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sábado, 16 de agosto de 2008

Matéria do DIÁRIO DO NORDESTE, 16-08-2008

FALÊNCIA DA TRADIÇÃO

Engenhos agonizam no Cariri

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No Engenho Santo Antônio, o proprietário Antônio de Pedro, ainda está produzindo a rapadura, mas amarga prejuízos crescentes, em decorrência da desvalorização do produto. O quilo custa apenas R$ 0,80 (Foto: Antônio Vicelmo)

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As velhas moendas estão virando sucata na bagaceira dos engenhos. Outras estão sendo vendidas para outros Estados onde servem à fabricação de cachaça e álcool

Os últimos engenhos de cana-de-açúcar do Cariri se despendem do setor, com uma produção insignificante de rapadura

Barbalha. Os engenhos de rapadura do Cariri estão com os dias contados. Dos mais de 100 engenhos que funcionaram na década de 60, no município de Barbalha, restam somente cinco que estão agonizando. O fim da agroindústria canavieira, que durante 300 anos impulsionou a economia regional, está sendo denunciado por um fato inusitado. O gado está sendo solto dentro do canavial. A cana que seria moída pelos engenhos está sendo transformada em pasto.

As velhas moendas estão virando sucata na bagaceira dos engenhos. Outras estão sendo vendidas para outros Estados para fabricação de cachaça e álcool. Recentemente, o proprietário do Engenho Padre Cícero, Antônio Sampaio, vendeu para o Estado de Sergipe, por R$ 10 mil, um centenário engenho que funcionava no Sítio Venha Ver, a quatro quilômetros de Barbalha.

Desiludido com a agroindústria canavieira, Antônio soltou o gado dentro das canas e anuncia a desativação do engenho, sob a alegação de que não compensa mais fabricar rapadura. “A falta de mercado, o preço baixo e as exigências do Ministério do Trabalho estão levando à falência uma das mais tradicionais atividades agrícolas do Cariri”, lamenta Antônio, acrescentando que tem procurado agregar outras atividades como produção de mel de abelha e fabricação de cachaça com a finalidade de melhorar a rentabilidade econômica. Mesmo assim, afirma, não tem futuro.

Hoje, o quilo da rapadura está sendo vendido a R$ 0,80 centavos. A batida, temperada com erva-doce e cravo da índia custa R$ 1,00 o quilo. Os maiores consumidores são os romeiros do Padre Cícero. “É possível que sobreviva um ou dois engenhos para atender a este mercado formado por saudosistas”, vaticina Antônio.

O rosário de lamentações é puxado também pelo proprietário do Engenho Santo Antônio, Antônio de Pedro, que também está colocando o gado para pastar dentro das canas. Antônio garante que este é o último ano de moagem. “Estou acabando com uma tradição que foi herdada do meu avô”, complementa ele.

Na área dos engenhos estão sendo construídos condomínios, casas de veraneio, pistas de vaquejadas e postos de combustíveis. Antônio de Pedro conta nos dedos os últimos remanescentes de uma aristocracia rural que dominou o Cariri desde sua colonização.

Destilaria de álcool

Depois do processo de sucateamento do setor, agravado com o fechamento da Usina Manoel Costa Filho de Barbalha, o governo do Estado pretende, agora, reerguer a atividade sucroalcooleira no Ceará, mais especificamente na Região do Cariri. O secretário de Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana, já anunciou que o governo busca atrair investidores para instalação de destilaria de álcool na região do Cariri.

“No entanto, pelo andar da carruagem, o projeto vai chegar atrasado”, diz o industrial Rommel Bezerra, proprietário de uma destilaria de cachaça no Crato, lembrando que a cada ano diminui a área plantada de cana na região. Já foram ocupados 10 mil hectares, produzindo 500 mil toneladas. Hoje, são apenas mil hectares, gerando 50 mil toneladas do produto. Rommel destaca que o governo vai começar pelo plantio de uma variedade que se adapte às terras e ao clima da região caririense.

A pretensão de recuperar o setor canavieiro já havia sido levantada pelo governo anterior, quando lançou o Programa Renovacana Cariri. A meta era, em cinco anos, elevar em 260% a produção de cana-de-açúcar no Estado, de onde se destilaria o álcool. Entretanto, apesar de gerar um aumento na quantidade de hectares cultivados, a revitalização esperada do parque industrial ainda não foi alcançada.

SAIBA MAIS

Abrangência


A Região do Cariri, que abrange a atuação do Escritório Regional da Ematerce, é composta pelos municípios cearenses de: Altaneira, Barbalha, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Granjeiro, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda, Porteiras e Santana do Cariri.

Integração

Com uma importância estratégica para o processo de integração nacional, o Cariri situa-se em área geograficamente central da região Nordeste, mantendo-se a uma distância média de 600km das principais capitais nordestinas.

Rapadura

Os poucos engenhos que ainda resistem no Cariri anunciam fim das atividades. Mas ainda há pequena produção de rapadura, como nos engenhos Padre Cícero, no Sítio Venha Ver (88-3532.3990) e o Santo Antônio, também no Sítio Venha Ver (88) 3532.0433, ambos no município de Barbalha.

ANTÔNIO VICELMO
Repórter

Congresso pára combate à corrupção

O combate à corrupção, tão debatido em épocas de campanhas eleitorais, passa longe do Congresso Nacional. Segundo um levantamento feito pelo site Contas Abertas, diversos Projetos de Lei (PLs) que tratam da punição e prevenção à corrupção chegam a esperar quase 15 anos para serem votados. Ao todo 68 projetos estão parados esperando apreciação por parte dos parlamentares.

A falta de vontade política dos deputados federais e senadores brasileiros para votar matérias que versam sobre o combate à corrpução fica claro na medida em que os projetos, classificados como prioritários, dispensam exigências regimentais para serem incluídos na "Ordem do Dia". Isso quer dizer que, apesar de serem de pronta apresentação aos parlamentares, eles demoram anos para serem apreciados.

Apenas em 2007, foram apresentadas 31 propostas de combate à corrupção - um número a menos do que as proposições sugeridas entre 1993 e 2006. Em 2008, foram mais cinco projetos de lei colocados à apreciação dos parlamentares. Todos versam sobre ações preventivas diretas e indiretas sobre corrupção. Algumas dessas iniciativas legislativas tramitam em conjunto.

Em diversos diagnósticos e estudos realizados sobre a corrupção no Brasil, verifica-se que os casos e escândalos se alimentam, muitas vezes, na mesma fonte. A imunidade parlamentar, por exemplo, é um desses sustentáculos. Outros pontos relevantes seriam o de sigilo bancário excessivo, a falta de transparência nos gastos públicos, a elevada quantidade de funções comissionadas e a morosidade da Justiça.

Além destes, a falta de critérios para elaboração e repasses de recursos de emendas parlamentares também é um problema. Este, inclusive, foi alvo do Projeto de Lei 2850/08, de autoria do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que caracteriza como crime a utilização das emendas parlamentares à lei orçamentária como instrumento de barganha para influir na apreciação de proposições legislativas em tramitação no Congresso.

Uma das razões apresentadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para garantirem o direito de candidatos respondendo a processos na Justiça de entrarem na corrida eleitoral, era a falta de uma Lei que determinasse isso. Não é de se estranhar, no entanto, que no topo da relação de projetos pró-combate à corrupção está o PLP 168, capaz de impedir que indivíduos já condenados por crimes graves tenham acesso a cargos eletivos. O PLP 168 é o mais antigo dos projetos que tramitam no Congresso - desde 1993.

Dentre as propostas que tramitam lentamente, encontra-se também o projeto de lei 1.142/07, de autoria do deputado Henrique Fontana (PT-RS), que responsabiliza criminalmente as empresas que praticam corrupção. Em justificativa à proposta, o deputado afirma que o objetivo é "atacar a corrupção nos focos em que ela se origina, ou seja, através de representantes políticos, de funcionários públicos e de empresários que praticam a corrupção". Fontana acredita que pequenas mudanças na lei não garantem o fim da corrupção, mas se pode dificultá-la por meio de um maior controle e de penalidades severas aos infratores.

Leia mais no site
www.contasabertas.uol.com.br

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Pastoral Carcerária realiza retiro com agentes pastorais. (Dia 15 de AGO/2008)

A Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Fortaleza realizará nos dias 15, 16 e 17 de agosto um Retiro com os agentes de pastoral no Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU), na Avenida Alberto Craveiro, 2222, Castelão. O tema será "A Presença - Ausência de Deus no presídio" e será orientado pelo Padre Bernardo Holmes. O objetivo do encontro é animar e fortalecer os agentes da pastoral para o trabalho desafiador que é a realidade da população carcerária.

CONTATO: Regina Pereira (85) 33888718 / (85) 99721466 / www.pcarcerariafortaleza@yahoo.com.br.
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Articuladores do Grito dos Excluídos/as de Fortaleza realizam plenária. (Dia 16 de AGO/2008)

No próximo dia 16 de agosto, sábado, das 8h30m às 12h, na Faculdade da Prainha, na Rua Tenente Benévolo, n.° 201, Centro, os articuladores do 14° Grito dos/as excluídos/as de Fortaleza, realizarão plenária. A pauta central será a preparação de toda programação do dia 07 de setembro e reunião das equipes de trabalho. O grito este ano acontecerá no bairro do Genibaú e terá como tema "Vida em primeiro lugar - Direito e participação popular."

CONTATO: Assis Memória 9944 3315 e Rejane Nascimento 8816 3867
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Ato pela Vida em Fortaleza (Dia 19 de AGO/2008)

A Pastoral do Povo da Rua celebrará no dia 19 de agosto, na Praça José de Alencar, a partir das 17h, um Ato pela Vida, com a presença de moradores de rua, entidades e pastorais sociais. O ato faz memória ao massacre de 15 pessoas em situação de rua que foram cruelmente atacadas no centro da cidade de São Paulo na madrugada dos dias 19 e 22 de agosto de 2004. O momento também quer reafirmar o compromisso e engajamento em defesa do povo da rua e da construção de políticas públicas que resgatam a dignidade e cidadania desse povo que quer viver com qualidade e com direitos assegurados.

CONTATO: Fernanda Gonçalves (85) 8872 6947 / 3388 8706
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"Gestão de Empreendimentos Solidários" será tema do curso promovido pela Cáritas (Dia 18 de AGO/2008)



Dando prosseguimento à ação de capacitação de 60 grupos de empreendedores na linha da Economia Popular Solidária, a Cáritas Brasileira Regional Ceará em parceria com a Cáritas Arquidiocesana, realizarão de 18 de agosto a 19 setembro o curso de Gestão de Empreendimentos Solidários. Serão formadas duas turmas para o curso, uma no Conjunto Palmeiras em parceria com o Banco Palmas e outra no Bom Jardim em parceria com o Movimento de Saúde Mental. A perspectiva desta atividade é fortalecer os grupos para prática da sócio economia solidária através da organização da produção dos empreendimentos solidários, e desenvolvimento de políticas públicas de geração de trabalho e renda, usando como metodologia a realização de oficinas e jogos. Já foram capacitadas 05 turmas de diversos bairros de Fortaleza. A iniciativa faz parte do Programa Trabalho Comunitário Solidário, ação articulada entre a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), Cáritas Brasileira Regional Ceará, Instituto Terra Azul e Banco Palmas.

CONTATO: Luciana Eugenio ou Francisco Santiago (85) 3388 8716 / 8896349869
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Vida Brasil abre inscrições para Curso de Formação (Dia 22 de AGO/2008)

O Programa "Acessibilidade e Direitos da Pessoa com Deficiência" abre inscrições para a segunda turma do Curso de Formação em Direitos das Pessoas com Deficiência e Gestão de Projetos, que ocorrerá em Salvador e Fortaleza. As inscrições poderão ser realizadas até o dia 22 de agosto de 2008, através do envio da ficha de inscrição (disponível no site www.vidabrasil.org.br) para os e-mails fortaleza@vidabrasil.org.br ou lucianamaia@vidabrasil.org.br ou pelo correio, para a sede da Vida Brasil (Rua Antenor Rocha Alexandre, 320, Parque Manibura, CEP: 60.821-795). O curso  é gratuito e possui carga horária de 100 horas, distribuídas em cinco módulos que serão realizados de setembro a novembro de 2008. A formação abordará temas como: Cidadania e Participação; Políticas Públicas e Controle Social; Direitos Humanos; Direitos das Pessoas com Deficiência; Acessibilidade; Mecanismos de Participação; Gestão e Elaboração de Projetos. Serão capacitados 20 representantes de entidades de ou que trabalham com pessoas com deficiência nas duas cidades. O objetivo do curso é contribuir para o fortalecimento institucional das organizações, reforçando suas capacidades teóricas e práticas de intervenção e qualificando seus membros para a elaboração e realização de projetos. Poderão participar da seleção pessoas que façam parte de Associação ou Movimento que atue na área da deficiência e/ou de direitos humanos. O edital, com maiores informações e critérios de inscrição, está disponível no site da Vida Brasil. O Programa de Acessibilidade é realizado com o apoio da União Européia, do Ministério das Relações Exteriores da França e da Misereor.

CONTATO: Luciana Maia (Coordenadora do Programa de Acessibilidade) (85)88548768 e Rafael Sousa (85)87956907
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DESTAQUES
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Do Fome Zero aos Agrocombustíveis
por Roberto Malvezzi (Gogó)*


Quando Lula tomou posse, uma de suas primeiras atividades foi reunir seu ministério e levá-lo até Guaribas, sertão do Piauí. Andando longo trecho de ônibus, os ministros que só conheciam o sertão pelos livros e TVs, puderam pôr o pé na realidade. O gesto era simbólico e, como já advertia Frei Betto, não era a revolução, mas era o que podia um governo eleito pelo voto. Lula proclamara o "Fome Zero" como uma das metas principais de seu governo. Depois, diante de observações feitas aqui das bases do Nordeste, o próprio Ministério do Meio Ambiente proclamou o "Sede Zero". De qualquer forma, soava diferente de todos os governos anteriores.

O tempo se encarregou de mudar Lula e seu governo. A adesão firme ao agro e hidronegócios fez com que optasse pelos transgênicos ao invés de uma agricultura familiar diversificada e rica em alimentos, embora invista também nela, mas jamais na mesma proporção. Optou pela transposição do São Francisco ao invés de investir em obras descentralizadas de abastecimento, como as adutoras para as cidades do Nordeste. Finalmente, optou pelos agrocombustíveis em detrimento da produção de alimentos. Dá para demarcar passo a passo, numa linha do tempo, as mudanças profundas na rota do governo Lula.

Em Salvador, inaugurando obras e fomentando a aqüicultura nos mangues brasileiros, também em detrimento das populações pesqueiras do litoral, Lula disse que "não seria louco de deixar de encher o tanque do povo para encher o tanque dos carros". De repente, parecia o velho Lula, com aquele semblante de indignação diante das injustiças brasileiras. Mas, a realidade é que ele estava apenas querendo justificar sua opção pelos agrocombustíveis, sempre na argumentação que não existe paradoxo entre produzir alimentos e agrocombustíveis. O assunto é uma espada no pescoço de seu governo e não faltam estatísticas de todos os tipos para contestar a linha de pensamento do presidente.

Esses dias o preço das comodities agrícolas despencou e o programa do biodiesel da mamona faliu. O aumento da fome no mundo, em um ano, já passa de 100 milhões de pessoas. O preço dos alimentos explodiu. Contraria as metas do milênio e coloca a humanidade numa encruzilhada tenebrosa. O governo, ao pôr os melhores solos brasileiros a favor dos agrocombustíveis, ao incentivar a América Central e a África para o mesmo caminho, a pretexto de favorecer a renda dos agricultores, pode estar incentivando a escassez de alimentos no mundo. E não adianta falar em safra recorde porque essas comodities não põem a mesa do povo brasileiro.

Assim, um governo que fez do combate à fome sua grife, pode terminar seus dias colaborando com o aumento da fome sistêmica em todo o planeta.

* Assessor da Pastoral da Terra