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domingo, 23 de janeiro de 2011

POR UMA POLÍTICA CULTURAL IDÔNEA

Texto de Luiz Monteiro

Joseany Oliveira, Carla Hemanuela, Cacá Araújo e Luiz Monteiro, em 20 de setembro de 2010, quando de uma das apresentações do espetáculo A COMÉDIA DA MALDIÇÃO, da Cia. Cearense de Teatro Brincante, no Teatro Rachel de Queiroz (Crato-CE)

Dias atrás, chegou ao meu conhecimento a insatisfação dos artistas teatrais do Ceará, para com o ilustríssimo governador do Estado, alegando que ele destinou uma verba de um milhão e oitocentos mil reais, para o pagamento de um cachê para as "Dionisíacas", espetáculos do Teatro Oficina, de São Paulo, concebidos pelo diretor José Celso Martinez Correa.

Em princípio, ameacei ficar indignado. Porém, antes, me passou pela cabeça a possibilidade da notícia não ser verdadeira. Acalmei a indignação e consultei um amigo do Crato, que é um daqueles guerrilheiros, entrincheirado na luta pela cultura e pelo teatro do seu estado. E ele me confirmou: a tal verba fora sim destinada para tal finalidade, em comemoração ao centenário do Teatro José de Alencar.

Já ia me indignando novamente, quando parei para pensar na tremenda ironia do destino: em vida, o nosso querido e cearense José de Alencar, que foi também um aguerrido defensor do nosso teatro, lutando, na época, não somente pela criação de uma escola de artes dramáticas, pelo poder público, como também para que o nosso imperador voltasse os olhos e apoiasse o teatro nacional; no que não foi atendido. Morreu, sem ver seus anseios realizados e não levou um centavo dos cofres públicos, sendo o seu teatro menosprezado na época e desqualificado contemporaneamente por alguns de nossos prestigiados acadêmicos, defensores intransigentes de nossa colonização teatral. E, no entanto, hoje, em homenagem ao teatro que leva o seu nome, parece que o senhor governador resolveu reparar a injustiça cometida no passado, destinando tamanha verba para as comemorações.

Assim sendo, pela terceira vez, ameacei indignar-me, mas constatei que já estava esgotada a minha cota de indignação, pois já me indignei outras tantas vezes com notícias deste tipo, e também com relação às leis de incentivos fiscais à Cultura e ao Teatro, em nosso país.

Devo dizer que não tenho nada contra o Zé Celso e muito menos contra o seu teatro. No entanto, pudera todos os artistas teatrais cearenses desfrutarem do mesmo benefício, e porque não dizer, do mesmo privilégio, sobretudo, em se tratando de um país como o nosso, tendo em vista os míseros recursos destinados ao teatro! Mas, sei que vivemos num tempo estranho, onde já não se abrem mais conflitos, onde não se promovem mais os diálogos acerca de certas questões e onde os inimigos são tantos e nenhum, dependendo apenas "do lugar de onde se vê".

No entanto, não posso deixar de falar da falta de contrapartida social no uso do dinheiro público e das leis de incentivo à Cultutra. Como bem questiona um dos artistas cearenses: "quantas montagens poderiam ser realizadas no Ceará com esta verba?" "Quantos grupos seriam favorecidos, se esta verba fosse dividida?" Quantas pessoas teriam acesso ao teatro, com o bom senso e uso equilibrado deste dinheiro?" E pergunto ainda mais: estas apresentações foram oferecidas gratuitamente à população? Quem estava dentro do teatro e quem assistiu a estes espetáculos? Qual a contrapartida social que ofereceu este dinheiro, que saiu do bolso de cada cidadão cearense? E me lembrando de Brecht... "Para tantas perguntas... tão poucas respostas!"

Mas, parece que tudo faz parte de um chamado "processo democrático". Eu diria que isso tem outro nome: democraritarismo! Ou, a ditadura de uma elite cultural, eurocêntrica, que nega ou não reconhece os valores locais e também aqueles que lutam, dia-a-dia, para construir e reafirmar a identidade um teatro regional de qualidade. É como diz o ditado: "santo de casa não faz milagres!" E eu diria: "Não faz milagres... e ainda incomoda!"

Entretanto, gostaria de dizer aos artistas e irmãos cearenses que o que acontece por aí, não é diferente do que acontece por aqui, uma vez que a perversidade por aqui é ainda maior. Por aqui, o dinheiro vai pra mais gente, com verba igual ou superior, passando por uma verdadeira "indústria da lei", em cujas panelas são triturados e consumidos milhões de reais, saídos dos suados bolsos dos cidadãos contribuintes. E aqui não vai nenhum ressentimento de quem nunca recebeu nada do poder público, pois acredito que, uma vez que este dinheiro existe para tal finalidade, ele deve ser destinado àqueles cujos projetos, ao passar pelo crivo da avaliação pública, tenha o maior alcance social possível.

Mas, que isso não deva servir de consolo, nem a vocês e nem a ninguém com um mínimo senso de justiça e brasilidade. Pode-se dizer que, num passado recente, assistimos ao surgimento de um grande monstro que se apossou, usufruiu e continua usufruindo do dinheiro público destinado à Cultura. E como diz a canção: "O monstro é grande e pisa forte!"

Diante disso, resta a todos nós, artistas de todo o Brasil, comprometidos com o nosso povo, com o nosso teatro e com a nossa Cultura, lutarmos, tornando pública a precária política cultural que rege todas as instâncias de poder em nosso país. E esta luta se traduz num ato de resistência pela preservação de nossa identidade cultural e de nossos valores artísticos, bem como pela criação de uma política cultural idônea, que leve em consideração o direito de toda a população, ao acesso aos bens culturais, preservando, estimulando e valorizando a produção cultural regional e de todo o nosso país.

Luiz de Assis Monteiro
Confraria da Paixão
Teatro de Raízes Populares
São Paulo

Huberto Cabral - Emerson Monteiro


Desde que me entendo de gente que, atento, observo a participação constante de Huberto Cabral nas movimentações sociais, culturais e patrióticas do Crato. Possuidor de um civismo a toda prova, Cabral faz do rádio sua praia de predileção, sem, no entanto, esquecer permanências pelos jornais, revistas, livros, cerimônias coletivas, etc. Organiza com maestria eventos públicos, dentro da absoluta correção. Incentiva e participa de reuniões destinadas aos interesses da municipalidade, em todos os âmbitos possíveis e imagináveis, sempre visando ampliação dos recursos progressistas e abertura das vias de transformação comunitária. Presta homenagens a personalidades destacadas do lugar e evidencia datas memoráveis deste núcleo urbano. Recebe visitantes ilustres, orienta pesquisas de estudiosos, repassa informações do seu rico acervo e de suas vivências; enfim, um homem talhado a preservar valores históricos e a memória social do Crato e de todo o Cariri como raros outros. Alimenta um acervo de gama incalculável no que tange aos dados relativos a esta parte de mundo e é considerado por muitos um testemunho vivo dos acontecimentos principais caririenses desde o início da segunda metade do século que passou.
Nas minhas primeiras incursões a eventos públicos, recém chegado ao Crato, avistava a presença de Huberto Cabral, o que se seguiu todo tempo até hoje. Radialista emérito, lançado ainda nos primórdios da radiofonia caririense, nas primitivas amplificadoras, associa-se à evolução desse meio de comunicação, exercendo funções de liderança em programas esportivos, noticiosos, reportagens inolvidáveis e solenidades importantes para o desenvolvimento econômico regional. Assessor do Executivo cratense em repetidas administrações, vem, à frente da sua época, convocando os cidadãos a segui-lo na altiva caminhada que exercita como rotina de existência. Nas campanhas fundamentais para a construção do Cariri nos moldes contemporâneos, ali está Huberto Cabral; desde a vinda triunfal da energia de Paulo Afonso à instalação definitiva da Universidade Regional do Cariri, por exemplo. Lembro das suas participações nas transmissões radiofônicas dos jogos do antigo campo do Sport, através da Rádio Educadora; depois, na quadra Bicentenário, em noites esportivas magnânimas; vejo suas ações audaciosas e vanguardeiras na cobertura jornalística da visita do presidente Castelo Branco, aos idos de 1964; sua determinação para, juntos, continuarmos a publicação do jornal A Ação, também na década de 60; suas providências na continuidade do Instituto Cultural do Cariri, inclusive na construção da sede própria; seu denodo para trazer valiosas instituições que ora estabelecem as características da nossa Região, em todo tempo de sua história; seu ativismo nas manutenções benfazejas desta civilização caririense, sendo ele também um descendente direto dos primeiros colonizadores aqui instados nas primeiras expedições.
O acendrado zelo que Huberto Cabral manifesta na profícua missão de ativador social ultrapassa as raias da paixão, digo sem arriscar uso de termos excessivos, porquanto os resultados das suas atitudes falam dos frutos essenciais no que desempenha e promove ao ímpeto do seu amor vocacional às nossas queridas tradições.

Pensamento para o Dia 23/01/2011


“Quando você atinge o controle dos sentidos, a purificação da mente, a concentração e o silêncio interior, o que inicialmente surgiu como uma necessidade lógica torna-se evidente mais tarde, na consciência purificada, como uma Vontade Positiva Permanente Impessoal (Prajnaanam Brahma). Através da prática incessante da Verdade, Retidão e Coragem, a Divindade em repouso no indivíduo será induzida a se manifestar na vida diária, transformando cada dia na alegria de amar verdadeiramente. Conheça a Suprema Realidade, respire-A. Banhe-se Nela. Viva Nela. Então Ela se torna tudo de você e você se torna completamente Divino.”
Sathya Sai Baba