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domingo, 4 de janeiro de 2009



Roberto Campos, o incompreendido


por Armando Lopes Rafael

“A idéia de “esquerda” e “direita” desgastou-se a tal ponto que hoje só serve para fins obrigatórios, isto é, para acusar de “politicamente incorretos” aqueles que são a favor do que julgamos ‘correto’.” – Roberto Campos.

Há nove anos – no dia 9 de outubro de 2001 – morria Roberto Campos. Diplomata (foi embaixador do Brasil em Washington e Londres) economista, político (foi senador, deputado, ministro) e um dos homens mais inteligentes entre os nascidos neste Brasil.
Menino pobre nascido em Mato Grosso, Roberto Campos foi seminarista, diplomou-se em Filosofia e Teologia, mas, vendo que não tinha vocação religiosa deixou o Seminário. Fez mestrado em Economia na Universidade George Washington e estudos complementares na Universidade de Columbia, em New York. Ingressou em 1938, no Itamaraty onde foi brilhante diplomata de carreira.
A maioria dos jovens brasileiros não o conhece. Nunca ouviu falar nele. Mesmo os mais maduros – incluindo aí os têm formação universitária – desconhecem que foi Roberto Campos quem criou o Banco Central, o BNDES, o FGTS e o Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Como escritor – pertencia à Academia Brasileira de Letras – ele deixou, dentre outras, uma obra, “Lanterna na Popa”, com 1.415 páginas.
Mas, uma virtude nele me chamava a atenção: a de visionário. Anos antes da falência do socialismo na União Soviética e nos regimes da Cortina de Ferro, Roberto Campos já previa o fracasso da economia estatizada e defendia para o Brasil a abertura do mercado, a privatização de muitas estatais deficitárias e superadas em relação às concorrentes da iniciativa privada.
A queda do Muro de Berlim provou – anos mais tarde – que ele tinha razão. Mas, naqueles anos, o “Patrulhamento ideológico”, no Brasil, era ainda mais forte do que hoje. (Patrulhamento Ideológico é o policiamento feito nas redações de jornais, revistas, emissoras de televisão, sites da Internet e universidades públicas contra matérias que venha contestar as idéias da velha esquerda. Esse patrulhamento existia – e ainda existe – em órgãos onde predomina uma maioria que não se conforma com a liberdade de expressão (garantida na nossa Constituição) e assim boicotam matérias de outras pessoas que pensam diferente de idéias preconcebidas e superadas no tempo e no espaço.
Nas décadas 60, 70 – em face do “Patrulhamento Ideológico” – Roberto Campos tornou-se a “opção preferencial” das esquerdas que só o chamavam de “Bob Fields”. Sobre isso ele costumava dizer: "São três as raízes da nossa cultura: a cultura ibérica, que é a cultura do privilégio; a cultura africana, que é a cultura da magia; e a cultura indígena, que é a cultura da indolência. Com esses ingredientes, o desenvolvimento econômico é uma parada..."
Mesmo assim, arrostando incompreensões, Roberto Campos tornou-se o principal ideólogo neoliberal do Brasil.
Sua última aparição pública foi na votação do impeachment do Presidente Collor. Roberto Campos chegou, numa maca de hospital, pois já estava bastante debilitado, atendendo ao pedido do seu amigo pessoal Ulysses Guimarães, que afirmou: – “seu voto será um voto moral. Muitos o acompanharão em respeito a sua coerência”. Roberto Campos depois diria: “Quando cheguei ao Congresso, queria fazer o bem. Hoje acho que o que dá para fazer é evitar o mal."
Pertinho da morte, Roberto Campos escreveu: “O imbecil é aquele que nunca muda. Mudei e aprendi. Muitos dos meus críticos nem mudaram nem aprenderam".