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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O herói da crise de Honduras - por João Bosco Monte



Desde o último domingo de junho, quando o Exército sequestrou e expulsou do país o presidente Manuel Zelaya, Honduras não deixou de estar no olho do furacão. Nunca um país tão pequeno (pouco mais de sete milhões de habitantes) e tão pobre (somente o Haiti o supera na América Latina) despertou a preocupação de tantos durante tanto tempo. Daí que quando, na madrugada da sexta-feira, 30 de outubro, os representantes do golpista Roberto Micheletti e os de Manuel Zelaya anunciaram estar de acordo que seja o Congresso Nacional quem finalmente decida sobre a restituição do presidente deposto toda a comunidade internacional se pôs a celebrar. O acordo permite a volta de Zelaya ao poder, mas sem a possibilidade de sua reeleição.

Um dos que mais comemorou o acordo foi Thomas Shannon, subsecretário de Estado estadunidense para os assuntos do Hemisfério Ocidental. Shannon tinha chegado a Tegucigalpa umas horas antes e, depois de reunir-se com os negociadores de Zelaya e Micheletti, conseguiu remover os obstáculos que, durante os quatro meses anteriores, mostraram a inoperância da Organização de Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas, do presidente costarriquense Óscar Arias e até das ameaças de Hugo Chávez ou Daniel Ortega.

O diplomata americano, que deve ser o próximo embaixador dos EUA no Brasil, apresentou um argumento decisivo durante a reunião com os representantes de Micheletti e Zelaya: o tempo. Ou, melhor dito, a falta de tempo, considerando que resta menos de um mês para as eleições gerais. Para Micheletti, a realização das eleições no dia 29 de novembro passou a ser questão de honra e portanto, inegociável. Dessa forma, Thomas Shannon tratou de assegurar que os Estados Unidos apoiem a decisão soberana das urnas.

É oportuno observar a afirmação do professor Flávio Saraiva, em seu artigo Honduras e o retorno de Tio Sam: “...o velho Tio Sam, tido como personagem do passado, vem demonstrando inteligência tática. Exibindo poder demais e bom conhecimento de campo das elites da América Central, propõem os negociadores norte-americanos uma saída pela via do novo tempo, pós-eleitoral, com o candidato escolhido no sufrágio de novembro..”

O poder das palavras

Outro ponto importante, que demonstra a estratégia de Shannon para convencer Micheletti foi o “vocabulário” utilizado enquanto esteve em Tegucigalpa. O representante dos EUA não se referia a Micheletti e Zelaya como presidentes legítimos ou ilegítimos. Ao contrário, o que fez foi repartir flores, por igual e em abundância. Disse: "Quero destacar que a ajuda internacional criou um contexto, mas o resultado vem de um trabalho hondurenho e quero demonstrar minha admiração pela vocação democrática deste povo.”

Mas o subsecretário foi além, muito além. Destacou "a liderança política" de Zelaya e Micheletti para chegar a um acordo e os chamou de "heróis da democracia hondurenha".
Por fim, parece que todos ficarão contentes. Micheletti, porque já conseguiu o que se propunha: tirar Zelaya do poder e que a comunidade internacional reconheça as eleições. Zelaya, porque já não aguenta mais depois de um mês e 10 dias “hospedado” entre as quatro paredes da Embaixada do Brasil. A comunidade internacional, depois de fracassar, diversas vezes, em suas tentativas de fazer respeitar os mais elementares princípios democráticos.

E claro, o governo brasileiro que esperava ter sido um ator mais expressivo em todo esse processo, por fim pode descansar.

João Bosco Monte é Doutor em Educação, professor de Relações Internacionais e escreve a coluna Mapa-múndi às terças-feiras no O POVO Online.
Fonte: http://opovo.uol.com.br/colunas/mapamundi - 03.11.2009

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