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domingo, 24 de outubro de 2010

A liberdade das raposas no galinheiro - José do Vale Pinheiro Feitosa

Esta semana que se encerra uma notícia frequentou este blog. Se tratava de uma lei de autoria de uma deputada do PT que criaria um conselho de comunicação social e fora para sanção do governador. O blog apenas repercutiu o debate em Fortaleza. Mas isso rodou a internet como mote da atual campanha eleitoral, qual seja a da liberdade de imprensa. Pelo que recebi por e-mail hoje o nascedouro da lei tinha sido no poder executivo do Estado e ela fora vetada. Então eu respondi a quem me mandou o e-mail nestes termos:

Caro amigo,

Você vai achar que é provocação, mas não é. A respeito do debate sobre censura à imprensa ou à liberdade de expressão. Como é do teu conhecimento teve aquele episódio da Maria Rita Kehl no Estadão que mostrou uma tremenda contradição à linha de defesa da liberdade do jornal, que em editorial, muito melhor que outros, mostrou que tem lado nesta campanha. Isso é correto, como fez o Mino Carta. Mas aconteceu. Depois o PSDB denunciou a Revista do Brasil ao TSE e este apreendeu a tiragem inteira que é de 360 mil exemplares e proibiu sua leitura on line.

Não me pergunte o que motivou ou se tinha razões para assim proceder. Não por que o argumento da liberdade de expressão não é relativo. Não pode ser por que a revista foi financiada pela Cult ou o Estadão pelo sistema financeiro, ou para melhor comparação pela FIESP. O tema tem que se encontrar na raiz. E na raiz, aparentemente, a Revista não fez mais ou menos do que fazem a Veja, o Estadão e a Folha de São Paulo. Convenhamos, o TSE censurar uma revista para um público específico e financiada por setores de trabalhadores e classe média é mais fácil do que censurar empresas. Nisso reside este discurso contraditório da censura nos dias atuais.

Além do mais não teve nenhuma manifestação de defesa da revista por parte da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), cujo presidente é Judith Brito, funcionária do grupo Folha e que em abril deste ano disse que a imprensa iria fazer o papel da oposição. Então entramos no campo do cinismo do mais forte: abrem o bico longo para condenar o que fazem os países mais adiantados, mas se calam num caso deste.

Em outras palavras, pedi uma troca de opiniões com você pois vejo aí a única opção de ter uma racionalidade. Estas gritas de interesses cruzados terminam se anulando e a sociedade é que perde. Não vou defender aqui especificamente qualquer meio de comunicação, mas acho por bem discutir a liberdade de expressão, ampla e geral. Falta o irrestrito para completar a frase do tempo da ditadura: neste caso o irrestrito não pode ser da raposa no galinheiro. Tem de haver a proteção das aves e que não são as “galinhas verdes” que costumam ocupar o centro do debate.

Abraços

José do Vale

Biblioteca de Fernando Pessoa está acessível na internet.

A biblioteca digital de Fernando Pessoa está acessível no site da mesma. O endereço é http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2233

Blogs sob ataques

Um novo tipo de censura feroz planta raizes na internet. Até pela relativa fragilidade do meio. Blogs estão sendo sabotados desde ontem. Especialmente blogs afinados com a campanha da Dilma: o Viomundo do Luis Carlos Azenha e o Escrivinhador do Rodrigo Vianna.

Além de ser um crime de invação do meio privado é um crime político pois procura calar uma das vozes em disputa. Ninguém de bom senso em qualquer das duas campanhas ficará calado com esta prática.

Em qualquer circunstância a sabotagem da manifestação é um dano político que atinge os dois lados e interdita o debate da liberdade expressão.

Zé Bolinha leu Quadrinhos - José do Vale Pinheiro Feitosa

João Bolinha era um personagem travesso da revista Sesinho (dedicada ao público infantil pelo SESI). Não era muito diferente do que é Zé Bolinha, igualmente travesso. O que tinha de diferença soma-se pelos acréscimos do Zé. Este com tendência à cara azeda, um tanto macambúzio e com a síndrome do mérito – só ele merece.

As semelhanças são muitas. O João e o Zé são uma juntada de bolinhas ligadas umas às outras por fios. As bolinhas são independentes, apenas se movem por ação do fio que as liga. Por isso mesmo o único movimento coerente dos dois é quando alguém puxa os cordões. Isso não impede que manifestem suas almas de pivete (menino esperto).

A Sesinho era muito querida da geração que hoje passeia entre os 60 e 70 anos. E era uma revista que adotava os quadrinhos. Que eram vistos pelos olhares severos dos adultos letrados como um caminho para a preguiça intelectual. Mas aí Conceição Romão tinha uma livraria, precisava devolver as não vendidas e as editoras queriam apenas as capas, economia de transporte. As horas noturnas de então viram minhas pupilas de olhar sobre elas.

O Sesinho era, também, o nome do personagem principal da revista. Era um menino que respeitava os outros, assim como esses criados por avó. Arrumadinho, limpinho e com a postura de uma soprano no mais extenso de uma ária. Por isso mesmo que existiam os meninos em contraponto a Sesinho na sua turma: Bocão, Nina, Ruivo, João Bolinha e outros.

O Zé Bolinha, um personagem do vasto do Brasil, é notívago e por isso não gosta muito de turma. Também é duro agüentar o Zé. Se joga futebol quer ser o dono da bola. Gosta de provocar os outros, mas quando leva uma espanada, sai correndo para casa chorando, querendo que a mãe olhe dentro dele para examinar o quanto seu orgulho foi ferido.

As revistas em quadrinho são uma invenção, um modo de se movimentar, de inventar personagens e enredos inseparáveis da cultura americana. Falar em nacionalismo neste ramo é quase uma globalização. Os americanos chamavam os quadrinhos de “comics” e sua era de ouro aconteceu entre 1938 e os anos 50. Neste auge nasceram os super-heróis. Até hoje rendem filmes em série a Hollywood.

Zé Bolinha, diferente de João Bolinha que frequentava apenas a turma de Sesinho, deu para se acompanhar de uns personagens “sinistros”. De cara amarrada, com um palavrório de chumbo, idéias de deixar a idade média vermelha de vergonha e tão radical que nem as bulas papais podem tanto.

Pois personagens idênticos aos amigos de Zé Bolinha que acabaram o ouro da era dos quadrinhos. Os acadêmicos ligados à Psicologia e área de comportamento, nos anos 50, abriram as baterias contra o ouro da era e foi criado o Código de Ética dos Quadrinhos, levando à queda no número de leitores.

A turma do Zé Bolinha, com uma longa ficha corrida de censura, pauladas em quem pensa diferente e age do modo não convencional pela convenção deles mesmo, fazem uma cruzada pela liberdade de expressão. Na verdade com uma flor na mão e um porrete na outra. Precisam “limpar” a área para criarem o código de censura do pós-moderno, aquele mesmo do “fim-da-história”.

Se o ouro era americano, não menos importante foi para a nossa inseminação a fabulosa história em quadrinho francesa e, agora, os japoneses nadam de braçada no pedaço. O Brasil abriu alas no ramo através do Tico-Tico no inicio do século XX, imitando uma revista francesa. Lançada numa quarta feira, dia 11 de outubro de 1905, a revista seguia o modelo da revista francesa “La Semaine de Suzette”.

O Zé Bolinha deve ter lido O Tico Tico. Ele é cisne do canto derradeiro, daqueles idos que já queimou muitos anos. A revista passou mais de vinte anos com o mesmo preço. Não existia a moda da inflação. Mas esta tal de inflação é o bicho que rói o sólido das instituições. Assim como as bolinhas provocam uma inflação de ética.

Um dos gênios do desenho da revista foi o cearense, de Fortaleza, Luis Sá que desenhava figuras arredondadas e que se tornaram o “must” dela. São dele: “Réco-Réco”, “Azeitona” e “Bolão’. Ela não teve rival à altura até a década de 30 quando os quadrinhos americanos invadiram a América Latina.

Zé Bolinha deve ter sido aficionado dos Gibis. Que virou um genérico dos quadrinhos, que o Zé, como meizinha, quis patentear como dele, na maior, apagando o nome do verdadeiro pai dos genéricos. Na verdade era uma revista com este nome e do particular virou o geral. Desta época tem a história da Editora Ebal, de Adolfo Aizen. Esta deu muitas alegrias à molecada do tempo de então.

Mas assim como o samba fez a antropofagia da invasão jazzística dos anos 40, o quadrinho brasileiro também tem sua bossa nova. As nossas tiras nos jornais, no estilo charge, são desenvolturas aqui deste povo. E isso não começa no século XX, já vem do XIX com o trabalho pioneiro de Angelo Agostini.

Igualmente é preciso fazer com Zé Bolinha e sua turma. Fazer a antropofagia desta variedade e torná-la mais viva na nossa alma como elemento que cria uma outra linguagem. Nem a de apenas uns ou somente outros.