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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Honduras e o retorno do Tio Sam - Por José Flávio Sombra Saraiva



Honduras, país de importância modesta para os grandes atores do teatro internacional, fez-se centro de crise em 2009. Crise rima com América Central. Nos tempos da Guerra Fria, emergiu a crise da Guatemala de 1954. Foi lá o primeiro experimento das cover operations da CIA na América Latina. Um regime político que propunha modernização social foi substituído por um regime de exceção, sob a batuta de Washington. Tio Sam exportava valores e armas para as elites bananeiras e cafeeiras.

Apesar de termos governos mais à esquerda na região nos dias de hoje, a marca histórica da inserção internacional de tais países é a obediência religiosa aos ditames ianques. Os Estados Unidos gerente da ordem, elegeram o México como o mediador de seus interesses. Tocava aos mexicanos o controle intermediário das potenciais “migrações perigosas” de gente de tais países. Cumpriu bem o México seu papel nos anos 1980 e 1990. Mas perdeu esse papel nos últimos anos.

No vácuo de poder na América Central entraram vários novos atores, como o Brasil e seus empresários, a Venezuela e sua ideologia, e eventualmente o longínquo Irã, com sua ativa embaixada em Manágua, na Nicarágua. A América Central ficou no vácuo entre uma área de formação e de integração na América do Sul e a anexação diplomática e comercial exercida pelos Estados Unidos no México por meio do Tratado de Livre Comércio (TLC).

Tio Sam retorna gradualmente à América Central. Obama, cuidadoso em evitar interferências explícitas, já atua fortemente nos bastidores para garantir a solução da crise que se alastra há várias semanas em Honduras. Em que consiste a estratégia norte-americana?

Primeiro, deixaram os embaixadores da Organização dos Estados Americanos OEA) desfilarem seus cordões de argumentos a favor de uma solução negociada entre as partes pela boa vontade dos dois presidentes em contenda. Sabia-se que isso não prosperaria dado o grau de entrincheiramento de posições.

Segundo, os diplomatas norte-americanos resolveram trabalhar com o fator tempo, fator essencial na política internacional, sabendo que tudo se dilui no decurso do prazo.

Terceiro e mais importante, iniciou nesses dias a fase das pressões diretas, embora mais discretas que os métodos do tempo do porrete ou das cover operations. Apostam na permanência do governo de fato em Honduras e estão tratando de garantir as eleições que se aproximam. Realizadas as eleições, a feição de Honduras será outra, será o do vencedor do escrutínio, será a nova quadra histórica, sem Zelaya ou Micheletti.

Lição da história: o velho Tio Sam, tido como personagem do passado, vem demonstrando inteligência tática. Exibindo poder demais e bom conhecimento de campo das elites da América Central, os negociadores norte-americanos propõem uma saída pela via do novo tempo, pós-eleitoral, com o candidato escolhido no sufrágio de novembro. Não estamos longe de uma solução oriunda do decurso do prazo.

José Flávio Sombra Saraiva é PhD pela Birmingham University, Inglaterra, e professor titular dos Instituto de Relações Internacionais da UnB
http://www.tribunadobrasil.com.br/ - 03.11.09

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