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sábado, 20 de junho de 2009

Preito e gratidão a Lourival Luciano Filho

Ao final desta tarde fui surpreendido com a infausta notícia do falecimento do professor e psicólogo Lourival Luciano Filho, antes de tudo um colega, companheiro e amigo.

Trabalhei e convivi com Lourival por quase duas décadas, principalmente na Comissão Executiva do Vestibular – CEV da URCA. Boas lembranças tenho deste convívio, pautado por uma postura séria, competente e ética.

Depois, quando assumi a árdua função de presidente da CEV, sempre contei com a colaboração prestimosa e eficiente do professor Lourival.

Só tenho que agradecê-lo por tudo isso e desejar à família enlutada, o conforto que só a fé é dispensadora.

Tipos populares do Crato (1)

Maria Roxa

A personagem deste artigo, que eu me lembre, não cheguei a conhecer pessoalmente. Mas, por outro lado, o seu nome era por demais conhecido no bairro onde vivi a minha infância. Ela morava, junto com uma grande família, entre parentes mais próximos e agregados, na Rua André Cartaxo. Eu morava na Rua Teodorico Teles, também conhecida como Rua da Cruz.

Maria Roxa, eu sabia, era piauiense e adepta da umbanda (ou candomblé), mas que, sob o forte preconceito e intolerância, bastante arraigados numa cidade de raízes católicas como o Crato, principalmente há trinta ou quarenta anos atrás, - era sinônimo de macumba, pura e simplesmente. Macumba era, ainda, sinônimo de magia negra, feitiço, pacto com forças ocultas e malignas. Portanto, Maria Roxa era conhecida, pejorativamente, como A Feiticeira. Dizia-se, inclusive, que o casarão onde ela residia, dispunha de um porão onde eram realizados os rituais da primitiva religião, heranças da etnia afro que para o Brasil foi transplantada na época da colonização lusitana, obrigada à prestação de trabalho escravo.

Ouvia todas essas histórias, com bastante interesse e tomada por aquela impressão própria da infância cheia de imaginação. Não sentia a repulsa que percebia existir nas pessoas adultas. A minha aguda curiosidade, ao contrário, atraia-me para aquela mulher diferente, difamada por preservar suas raízes negreiras (o apelido Maria Roxa era um sintoma da cor de sua pele) e aquele imenso e misterioso casarão, de primeiro andar e de um suposto porão. Contentou-me, pois, quando fui colega de escola de Cival, neto de Maria Roxa. Era a oportunidade de adentrar aquela dimensão desconhecida.

E a oportunidade se deu, quando Cival me chamou para ir até a sua casa. Para minha surpresa, além do tamanho desta (enorme, principalmente sob a perspectiva de uma criança que comumente superdimensiona as coisas), não havia nada de diferente por lá.

Resgatar, mesmo que sob a etérea perspectiva infantil, personagens marginalizadas por conta de um padrão diferente do comportamento dominante, é, da minha parte, uma maneira de fazer justiça, ainda que tardia.

Por Sarney, Lula até desafia Constituição – por Augusto Antunes (*)

Lula adverte: não pode ser tratado como uma pessoa comum o ex-presidente que chamou de ladrão
Brasília tornou-se uma ilha da fantasia para deputados e senadores, que usam seus cargos de representantes do povo para locupletar-se e obter vantagens para seus apaniguados. O corolário evidente é que a capital se transformou numa imagem de pesadelo para os que pagam a conta: nós, os milhões de contribuintes; nós, as dezenas milhões de pessoas comuns. É tal o resumo da ópera brasiliense - eles, os poderosos, os "incomuns", se lixam cada vez mais para a opinião pública, para os bons modos, para a Constituição. Minam, assim, a crença na democracia e os alicerces de uma nação que almeja a civilização.
Esse espetáculo deprimente teve outra cena triste na semana passada. Seu protagonista: o presidente Lula. Desde que se viu na contingência política de ter que defender os crimes dos seus partidários envolvidos no mensalão, Lula teve que entregar a bandeira da ética - que ele empunhou com desenvoltura antes de chegar ao Palácio do Planalto. A rendição do presidente se deu naquela célebre entrevista concedida em Paris, em 2005, nos tempos em que a corrupção causava ainda algum constrangimento. Sem os corretivos vindos de cima, a turma do baixo, do médio e do alto clero da base aliada sentiu-se mais livres do que nunca. Sempre que um de seus membros está prestes a se afogar, eis que surge o presidente, solidário, oferecendo o conforto de suas palavras amigas.
Nem precisa ser compadre de pitar cigarrilha, como o leal companheiro Delúbio Soares, estrela do mensalão. Pode ser do PMDB, do PP ou do PTB. Pode até ser, vá lá, um "grande ladrão", adjetivo com o qual Lula descrevia o senador José Sarney quando este era presidente da República.
Há cinco meses, o Congresso Nacional enfrenta uma infindável onda de escândalos. Ela envolve parlamentares e altos funcionários com mordomias, nepotismo e suspeitas de corrupção. Aos 79 de idade, 54 de política, Sarney, o mais longevo e experiente dos políticos brasileiros, é apontado como mentor e beneficiário da máquina clandestina que operava a burocracia do Senado. Inerte diante das denúncias, o senador tentou defender-se no plenário, com argumentos tão frágeis quanto os azulejos portugueses de São Luís. Do Cazaquistão, onde se encontrava em visita oficial, Lula atirou-lhe a bóia.
"O senador tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", disse o presidente. E continuou: "Não sei a quem interessa enfraquecer o Poder Legislativo no Brasil. Quando o Congresso foi desmoralizado e fechado, foi muito pior para a democracia". Não satisfeito, acrescentou: "Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim e depois não acontece nada". Ao afirmar que Sarney merece um tratamento diferenciado, o presidente atropelou o preceito constitucional expresso no artigo 5º, que estabelece a igualdade de todos perante a lei. "Lula foi absolutamente infeliz. Reforçou a idéia de que um é melhor do que o outro. Restabeleceu a lógica do 'você sabe com quem está falando?'. Bateu de frente na Constituição e no princípio basilar da democracia", resume o cientista político Marco Antônio Villa.
Na véspera da declaração de apoio de Lula, o senador "incomum" subiu à tribuna. Em um discurso de pouco mais de meia hora, disse que a crise não é dele, mas de todo o Senado, e que não aceita ser julgado por questões menores, o que é uma “falta de respeito para quem tem mais de 50 anos de vida pública”. Em 1890, Benjamin Constant, ardoroso republicano brasileiro, saiu de uma audiência com o Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, indignado com o tratamento que lhe fora dispensado. "Não era esta a República que eu sonhava", disse Constant. Mais de um século depois, sua frase continua a ressoar entre os milhões de cidadãos que vivem sob o império da lei, sem privilégios e pagando a conta dos "incomuns" de Brasília.



(*) Augusto Antunes é jornalista da revista “Veja”