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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Madre Feitosa: A Dignidade Humana - José do Vale Pinheiro Feitosa

Em treze de setembro de 1921 nascia no coração dos Inhamuns uma das figuras mais ilustres que o Cariri teve no século XX e princípio do atual século. Falamos de Madre Feitosa, ou Maria Carmelina Feitosa, nascida em Tauá e criada em Arneirós. Filha de Crispim Morais e Maria Josina Feitosa, Madre Feitosa teve a sua terceira morada em Crato onde a encontramos até hoje cercada de festas pelo seu aniversário.

Não pelos laços de parentescos ou apenas pela grande amizade que minha família tem por ela, a verdade é que não teria oportunidade melhor para retornar a escrever nos blogs do Cariri que não os 90 anos de Madre Feitosa. Estive ausente do Rio desde a metade do julho passado e marco minha reestréia em companhia de uma grande figura.

São memórias, mas daquelas memórias que ficam mesmo quando o mais extremado esquecimento nos acontece. Era no quarto final dos anos 50 e fomos eu, minha irmã e minha mãe passar uns dias em Icó na companhia de uma tia que na ocasião morava ali. E o Icó causa impressão em qualquer um.

Foi ali que vi Madre Feitosa pela primeira vez, numa casa das irmãs de Santa Teresa, já guardando uma doçura que imaginei apenas efeito de sua religiosidade. Ela continua assim, uma fala mansa, gestual econômico e recatado e todos nós somos tomados de surpresa com a grande executiva da educação que ela é.

Madre Feitosa, pela duração de sua obra e pela grandeza das instituições que dirigiu, talvez seja uma das mais longevas dirigentes de ensino do Ceará. Não apenas no Crato ou somente no Cariri. E arrisco mais, talvez seja uma das dirigentes mais antigas em atuação no Estado, com escolas financeiramente equilibradas e que não cessam suas atividades.

Posso está enganado, mas Madre Feitosa, deva ser o dirigente em escola religiosa que mais tempo está em atividade, por estimativas não checadas, é possível que nenhum reitor do Seminário, diretor dos colégios religiosos, particulares ou públicos tenham superado a marca desta suave mulher construtora do futuro das gentes.

Madre Feitosa já tem “bisnetos” de seus alunos, e pensar que a longevidade e a dedicação desta mulher quebram o princípio básico da vida burguesa e capitalista. Quem imagina um “executivo” do ensino que não viva no luxo e com excedente de consumo. Aliás, se tornam educadores com este fito. Mas Madre Feitosa não. É uma questão religiosa por certo que é, mas é uma questão essencialmente humana, de caráter e ética que é devido a ela mesma.

Talvez que aos pais e sua família esta personalidade tenha sido estimulada. Estive recentemente nas duas terras inhamunzeiras em que Madre Feitosa nasceu e passou a infância. Ali ainda percebi uma dignidade, uma postura educada como uma era de cavalheiros. Pessoas com pouca educação, mas com um trato humano tão respeitoso que dão engulhos quando os comparamos aos novos ricos em suas Hilux e a grosseria de um som rompendo a calma da vida.

Madre Feitosa, aceite minhas lembranças por este dia. Espero que leia este texto, embora sabendo da volumosa homenagem a que é centro no dia de hoje.

A dor e o menestrel - Emerson Monteiro


Lemos em algum lugar a história de um palhaço que perdeu a esposa e viu-se na condição de comparecer, no mesmo dia, ao picadeiro do circo e fazer rir a platéia que lotava o espetáculo onde tantas outras apresentações ali levara a efeito em condições satisfatórias.

No momento em que todos gargalhavam com desempenho magistral nunca antes presenciado pelo distinto público, dentro dele fervilhava a mais pungente amargura e desciam lavas amargas de dor, disfarçadas com maestria pela máscara que lhe cobria o rosto banhado de lágrimas.

Naquela hora, enquanto alegria sem igual contagiava os espectadores, no peito do homem ardia crise sem precedentes, propósito de quem conduz a vida aonde quase nada pode exprimir da veraz realidade que na alma impera, por força de produzir emoções nos outros humanos universos lá de fora.

A situação descrita, mudando o que merece ser mudado, caberia feita luva numa circunstância que se verificou em Crato, na madrugada de 28 de abril de 2001, quando, no Espaço Navegarte, assistíamos a uma apresentação musical.

No palco, o cantor pernambucano Geraldo Azevedo, voz e violão, que oferecia à numerosa platéia a bela música do seu repertório, boa parte de própria autoria. Aplausos efusivos animavam o clima ameno do lugar, evidenciado nos flashs constantes dos fotógrafos que registravam o acontecimento, entremeados de relâmpagos insistentes que clareavam o céu escuro, à distância, cenário detrás do palco para as bandas da Ponta da Serra.

Isso se manteve ao ritmo das letras e cordas afiadas do instrumento bem praticado daquele artista popular, nas sombras chuvosas da noite caririense.

Duas ou três canções antes do término da cena, porém, numa das falas com que ilustrava os intervalos das canções, o músico comunicou aos presentes que, na véspera daquela data, ocorrera a passagem de sua genitora desta vida para a outra, pondo-se, logo depois, a interpretar uma composição de autoria dela, refletindo na voz o sentimento que se pode imaginar de um filho em situação semelhante.

Ao lembrar os detalhes disso que contamos, vemo-nos também emocionado, a refletir quanto à condição de vida dos artistas e sua proximidade com as multidões, vínculos que se estabelecem no decorrer da existência do trabalho. Enquanto dentro de si lhes sacodem o peito um coração quantas vezes macerado pelas guantes imprevistas do destino, repassam, igualmente, a imagem de quem habita os condomínios da mais pura felicidade.

Missão semelhante, o exemplo do palhaço de que falamos no início. Uns dançam, riem, se divertem. Outros padecem, representam, dissimulam. De íntimo transtornado pelos ardores do sofrimento de perder a mãe querida, o músico prosseguiu com a função até o fim, desfolhando versos e notas, solitário, ausente das convenções deste mundo; isso tudo em nome do amor ao sonho da arte, herói sobranceiro da magna inspiração, porquanto o show haverá sempre, de manter seu curso ininterrupto para o centro dos corações em festa.

Uma ode para os cratenses! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Hoje eu acordei com versos fervilhando em minha cabeça. Um poema que o russo Vladimir Maiakovski bem poderia ter escrito especialmente para nós cratenses. Mas em muita boa hora, Eduardo Alves Costa, um poeta fluminense radicado em São Paulo foi o autor dos versos que muitos erroneamente atribuem a Maiakovski, mas que provavelmente foram escritos diretamente para nós, simples mortais cratenses. Um povo escondido nessa mais que perdida cidadezinha envolvida pelas fraldas da bela Chapada do Araripe, único bem que nos resta e que talvez os donos do poder não poderão jamais nos subtrair.

"Na primeira noite eles se aproximam.
Roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
Pisam as flores, matam nosso cão,
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a luz,
E conhecendo o nosso medo
Arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada!
Já não poderemos dizer mais nada!"

Todas as flores dos nossos jardins foram despetaladas ao longo dos anos em que nossas lideranças foram sepultadas pelo voto que destinamos a candidatos de outras terras. De que adiantou aos cratense ajudar a eleger tantos deputados sem nenhuma preocupação com o Crato?
Somente sabemos choramingar quando perdemos melhorias ou entidades que poderiam vir para o Crato. Mas precisamos reconhecer que existe em cada um de nós cratenses, um comodismo sem igual. Ou uma alienação geral. Como que, esperamos que os benefícios caiam do céu como a chuva que molha toda uma região, indistintamente. Se nada vem para o Crato, nada também pleiteamos porque não escolhemos pessoas comprometidas com a terra, que nos representem e lutem pelo Crato junto aos governos federal e estadual.
Choramos porque os benefícios vão para o Juazeiro. Mas lá não há acomodação, o povo trabalha. Há mais de dez anos que ouvíamos notícias de que os deputados federais daquela terra lutavam para conseguirem uma Universidade Federal.
Quando prestei meus serviços ao governo estadual, fui testemunha de um fato que poderia servir de exemplo aos cratenses. Vi uma comitiva de lideranças juazeirenses: todos os deputados federais e estaduais daquela terra, lideres comerciais e representantes da sociedade nas pessoas dos dirigentes de clubes de serviços, todos juntos saindo do gabinete do Secretário de Estado para reverterem para cidade do Juazeiro a sede regional do DETRAN que estava prometida ao Crato.
Se não houver uma conscientização do eleitor cratense, principalmente daqueles que trocam seu voto por favores, continuaremos sendo fim de linha. Dentro de breve tempo, nem quem tem negócios a fazer com o Crato, porá os pés nessa cidade, pois os retornos já se encontram fechados.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo