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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Viagem de trem

Até meus vinte e poucos anos, se não me falha a memória, circulava no Ceará o trem de passageiros. Este percorria o trecho de Crato a Fortaleza, e vice- versa, passando por Aurora, minha cidade natal. Este percurso nós os fizemos por diversas ocasiões, principalmente quando da saída e do retorno das férias escolares, pois estudávamos em Fortaleza. E quando havia festa em Aurora era o nosso principal meio de transporte. Neste dia era lotação certa.

Os horários variavam muito. De início o trem saía pela madrugada, de Crato com destino à Capital Cearense. Depois mudou. Passou a pegar o trilho por volta das treze ou quatorze horas. Se eu não me engano, este foi o último horário estabelecido pela REFFESA para este percurso. Com certeza, também foi o melhor para nós que sempre nos deslocávamos para os festejos em Aurora. Daí, pegávamos o retorno pela madrugada, vindo de Fortaleza, por volta das cinco horas da manhã, já nos “finalmente” da festa.

De Crato até Aurora interpunham-se as estações de Juazeiro do Norte, Missão Velha e Ingazeiras. Dentre estas havia algumas paradas obrigatórias. Destas lembro-me somente da parada de Várzea Redonda, a qual fica entre Aurora e Ingazeiras, justamente porque embarquei lá por muitas vezes.

O transporte ferroviário era, naquele tempo, o mais em conta. Mesmo assim, para economizar e gastar no próprio refeitório do trem, em algumas ocasiões, driblávamos o cobrador, e não pagávamos a passagem, ou liquidávamos de uns e outros não, pois era muito fácil fazer isto. Noutra eu conto como fazíamos para despistá-lo. Além do mais a viagem era uma maravilha. Trafegávamos sempre em família e, freqüentemente íamos no restaurante tomando uma cervejinha, beliscando alguma coisa, conversando e, dependendo da sorte, “ficando” como se fala hoje em dia.

Este local chamado restaurante era um vagão preparado para este fim. Tinha garçom, geladeiras, cadeiras, etc., prontinho para curtirmos aquela aventura com tranqüilidade. Sacolejava muito e eventualmente tínhamos que nos agarrar ao que estava sobre a mesa. A gente já era tão conhecido, que tinha “cadeira cativa”. O bom é que, aqui e acolá, sobrava uma garota e a gente “lavava a égua”. Bebíamos e comíamos, ao mesmo tempo, até chegar à estação final.

Geralmente embarcávamos em Juazeiro do Norte. Outras vezes, em Aurora. A primeira estação, quando tomávamos o trem de ferro na Terra do Padre Cícero, era Missão Velha. Ali começávamos as comilanças. Saboreávamos a melhor macaxeira do Ceará. As pessoas comentavam que esta era cultivada dentro do cemitério local motivo daquele sabor inigualável.

Entre Missão Velha e Ingazeiras, já próximo desta, ocorria um fato curioso e pitoresco. Havia um garoto que, trajando-se de Chefe de Estação, a caráter mesmo, logo que notava a aproximação do comboio, vindo de qualquer direção e em qualquer horário, tocava um sino, semelhante ao que se fazia nas estações ferroviárias quando da partida e da chegada dos trens.

Outro fato que merece registro era o momento que o trem passava nas demais estações de seu percurso. Nas cidades pequenas como Cedro, Piquet Carneiro, Capistrano, Lavras da Mangabeira, e todas as demais do mesmo porte, esta ocasião era muito festejada. Todos se reuniam para prestigiar. Eu mesmo não perdia uma passagem de trem. Era muito divertida esta ocasião.

Este meio de transporte jamais deveria ter sido desativado no Nordeste Brasileiro. Era de baixo custo e de alto impacto sócio-econômico. Muitos o usavam para transportar pequenos animais, quantidades inexpressivas de mercadorias. Lembro-me que na estação de Juazeiro do Norte tinha até uma pequena feira livre nas chegadas e partidas dos trens de passageiros. Era um verdadeiro Mercado Persa. Ali se encontrava de tudo. Podia-se procurar que se encontrava até bainha prá foice. “Do penico à bomba atômica” esta seria e expressão mais apropriada para este evento.

No entra-e-sai, e desce e sobe das várias estações, fazíamos novas amizades e revíamos velhos amigos e companheiros. Além de alavancar o comércio com suas trocas e vendas de mercadorias as mais diversas e extravagantes possíveis, o trem de ferro sobre os trilhos de aço, num vai-e-vem apressado e impaciente, também construía muitos amores e paixões, e alavancava muitas esperanças e desilusões.

José Arimatéia de Macêdo
Médico
Site: www.arimateia.med.br
E-mail: arimateia@gmail.com

FUNDAÇÃO CASA GRANDE



Chega hoje à Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, um grupo de músicos e dançarinos do Senegal, país da África Ocidental. A visita faz parte do Projeto Raízes, proposto pelo músico Jefferson Gonçalves para o Itamaraty e inclui oficinas de dança e música, além de um show no sábado, dia nove. O grupo vai participar da programação da Mostra Cariri das Artes de Língua Portuguesa, uma iniciativa da Fundação Casa grande, que foi viabilizada pelo edital BNB de Cultura 2009. Já está chegando a hora. De 12 (terça) a 16 (sábado) de maio a Casa Grande recebe músicos e paletrantes de cinco países representantes da cultura lusófona. Toda a programação da Mostra Cariri das Artes dos Países de Língua Portuguesa será gratuita. No entanto, por ter lotação máxima de 200 pessoas para os recitais musicais no teatro e 50 vagas diárias para as palestras com gestores culturais, é preciso garantir inscrição!

Acesse: http://mostraplp.wordpress.com