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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Programa COMPOSITORES DO BRASIL - Rádio Educadora do Cariri

“E quando o trovão
Acorda o sono nestes tristes vales
Ecos de um clamor medonho
Desce lá da serra
E estremece tudo por aqui
São os curumins as mães os pais
Dos velhos cariris”...
(Triste Vales, Zé Nilton)

COMPOSITORES DO CARIRI

Texto de Carlos Rafael Dias

A música do Cariri cearense ecoa desde os tempos remotos. Os indígenas cariris, primeiros habitantes deste torrão, eram genuínos músicos. Este legado vem se perpetuando na musicalidade regional dos herdeiros da tribo, misturado aos sons que aqui chegaram com os estrangeiros da época da colonização às últimas novidades sonoras trazidas pelas mídias contemporâneas. Entre as maviosas notas que soam do rústico pife de taboca sob a marcação ritual dos tambores afros, entrelaçam-se os acordes dissonantes do violão bossanovista e os solos distorcidos das guitarras roqueiras.

Mas a música caririense tem um algo mais. Talvez um atrativo que combina o aroma acentuado do pequi ao gosto raro do buriti. Talvez seja o lendário canto da Iara que guarda as fontes de águas cristalinas das encostas serranas, fisgando corações românticos como o visgo que pega passarinho.

Na obra dos compositores caririenses, ouvidos atentos podem captar muito mais do que os poucos minutos de cada canção. Nela podem ser ouvidos os ecos de quatrocentos anos de história, onde as lendas se confundem com a epopéia dos homens que traduzem suas vidas em um espetáculo diuturno de fé, coragem, esperança, trabalho e muita arte.

Aqui, todos os sons se fundem. O canto da cigarra prenunciando inverno bom. O sino da igreja chamando os fiéis. A velha amplificadora irradiando as boas novas para além do perímetro urbano. A banda de música animando os eventos, percorrendo ruas ou fazendo tremer os coretos. O burburinho da feira com seus artistas mambembes. Serestas e seresteiros sempre vivos enquanto existir um coração apaixonado...

O programa Compositores do Brasil, desta quinta-feira, 30 de dezembro, presta uma homenagem aos compositores caririenses ciente de que importantes nomes da música regional foram omitidos. Mas o leque sonoro abordado é por demais representativo do ecletismo regional. Para degustar plenamente o programa, recomenda-se, se puder, que se deite em uma rede em uma varanda com vista para o vale, deixando a brisa serrana espantar o calor deste ano que se finda...

É apenas um pequeno mostruário, pois o espaço é pequeno para tamanha grandeza.

Na sequencia:

O Poeta, de Abidoral Jamacaru e Xico Chaves, com Abidoral Jamacaru
Levada de Coco, de Francisco Saraiva, com Herdeiros do Rei
Galope Diferente, de Jonteilor, Cícero Brasil e Edvânio Nobre, com Jonteilor
Cantoria de Reis, de Antonio Queiroz e Júnior Boca, com Dr. Raiz
A Pressa, de Igor Arraes, com a banda Nacacunda
Calar o amor, de Leninha Vaz, com Leninha Vaz
Amor Beato, de Zé Nilton e Francisco Sávio, com Zé Nilton e João do Crato
Tambores e Maracás, de Lifanco, com Lifanco
Flor do Mamulengo, de Luís Fidélis, com Luís Fidélis
Terras Brasileiras, de Pachelly Jamacaru e Marcus Vinícius, com Pachelly Jamacaru
Pra Cantar o Amor Distante, de Cleivan Paiva e Rosemberg Cariry, com Cleivan Paiva
Venham Ver as Belezas do Crato, de Correinha, com Correinha
Chuva de Janeiro, de Geraldo Júnior, com Geraldo Júnior

Quem ouvir, verá!

Programa: Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri (www.radioeducaroradocariri.com)
Telefone: (88)3523-2705
Todas as quintas de 14 as 15 horas
Pesquisa, produção de Carlos Rafael
Apresentação de Carlos Rafael e Zé Nilton
Operador high tech: Iderval Dias
Direção Geral: Dr. Geraldo Correia Braga

PENSANDO ARTES CÊNICAS

Membros da Guerrilha do Ato Dramático Caririense receberam representante do Movimento "Todo Teatro é Político", de Fortaleza-CE, dia 28 de dezembro de 2010, no Teatro Rachel de Queiroz.

Na reunião, discutiram sobre a realização da 1ª Conferência Cearense de Artes Cênicas e audiência com o novo Secretário da Cultura do Ceará, além de plano de circulação de espetáculos cearenses no Ceará e ocupação de equipamentos públicos de teatro.

Estavam presentes Cacá Araújo, Herê Aquino (Movimento "Todo Teatro é Político"), Jânio Tavares, Antônio Freire Júnior, Mauro César, Kelyene Maia, Mônica Batista e Mano Damasceno.

 

Pensamento para o Dia 29/12/2010


“Tendo nascido como um ser humano, deve-se perceber a Divindade interior. O principal dever de cada indivíduo, como um mensageiro de Deus, é praticar e propagar os princípios da verdade, amor e paz, experimentar a bem-aventurança interior e compartilhá-la com os outros. A pessoa que propaga assuntos mundanos, fugazes e efêmeros não pode ser chamado um mensageiro de Deus. Aquele que ama a Deus é o mensageiro de Deus. Aquele que Deus ama é o Filho de Deus. Aquele que compreende o princípio da unidade se torna um com Deus.”
Sathya Sai Baba

Qualidade musical - Emerson Monteiro

Ao ler, na Folha de S. Paulo, edição on-line do dia 29 de dezembro, a relação dos 50 álbuns que formaram a identidade musical brasileiro dos anos 2000, algo me vem ao sentimento de que, parafraseando o escritor Machado de Assis, ou a música mudou ou mudei eu. Quero crer, simplesmente, que houve uma exaustão na produção e quase desapareceram por inteiro os pontos de contato que acompanharam de perto a minha ligação com a música, nas cinco décadas anteriores, desde quando me entendo de gente.
Ainda bem que, hoje, vistas as facilidades oferecidas pela Internet, podemos ouvir e gravar todo o universo das produções que ficaram para trás. Mas a relação desses 50 álbuns da Folha de S. Paulo serviu para mostrar o quanto a música popular brasileira mudou, com relação ao que se ouvia há bem pouco tempo. Na lista, aparecem cantores e ritmos variados, nos estilos axé, sertanejo, brega, revelações, samba, reggae, bahia, rap, rock, que fizeram, e talvez ainda façam, a cabeça dos apreciadores, sem, contudo, afagar no mínimo os brios de quem adota o formato tradicional ou as harmonias menos apelativas que vieram depois.
Sei, no entanto, que a música representa a trilha sonora das gerações, por isso o instinto da particularidade, o gosto só pessoal. Existem aqueles que classificam as produções musicais em dois blocos, o das músicas de que gostam e um outro, o das que não prestam. Contudo nada é bem assim, pois seria apenas preconceito, discriminação de gerações.
Num ângulo menos drástico, porém, o olfato auditivo classifica o que toca o coração e sabe por instinto distingui as peças que mais parecem barulho gravado em disco mais para tocar nos fundos de carro e nos bares zoadentos, sem o devido respeito ao gosto de quem quer paz. Ninguém possui ouvido absoluto, entretanto ruído e música se distinguem numa classificação de ritmo, harmonia, sensibilidade auditiva, efeitos ambientais, respostas coletivas. Estudos indicam até que as crianças no útero materno, as plantas e os animais respondem aos estímulos musicais.
Wladimir Lênin, dos principais comandantes da Revolução Russa de 1917, num dos seus livros, afirma que a Estética será a Ética do futuro, o que vale dizer que o belo traz regras fortes à vida, ao ponto de determinar, no gosto que reflete, a sobrevivência de valores e preservação da ordem social. As vivências do que é belo intuem no cidadão o seu código de existência, aumentando-lhe o próprio ordenamento, seja na família, nas instituições e em si próprio.
A boa qualidade artística dos tempos, em si, faz a história das sociedades e o grau de maturidade com que trata as oportunidades. Épocas e sociedades têm sua música que fala do inconsciente coletivo dos que ali vivem, portanto.