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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

CCBNB Cariri: Programação Diária


Dia 05, quinta-feira

Atividades Infantis - HORA DO RECREIO
Local: E.E.M Gov. Adauto Bezerra. (Barbalha)
15h30 A Triste Partida. 20min.

Cinema - 100 CANAL
18h30 Casa de Sementes Senhor dos Exércitos. 5min.

Cinema - IMAGEM EM MOVIMENTO
18h35 O Homem Nu. 75min.

Rua São Pedro, 337 - Centro - Juazeiro do Norte
Fone (88) 3512.2855 - Fax (88) 3511.4582

Dom Panico festeja 38 anos de sacerdócio



O bispo da Diocese do Crato, dom Fernando Panico, está comemorando quase quatro décadas do seu sacerdócio

Crato. O bispo da Diocese do Crato, dom Fernando Panico, está comemorando 38 anos de sacerdócio, oito dos quais, na mesma Diocese, onde ele desenvolve relevante ação missionária, uma evangelização fundamentada nos princípios éticos, morais e religiosos da Igreja. Ao rever o passado no retrovisor do tempo, lembra a frase que foi escrita no santinho de lembranças de sua ordenação: "Obrigado Senhor, porque o Teu amor é para sempre". A frase, segundo ele, o acompanha em toda sua vida sacerdotal.

Hoje, com 63 anos de idade, 16 de bispo e 38 de sacerdócio, dom Panico lembra a sua chegada ao Brasil, em 1974, para trabalhar no interior do Maranhão, seu primeiro e grande amor. "Ali aprendi de verdade como o sacerdote deve ser desinteressado, despojado. Ali senti a alegria de ser padre, de ser missionário, sem meios humanos, mas contando com a graça de Deus e o apoio do povo".

Depois da experiência no Maranhão, convivendo com os pobres, ele foi nomeado bispo de Oeiras-Floriano, no Piauí, outro Estado pobre, segundo afirmou, mas muito católico, "um povo que sabe fazer do sofrimento uma expressão de resistência", definiu. Finalmente, a Diocese de Crato, onde ele disse ter encontrado uma Igreja pujante, viva e aberta. "Agradeço a Deus o fato de ser bispo de uma Igreja romeira. Aqui eu abri as portas da Diocese e do meu próprio coração para acolher bem os irmãos romeiros que vem nos ensinar, na simplicidade da fé, como servir e amar a Deus".

Ao fazer esta retrospectiva, dom Panico lembra que "não é santo, é um pobre pecador. Por isso, eu peço a misericórdia de toda a Diocese para me ajudar a trilhar os caminhos de Jesus em busca da santidade, da conversão e da comunhão fraterna. Rezem por mim para que eu seja aquele pastor que o povo de Deus espera", pediu.

Bispo das mudanças

Plugado na internet e identificado com as mudanças do mundo globalizado, dom Panico tem uma visão crítica da sociedade contemporânea. Para ele, "o mundo em que estamos vivendo mostra-se cansado, com um cansaço civilizacional, onde a modernidade avançada, tem mostrado sintomas de exaustão". A herança deixada pelo século XX, segundo ele, é herança de guerras e genocídios, de milhões de vítimas das armas, da violência, da intolerância.

O bispo defende a construção de um mundo diferente. "Queremos romper com este modelo de sociedade que torna tudo mercadoria, inaugurar um novo modo de ver as pessoas. Buscar outro modelo de sociedade e de vida que nos faz cada dia mais realizado e feliz".

Ele acrescentou que "os cristãos confiam que um mundo novo poderá ser gerado se todos os seres humanos, homens e mulheres, cooperarem com a graça de Deus para construir uma sociedade diferente, aceitando que cada novo avanço no caminho da justiça e da paz seja obtido pelo amor e pelo empenho de cada um, em conjunto com o esforço de todos. A nova sociedade que queremos ajudar a construir é uma sociedade baseada na solidariedade".

É dentro dessa percepção uma sociedade moderna e, ao mesmo tempo, voltada para os valores da fé cristão, que dom Panico vem governando a Diocese do Crato, promovendo mudanças estruturais em todos os setores, cumprindo criteriosamente a sua função missionária.

Durante oito anos à frente da Diocese, ele fundou a Faculdade Católica do Cariri, reabriu o Curso de Teologia do Seminário Maior de São José, ordenou 42 padres, 17 diáconos permanentes, trouxe diversas Congregações Religiosas para a Diocese, inclusive a Congregação dos Padres Camilianos e Sulpicianos que administram o Hospital São Francisco e o Seminário São José, apoiou a Missão Resgate, que dirige a Rádio Educadora do Cariri e lançou as Santas Missões Populares.

O ritmo das mudanças e da valorização dos pobres, mudança de comportamento foi anunciada em uma de suas Cartas Pastorais, quando ele advertiu: "É impossível não levar em conta, na minha missão de bispo de Crato, a situação muito especial da cidade de Juazeiro, que é um importante centro de romaria no Nordeste por causa da memória que o povo cultiva, com muito carinho e devoção, do Padre Cícero Romão Batista, presbítero da nossa Diocese que merece nosso carinho, apesar de tudo o que contra ele aconteceu e se tem escrito".

A defesa do Padre Cícero não ficou somente no discurso. Atendendo a um pedido do então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI, dom Fernando formou uma Comissão de Estudos para o Processo de Reabilitação Histórico-Eclesial do Padre Cícero Romão Batista. No dia 30 de maio de 2006, os documentos foram entregues à Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma.

Recentemente, quando da visita "ad límina" ao Vaticano, dom Panico entregou um livro sobre o Padre Cícero ao papa, enquanto os bispos do Regional Nordeste-2 solicitaram reabilitação canônica do Padre Cícero Romão Batista e a Canonização do Apóstolo da Caridade, o Padre Ibiapina. Esta semana, ele revelou mais detalhes da visita, destacando que o papa prometeu a aceleração do processo que está sendo analisado na Congregação para a Doutrina da Fé.

FIQUE POR DENTRO

Chegada ao Brasil

Dom Fernando Panico nasceu em Tricase (Lecce), Itália, no dia 1 de janeiro de 1946. Foi ordenado no dia 31 de outubro de 1971, em Roma. Neste mesmo ano, iniciou o curso de mestrado em Teologia Litúrgica, no Pontifício Instituto Litúrgico, em Roma, que concluiu em 1974. Em dezembro de 1974 chega ao Brasil, para exercer seu ministério missionário no Maranhão. De 1974 a 1981 permaneceu em Pinheiro, na Baixada Maranhense. Em janeiro de 1982 é transferido para São Luís do Maranhão. Em 1989 é transferido para São Paulo, a fim de iniciar o curso de doutorado em Liturgia, na Pontifícia Faculdade de Nossa Senhora da Assunção. Na Secretaria da mesma Faculdade, registrou o plano e o título da dissertação doutoral. Uma pesquisa de campo deu início à elaboração da tese, que não pôde ser concluída pelo advento de novos encargos no Instituto Religioso dos Missionários do Sagrado Coração e na Igreja. Concluídos os cursos acadêmicos para o ciclo do doutorado, em 1990 é nomeado mestre de Noviços dos Missionários do Sagrado Coração no Brasil, deslocando-se para a cidade de Pirassununga, no interior de São Paulo. Em fevereiro de 1991 retornou para São Luís do Maranhão, tendo sido nomeado superior regional dos Missionários do Sagrado Coração, no Maranhão e Ceará. Além do exercício do superiorato, foi também encarregado de preparar e coordenar a visita do Papa João Paulo em São Luís do Maranhão (l 992). No dia 2 de junho de 1993, o Papa João Paulo II o nomeou Bispo da vacante sede diocesana de Oeiras-Floriano, no Piauí. Em 1993 foi sagrado Bispo.

Mais Informações:
Cúria Diocesana
Rua Teófilo Siqueira, 631
E-mail - curia@diocesedecrato.org.br
(88) 3521.1110

Antônio Vicelmo - Repórter
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/regional - 04.11.2009

CCBNB Cariri: Programação Diária


Dia 04, quarta-feira

Atividades Infantis - HORA DO RECREIO
Local: E.E.F.M Virgílio Távora. (Juazeiro do Norte - CE)
15h30 A Triste Partida. 20min.

Especiais - Cinema - ARTE RETIRANTE
Local: Caririaçu
16h 100 Canal: Mulheres Rurais. 5min.
16h05 Sessão Curumim: Os Piratas que Não Fazem Nada. 85min.

Literatura/Biblioteca - LITERATURA EM REVISTA
18h Bom Criolo e Bruzudangas. 90min.

Especiais - TROCA DE IDÉIAS
Convidados: Jerciano Pinheiro Feijó e Paula Izabela
19h30 Raízes da Cultura Brasileira. 90min.

Rua São Pedro, 337 - Centro - Juazeiro do Norte - Ceará
Fone (88) 3512.2855 - Fax (88) 3511.4582

A ANTROPOLOGIA DE LUTO


Por Zé Nilton

Morre em Paris, aos 100 anos, um dos fundadores da Moderna Antropologia e mentor do estruturalismo nas Ciências Sociais, Claude Lèvi-Strauss.
Deixou um legado dos mais instigantes no campo das Ciências Humanas, notadamente na Antropologia, ou Etnologia, como ele preferia nomear a ciência do homem.
Pouco contato tive com sua obra na graduação em Ciências Sociais. Em teoria antropologica não passamos de Emille Durkheim. Era o tempo da escuridão, os anos setenta. Curioso, um dia descobri um único livro seu na biblioteca. Era “Tristes Trópicos”, ainda não traduzido. Como não estava no index da ditadura, levei para casa. Fiquei extasiado diante daquele escrito, um misto de literatura e ciência. Um discurso comparativo sobre duas realidades construídas historicamente: o novo e o velho mundo, as relações do homem com a natureza e seu contínuo e progressivo distanciamento dela rumo à cultura (sociedade).
A perplexidade do autor diante de uma realidade desconhecida empresta mais encanto à obra, e suas reflexões sobre o significado da civilização e do progresso agudiza o nosso pensamento sobre o mundo e suas descontínuas trajetórias. Aliás, Lèvi-Strauss disse um dia que a Antropologia serve para a gente pensar.
E foi assim eu me peguei um dia, nos confns da Chapada do Araripe, em meio as comunidades de pequenos agricultores, pensado o que significava tudo aquilo que vivenciava nas minhas “observações participantes” sobre o mundus camponês. Intrigava-me a capacidade de “tradução” de meu qualificado informante, o Sr. Pedro Honório, daquele universo exótico que eu havia de torná-lo familiar, condição indispensável para o sucesso na pesquisa de campo.
Pedro Honório falava-me dos lugares, da terra, dos matos, do tempo, do trabalho, das festas e das pessoas com tamanha profundidade, que comecei a desconfiar da relevância da oposição entre ciência e senso comum. Quando falava da vegetação, principalmente, meu informante seguia uma classificação, uma taxonomia local, para que serve e para que não serve esta e aquela planta, que ia das gramíneas às maiores árvores, tanto nas áreas antrópicas quanto na floresta.
Eureka ! Lèvi-Strauss jogou uma luz, e que luz no meu pensar e nas minhas desconfianças. Foi na leitura de “ O Pensamento Selvagem” que pude entender a lógica da ciência, da ciência que não é senso comum, mas é outra maneira de classificar as coisas da dinâmica interna da cultura, e com isto entender e viver no mundo.
Eis o sentido do “relativizar”, um constructo antropológico que clareia o sentido do diferente, do outro, da alteridade, da deficiência de uma verdade universal.
Aprendi com o velho pensador francês, vindo da Filosofia e, por isto mesmo, agregando valor as Ciências Sociais, principalmente na Antropologia, em refino, estilo, arte e beleza, que podemos conviver pacificamente em sociedade quando, em algum momento, tenhamos que “suspender” nossos conceitos e olhar e compreender o outro na sua diferença, não como uma imagem distorcida e intolerante do meu eu, mas como um espelho em que me vejo e me retoco como ser humano...

CONFERÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

Um debate que deve ser feito por todos. A necessidade da democratização dos meios de comunicação do Brasil, sejam eles quais forem. Assim, acontece nessa próxima sexta-feira, 6, a Conferência de Comunicação do Cariri e Centro-sul com a participação de 42 municípios, representados pelo poder público, sociedade civil e empresários do setor.

A Conferência de Comunicação Cariri e Centro-sul faz parte das articulações das conferências Estadual e Nacional e debaterá temas como rádios comunitárias, educação, cultura, políticas de incentivo à comunicação, entre outros temas.
As inscrições já estão abertas no site www.juazeiro.ce.gov.br e a abertura da conferência se dará na quinta-feira, 19 horas, com a presença de todas as delegações.

A conferência acontece no SEBRAE em Juazeiro do Norte.

Todas à conferência para assim podermos discutir a democratização da comunicação em nossa região, no Ceará e no Brasil!!!!

Mais informações pelo telefone (88) 3566.1020.

SEMINÁRIO ARTE & PENSAMENTO - A reinvenção do Nordeste.

Esse ano, na Mostra Sesc Cariri de Cultura, acontecerá uma atividade inusitada. Trata-se do SEMINÁRIO ARTE & PENSAMENTO - A reinvenção do Nordeste, um seminário promovido pelo Sesc que tem por objetivo problematizar as produções artísticas e culturais no nordeste nos dias de hoje.
Através das artes como cinema, música, literatura, intervenções urbanas e arte/mídia, os conferencistas: André Queiroz, Daniel Lins, Dural Muniz de Albuquerque Junior, Jorge Vasconcellos, Luíz Manoel Lopes, Luizan Pinheiro, Márcia Tiburi e Nina Velasco e Cruz, discorrerão sobre vários temas, onde certamente um deles te interessará.
Veja logo abaixo a Programação, e procure o quanto antes se increver, pois as vagas são limitadas. As inscrições podem ser feitas pela internet, através do e-mail: mostracairiri@gmail.com, ou no Sesc de Juazeiro (3512.3355).

Programação:



Dia 16 de novembro de 2009

- Mesa:

14:00 horas - Dr. Jorge Vasconcellos: “Antropofagia & Filosofia: da potência criadora da música”.

15:15 horas - Dr. André Queiroz: “Haveria um nordeste atrás do cinema que se faz no nordeste?”.

Mediação: Luizan Pinheiro

16:15 horas - Debate com o público.



Dia 17 de novembro de 2009

- Mesa:

14:00 horas - Dr. Luizan Pinheiro: “Ontologia do Cariri: a cidade atravessada por múltiplos olhares”.

15:15 horas -Dr. Luís Manoel Lopes: "Barbaramente estéreis; maravilhosamente exuberantes: os sertões em variações".

16:15 horas – Debate com o público.

Mediação: Jorge Vasconcellos.



Dia 18 de novembro de 2009

- Mesa:

14:00 horas - Dra. Márcia Tiburi: “Mulheres míticas e mulheres reais: uma fratura sertão”.

15:15 horas - Dra. Nina Velasco e Cruz: “Paulo Bruscky: um artista nordestino?”.

16:15 horas - Debate com o público.

Mediação: Luís Manoel Lopes.



*Lançamento da Revista Literária Polichinello n. 11 + exposição das gravuras de Acácio Sobral (gravuras que ilustram este número da revista).



Dia 19 de novembro de 2009

14:00 horas - Dr. Daniel Lins: "A paixão segundo Lampião".

15:15 horas - Dr. Durval Muniz de Albuquerque Jr.: “O Nordestino de Saia Rodada e Calcinha Preta ou as novas faces do regionalismo e do machismo no Nordeste”

16:15 horas - Debate com o público.

Mediação: André Queiroz

Honduras e o retorno do Tio Sam - Por José Flávio Sombra Saraiva



Honduras, país de importância modesta para os grandes atores do teatro internacional, fez-se centro de crise em 2009. Crise rima com América Central. Nos tempos da Guerra Fria, emergiu a crise da Guatemala de 1954. Foi lá o primeiro experimento das cover operations da CIA na América Latina. Um regime político que propunha modernização social foi substituído por um regime de exceção, sob a batuta de Washington. Tio Sam exportava valores e armas para as elites bananeiras e cafeeiras.

Apesar de termos governos mais à esquerda na região nos dias de hoje, a marca histórica da inserção internacional de tais países é a obediência religiosa aos ditames ianques. Os Estados Unidos gerente da ordem, elegeram o México como o mediador de seus interesses. Tocava aos mexicanos o controle intermediário das potenciais “migrações perigosas” de gente de tais países. Cumpriu bem o México seu papel nos anos 1980 e 1990. Mas perdeu esse papel nos últimos anos.

No vácuo de poder na América Central entraram vários novos atores, como o Brasil e seus empresários, a Venezuela e sua ideologia, e eventualmente o longínquo Irã, com sua ativa embaixada em Manágua, na Nicarágua. A América Central ficou no vácuo entre uma área de formação e de integração na América do Sul e a anexação diplomática e comercial exercida pelos Estados Unidos no México por meio do Tratado de Livre Comércio (TLC).

Tio Sam retorna gradualmente à América Central. Obama, cuidadoso em evitar interferências explícitas, já atua fortemente nos bastidores para garantir a solução da crise que se alastra há várias semanas em Honduras. Em que consiste a estratégia norte-americana?

Primeiro, deixaram os embaixadores da Organização dos Estados Americanos OEA) desfilarem seus cordões de argumentos a favor de uma solução negociada entre as partes pela boa vontade dos dois presidentes em contenda. Sabia-se que isso não prosperaria dado o grau de entrincheiramento de posições.

Segundo, os diplomatas norte-americanos resolveram trabalhar com o fator tempo, fator essencial na política internacional, sabendo que tudo se dilui no decurso do prazo.

Terceiro e mais importante, iniciou nesses dias a fase das pressões diretas, embora mais discretas que os métodos do tempo do porrete ou das cover operations. Apostam na permanência do governo de fato em Honduras e estão tratando de garantir as eleições que se aproximam. Realizadas as eleições, a feição de Honduras será outra, será o do vencedor do escrutínio, será a nova quadra histórica, sem Zelaya ou Micheletti.

Lição da história: o velho Tio Sam, tido como personagem do passado, vem demonstrando inteligência tática. Exibindo poder demais e bom conhecimento de campo das elites da América Central, os negociadores norte-americanos propõem uma saída pela via do novo tempo, pós-eleitoral, com o candidato escolhido no sufrágio de novembro. Não estamos longe de uma solução oriunda do decurso do prazo.

José Flávio Sombra Saraiva é PhD pela Birmingham University, Inglaterra, e professor titular dos Instituto de Relações Internacionais da UnB
http://www.tribunadobrasil.com.br/ - 03.11.09

O herói da crise de Honduras - por João Bosco Monte



Desde o último domingo de junho, quando o Exército sequestrou e expulsou do país o presidente Manuel Zelaya, Honduras não deixou de estar no olho do furacão. Nunca um país tão pequeno (pouco mais de sete milhões de habitantes) e tão pobre (somente o Haiti o supera na América Latina) despertou a preocupação de tantos durante tanto tempo. Daí que quando, na madrugada da sexta-feira, 30 de outubro, os representantes do golpista Roberto Micheletti e os de Manuel Zelaya anunciaram estar de acordo que seja o Congresso Nacional quem finalmente decida sobre a restituição do presidente deposto toda a comunidade internacional se pôs a celebrar. O acordo permite a volta de Zelaya ao poder, mas sem a possibilidade de sua reeleição.

Um dos que mais comemorou o acordo foi Thomas Shannon, subsecretário de Estado estadunidense para os assuntos do Hemisfério Ocidental. Shannon tinha chegado a Tegucigalpa umas horas antes e, depois de reunir-se com os negociadores de Zelaya e Micheletti, conseguiu remover os obstáculos que, durante os quatro meses anteriores, mostraram a inoperância da Organização de Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas, do presidente costarriquense Óscar Arias e até das ameaças de Hugo Chávez ou Daniel Ortega.

O diplomata americano, que deve ser o próximo embaixador dos EUA no Brasil, apresentou um argumento decisivo durante a reunião com os representantes de Micheletti e Zelaya: o tempo. Ou, melhor dito, a falta de tempo, considerando que resta menos de um mês para as eleições gerais. Para Micheletti, a realização das eleições no dia 29 de novembro passou a ser questão de honra e portanto, inegociável. Dessa forma, Thomas Shannon tratou de assegurar que os Estados Unidos apoiem a decisão soberana das urnas.

É oportuno observar a afirmação do professor Flávio Saraiva, em seu artigo Honduras e o retorno de Tio Sam: “...o velho Tio Sam, tido como personagem do passado, vem demonstrando inteligência tática. Exibindo poder demais e bom conhecimento de campo das elites da América Central, propõem os negociadores norte-americanos uma saída pela via do novo tempo, pós-eleitoral, com o candidato escolhido no sufrágio de novembro..”

O poder das palavras

Outro ponto importante, que demonstra a estratégia de Shannon para convencer Micheletti foi o “vocabulário” utilizado enquanto esteve em Tegucigalpa. O representante dos EUA não se referia a Micheletti e Zelaya como presidentes legítimos ou ilegítimos. Ao contrário, o que fez foi repartir flores, por igual e em abundância. Disse: "Quero destacar que a ajuda internacional criou um contexto, mas o resultado vem de um trabalho hondurenho e quero demonstrar minha admiração pela vocação democrática deste povo.”

Mas o subsecretário foi além, muito além. Destacou "a liderança política" de Zelaya e Micheletti para chegar a um acordo e os chamou de "heróis da democracia hondurenha".
Por fim, parece que todos ficarão contentes. Micheletti, porque já conseguiu o que se propunha: tirar Zelaya do poder e que a comunidade internacional reconheça as eleições. Zelaya, porque já não aguenta mais depois de um mês e 10 dias “hospedado” entre as quatro paredes da Embaixada do Brasil. A comunidade internacional, depois de fracassar, diversas vezes, em suas tentativas de fazer respeitar os mais elementares princípios democráticos.

E claro, o governo brasileiro que esperava ter sido um ator mais expressivo em todo esse processo, por fim pode descansar.

João Bosco Monte é Doutor em Educação, professor de Relações Internacionais e escreve a coluna Mapa-múndi às terças-feiras no O POVO Online.
Fonte: http://opovo.uol.com.br/colunas/mapamundi - 03.11.2009