3 litros de combustível em média (acho muito pouco as distâncias no Rio são imensas), teríamos a queima diária de 1.020 litros de combustível, ou seja, 5.100 por semana e 20400 por mês. A conta é maior por que não computei os automóveis que vão e vêm com os pais e motoristas particulares soltarem e recolherem os rebentos na porta da universidade.

Então se vamos discutir imposto e eficiência privada (ou estatal) paremos de discutir só a raiva dos mais ricos. Vamos discutir a renda dos mais pobres (salários, aposentadorias, etc.) e, claro, a racionalidade geral de uma sociedade que gasta o que lhe é essencial, como energia, e não dar conta do enorme desperdício como a falta de uma política de transporte coletivo e a regulamentação do trânsito de veículos particulares.

O Hino Nacional Brasileiro -- por Armando Lopes Rafael


Inegavelmente o que sobrou do patriotismo coletivo do povo brasileiro só aflora – nos tempos atuais – em anos de realização da Copa do Mundo de Futebol. Pelos próximos dias, além da bandeira verde-amarela – herança do Império Brasileiro, como já escrevi em artigo anterior – também o nosso Hino Nacional (igualmente oriundo dos tempos imperiais) será ouvido, com todo respeito, por milhões de brasileiros, em frente às telinhas dos televisores, antecedendo os jogos do nosso selecionado, nos estádios da África do Sul.
Nos seus primórdios, que remonta ao Primeiro Reinado de Dom Pedro I, o Hino Nacional Brasileiro era executado sem ter ainda uma letra. Conhecida apenas como “Marcha Imperial”, foi muito tocada nos campos de batalhas da Guerra do Paraguai. Depois desse conflito foi popularizada na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
Com o advento do golpe militar que implantou a República dos Estados Unidos do Brasil, no chamado “Governo Provisório” – dirigido pelo Marechal Deodoro da Fonseca – foi instituído um concurso para a adoção de um novo hino nacional. A ordem era (tentar) apagar tudo que restasse do Brasil-Império. Vivia-se os novos tempos republicanos e a propaganda oficial dizia que tudo vinha melhorando e o Brasil iria trilhar a senda do progresso e do bem estar do seu povo.
Quantas vezes, nos últimos cem anos, vimos esse filme...
Pois bem, na noite de 20 de janeiro de 1890, o Teatro Lírico do Rio de Janeiro estava superlotado, reunindo as mais destacadas personalidades da então capital brasileira, para conhecer o novo Hino Nacional. No camarote de honra, o velho Marechal Deodoro, àquela época já bastante decepcionado com alguns companheiros do golpe militar de 15 de novembro de 1889. O hino que obteve o primeiro lugar no concurso foi composto pelo maestro Leopoldo Miguez, com letra de Medeiros e Albuquerque. Na verdade, uma bonita peça (hoje chamada de “Hino da República”, que começa com o refrão: “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”.
Ao final da execução do hino, o Marechal Deodoro bateu o martelo e impôs:
– Prefiro o velho!
Foi quando ficou preservada para as gerações vindouras, a bela “Marcha Imperial”, o mesmo Hino Nacional Brasileiro de hoje, cujos primeiros acordes (“Ouviram do Ipiranga às margens plácidas/ De um povo heróico o brado retumbante”) nos enche de orgulho e nos faz reviver o pouco de patriotismo que ainda resta à “brava gente brasileira”...
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael