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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O bobo não é palhaço




Bufão! Que culpa tem o palhaço? Alegre, colorido, corajoso e capaz de encantar gerações e multidões com suas ações risíveis.

Não entendo que culpa tem o nosso personagem universal. Creio que nenhuma. O palhaço é mesmo isento de ser punido por proclamar o riso. Ele decreta a palhaçada sem nenhum protocolo. O nosso riso não perpassa por regras, vem espontaneamente, nem precisamos comprar nem vender o riso.

Mas calma, nem sempre é assim a história. Ainda tem muito bobo da corte, rondando os palácios das elites econômicas, não os confunda com os palhaços. Os palhaços merecem respeito, deixemos jorrar a palhaçada, o povo quer rir com a alegria que humaniza.

Deverás não posso ser amigo do rei, portanto não posso ter um bobo da corte, também não quero ter um guardião parasita, tipo esses bobos da corte. Esses bufões são escudeiros dos seus interesses, só querem ser corte. Cortejam para lá e para cá, rezam todos os dias pelo aumento do peso dos seus bolsos. Esses bobos são uma patota de espertalhões. Ainda têm muitos que são os bobos tapiocas mudam de lado quando as coisas esquentam ou fracassam.

A origem dos bobos da corte tem início no período medieval, nome dado ao serviçal da Monarquia responsável por entreter os reis e rainhas, uma espécie de bajuladores de plantão, coisa muito típica ainda na contemporaneidade. Acredito que seja possível que existam cursos profissionalizantes de bajulação, com carga horária eterna.

Creio que a palhaçada está liberada, apesar de ainda existirem muitos bobos da corte, que nada te a ver a alegria do povo. Mas quem será o rei, neste tempo de decadência de reinados? É difícil identificar, mas ele vem sempre com um discurso de ordeiro, imparcial e de defesa da sua propriedade capital. Cuidado, os reis estão soltos e os seus bobos ainda os fazem rir.

Salve a palhaçada!



Alexandre Lucas

Pedagogo, Artista/educador e Coordenador do Coletivo Camaradas

Mestre et Blaget – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Quando eu trabalhava na Engenorte Ldta, uma construtora de Belém que construía a estrada São João d’Aliança/Alto Paraíso em Goiás, eu e Magali recebíamos mensalmente a visita do senhor Orlando Machado, um dos diretores daquela construtora. Ele ia inspecionar os trabalhos todos os meses e ficava dois ou três dias hospedado em nossa casa. À noite, após o jantar, o senhor Orlando contava muitas histórias. Algumas ficaram retidas na minha memória. Tentarei narrar uma delas, embora já transcorridos quase trinta oito anos de quando escutei aquelas histórias.

Na década de 1930, havia no Rio de Janeiro, então capital do país, uma grande loja de um francês denominada “Mestre et Blaget”. Numa manhã de sábado, um cidadão engravatado, com sotaque estrangeiro, procurou comprar um cadilakc, último modelo. Ao ser informado pelo gerente da loja que o preço era 150 contos de réis, solicitou efetuar o pagamento com um cheque do Banco do Brasil.

Tudo ajustado, o carro foi entregue por volta do meio dia. Ao chegar ao hotel, estacionou o carrão na frente da portaria e desceu para pegar a chave do apartamento onde estava alojado. No balcão da recepção havia um telegrama urgente, procedente de Buenos Aires. Ao ler, o hóspede, presumivelmente um argentino, procurou imediatamente o gerente e lhe mostrou o telegrama, dizendo: “Veja esse telegrama. Acabei de comprar aquele cadilakc que está lá fora. Conforme o senhor pode ler, eu deverei estar em Buenos Aires segunda-feira às oito horas da manhã, para assinar um contrato de um grande empreendimento, sob pena de ter de pagar uma multa contratual de hum milhão de dólares caso eu não compareça na hora marcada. Irei agora mesmo para o Aeroporto para conseguir um vôo urgente. Para que meu prejuízo não seja maior, eu lhe ofereço o carro por cinqüenta contos de réis”. O gerente respondeu que iria pensar e antes dele sair para o aeroporto lhe daria uma resposta.

Quando o hóspede subiu ao seu apartamento, o gerente telefonou para loja Mestre et Blaget contando a inacreditável história daquele hóspede que queria lhe vender um carro novíssimo, saído da loja, por apenas cinqüenta contos de réis. Como todos poderiam supor o cheque não deveria ter fundos. Infelizmente a agência do Banco do Brasil estava fechada. Naquela época, os bancos abriam aos sábados até o meio dia. Mesmo sem ter certeza, o gerente da loja acionou a policia, que resolveu prender o estrangeiro. No momento da prisão ele protestou, dizendo que tinha de estar em Buenos Aires na segunda-feira às oito horas da manhã, sob pena de ser multado em hum milhão de dólares. Não havia crime algum em vender um carro por cinqüenta contos, embora o tivesse adquirido por um preço três vezes maior. Mas ninguém deu ouvidos às ameaças de processo judicial por perdas materiais e danos morais que aquele estrangeiro fazia.

Na segunda-feira, o gerente da loja Mestre et Blaget foi com um delegado de polícia até a agência do Banco do Brasil. Ao solicitar ao gerente do banco se o cheque possuía fundos, se surpreendeu com a resposta de que na conta daquele cliente havia fundos para mais de dez cheques naquele o valor.

O Delegado e o comerciante foram imediatamente à prisão para soltar o cliente. O gerente da loja solicitou-lhe mil pedidos de desculpas pelo mal entendido. E o argentino afirmou: “Não haverá desculpas. Perdi um milhão de dólares e sairei daqui para procurar um advogado e abrir um processo judicial contra vocês todos.”

Antes de contratar o advogado, o cidadão com sotaque argentino foi ao hotel e encontrou outro telegrama lhe informando que ele não havia comparecido no horário previsto e seria multado em um milhão de dólares, que deveriam ser pagos antes do final da semana.

Resumindo a história: não somente o cheque possuía fundo, como também existiam o contrato, o projeto do empreendimento e a empresa contratante, com endereço certo e funcionamento legalizado perante as leis argentinas. Tudo foi devidamente apurado pela justiça e a Mestre et Blaget teve de pagar uma indenização de mais de um milhão de dólares. Quase quebrava e teve de mudar o nome. Passou a se chamar Mesbla S/A unindo as iniciais do nome antigo. A partir daí cresceu, teve lojas espalhadas por todo Brasil, inclusive um escritório de vendas no Crato, até década de 1950.

Anos depois, constatou-se que tudo não passara de um grandioso golpe montado com precisão de detalhes em todas as suas ações por uma quadrilha internacional.

Se a Mesbla sobreviveu a requintados golpistas internacionais e se tornou um gigante do setor de serviços, infelizmente sucumbiu sessenta anos depois com o advento do chamado Plano Real. Não somente a Mesbla, mas as Casas Pernambucanas, o Mappin e tantas outras grandes cadeias de lojas desapareceram com o advento da auto-regulamentação do mercado implantada por políticas neoliberais.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Nota do Autor: Em 03 de setembro de 2008 fiz minha primeira postagem no Blog do Crato por intermédio de seu editor Dihelson Mendonça. Com o presente texto completo cem postagens de minha autoria realizadas nos blogs do Cariri.