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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

História de Crato (final)

Por
Armando Lopes Rafael

A Praça da Sé, no primeiro quartel do século XX, numa solenidade cívico-religiosa
O pioneirismo do Crato
A
s brigas fratricidas ficam para trás. Em 1855, a 7 de julho, é fundado no Crato o primeiro jornal do interior do Ceará. Trata-se do semanário “O Araripe”, cujo proprietário é o jornalista João Brígido dos Santos, ligado ao Partido Liberal. No último quartel do século XIX, a população do Crato já não se ocupa das brigas políticas. A sociedade cratense volta suas vistas para conquistas no campo da educação que perduram até os dias atuais.
Em 1874, o primeiro bispo do Ceará, Dom Luiz Antônio dos Santos, atendendo à sugestão de um filho do Crato, Padre Cícero Romão Batista, fixa residência temporária nesta cidade, com o objetivo de construir um Seminário, a funcionar como um suplementar do Seminário Episcopal, existente na sede da diocese, Fortaleza, distante cerca de 600 Km do Cariri. Em 1º de março de 1875, ainda de forma precária, o Seminário São José do Crato é colocado em funcionamento.Em 8 de dezembro de 1908, o vigário Pe. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, convoca as autoridades e lideranças da cidade, com o objetivo de solicitar ao Bispo do Ceará encaminhar a Santa Sé o pedido de criação da diocese do Crato. É formada uma comissão com as lideranças e os notáveis da terra para os trabalhos preparatórios da nova diocese.
Em 20 de outubro de 1914, o Papa Bento XV, através da Bula “Catholicae Ecclesiae”, cria a diocese do Crato, a primeira do interior do Ceará. Em 10 de março de 1915, o vigário Quintino é preconizado primeiro bispo da nova igreja particular. A partir de então, diversas iniciativas da Diocese do Crato são responsáveis pelo surto de progresso sentido na cidade. Uma delas a criação, em 1921, da primeira instituição de crédito do Sul do Ceará, o Banco do Cariri, que presta grandes benefícios ao comércio e à lavoura da região.
Em 1922, Dom Quintino torna-se o pioneiro do ensino superior, no interior do Ceará, porquanto dota o Seminário São José de Curso Teológico. Este, sub-dividido em Curso de Filosofia, feito em dois anos, e Curso de Teologia, em quatro anos, proporciona ao novo presbítero receber no Crato a licenciatura plena. Dom Quintino planta, assim, a semente germinativa da Faculdade de Filosofia do Crato (criada em 1959) que foi, por sua vez, o embrião da atual Universidade Regional do Cariri (URCA), criada em 1986. Esta universidade leva a instrução superior in loco à vasta área do Estado do Ceará. E recebe no Crato alunos residentes nos Estados do Piauí, Paraíba e Pernambuco. Hoje, o Crato é um dos mais importantes pólos do ensino universitário, no Nordeste brasileiro.
Encerremos com mais dois registros. Primeiro, em 1946, há quase sessenta anos, quando não se fala em ecologia ou biodiversidade, o Crato é palco de nova ação pioneira. Através do Decreto n° 9.226 de 02 de maio de 1946, o Governo Federal cria a primeira reserva florestal do Brasil. Trata-se da Floresta Nacional do Araripe, que tem boa parte da sua reserva encravada no Município do Crato. Constituída por mata primária, clima ameno, além de possuir boa variedade de fauna e flora nativas, fontes naturais, pequenas grutas e fósseis, a Floresta Nacional do Araripe vem permitindo a pesquisa científica, recreação e lazer, educação ambiental, manejo florestal sustentável e turismo.
Segundo, em 2005, por iniciativa do Governador Lúcio Alcântara, foi criado o Geopark Araripe (foto abaixo, à direita, canion da Cachoeira de Missão Velha) sob a coordenação da Universidade Regional do Cariri – URCA, na gestão do Reitor André Herzog. A sede do Geopark Araripe fica na cidade de Crato. Criado com o objetivo preservar a história geológica da Chapada do Araripe, este Geopark envolve uma área de 10 mil Km2 sem equivalente no mundo na presença da fauna e da flora em fósseis de 70 a 120 milhões de anos em abundância, diversidade e estado de preservação. Em dezembro de 2005, o Governo do Estado do Ceará apresentou postulação, junto à Divisão de Ciências da Terra da UNESCO, que reconheceu em setembro de 2006 o Geopark Araripe comoo primeiro Geopark do continente americano e do Hemisfério Sul.
É o Crato pioneiro. Sempre à frente dos acontecimentos futuros...

Referências bibliográficas:
-ALBUM HISTÓRICO DO SEMINÁRIO EPISCOPAL DO CRATO. Rio de Janeiro: Typografia Revista dos Tribunaes,1925. 245 p.
-ALCÂNTARA, José Denizard Macedo de. Notas Preliminaresin Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, autoria de J. Dias da Rocha Filho. 2 ed. Fortaleza: Secretaria da Cultura, Desporto e Promoção Social do Ceará, 1978. 170 p.
-ARAÚJO, Padre Antônio Gomes. A Cidade de Frei Carlos. Crato (CE): Faculdade de Filosofia do Crato, 1971. 165 p.
-FIGUEIREDO FILHO, J. Engenhos de Rapadurado Cariri.Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1958. 74 p.
-LÓSSIO, Rubens Gondim. Artigo “Nossa Senhora da Penha de França, Padroeira do Crato” in revista “Itaytera”, ano VI, nº VI, órgão do Instituto Cultural do Cariri, Crato (CE), 1961. Tipografia A Ação.
-NEVES, Napoleão Tavares. Cadernos do IPESC 1. Juazeiro do Norte: Edições IPESC-URCA, 1997. 24 p.
-PINHEIRO, Irineu. Joaquim Pinto Madeira. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1946. 55 p.
-PINHEIRO, Irineu.O Cariri.Fortaleza: Edição do Autor, 1950. 272 p.
-PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1963. 555 p.
-RAFAEL, Armando Lopes. Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro: o contra-revolucionário do Cariri de 1817.Crato: Tipografia do Cariri, 2000. 28 p.
-ROCHA FILHO, J. Dias da. Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro(1740-1831) Notas Preliminares de José Denizard Macedo de Alcântara. 2 ed. Fortaleza: Secretaria da Cultura, Desporto e Promoção Social do Ceará, 1978. 170 p.
-SOBREIRA, Padre Azarias. O primeiro Bispo do Crato (Dom Quintino).Rio de Janeiro: Empresa Editora ABC Limitada, 1938. 183 p.