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terça-feira, 28 de julho de 2009

Raízes históricas da rivalidade entre Crato e Juazeiro

Por Carlos Rafael Dias*

Os antagonismos entre as duas principais cidades caririenses parecem ter no processo de emancipação política de Juazeiro e na Sedição de 1914 os seus momentos de maior tensão. Isso sem ignorar a posição contrária do clero cratense aos supostos milagres de Juazeiro, um antecedente que veio a fermentar esta rivalidade. Da mesma forma, deve se considerar, como um importante fator dessa tradicional rivalidade, a ascensão econômica de Juazeiro, já no início do século xx, fruto das crescentes romarias. Por sinal, este foi o argumento das lideranças juazeirenses para motivar a campanha pela autonomia daquele que na época era um mero distrito do Crato. No entanto, a maior motivação pró-emancipacionista foi a insatisfação decorrente dos impostos cobrados, em benefício do Crato, sobre as receitas do comércio de Juazeiro.

Se havia toda uma matéria-prima pré-fermentada para o confronto, faltava quem se dispusesse a instigar a massa para a causa emancipacionista. Esse papel foi exercido pelos editores do jornal O Rebate, semanário que circulou entre julho de 1909 e agosto de 1911. O principal objetivo do órgão era divulgar a causa Juazeirense contra as acusações desferidas pela imprensa do Crato que qualificava o Juazeiro como antro de fanatismo e banditismo. Como um desdobramento da propaganda anticratense, a população, mobilizada, boicotou o pagamento de impostos recolhidos ao Crato.

Juazeiro foi elevado a município em 4 de outubro de 1911, quando Padre Cícero foi empossado como prefeito, fato que o iniciou oficialmente na vida política. Neste mesmo dia, foi assinado em Juazeiro o famoso Pacto dos Coronéis, uma tentativa de pacificar a região, bastante tumultuada pelas violentas deposições de coronéis por outros coronéis, com uso de milícias particulares formadas, notadamente, por jagunços e capangas.

No final de 1913, um senador cearense enviou, através do então deputado federal Floro Bartolomeu, uma carta ao Padre Cícero onde era tramada a deposição do coronel Marcos Rabelo, eleito presidente do Estado do Ceará ao derrotar o grupo do oligarca Nogueira Acióli, que governou com mão de ferro a província por longo tempo. Um ano antes, Padre Cícero tinha iniciada uma longa troca de telegramas com Franco Rabelo. Nos primeiros contatos, Padre Cícero refutava a informação de que ele estaria preparando um levante contra o governo do Estado. A denúncia, que o padre considerava uma intriga de políticos adversários, poderia resultar numa intervenção armada em Juazeiro por parte do governo estadual.

A sedição para depor Franco Rabelo irrompeu, como assim já se anunciava, no dia 8 de dezembro de 1913, com o desarmamento, em Juazeiro, de um destacamento da polícia do Estado que teria a incumbência de prender ou matar Floro Bartolomeu. No dia seguinte, vários políticos juazeirenses, como o prefeito João Bezerra de Menezes, sucessor do Padre Cícero, refugiaram-se no Crato. E o Crato virou alvo da milícia que Floro Bartolomeu recrutou entre famosos e temidos celerados vindos de várias partes do Nordeste.

Os cratenses, logicamente, sentiram-se ofendidos com a invasão. Testemunhos dão conta que os sediciosos, sob o comando de Floro Bartolomeu, teriam invadidos e saqueados residências e estabelecimentos comerciais, mesmo contrariando a ordem do Padre Cícero de que não houvesse violência e que deixassem livres algumas estradas que permitissem a fuga daqueles que não quisessem lutar.

Esses episódios conjugados são os principais vetores da rivalidade que vez por outra é requentada, principalmente, na ocorrência de polêmicas que envolvem a destinação de investimentos públicos dos governos federal e estadual para a região. Quando os grandes investimentos são alocados em benefício do Juazeiro, os cratenses se queixam da intervenção de um “conciliábulo do mal” formado pelos adversários da cidade.

Há quem diagnostique que toda essa problemática deriva de duas doenças adquiridas e que teimam parecer congênitas. Enquanto os cratenses são vítimas de uma letal “juazeirite”, os juazeirenses foram acometidos de uma incurável “cratite”. O mal é, pois, intrínseco ao antídoto: rivalidade só se cura com união de interesses que venham igualmente beneficiar as populações das duas cidades. Sem inveja, sem mesquinhez, sem retrocesso.

Um remédio? A recém-criada Região Metropolitana do Cariri, que deve ser prescrita sem contra-indicações, apesar dos possíveis efeitos colaterais que podem causar em pessoas de espírito bairrista.

* Professor do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri – URCA.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sarney se apequenou diz Tasso em entrevista à Época




“O Sarney se apequenou”. Esse é o título da entrevista publicada na edição desta semana da Revista Época (circulação nacional), com o senador Tasso Jereissati. Nela, o ex-governador cearense fala da crise no Senado e dos fatos envolvendo o presidente da Casa, José Sarney.
Amigo no passado, o senador diz que o presidente do Congresso representa hoje uma “coisa inaceitável”

A entrevista na íntegra


O senador Tasso Jereissati e o senador José Sarney já tiveram relações muito próximas – inclusive familiares. O sogro de Tasso, o empresário cearense Edson Queiroz, era amigo de Sarney. Foi sob o incentivo de Sarney que Tasso, então uma jovem liderança empresarial, entrou na política na década de 80 e virou governador do Ceará, pela primeira vez, em 1986. Quando Sarney era presidente da República, Tasso só não virou ministro da Fazenda por causa de um veto de Ulysses Guimarães. Mas a crise do Senado afastou os dois. Na eleição para a presidência da Casa, em fevereiro, Tasso votou contra Sarney. “Disse ao Sarney que ele estava representando uma coisa inaceitável”, afirma Tasso. “Ele está representando a pequenez da vida pública brasileira.”


ÉPOCA – O senhor teve relações muito próximas com o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP). Hoje, Sarney diz que o senhor é motivo de grande decepção para ele. Por que a relação do senhor com Sarney mudou?


Tasso Jereissati – Um dos grandes constrangimentos políticos de minha vida foi votar no Tião Viana (PT-AC, candidato à presidência do Senado em fevereiro) contra o Sarney. O Sarney tem um papel extraordinário na política brasileira. Ele levou o país a sair da agudeza do regime autoritário de uma maneira suave, que dificilmente outro político conseguiria, por causa de seu temperamento democrático. Antes da eleição para a presidência do Senado, ele me disse que não era candidato, que era uma loucura, que não tinha nem idade. Depois, mudou de ideia. Eu me preocupei com ele por estar colocando a história dele a serviço de um grupo dentro do Senado claramente deteriorado. Disse isso a ele, com enorme constrangimento, pessoalmente e na tribuna do Senado no dia da eleição. No discurso, disse a ele que enaltecia os seus aspectos posit ivos, mas que ele estava cometendo um grande erro e representando, naquele momento, uma coisa inaceitável.


ÉPOCA – O que representa o senador Sarney hoje? Tasso – A imprensa se concentrou nele, e isso é injusto, porque tem gente pior. Mas ele está concentrando todos os defeitos do nepotismo, do fisiologismo, da acomodação pessoal, do aproveitamento da vida pública para vantagens específicas. Ele está representando a pequenez da vida pública, em vez de representar o lado grande do homem público, que ele representou na Presidência da República. O Sarney se apequenou.


ÉPOCA – O senhor foi um dos amigos mais próximos do senador Antônio Carlos Magalhães nos últimos anos da vida dele. Sarney e ACM são homens da mesma geração. ACM teve de renunciar ao mandato de senador por causa de um escândalo. A presidência do Senado representa uma maldição para certos políticos? Tasso – Há uma diferença importante entre Sarney e o Antônio Carlos. Eu costumava dizer o seguinte: se você pegasse o temperamento do Sarney e juntasse a ele os homens públicos que cercavam o Antônio Carlos, você teria um dos melhores políticos do país. Mas, se você juntasse o temperamento do Antônio Carlos com os homens que cercam o Sarney, você teria um dos piores políticos do país. Apesar de serem da mesma geração, o ACM era um formador de líderes. Suas administrações sempre eram da melhor qualidade. Já o Sarney sempre se cercou muito mal.


ÉPOCA – O líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), é uma dessas influências nefastas junto a Sarney? Tasso – O senador Renan Calheiros hoje controla uma boa parte do PMDB, que dá o tom no Senado. Ele é o homem forte da Casa. Essa boa parte do PMDB é um partido estranho. É um partido que não propõe chegar diretamente ao poder. Mas indiretamente, por meio de uma barulhenta maioria congressual, e assim mandar no governo independentemente da cor que ele tenha. É um partido que não faz meu gosto.


ÉPOCA – Por que o Senado chegou a essa crise tão profunda?

Tasso – O grande erro do Senado foi a perpetuação do poder do (ex-diretor-geral) Agaciel Maia por 15 anos. Concentrada na mão de um homem só, que gerenciava tudo – fazia cargos, contratos de compras, licitações, lidava com verbas enormes e secretas –, a prática de fisiologismo e concessão de favores cresceu, e o Senado virou esse monstro de 8 mil funcionários, que ninguém controla e sabe o que faz. Na campanha pela presidência do Senado, o Tião Viana trouxe uma proposta de rompimento com isso aí. O PSDB saiu da linha de oposição ao PT para apoiar o Tião Viana, porque percebemos que estava em jogo a instituição do Senado. Mas o Tião foi abandonado pelo Lula. Por isso, eu digo que o Lula está na gênese e no agravamento da crise do Senado.


ÉPOCA – Por que o presidente estaria na gênese de uma crise no Legislativo?

Tasso – O Lula adotou um sistema de poder na relação com o Congresso na base da cooptação. Ele não tem uma política de convencimento ou de doutrinação. Ele parte do princípio, que ele já manifestou uma vez, de que o Congresso é cheio de picaretas e sai cooptando, com cargos, obrinhas, emendas. Assim, ele constrói uma maioria tranquila. Uma ruptura com isso significaria se chocar com esse grupo político que lhe dá sustentação na base da cooptação. Ele fez uma opção que já tinha feito lá atrás, com o mensalão, e agora consolidou ao abandonar seu correligionário, que queria romper com isso. Recentemente, quando o próprio PT tentou dar um grito de independência, ele deixou claro: quem manda aqui sou eu, e meu sistema é esse. O Lula institucionalizou o que está acontecendo hoje no Senado.


ÉPOCA – Mas a barganha entre o Legislativo e o Executivo existia no governo Fernando Henrique Cardoso. O senador Renan Calheiros foi ministro da Justiça de FHC.

Tasso – O (então governador de São Paulo Mário) Covas chiou, e o Renan não ficou muito tempo. Essa barganha existia em seus nichos e era feita com certa discrição, uma certa vergonha. Agora, foi banalizado. Tornou-se a regra. O jogo de repartição de verbas, emendas entre prefeitos e deputados está institucionalizado. São exceções os deputados que não participam do jogo de emendas e serão capazes de voltar ao Congresso.


ÉPOCA – O senhor já teve ótimas relações com o presidente Lula. Chegou a cogitar a formar uma chapa presidencial com ele em 1994. Por que suas críticas a ele hoje são tão duras?

Tasso – Pessoalmente, eu gosto muito do Lula. Lá atrás, nós achávamos que formávamos um casal perfeito. Eles tinham a base social, e nós tínhamos os quadros para fazer um projeto para o país. Isso não foi possível. A eleição do Lula foi um avanço para o país, e o Brasil, depois do Lula, é outro. Mas, de um determinado ponto em diante, eu tive uma grande desilusão ao ver a maneira que o presidente considerava correta de se consolidar no poder. Não estou fazendo nenhuma acusação moral a ele. Mas, em cima de sua enorme popularidade, ele chancelou a canalhice, a corrupção e o fisiologismo no Brasil. Hoje, o Brasil vive uma crise moral enorme por causa disso e as instituições estão apodrecidas.


ÉPOCA – Essa crítica moral ao governo e a seus aliados não perde eco por causa de situações como a do líder do PSDB, o senador Arthur Virgílio (AM), que pediu dinheiro emprestado ao Agaciel Maia?

Tasso – Acho que foi tudo explicado pelo senador Arthur Virgílio. Diante de uma situação de sufoco, ele fez a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Na época, não mediu as consequências disso e assumiu agora o erro. Para mostrar sua independência, ele é talvez hoje o mais agressivo entre todos os senadores na cobrança do próprio Agaciel.


ÉPOCA – O senhor usou a cota de passagens aéreas do Senado para fretar aviões. Isso não é uma vantagem indevida?


Tasso – Como não usava as passagens, acumulava um crédito a cada mês para mim. Como eu tinha esses créditos, fiz uma consulta se poderia usá-los quando precisasse fretar avião para me deslocar dentro do país. Foi-me dito que sim. O Agaciel disse que estava permitido e vários outros senadores fizeram o mesmo. Eu então usei essa verba de passagens para fretar avião. Mas, como eu tinha sido do grupo que atacava o Agaciel, eles tentaram usar essa informação para me atacar e dizer que eu usava a cota de passagens para pagar combustível de meu avião, o que não era verdade. Não tenho a menor dúvida de que agi corretamente, tanto é que quem deu às notas ao jornal Folha de S.Paulo fui eu. Mas reconheço que aquilo era uma prática que hoje a opinião pública não aceita mais. Se essa era uma mordomia indevida, então que se proíba. E agora eu não faço mais.


ÉPOCA – Qual é a solução para o Senado?

Tasso – Na primeira semana de agosto, o presidente Sarney vai ter de fazer uma proposta profunda de reforma. Não é só mudança administrativa. É mudança de hábitos e de cultura dentro do Senado. Tem de reverter toda uma cultura de mordomias e apadrinhamentos. Isso passa por uma reforma política e do orçamento. A principal arma de cooptação do governo é feita em cima da liberação das emendas parlamentares. Mudar isso não é uma coisa simples, mas tem de ter um líder que seja capaz de fazer.


ÉPOCA – Sarney tem condições de liderar essa reforma?

Tasso – Acho muito difícil. Ele vai ter de fazer um esforço pessoal gigantesco para entender a dimensão do papel que ele tem a partir do mês que vem.


ÉPOCA – Um ano atrás, a oposição era favorita na sucessão presidencial, com os governadores José Serra e Aécio Neves. Hoje, o cenário é diferente, com a ascensão da candidatura da ministra Dilma Rousseff. Qual é a chance de vitória da oposição em 2010?


Tasso – Eu nunca achei que seria fácil. O PT e o presidente Lula têm provado que sabem usar de maneira muito hábil o poder do ponto de vista político e eleitoral. O crescimento da ministra Dilma era esperado. Se você fizer uma análise, o nível de exposição da ministra Dilma na mídia nos últimos 12 meses deve ser maior que a da Xuxa, da Ivete Sangalo e do Roberto Carlos juntos.
ÉPOCA – O que o PSDB tem de fazer?


Tasso – Nós temos de ter uma definição do candidato nos próximos quatro, cinco meses. O partido tem essa obrigação. Nós não podemos ficar esperando a definição de um ou de outro candidato, conforme as circunstâncias. Nós temos de ter nosso candidato para ele mostrar que o Brasil está sem projeto.


ÉPOCA – O governador Serra lidera as pesquisas. Ele deve ser o candidato?

Tasso – O governador Serra tem grande experiência, já foi testado em nível nacional e tem o recall (memória do eleitor) de uma eleição presidencial. Está na liderança, mas não está crescendo, porque está muito recolhido. O Aécio virou uma referência de administração pública em um dos maiores Estados, tem carisma pessoal e um potencial muito grande. Com qualquer um dos dois, estaremos bem.


ÉPOCA – Uma chapa presidencial com os dois é possível?

Tasso – Uma chapa puro-sangue é possível, mas é uma hipótese remota. O problema é saber quem é o vice (risos).


ÉPOCA – O que o senhor acha da ideia de Ciro Gomes, seu aliado no Ceará, de ser candidato a governador em São Paulo?

Tasso – O Ciro tem condições de ser candidato a governador em qualquer Estado, principalmente em São Paulo. Mas minha sensação é que o Lula está doido para se ver livre dele como candidato à Presidência. O PT quer fazer uma campanha plebiscitária. Qualquer outro candidato aliado atrapalha essa estratégia.


ÉPOCA – O que o senhor fará em 2010?

Tasso – Não sou candidato ao governo do Ceará. Já fui governador três vezes. Se for candidato, serei candidato à reeleição.


ÉPOCA – O senhor não coloca isso como uma certeza?

Tasso – Acho difícil colocar. Com todas as coisas que estão acontecendo no Senado, podemos todos sair desmoralizados dessa história. Você olha a composição do Conselho de Ética e vê que aquilo está montado para virar um circo e uma farsa grotesca. Como fica nossa imagem? Eu estou muito deprimido com o que está acontecendo no Senado. Às vezes, eu sinto vergonha de ser senador.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

HONDURAS HOJE

Honduras continua uma pedra no sapato da chamada democracia Latino Americana. O golpe militar põe em dúvida este tipo de regime, em que os governos são eleitos pelo voto direto. Se não forem utilizados os argumentos que justificam um lado e outro temos o seguinte:

a) O governo Zelaya ampliou o conflito com grupos empresariais através de leis trabalhistas e do aumento do salário básico.

b) Acontece que a economia de Honduras se encontra inserida num balaio de frutas plantadas no território de diversos países cujos preços são ditados pelas grandes empresas americanas que se abastecem na agricultura local.

c) O aumento de impostos, normas trabalhistas e aumento do salário quebram a política regional das grandes empresas e Honduras passa a ter a pretensão de formar preços e condicionar custos.

d) Membros do staff de Bush Jr, em Honduras através do Embaixador Americano e da base militar com 500 militares e nos EUA com John Maccain (derrotado por Obama) e com Dick Cheney dão musculatura para a ruptura golpista.

e) Quando nos surpreendemos com a vigorosa resistência dos golpistas apesar de todas as condenações internacionais não se busque isto apenas internamente, mas na associação do valor das plantações com os remanescentes do antigo governo americano junto a um Obama afogado em problemas e muito cauteloso sobre o assunto.

f) Não foi sem razão que outro dia Obama elogiou Lula por ser um esquerdista que não provoca rupturas. Na verdade ele parecia apenas em diálogo consigo.

g) A solução do conflito hoje se encontra entre uma guerra civil (ZELAYA ANUNCIA QUE SE ENCONTRA DEFENITIVAMENTE EM HONDURAS) e uma intervenção armada externa no estilo do Haiti de Aristides.

h) A Zelaya a primeira solução é a que mais lhe interessa. Aos EUA a segunda opção é melhor, pois exclui os contendores num futuro próximo, mas Obama perdeu muito tempo e as convicções na OEA se firmaram contra o golpe.

i) Se Zelaya retomar o poder presidencial o fará na ponta de uma guerra civil, com muitos mortos e rupturas. O futuro imediato seria a formação de contras no velho estilo centro-americano.

j) O estabelecimento de um governo de ruptura em Honduras favorecerá a formação de uma política centro-americana com a Nicarágua e El Salvador. Nisso se encontra a maior motivação para a reação dos autores do golpe.

k) Neste momento também se testa a política internacional de Venezuela, Bolívia e Equador. A ruptura Hondurenha tem tudo de provocação com a atual política destes países.

l) O Brasil, Argentina e Chile têm muita importância, tanto em relação aos três países citados quanto em relação à Colômbia e Peru. O fator moderador em que um avanço em renda ocorra na América Central ocorra e se mantenha relativa cordialidade com Washington é do Mercosul.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Parque de Exposições, Xodó dos Cratenses


Dias atrás li, neste mesmo Jornal, uma matéria que falava da intenção do Governo do Estado em mudar o local do Parque de Exposições do Crato. Sem dúvida, para quem é do Crato, mora no Crato, ou pelo menos conhece o Crato, recebeu esta notícia com surpresa e certa dose de desconfiança. A proposta já amplamente divulgada e debatida pelos meios de comunicação e sociedade, base da discussão, trata da construção de um novo Parque, em local a ser definido, e a construção de um novo Campus da URCA no terreno onde hoje está o Parque. A repercussão foi imediata. Todos perguntam e opinam sobre: Quais seriam as conseqüências da possível retirada do maior referencial econômico, cultural e histórico da cidade para outro lugar? Quem garante que esse novo Parque teria a aprovação popular e dos turistas? Seu novo local não anularia a tradição do Parque atual? Caso o novo Parque fosse um fiasco quais seriam as conseqüências irreversíveis e os prejuízos irreparáveis à cidade e sua gente?

Para a população do Crato, e das cidades circunvizinhas, esta é a sua maior festa! Julho é a época do ano em que todos ressurgem para rever parentes e amigos e, sem dúvida, a “Exposição” é o grande motivo! O local é marcado pela tradição de 58 anos de romarias ao ponto de encontro de todos os cratenses, espalhados pelo mundo. É a época do ano onde os filhos do Crato se reencontram em solo conhecido, envoltos em boas lembranças, que faz com que nos reconheçamos a partir da festa que atravessou todas as fases de nossas vidas. O Parque de Exposições é um ícone da cidade que, hoje, se confunde ou forma a própria identidade do Cratense. O que aconteceria se retirássemos a Praça do Ferreira, em Fortaleza, do local onde está e a transferíssemos para o Bairro Aerolândia? Ou o Carnaval de Olinda, de Olinda? Que tal se a Torre Eiffel, em Paris, de uma hora pra outra não estivesse mais lá? É da imagem, da tradição, que nós estamos falando!

O que se há de concreto hoje é um evento, sucesso de público, acontecendo no mesmo local, ano após ano, há mais de meio século. É fato também que administrações públicas anteriores não investiram na ampliação da instalação existente no Parque, que pouco difere da inaugurada na distante década de 50. Vale salientar que a atual estrutura não equivale nem à metade do tamanho total do terreno disponível. Que a URCA precisa de um Campus maior e melhores instalações é verdade, mas isso depende muito mais de dinheiro do que de espaço. O ginásio poliesportivo que seria construído em um terreno que abriga um estacionamento improvisado durante a exposição, nunca saiu do papel. Bem como a reforma do galpão (almoxarifado da URCA), vizinho ao mesmo estacionamento, que abrigaria os gabinetes de professores do Campus Pimenta. Que a cidade precisa destes 25 milhões isto pode ter certeza! Estou certo de que todos louvam a atitude do governador de direcionar este montante do orçamento estadual para o desenvolvimento do Crato. O que precisa ser estudado é de que maneira este dinheiro será melhor aproveitado em prol da cidade.

Sugiro que as obras citadas, previstas em Planejamentos Estratégicos da URCA, sejam executadas. Sugiro ainda um estudo arquitetônico, que utilize toda a área ociosa do terreno existente, que resulte num projeto que ofereça mais conforto a demanda crescente de expositores e visitantes. E claro, não se esquecer de reservar verba para melhoria do atual Campus Pimenta - URCA. Acredito que a melhor proposta sempre será aquela que represente o atendimento dos desejos da população da cidade, maior interessada e beneficiada dos melhoramentos. Sugiro ouví-la!

Dimas de Castro e Silva Neto

Engenheiro Civil, Mestre em Gerenciamento da Construção
pela University of Birmingham e Professor do Curso de Engenharia Civil da UFC Cariri

Foto: gentilmente cedida Jornal do Cariri

sábado, 4 de julho de 2009

A beata do milagre – por Nilze Costa e Silva

Da janela da casa nº 239 da antiga Rua do Arame, hoje Padre Cícero, uma senhora me atendeu com cara de espanto, quando perguntei se lá morou a beata Maria de Araújo. Também eu me assustei, pois parecia estar vendo a própria beata, tal a semelhança entre as duas, segundo descrição que colhera nos livros: magra, pele negra, cabelos crespos. Acordei dessa fugaz viagem e antes que a “sósia” me fechasse a janela na cara tratei de explicar-lhe que estava a escrever um romance sobre a protagonista do milagre de Juazeiro e queria saber se naquela casa haveria algo sobre ela: algum escrito, uma foto, uma placa... Dirimidas as dúvidas, ela colocou os cotovelos na janela e respondeu: “Nada! Não tem nada dela aqui não”.

Esta mulher tem, talvez, a mesma idade que teria a beata antes de falecer nesta mesma casa, em 1914. Em torno de 51 anos – de novo viajei. A moradora falou ser freira, que a casa é da diocese, e que mora com outras naquele local há poucos anos. “Mas irmã, em todas as casas onde Padre Cícero morou tem lá suas marcas, seus objetos pessoais, sua história.” Animou-se e disse que sentia muito, mas que realmente não havia nada mesmo na casa, que identificasse a beata. Acrescentou saber de toda a história.
Que admirava Maria de Araújo, mas a Igreja apagou todos os vestígios para que ninguém soubesse que ela um dia tivesse existido. Proibiram até que se falasse em seu nome. No entanto, estava havendo um movimento na igreja para reabilitá-la. Que eu podia ir à Capela do Socorro e ver que existe um lindo vitral em sua homenagem, na parte de cima, junto com Padre Cícero e alguns santos. Que na entrada do cemitério acoplado à capela, há uma placa fazendo menção à morte da beata. E só, pois seu corpo desapareceu desde 1930.

Dia 28, passado, abri o jornal O POVO na página sobre o Cariri e fiquei feliz: no local onde nasceu a injustiçada beata vai ser fixada uma placa em sua memória.


Nilze Costa e Silva - Escritora