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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A memória arquitetônica de Crato

Em 2006, escrevi a orelha do livro “Crato - Evolução Urbana e Arquitetura de 1740-1960”, do arquiteto Waldemar Arraes de Farias Filho, onde fiz constar os seguintes tópicos:

Lamentável, profundamente lamentável a indiferença do povo de Crato em relação ao patrimônio arquitetônico desta cidade, ufanisticamente divulgada – aqui e alhures – como “Cidade da Cultura”.
Já no ano de 1994 a revista “a Província”, sob o sugestivo título “Estão destruindo a memória de Crato”, denunciava: “As más administrações públicas, a falsa idéia de modernismo, a ganância financeira, a indiferença de considerável parcela da nossa população e a impunidade estão fazendo o Crato uma terra sem memória arquitetônica”.
De lá para cá, e lá se vão mais de doze anos, a coisa só fez piorar...
Depois desse alerta feito em 1994, uni minha voz à de Jurandy Temóteo, editor de “a Província”, no sentido de sensibilizar a população para a importância de preservar o nosso patrimônio arquitetônico. Escrevi alguns artigos (nesse sentido) para o “Jornal do Cariri”.
Passamos, assim, a bradar contra o tratamento de desdém e desprezo dado às edificações construídas em tempos idos nesta “Nobre e heráldica cidade” como a escritora Rachel de Queiroz gostava de referir-se a Crato.
Felizmente, outra voz – esta autorizada – veio juntar-se à nossa. Refiro-me ao arquiteto Waldemar Arraes de Farias Filho, autor do presente livro “Crato - Evolução Urbana e Arquitetura de 1740-1960”, no qual o patrimônio arquitetônico citadino e a evolução de nossa urbe são estudados sob a visão de um especialista.
Num trabalho minucioso, feito com paciência beneditina, Waldemar levantou dados, coletou fotografias e resgatou ambientes que nos transportam a tempos áureos.
Àquela época, nossas praças, ruas, becos e travessas eram conhecidas por nomes poéticos, como a Rua das Laranjeiras, Rua Formosa, Rua do fogo, Rua das Flores, dentre outros. Tudo pontilhado por construções dotadas de certo primor estético.
Bem diferente é o cenário citadino dos dias atuais. Os antigos casarões aristocráticos do centro histórico deram lugar a edifícios de estética desagradável e à poluição visual das placas de propagandas comerciais.
Depois de manusear este livro parece que se apossa de nós esta mensagem plangente: Cuidemos de preservar o que ainda resta e não foi destruída pelos vândalos sedentos em exterminar a memória arquitetônica de Crato.

Armando Lopes Rafael

CINEMA NO TERREIRO ESTRÉIA COM A CASCA AVOA & O MIOLO FICA ...



Com a exibição do documentário A Casca Avoa e o Miolo Fica, será lançado domingo, 21, no Crato, o projeto Cinema No Terreiro, idealizado pelo músico e pesquisador cultural Calé Alencar. A idéia principal é exibir audiovisual brasileiro em terreiros de mestres da cultura popular tradicional (reconhecidos ou não oficialmente) e sedes (formais e informais) de manifestações artísticas.
O documentário é o mais novo curta-metragem dirigido pela jornalista Aurora Miranda Leão, mais um fruto da parceria com o Complexo Vila das Artes (Secult-For /Prefeitura Municipal de Fortaleza) através do Núcleo de Produção Audiovisual (NPD) e da Escola de Audiovisual, que respondem em Fortaleza pelo programa Rede Olhar Brasil (Secretaria do Audiovisual/Ministério da Cultura), que tem também o apoio do Banco do Nordeste do Brasil.
Desta vez, o foco principal das lentes de Aurora é a frutífera parceria entre Calé Alencar e a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto: o documentário assinala uma década da atividade de Calé como produtor da festejada banda caririense, mostrando inclusive a cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural aos músicos do cariri cearense, realizada ano passado pelo Governo Federal em solenidade no Palácio das Artes, na capital mineira.
Nestes 10 anos, Calé produziu dois CDs da Banda - ambos esgotados - e fez inúmeras viagens com o grupo pelo Brasil, chegando a participar com eles como únicos convidados cearenses da programação cultural do Ano do Brasil na França, realizado em 2005 na Citè de la Musique, em Paris.
No documentário, Aurora revela inusitados e alegres momentos na parceria entre Calé e os Aniceto, reunindo depoimentos relevantes como o dos artistas Sérgio Mamberti (titular da Funarte), Gutti Fraga (diretor do grupo teatral carioca Nós do Morro) e Uibitú Smetak (músico e pesquisador baiano). O lançamento em Fortaleza ainda não está agendado ...
Os Irmãos ANICETO tocam e CALÉ ALENCAR canta em show na Cité de la Musique em Paris durante a programação do Ano do Brasil na França, em 2005... Resultados desta frutífera parceria estão no novo documentário de Aurora Miranda Leão.
A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto em foto de Jackson Bantim, produtor musical, letrista, cineasta e fotógrafo, grande anfitrião do Crato, que apóia o lançamento de A Casca Avoa no cariri cearense...
Saiba mais: http:// jbantim.blogspot.com

História de Crato (1)

Por:
Armando Lopes Rafael


Vista parcial de Crato (bairro Ossian Araripe e início do Parque Grangeiro)
O Vale do Cariri
A cidade do Crato está localizada numa das regiões mais bonitas do Nordeste brasileiro: o Vale do Cariri, Sul do Estado do Ceará. A maioria dos historiadores opina que o povoamento deste vale pelo colonizador branco começou no início do século XVIII, ou mesmo no findar do século XVII. Atraídos pela fertilidade do solo, exuberância da vegetação e abundância dos mananciais d’água existentes nestes rincões, criadores de gado provenientes da Bahia e Sergipe del Rey trouxeram a esta região seus rebanhos e aqui construíram os primeiros currais. No Cariri eles já encontraram os primitivos habitantes da região, os indígenas da etnia cariri, espalhados por diversas aldeias, que emprestaram seu nome para denominar esta região.


Como tudo começou
Por volta de 1741, surgem os primeiros registros de um aldeamento dos índios Cariús, pertencentes ao grupo silvícola Cariri. Era a Missão do Miranda, fundada por Frei Carlos Maria de Ferrara, religioso franciscano, nascido na Itália. Este frade ergueu, no centro da Missão, uma humilde capelinha de taipa (paredes feitas de barro) coberta com folhas de palmeiras, árvores abundantes na região. O santuário foi dedicado, de maneira especial, a Nossa Senhora da Penha, a São Fidelis de Sigmaringa e à Santíssima Trindade. Até 1745 a imagem da Mãe do Belo Amor (foto ao lado) foi venerada na capelinha de Frei Carlos.Em volta da capelinha, ficavam as palhoças dos índios. Estes, além de cuidarem das plantações rudimentares, recebiam os incipientes ensinamentos da fé católica, ministrados por Frei Carlos. Aos poucos, nas imediações da Missão, elementos brancos foram construindo suas casas. Era o início da atual cidade do Crato. Não padece dúvidas de que o fundador do Crato foi o Frei Carlos Maria de Ferrara.

Vila Real do Crato





Em 21 de junho de 1764, a Missão do Miranda foi elevada à categoria de Vila, tendo seu nome mudado para Vila Real do Crato, em homenagem à homônima existente no Alentejo português. Com isso se cumpria o Aviso de 17 de junho de 1762, dirigido pela Secretaria dos Negócios Ultramarinos ao Governador de Pernambuco. Mencionado aviso autorizava o governador a criar novas vilas no Ceará, recomendando, entretanto, substituir a denominação dos povoados com nomes de localidades existentes em Portugal. A partir daí, a Vila Real do Crato foi trilhando a senda do processo civilizatório, sempre inspirado no que vinha de bom do Reino, ou seja, do que chegava da metrópole portuguesa. A marca do pioneirismo passaria a caracterizar a existência de Crato, como veremos nas postagens seguintes.
Notas:
1 - A história da imagem venerada em Crato com o nome de Mãe do Belo Amor
A imagem da Mãe do Belo Amor, pequena escultura de madeira, medindo cerca de 40 centímetros, é venerada, desde os primórdios da Missão do Miranda – origem da cidade de Crato – que data do segundo quartel do século XVIII. Presume-se que até 1745 esta pequena imagem foi venerada na humilde capela de taipa, coberta de palha, construída na atual Praça da Sé por Frei Carlos Maria de Ferrara.Esta estátua sempre foi aureolada por muitos fatos pitorescos e lendários. Monsenhor Rubens Gondim Lóssio, escrevendo sobre esta representação da Virgem Maria, em trabalho publicado na revista Itaytera, afirmou: “Herdada dos ancestrais indígenas, existia uma pequena imagem da assim chamada Nossa Senhora do Belo Amor, de todos venerada”.
Não nos foi possível apurar as razões que levaram Monsenhor Rubens a concluir que a imagenzinha da Mãe do Belo Amor fora herdada dos indígenas, primeiros habitantes do Vale do Cariri. Entretanto, no artigo já citado, ele menciona um fato que merece transcrição. Na segunda metade do século XX, um conhecido e respeitado ancião cratense, o Sr. José da Silva Pereira, secretário do Apostolado da Oração de Crato, escreveu ao então vigário da Catedral, Monsenhor Francisco de Assis Feitosa, um documento, do qual extraímos o texto a seguir transcrito:
"Há na nossa Catedral três imagens que representam nossa padroeira, Nossa Senhora da Penha. O que vou narrar nestas linhas se refere somente à primeira, que é a menor das 3, esculpida em madeira, como as duas últimas. Trata-se de uma bela imagem que honra a arte antiga e a habilidade de quem a preparou. Segundo dizem os antigos, ela tem para mais de duzentos anos, mas nada deixa a desejar às que se fazem atualmente. Pertencendo ao número das imagens aparecidas, ela tem também a sua lenda bastante retocada de suave poesia. Conta-se que fora encontrada em poder dos índios (sem dúvida os Cariris), passando às mãos de pessoa civilizada. Aqui toma vulto a lenda que gira em torno do seu nome, pois afirmava que, repetidas vezes, ela voltara ao cimo de pedra onde os indígenas a veneravam. Este fato miraculoso deu lugar à fundação da Capela, onde hoje é a nossa Catedral, naquele mesmo sítio, tão profundamente respeitado. Quanto à idade que lhe atribuem, provam-na os documentos referentes à fundação da povoação, hoje transformada nesta importante Cidade de Crato. Para mais corroborar o misticismo que a tradição empresta à nossa querida santa, ocorre que esta desapareceu de nossa igreja há mais de cinqüenta anos, voltando agora aos seus penates, onde está sendo venerada por grande numero de fiéis. Os antigos deram-lhe o nome de “Belo Amor”, o que prova a piedade filial dos nossos antepassados. Respeitemos o passado, sua história, suas tradições e suas lendas, que nos falam sempre daqueles que abriram caminho a nossa vida".
2 - A terceira foto postada nesta matéria é de uma vila localizada ao sopé da Chapada do Araripe, no município de Crato.Postei-a por ter a mesma paisagem e vegetação que emoldurava a antiga Vila Real do Crato nos seus primórdios.