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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pela esquerda ou pela direita?

Sem arrodeios, existem duas regras, básicas, de trânsito que são desrespeitadas diariamente e que sozinhas devem representar a maior parte os acidentes em nossos dias: ultrapassagens proibidas pela direita; e guardar a faixa da esquerda sem pretender nenhuma ultrapassagem. Todos nós, dirigindo carros, motos ou dentro de algum transporte coletivo, por algum tempo, durante o dia estamos expostos a este tipo de situação.

De maneira geral, ultrapassar exclusivamente pela esquerda é regra NUNCA obedecida pelos motoqueiros. É impressionante! A motocicleta deve passar esta “impressão” ao condutor de “donos da situação”, seres intocáveis, perfeitos, incapazes de cometer erros de cálculo no tempo de uma ultrapassagem ou até mesmo da capacidade de reagir a um movimento inesperado de um motorista que será ultrapassado. Não é raro encontrarmos motoristas de carros, grandes ou pequenos, cometendo a mesma séria infração. O fato é que, exceto raríssimas exceções e ai me incluo, TODOS ultrapassam pela direita! Levados, talvez, pela impaciência de esperar infinitamente a hora em que o “magnífico” motorista à sua frente resolva tomar à faixa da direita e liberar a via, de ultrapassagem, para ultrapassagem.

Já deu pra notar que, atribuo parte dos problemas de trânsito aos que guiam veículos de 2 rodas, mas tenho meus argumentos. Quantos motoqueiros, em cada 10 que você conhece, têm carteira? Não conheço a estatística oficial, mas já ouvi dizer que seriam 4, ou até mesmo 5, “sem habilitação” na região do CRAJUBAR. Se partimos para cidades vizinhas esse número deve subir para 6 ou 7! Ou seja, não passaram pelos exames, muito menos pela preparação necessária ao entendimento de todas as regras de legislação e primeiros-socorros no trânsito. Quem nunca viu uma moto deitada no chão ao lado de algum desatento ou desafortunado motoqueiro? Estes são levados a conhecerem seus limites quando são abalroados e caem vítimas de sua própria imprudência ou imperícia. A desvantagem das motos é que não há cintos de segurança, nem air-bags, e que o pára-choque normalmente é a cabeça, tórax ou os membros do condutor e garupeiro.

Quero deixar uma mensagem aos, nobres, motoristas “proprietários das faixas da esquerda” dizendo: “Deixem-nos passar!”. Vocês também precisarão disto uma hora! Deixem o orgulho de lado, digo a ignorância, e entendam que não tem direito exclusivo do uso da faixa, apenas porque chegou ali primeiro! Quer chegar em primeiro lugar? Vá a um autódromo! Lá você pode ter sua chance. Arrisco dizer que, esse gesto evitaria pelo menos metade dos acidentes com moto que ocorrem, muitas vezes, da desatenção do motorista que trafega pela esquerda e devido à imprudência de motoqueiro que insiste em ultrapassar pela direita. Apelo também aos gestores do trânsito local que promovam campanhas educativas! Divulguem as estatísticas de acidentes e infrações. Fiscalizem veículos e condutores. Punam os infratores! A educação é ponto fraco de nossa nação. A educação no trânsito, ou a FALTA de educação, vem fazendo vítimas a todo instante. Não sejamos as próximas.

Dimas de Castro e Silva Neto

Engenheiro Civil, Mestre em Gerenciamento da Construção
pela University of Birmingham e Professor do Curso de Engenharia Civil da UFC Cariri

Centro Cultural BNB Cariri: Programação Diária




Dia 10/11, terça-feira

Música - CULTURA DE TODO MUNDO
14h Programa de Rádio na Educadora do Cariri AM. 180min.

Artes Cênicas - OFICINA DE FORMAÇÃO ARTÍSTICA
15h Contadores e Contamores. 240min.

Atividades Infantis - HORA DO RECREIO
Local: E.E.F. Arara Azul. (Caririaçu)
15h30 A Triste Partida. 20min.

Literatura/Biblioteca - BIBLIOTECA VIRTUAL
18h Noções Básicas de Utilização da Internet. 180min.

Cinema - 100 CANAL
18h30 Mulheres Rurais. 5min.

Cinema - IMAGEM EM MOVIMENTO
18h35 Estorvo. 95min.

Rua São Pedro, 337 - Centro - Juazeiro do Norte
Fone (88) 3512.2855 - Fax (88) 3511.4582

Câmara de Juazeiro aprova lei que proíbe cobrança da taxa de esgoto

Por Mirelly Morais (do Jornal do Cariri)

A cobrança da taxa de esgoto no município de Juazeiro do Norte há muito vem sendo questionada. A população reclamou e foi ouvida pelos poderes públicos. A Câmara Municipal aprovou um projeto de Lei que proíbe a cobrança da taxa de esgoto pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). O projeto foi sancionado pelo prefeito Manoel Santana e virou Lei. Restam agora, aos poderes municipais, as medidas cabíveis ao cumprimento da Lei.

O contrato de concessão dos serviços entre a prefeitura e a Cagece foi realizado, no ano de 2003, pelo então prefeito Carlos Cruz e deve durar por 30 anos. A Lei versa que a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE) fica proibida de cobrar tarifa referente à taxa de esgoto no município de Juazeiro do Norte, até que se conclua o saneamento básico e seja oferecido um serviço de qualidade à população.

O vereador Roberto Sampaio Lima (PSB), autor do projeto, declarou-se muito feliz com a sanção da lei. Segundo ele, “era uma luta antiga para tentar combater a famigerada taxa de esgoto”. De acordo com o vereador, “o saneamento básico de Juazeiro é uma farsa, nunca houve saneamento na cidade”. Sampaio acrescentou que “essa Lei representa o marco de uma luta antiga da população” e que a Cagece, independente do acordo contratual, deve seguir a determinação da Lei municipal.

De acordo com o presidente da Casa, José de Amélia Júnior (PSL), a Lei é totalmente constitucional e legal, não podendo ser questionada. Porém, ele alerta que não tem eficácia imediata, podendo passar a valer somente decorrido o prazo do contrato atual entre a Cagece e a prefeitura de Juazeiro, que foi realizado com base em Lei anterior.

Versão questionada pelo vereador Gledson Bezerra (PTB), que alertou sobre a aplicação da Lei dizendo que esta pode vir a ser questionada, porém, de imediato, deve-se fazer valer o seu cumprimento. Pois de acordo com ele, “a Lei é sim de aplicação imediata”. Segundo ele, a partir da publicação, a população deve parar de pagar a taxa de esgoto, “até que a Cagece, sentindo-se prejudicada, acione o judiciário para que este resolva o caso”, conclui Gledson. A Cagece foi procurada pela reportagem para pronunciar-se a respeito, mas alegou ainda não ter sido oficialmente comunicada da decisão.

No palco, 16 companhias de teatro do Cariri

Por Vitória Régia (do Jornal do Cariri)

Descrita como forma de reconhecer, incentivar, fortalecer e divulgar a produção dos dramaturgos e encenadores da região, a 1ª Guerrilha do Ato Dramático Cearense acontece e efetiva sua proposta em quase todo o mês de novembro, desde o dia 7. Contando com a apresentação de 16 espetáculos de companhias daqui, sendo seis peças infantis e 10 adultas, as quais se apresentam em praças públicas do Crato.

Conforme o professor e dramaturgo Cacá Araújo, esse festival contribuiu com mais força aos profissionais do teatro. Para estarem em atividade, eles têm de ultrapassar problemas financeiros, pouca oportunidade de aprendizagem de técnicas e raros contatos com artífices de sucesso, o que prejudica intimamente o processo de produção.

Dificuldades que foram dribladas com a criação de uma cooperativa de artes cênicas para o Cariri. “Esses grupos isolados tem um baixo poder de fogo. Juntos têm mais chance de captar recursos”, disse Cacá. Mas o benefício não chega somente aos artistas. Os organizadores têm a pretensão de humanizar o público, o que é prioridade em seus trabalhos e usam para isso, alguns elementos da arte.

Sobre o papel de formação, o professor protesta: “não podem fazer música, poesia, peças e qualquer outra obra sem levar em conta a história de um povo”. Os guerrilheiros visam até contribuir com o turismo cultural. Sim, porque segundo o professor, o turista quer conhecer outra cultura e não chegar aqui e ver a dele. O que torna tão importante a ação de fortalecer a cultura local.

Padre Pedro Inácio Ribeiro - O Santo do Sertão

Por Armando Lopes Rafael *

Existe na cidade de Brejo Santo um pequeno memorial em homenagem ao Padre Pedro Inácio Ribeiro – onde estão expostos objetos de uso pessoal deste sacerdote –vigário daquela cidade durante exatos 33 anos. Padre Pedro Ribeiro morreu com fama de santidade e muitas pessoas asseguram ter obtido graças por sua intercessão.
Nascido em Missão Velha, em 19 de maio de 1902, Pedro Inácio passou sua infância e juventude na cidade de Crato. Sentindo inclinação para o sacerdócio estudou no Seminário São José de Crato e no Seminário da Prainha, em Fortaleza, vindo a ser ordenado sacerdote no dia 17 de abril de 1927, na Catedral de Nossa Senhora da Penha de Crato, pelo primeiro bispo da diocese, Dom Quintino. Em 1º de janeiro de 1930 assumiu a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, de Brejo Santo, onde permaneceu até a data do seu falecimento, ocorrido em 3 de janeiro de 1973.
Em Brejo Santo seu sacerdócio não foi vivido mediante obras especiais ou de caráter extraordinário, mas sim na fidelidade cotidiana do exercício do ministério que abraçou. Reside aí, provavelmente, a dimensão da santidade sacerdotal atribuída ao Padre Pedro Ribeiro. Na verdade, ele viveu seu sacerdócio na consistência do amor a Cristo e a sua Igreja; no amor aos pobres e necessitados; na compaixão pelas almas desviadas e no amor pela pregação do Evangelho de Jesus Cristo. Aliado a tudo isso, a simplicidade, mansidão e humildade de que era dotado o Padre Pedro Ribeiro contribuíram para ele conquistar o afeto de adultos e crianças. Todos em Brejo Santo tinham carinho por seu pastor.
O trabalho missionário de Padre Pedro não foi feito somente no município de Brejo Santo. Durante alguns anos ele deu assistência ao povo da cidade e da zona rural de Porteiras, conforme atesta o historiador Napoleão Tavares Neves, no texto “O Padre Pedro que conheci”, escrito a partir da leitura feita por ele do opúsculo “O Santo do Sertão–Uma biografia”, publicado pela Fundação Memorial Padre Pedro Inácio Ribeiro, de Brejo Santo.
Segundo Maria Santana Leite – na monografia “Pequena História da Paróquia de Brejo Santo”: “O Padre Pedro foi sempre um pai espiritual para todos os paroquianos. Estava sempre preocupado com os agricultores sofridos, especialmente na época da seca, quando as famílias pobres da zona rural passavam necessidades. Era um entusiasta com a catequese das crianças a quem dedicava um carinho todo especial, participando das aulas de catecismo, levando-as a passear em momentos de lazer, promovendo brincadeiras, além de distribuir moedas e pequenos brindes à criançada.
“Evangelizou mais com seu desprendimento das coisas materiais, sua vida de oração, adoração e contemplação; pelo seu testemunho de vida, do que mesmo pelas pregações, embora nunca deixasse de fazer as homilias por mais simples que fosse. A tônica de suas pregações era sempre o amor, a partilha, a vida de santidade. Sua metodologia era a do perdão. Pregava um Deus Pai amoroso, misericordioso. Nunca julgava nem condenava ninguém, pelo contrário incentivava e conduzia à conversão. “Além do Sagrado Coração de Jesus, era devotíssimo de Maria Santíssima, de Santa Teresinha do Menino Jesus e de São Geraldo”.
Nos últimos quinze anos de sua vida, Padre Pedro Inácio Ribeiro foi acometido de forte reumatismo que o deixou paralítico. Nos tempos finais perdeu também a visão. Nunca reclamou de nenhuma dessas provações.
Ele foi, enfim, um sacerdote bom, piedoso e santo, que fez um bem imenso aos seus paroquianos.

(*) Armando Lopes Rafael , colaborador deste blogue, é historiador. O artigo foi publicado no Jornal do Cariri, edição de 10 a 16/11/09.

Pela esquerda ou pela direita?

Por Dimas de Castro e Silva Neto*
Sem arrodeios, existem duas regras, básicas, de trânsito que são desrespeitadas diariamente e que sozinhas devem representar a maior parte os acidentes em nossos dias: ultrapassagens proibidas pela DIREITA; e guardar a faixa da ESQUERDA sem pretender nenhuma ultrapassagem. Todos nós, dirigindo carros, motos ou dentro de algum transporte coletivo, por algum tempo durante o dia, estamos expostos a este tipo de situação.

De maneira geral, ultrapassar exclusivamente pela esquerda é regra NUNCA obedecida pelos motoqueiros. É impressionante! A motocicleta deve passar esta “impressão” ao condutor de “donos da situação”, seres intocáveis, perfeitos, incapazes de cometer erros de cálculo no tempo de uma ultrapassagem ou até mesmo da capacidade de reagir a um movimento inesperado de um motorista que será ultrapassado. Não é raro encontrarmos motoristas de carros, grandes ou pequenos, cometendo a mesma séria infração. O fato é que, exceto raríssimas exceções e ai me incluo, TODOS ultrapassam pela direita! Levados, talvez, pela impaciência de esperar infinitamente a hora em que o “magnífico” motorista à sua frente resolva tomar à faixa da direita e liberar a via, de ultrapassagem, para ultrapassagem.

Já deu pra notar que, atribuo parte dos problemas de trânsito aos que guiam veículos de 2 rodas, mas tenho meus argumentos. Quantos motoqueiros, em cada 10 que você conhece, têm carteira? Não conheço a estatística oficial, mas já ouvi dizer que seriam 4, ou até mesmo 5, “sem habilitação” na região do CRAJUBAR. Se partimos para cidades vizinhas esse número deve subir para 6 ou 7! Ou seja, não passaram pelos exames, muito menos pela preparação necessária ao entendimento de todas as regras de legislação e primeiros-socorros no trânsito. Quem nunca viu uma moto deitada no chão ao lado de algum desatento ou desafortunado motoqueiro? Estes são levados a conhecerem seus limites quando são abalroados e caem vítimas de sua própria imprudência ou imperícia. A desvantagem das motos é que não há cintos de segurança, nem air-bags, e que o pára-choque normalmente é a cabeça, tórax ou os membros do condutor e garupeiro.

Quero deixar uma mensagem aos, nobres, motoristas “proprietários das faixas da esquerda” dizendo: “Deixem-nos passar!”. Vocês também precisarão disto uma hora! Deixem o orgulho de lado, digo a ignorância, e entendam que não tem direito exclusivo do uso da faixa, apenas porque chegou ali primeiro! Quer chegar em primeiro lugar? Vá a um autódromo! Lá você pode ter sua chance. Arrisco dizer que, esse gesto evitaria pelo menos metade dos acidentes com moto que ocorrem, muitas vezes, da desatenção do motorista que trafega pela esquerda e devido à imprudência de motoqueiro que insiste em ultrapassar pela direita. Apelo também aos gestores do trânsito local que promovam campanhas educativas! Divulguem as estatísticas de acidentes e infrações. Fiscalizem veículos e condutores. Punam os infratores! A EDUCAÇÃO é ponto fraco de nossa nação. A educação no trânsito, ou a FALTA de educação, vem fazendo vítimas a todo instante. Não sejamos as próximas.


* Dimas de Castro e Silva Neto, colaborador deste blogue, é Engenheiro Civil, Mestre em Gerenciamento da Construção pela University of Birmingham e Professor do Curso de Engenharia Civil da UFC Cariri. Artigo publicado no Jornal do Cariri, edição de 10 a 16/11/09.

ÉTICA - MAURÍCIO C. DELAMARO

PARTE DA TESE DE DOUTORADO DEFENDIDA, EM 1997 NA COPPE/UFRJ, POR MAURÍCIO CÉSAR DELAMARO:
“Numa primeira aproximação, digo que a Ética surge como ciência do ethos. Ou, como saber racional sobre o ethos. Nela está presente a centralidade do logos discursivo.
Para Aristóteles - que, seguindo Sócrates e Platão, se propõe a constituir a Ética com um estatuto de saber autônomo - a existência do ethos é indiscutível. O ethos se apresenta, primeiramente, como “costume, esquema praxeológico durável, estilo de vida e ação”. Neste sentido, ethos é morada do homem. Torna o mundo habitável, pois rompe com o reino da natureza ou physis - caracterizado pela regularidade e onde impera a necessidade - para abri-lo ao reino da liberdade, onde imperam os costumes, os hábitos, as normas, os interditos, os valores e as ações significantes. O ethos é “morada a partir da qual a realidade se descobre como dotada de significação e valor”. A sua característica de durabilidade não significa que o ethos em tanto que espaço existencial humano possa vir a ser, em qualquer tempo, uma morada pronta e acabada. Cabe ao homem, incessantemente, reconstruí-la.

Num segundo sentido, ethos diz respeito aos hábitos apreendidos pelo sujeito singular, graças à repetição. O ethos, aqui, manifesta-se como constância no agir que se contrapõe aos impulsos do desejo e das paixões. A constância, adquirida pela repetição dos mesmos atos, não advém do reino da necessidade que é a physis, mas, sim, do ethos, em tanto que costume.

Uma questão fundamental. O ethos como costume, estilo de vida e ação; enfim, como morada; embora construído e incessantemente reconstruído, não é pura invenção e criação da arbitrariedade humana. Ele é o espaço, por excelência, onde se manifesta o finalismo do Bem. É um espaço teleológico. É na morada do ethos “que o logos torna-se compreensão e expressão do ser do homem como exigência radical do dever ser ou do Bem”. O ethos, então, não é pura e simplesmente construção do homem tal qual ele se apresente, casuisticamente, nas diversas épocas histórico-culturais; é, antes, espaço de auto-construção do homem segundo uma finalidade que é sua: o Bem.
A articulação entre ethos como morada e ethos como hábito pode, então, aparecer. O primeiro é o conjunto de princípios, normas e estilos que plasmam o segundo. Quando a praxis humana - não acidental, mas regida pela constância do hábito - está conforme ao ethos como morada - ela pode ser chamada ética. E o hábito, aí, é virtude.

Esses dois momentos do ethos é que possibilitam Platão a edificar a ciência do ethos não apenas como ciência da Justiça e do Bem, mas, também, como ciência da ação boa e justa, que é ação segundo o hábito que é virtude. É justamente a ação humana - que, repito, é o percurso entre o que o agente é e o que o agente tende a ser, segundo o finalismo da ação - que representa a instância mediadora entre a universalidade abstrata do ethos como costume e a universalidade singularizada do agente no ethos como hábito.

A concepção do ethos como espaço teleologicamente orientado para o Bem - ou “como a face da cultura que se volta para o horizonte do dever-ser ou do Bem” - é congruente com a formulação de uma ciência do ethos como ciência do Bem. Mas, para tanto, a Ética deferia ser fundada sobre um tipo de conhecimento ou saber absolutamente primeiro: uma ontologia. Ela depende da possibilidade de se chegar ao conhecimento do logos do ser, a uma arqué panton - um princípio de tudo -, um Absoluto transcendente, eterno, imutável. A forma de se chegar a tal conhecimento seria a contemplação, ou teoria. Então - entendendo teoria como era entendida por Platão e Aristóteles, ou seja, como contemplação do Absoluto - podemos perceber a Ética como instância mediadora entre a teoria e a praxis.

A teoria e a praxis expressam dois modos do homem ser, com posturas específicas frente ao mundo. A teoria está “voltada para as coisas, aliás, em última análise, para aquilo que, nas coisas, (é) imutável, eterno, divino. Ela pretende articular um saber apodíctico da ordem universal de todas as coisas em suas estruturas essenciais. Através desse saber, o homem entrava em sintonia com a harmonia da ordem cósmica e se assemelhava ao ser divino, pensando como contemplação pura”. A praxis, em contrapartida, refere-se à ordem do contingente e do condicionado: aos modos concretos de viver institucionalizados na convivência dos homens através dos costumes e estilos que regulam e sustentam as formas concretas de ser homem. No entanto, é dentro desse mundo condicionado que está em jogo a conquista da humanidade do homem: a praxis é “ação através de que o homem se faz homem, isto é, através de que suas potencialidades se atualizam e ele conquista seu ser,(...) é a ação dos homens na busca de si mesmos, e o realizar-se do homem na ação pela mediação da ação, é, em última análise, auto-construção do homem segundo a ordem cósmica universal”. E, como a teoria tematizava a ordem universal, perante a qual o homem situa sua ação, o papel primeiro da Ética como ciência era o de oferecer ao saber prático os pressupostos gerais da ação, sempre adequados à teoria.

Eis, aqui, o porquê da Ética não ser pura e simplesmente a codificação racional do ethos histórico vivido por uma comunidade. Mais que codificadora, ela tem um papel de crítica, de reforma, de atualização e revigoramento dos costumes e instituições vigentes em determinado momento histórico, pois que busca adequá-los aos pressupostos gerais advindos das intuições da teoria e, em suma, do Absoluto eterno, a-histórico, transcendente.

Faço notar, ainda, que o fundamento primeiro - o Absoluto, que é origem de tudo, princípio absoluto, causa inicial - é também causa final ou objetivo último da vida humana. Tal concepção foi trabalhada filosoficamente de distintas formas na história do ocidente, mas permaneceu uma constante em diversas de nossas modernidades. Por exemplo, o Bem platônico, a Natureza aristotélica e o Deus cristão são, ao mesmo tempo, causa inicial e final. A busca humana desse Bem fundamental último está articulada a bens que lhe são subalternos, cuja vivência concreta pelo sujeito singular e histórico dá-se como exercício de virtudes. Cada uma dessas vivências é “... como uma atualização de uma excelência segundo um fim não redutível ao indivíduo-tal-como-ele-é, mas que o molda, através da moral, para ser tal-como-ele-deve-ser-segundo-o-fim-que-é-seu”.

Pensamento para o Dia 10/11/2009



“O homem é uma parte da comunidade humana. A humanidade é uma parte da natureza. A natureza é um membro de Deus. O homem não reconhece essas inter-relações. Hoje, os homens estão esquecendo suas obrigações. O Cosmo é um organismo integral de partes inter-relacionadas. Quando cada um executa seu dever, os benefícios estão disponíveis para todos. O homem tem direito somente a cumprir suas obrigações e não aos frutos delas. O homem é uma espécie de diretor de palco do que acontece na natureza. Mas esquecendo de suas responsabilidades, o homem luta por direitos. É tolice lutar por direitos sem cumprir suas obrigações. Todo o caos e todos os conflitos no mundo devem-se ao fato de os homens terem esquecido suas obrigações. Se todos cumprirem seus deveres diligentemente, o mundo será pacífico e próspero.”
Sathya Sai Baba