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domingo, 4 de maio de 2008

TANTA UNIVERSIDADE E NENHUMA UNIVERSIDADE – José do Vale Pinheiro Feitosa

A Universidade não é uma universidade. Como instituição existiram, ao longo da história, papéis diferentes para ela, tanto no tempo como nas sociedades. A cada sociedade um tipo de "universidade" era instituído para a missão que seu projeto de povo ou, posteriormente, nação requeria. A universidade Européia foi se tornando de fato em algo universal, à proporção em que a herança do mundo greco-romano foi se espalhando, a idade média expandiu esta herança além das ordens religiosas, o renascimento as urbanizou e finalmente chegou-se ao que se chama cultura ocidental. Com a organização das modernas ciências, mais experimentais e o avanço rápido das tecnologias de base científica ao passo da industrialização pela mudança na produção e pelo capitalismo na ordem econômica a universidade mudou de patamar. Ficou mais estratégica para os fundamentos dos Estados Nacionais. E foi assim que no século XX as universidades americanas surgiram, como um instrumento político, social e econômico do processo de acumulação daquela nação.

A URCA, salvo erro de avaliação, quando ainda não era uma universidade começa como um prolongamento avançado do ensino de base católica, tanto do seminário São José quanto dos diversos colégios religiosos. É bem verdade que outras iniciativas como a do comércio pela Escola Técnica tenha também o seu papel. Na verdade o projeto de universidade foi se modificando no próprio processo. Há que se considerar que o Nordeste brasileiro, nos idos dos anos 50 e 60 era um centro otimista da idéia de planejamento que lhe redimisse do estágio atrasado para um patamar de capitalismo mais estruturado. Sem dúvida que a idéia de uma universidade regional nasce como concepção de uma tecnocracia central que pensava avançar as sociedades interioranas. O problema é que no mundo real não havia um movimento local que correspondesse a tal e nem a proteção deste mesmo movimento no campo externo a ele. O mais patético exemplo talvez seja o Projeto Morris Asimov em que as unidades industriais foram caindo uma a uma.

Para que a Universidade Regional do Cariri cumpra o seu papel de desenvolvimento regional talvez tenha que enfrentar alguns fantasmas internos, a fraqueza da gestão política regional, a fragmentação da vontade social e o modelo de ensino e pesquisa de terceiro grau que se desdobra em concorrência ao invés de confluência. Abordando cada uma das questões.

Os fantasmas internos da URCA tão variados, mas certamente não são piores que o de outras universidades, especialmente no item autonomia universitária. Na realidade política e social do nordeste a autonomia pode se tornar mera justificativa para a burocracia central empobrecer a universidade de recursos. A saída é lógica, a URCA tem que ir além dos seus muros e se fortalecer junto às forças sociais, econômicas e políticas da região. O mero processo de obediência orçamentária em disputa anual não permite um salto, apenas pela pressão é que os recursos virão. O segundo é parte de um certo vício que atinge quase todo o espectro ideológico que compreende o corporativismo cuja tradução mais conservadora é o "finge que trabalha que finjo que te pago". A luta salarial se tornou, por este viés a própria amarra que prende o corpo funcional da universidade a ela mesma e a tecnoburocracia do governo estadual. Isso tem levado, em outras universidades, a um insulamento dos pesquisadores, do professores e dos projetos de extensão em relação ao continente da realidade regional.

A URCA se tivesse possibilidade de vencer a sua inércia, poderia promover excelentes debates com os agentes econômicos, sociais e políticos em torno de projetos regionais aproveitando o momento eleitoral. É um momento especial, pois é nele que os projetos do executivo municipal são negociados, assim como seus gestores e a escolha da representação política. Uma prática continuada da Universidade neste campo seria de grande importância, inclusive para a cura dos próprios vícios internos da academia. Em outras palavras, a URCA estaria refletindo sobre a questão da gestão política regional. Qual o papel do Cariri, seu presente e futuro? E antes que alguém me mostre o pessimismo em relação a isso ao considerar a politização partidária que se hostiliza no interior da universidade, volto para o fato que isso tem importância pela própria fraqueza do projeto acadêmico.

A fragmentação da vontade social é um problema não regional. Ele é nacional e se agrava pelo corporativismo, pelo próprio papel paternalista do Estado e pela ação patrimonialista que ainda teima em sobreviver sobre os valores sociais. Isso leva a uma inércia, especialmente na oportunidade de debates e na eficiência das lutas sociais que podem rapidamente se hierarquizar sob a modalidade de representações e lideranças que fatalmente degeneram em peleguismo e outros tipos de vícios que desarticulam a gestão social. Como a URCA poderia vencer os próprios vícios, levar seu corpo funcional ao debate e seus alunos a uma visão que o futuro não é simplesmente um título de graduação? Eis um grande desafio que não se resume à universidade, mas para o qual ela tem algo a dizer.

Outra questão é a fragmentação regional do ensino, pesquisa e extensão acadêmica. Quem irá coordenar esta mistura de entes estaduais, federais, privados e caça níqueis em que se tornou o ensino universitário no Cariri (eu sei que não é no Cariri). O governo estadual através da sua burocracia? Algum órgão federal? Não. Mas algo tem que ser feito no rumo desta coordenação e até mesmo regulação na oferta e no direcionamento do projeto acadêmico. Para que se mantenha a unidade regional é preciso que o projeto acadêmico se unifique em termos de território: ou seja, espaço geográfico e povo. Como fazer isso? Criar um fórum permanente de deliberação regional? Instituir, através das municipalidades, novas organizações voltadas para o desenvolvimento regional? Algo precisa ser feito e não será num texto que se descobrirá o quê. Apenas com a mobilização e o debate é possível.

Enfim, a questão é política, social e econômica. E apesar da base ser econômica, não resta dúvida que a questão política é o começo de tudo. Atenção a questão é política e não apenas partidária, mas sem que se excluam os partidos e as diversas maneiras de desejar e organizar o futuro.

Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica

Foguetes, satélites, estrelas e planetas... É essa a temática da XI Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), que já está na 11ª edição. Esse ano, 2.052 escolas cearenses se inscreveram na OBA, um aumento de 192% em relação a 2007. O Ceará superou a participação de São Paulo. O número de escolas cadastradas representa 21% do total de escolas do estado.

As provas serão realizadas dia 9 de maio. Em todo país, 15.592 escolas se cadastraram. A expectativa dos organizadores é que 400 mil estudantes participem da olimpíada.

A novidade desse ano é a distribuição das provas em braile para os alunos portadores de deficiência visual. No ano passado cerca de 350 mil alunos participaram da OBA, sendo que 43,3 mil eram do Ceará.

Podem participar estudantes do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas ou privadas em todo o País. A inscrição deverá ser feita em escolas previamente cadastradas, podendo ocorrer até a véspera das provas, a critério do professor responsável pelas atividades da OBA em cada escola. Não é necessário o aluno estudar na instituição que irá se increver. Para saber quais escolas estão cadastradas basta acessar o site:www.aeb.gov.br/oba.

A OBA tem o objetivo de divulgar a Astronomia e as atividades espaciais a estudantes em todo País. A gerente do Programa AEB Escola, Ivette Rodrigues, uma das organizadoras do evento, explica que as questões das provas são elaboradas de forma a levar conteúdos informativos tanto a alunos como a professores.

UM POUCO DE OTIMISMO



Tudo bem que o Icasa não está passando um bom momento, e justo numa final de campeonato. Entretanto, aqui pode caber um pouco de otimismo envolvendo esta final. O Icasa foi campeão do primeiro turno do campeonato cearense e o Fortaleza campeão do segundo. No primeiro jogo, última quinta-feira, deu Leão. Agora cabe ao icasa apenas vencer nos 90 minutos para levar a decisão para a prorrogação .Isso é possível, já que outros times venceram o Fortaleza no Castelão, basta lembrar o Horizonte. O Verdão embarcou e a diretoria e amigos se mobilizam para levantar o astral dos jogadores e assim contribuir para que o time vire o jogo literalmente e volte com a taça.
CAMPEONATO CEARENSE 2008

FORTALEZA
Tiago Cardoso; Preto, Vitor e Juninho; Simão, Erandir, Leandro, Paulo Isidoro e Márcio Azevedo; Osvaldo (ou Lúcio) e Rômulo. Técnico: Heriberto da Cunha.

ICASA
Douglas; Gilberto Matuto, Rafael, Tiago e Marcelo; Jonas, Tony, Serginho e Clodoaldo; Marciano e Vanderlei. Técnico: Paes de Lira.

Local: estádio Castelão
Horário: 16 horas
Árbitro: Luzimar Siqueira
Auxiliares: Marcos Brígido e Arnaldo Sousa

Missa em homenagem a Demócrito Dummar no Cariri



Profissionais da imprensa da Região do Cariri prestaram ontem à noite, homenagem ao presidente do Grupo de Comunicação O POVO, Demócrito Rocha Dummar, que morreu no último dia 25 de março em Fortaleza. Jornalistas, radialistas e profissionais que trabalham em emissoras de televisão assistiram a uma missa na igreja dos padres salesianos em Juazeiro do Norte, município a 563 quilômetros da Capital.

"Demócrito Dummar era, acima de tudo, um empresário interessado no desenvolvimento da Região do Cariri. Tinha uma visão além do tempo presente e tudo o que realizava era com muita ética", disse o radialista João Hilário Coelho Correia, da Rádio Tempo.

Ele disse ainda que Demócrito Rocha Dummar sempre transmitia mensagens de otimismo e elogios à imprensa da região do Cariri. "Estamos órfãos com a partida do Dr. Demócrito. Jamais poderíamos deixar de prestar nossa homenagem a ele", completou. A iniciativa da celebração eucarística foi do jornalista Chico Alves, do jornal A Crítica. (Colaborou Amaury Alencar).

texto Jornal O Povo
Foto: Cícero Valério

Homenagem a Nossa Senhora de Fátima no Interior



Novenas, celebrações, visita da imagem peregrina e procissões. São homenagens que os fiéis prestam, neste mês de maio, a Nossa Senhora de Fátima no interior do Estado. Padroeira do município de Banabuiú, no Sertão Central, a Virgem Maria com esse título está sendo celebrada desde a última quinta-feira quando começou o novenário na igreja matriz. Em Crateús, a 401 quilômetros de Fortaleza, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima chegará no próximo dia 13 e visitará diversas comunidades rurais até o dia 31 deste mês. Católicos de outras cidades cearenses também organizam a coroação da Mãe de Deus no último dia de maio.

O pároco Francisco Clodoaldo de Farias, de Banabuiú, foi quem abriu as comemorações no último dia 1º com uma celebração eucarística, às 18 horas. Nesse mesmo horário, até o próximo dia 13, vai ser realizada a novena em honra de Maria, Mãe de Jesus, na igreja matriz. No dia 13, quando se recorda os 91 anos da primeira aparição de Nossa Senhora (segundo a Igreja Católica) aos pequenos pastores Lúcia, Francisco e Jacinta, em Fátima (Portugal), haverá missas durante o dia e procissão à tarde, pelas ruas do Centro da cidade. Para o dia 31 deste mês, estão programados um bingo e a coroação da imagem representando a Virgem Maria.

O povo católico da Diocese de Crateús aguarda, no próximo dia 13, às 17 horas, a chegada da imagem peregrina que vem de Fátima. Haverá carreata e missa campal em frente à Catedral da Sé, presidida pelo bispo diocesano, dom Jacinto Sobrinho. Em seguida, vigília de orações até o amanhecer. Todos os dias, até o último do mês, a imagem visita as igrejas da sede e os distritos como Ipojuca, Curral do Meio, Várzea Grande, Cacimba do Meio, Carrapateira e Queimadas.

Festa em outubro
Nossa Senhora de Fátima também é padroeira da cidade de Itarema, no Litoral Oeste do Estado. Mas os festejos só ocorrem no mês de outubro quando ocorreu a última aparição da Virgem Maria às crianças portuguesas, de acordo com a Igreja Católica. Os festejos ocorrem de 1º a 13 de outubro também com novenário, missas, eventos sociais e procissão.

Naquele município, a 276 quilômetros de Fortaleza, outra grande festa dedicada a Maria é a de Nossa Senhora da Conceição no distrito de Almofala, no mês de dezembro. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi construída em 1712 e soterrada por uma duna móvel em 1897, ressurgindo entre 1940/43. Foi restaurada e tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1982, e é apontada como o mais belo templo sacro do século XVIII.


FIQUE POR DENTRO

- Nossa Senhora de Fátima é uma das designação pela qual é conhecida, na religião católica apostólica romana, a Virgem Maria, Mãe de Jesus. Os católicos festejam as aparições, durante meses seguidos, para três crianças em Fátima, localidade portuguesa, em 1917.

- A aparição é associada também a Nossa Senhora do Rosário, ou a combinação dos dois nomes, dando origem a Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pois, segundo os relatos, "Nossa Senhora do Rosário" teria sido o nome pelo qual a Virgem Maria haveria se identificado.

- As crianças, Lúcia de Jesus dos Santos (de 10 anos), Francisco Marto (de 9 anos) e Jacinta Marto (de 7 anos), afirmaram ter visto Nossa Senhora no dia 13 de Maio de 1917 quando pastoreavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de Aljustrel, em Portugal.

- Segundo relatos, por volta do meio-dia do dia 13, depois de rezarem o terço, as crianças teriam visto uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidiram ir embora, mas, logo abaixo, outro clarão teria iluminado o espaço. Então viram em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol".

- A Virgem teria dito às três crianças que era preciso rezar muito e que aprendessem a ler. Convidou-as a voltarem ao mesmo local no dia 13 dos próximos cinco meses. As três crianças assistiram a outras aparições em 13 de Junho, 13 de Julho e 13 de Setembro. Em Agosto, a aparição ocorreu no dia 19, no sítio dos Valinhos, a 500 metros de Aljustrel, porque elas tinham sido levadas para Vila Nova de Ourém pelo administrador do Concelho, dia 13 de agosto.

- Em 13 de Outubro, estavam presentes na Cova da Iria cerca de 50 mil pessoas. A Virgem Maria teria dito às crianças: "Eu sou a Senhora do Rosário", e teria pedido que fizessem ali uma capela em sua honra (que atualmente é a parte central do Santuário de Fátima). Muitos dos presentes afirmaram ter observado o chamado milagre do sol, prometido às três crianças em Julho e Setembro.

- Segundo os testemunhos, o sol, assemelhando-se a um disco de prata fosca, podia ser visto sem dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo precipitar-se na terra. Tal fenômeno foi testemunhado por muitas pessoas, até mesmo distantes do lugar da aparição.

- Nossa Senhora teria revelado três segredos às crianças: a visão do Inferno; a punição do mundo e o terceiro só foi revelado por Lúcia em 1981 ao Papa João Paulo II. Seria o atentado àquele Papa ocorrido no dia 13 de maio daquele ano. Segundo o documento revelado pela igreja: "Irmã Lúcia concordou com o Papa, dizendo que foi a mão da Virgem que guiou as balas e fez João Paulo II sobreviver ao atentado".

Fonte: Banco de Dados

Jornal O Povo

Entidades realizam ações em favor das pessoas portadoras de deficiência

Após mais de um ano da adoção, por unanimidade dos 192 países membros das Nações Unidas, da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o Brasil ainda não ratificou dito documento para que as suas normas sejam vinculativas para o Governo. Com a ratificação, as mais de 24 milhões de pessoas com necessidades especiais no Brasil -segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - terão seus direitos assegurados.
Assim, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade) deliberou, em plenária de sua reunião ordinária, a realização amanhã (03) de atos públicos, manifestações, passeatas e caminhadas pelo país, pedindo a ratificação da Convenção e de seu Protocolo Facultativo. O objetivo das mobilizações é recolher adesões ao abaixo-assinado que será encaminhado ao Congresso Nacional no próximo dia 14.
Quem quiser participar da campanha de assinaturas deve acessar ao site: www.assinoinclusao.org. As atividades de amanhã irão possibilitar também levar aos brasileiros informações sobre o processo de ratificação e a relevância da internalização desse tratado de direitos humanos com o quorum qualificado de 3/5, para que ingresse com status de norma constitucional.

Site Adital

Transposição das águas do rio São Francisco: preocupação com a população local, oportunidade para o agronegócio ou especulação política e imobiliária?





Por Maurício Novaes Souza - É engenheiro agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutorando em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). É professor do CEFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável; conselheiro do COPAM e da SEMAD - Zona da Mata (MG) - mauriciosnovaes@yahoo.com.br
e Maria Angélica Alves da Silva - É pedagoga e especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável; professora das disciplinas Sociologia e Artes do CEFET - Rio Pomba - gecamau@yahoo.com.b
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No mês de março, dia 22, foi comemorado o dia mundial da água. Pergunta-se se existem motivos para comemoração? Para responder a essa pergunta, tome-se como exemplo a bacia do rio São Francisco, que cobre 504 municípios brasileiros. Praticamente, nenhum deles possui saneamento básico e todo o esgoto doméstico e industrial in natura é lançado diretamente ao rio, além dos dejetos industriais e agroindustriais, como na região metropolitana de Belo Horizonte, que polui seu maior afluente, o Rio das Velhas. Assim, o estado de degradação em que o rio se encontra representa a real situação de como o país vem efetivamente administrando seus recursos naturais.
Em toda a extensão do rio São Francisco é comum se verificar a existência de grandes áreas com desmatamento e queimadas desde a sua nascente, que provocam o assoreamento do rio, além do desvio de água cada vez maior para projetos de irrigação, em sua maioria sem planejamento e manejo. Dessa forma, a cada ano tem diminuído perigosamente o seu volume de água e a navegação já não se faz em determinados trechos e em determinadas épocas do ano, como em janeiro deste ano de 2008.
No tocante à retirada predatória das matas ciliares do rio, influi diretamente nas cheias ocasionais. Sem a vegetação, com o solo descoberto, a água chega velozmente à calha do rio, acumulando-se e aumentando o pique de cheia, como em fevereiro deste ano de 2008, e a conseqüente redução na recarga dos aqüíferos, reduzindo significativamente a sua vazão mínima e tornando ainda mais crítico o período das secas.
Há de se considerar um outro sério problema: na década de 80 do século passado, a expansão da agricultura brasileira trouxe para o Oeste da Bahia - região de veredas e berço de inúmeros afluentes do rio São Francisco - centenas de agricultores a desbravar uma nova fronteira agrícola situada no cerrado baiano. Passados quase 30 anos, a região se consolidou como a maior produtora de grãos do Nordeste e uma das mais importantes do país. Agora, nessa região, os agricultores brasileiros têm a companhia de investidores de todas as partes do mundo, como o americano Scott Shanks, cujo grupo que representa é formado por cerca de cem investidores que já adquiriram cinco fazendas na região conhecida como Coaceral, no município de Formosa do Rio Preto.
Segundo esse americano, para investir na região, fatores como clima e logística foram fundamentais para a decisão do grupo, sobretudo porque aqui as terras ainda têm um preço atrativo em relação aos Estados Unidos. O presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA) - Humberto Santa Cruz, admite que a presença de produtores de fora do país cresceu muito rapidamente nos últimos dez anos, havendo hoje cerca de 50 a 60 grupos, com aproximadamente 15% da área plantada. Justifica que em uma economia globalizada não há porque se criar empecilhos à entrada de estrangeiros.
A legislação brasileira estabelece limites para a compra de imóveis rurais por estrangeiros, mas não impõe barreira para empresas nacionais com capital estrangeiro. Em Brasília, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, fala sobre quais mudanças na legislação estão sendo estudadas para frear o crescimento da compra de terras por estrangeiros. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil também comentou o assunto, afirmando que se tem de haver a regulação no país, mas afirmam que não têm de "podar" nada, pois são a favor do liberalismo. Querem que a iniciativa privada possa agir, e que o governo brasileiro funcione como regulador, segundo Kátia Abreu, vice-presidente do órgão. De acordo com uma estimativa do Incra, cerca de 33 mil imóveis rurais - algo em torno de 5,5 milhões de hectares - estão nas mãos de estrangeiros. Outra pergunta: Será que esses estrangeiros terão a preocupação ambiental que se fazem necessárias para a conservação dos recursos hídricos dessa região? Em Minas Gerais, ainda composta basicamente por produtores brasileiros, tal preocupação, de fato, não existe.
Essas questões são problemáticas, dada a importância da parte mineira da bacia do São Francisco no contexto estadual e nacional, se deve ao fato de que esta região possui 37% da área física da Bacia, 48% dos municípios (239 municípios), 57% da população, 80% de rios perenes, 72% do volume d’água, bem como possui o maior potencial para instalação de barragens reguladoras de vazão e de ampliação da oferta de volume de água na Bacia e ainda contém a maior reserva mineral da Bacia. Esta importância, associada ao acelerado processo de degradação ambiental, que compromete a qualidade e quantidade dos recursos hídricos são fatores determinantes para a concretização de ações relacionadas à revitalização, recuperação e conservação hidroambiental deste significativo território da Bacia.
Dentre os principais agentes poluidores do São Francisco se destacam (RIMA, 2004): a) Falta de tratamento de esgotos; b) Disposição inadequada dos resíduos sólidos; c) Supressão da vegetação (topo, ciliar e nascentes); d) Frágil educação ambiental; e) Manejo inadequado dos solos; f) Áreas degradadas pela mineração; g) Falta de articulação institucional; h) Lento processo de consolidação/implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos; i) Erosão e assoreamento; j) Áreas de preservação permanentes degradadas (veredas, lagoas marginais); k) Pressão de uso agrícola sobre as áreas de recarga dos aqüíferos; l) Escassez hídrica (Norte de Minas); e m) uso indiscriminado de agroquímicos.
Transposição e revitalização da bacia do rio São Francisco

A transposição de águas do rio São Francisco é um projeto que gera muita polêmica. Constitui, basicamente, na utilização das águas do rio para a perenização de rios e açudes da Região Nordeste durante os períodos de estiagens. Os Estados beneficiados seriam: Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará - daí a idéia ser defendida pelos políticos destes Estados; já os políticos de Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe não a aceitam bem, preocupados com os efeitos em seus Estados.
No processo iniciado em 1996 sob o comando da Secretaria de Políticas Regionais - no âmbito do Ministério da Integração Nacional - teve uma fundamentação técnica consistente e se baseava na sinergia hídrica que contempla a otimização dos recursos hídricos próprios das bacias a serem beneficiadas pela transposição. Esses recursos hídricos locais teriam o seu uso otimizado em função da garantia de retaguarda proporcionado pela transposição das águas do rio São Francisco que supririam "os vazios" resultantes das estiagens excepcionais. Com isso, a vazão máxima transposta cairia para 70 m³ s-1 e a vazão média seria da ordem de 30 a 40 m³ s-1.
No início de 1999, foram iniciados os estudos relativos à transposição. A transferência de água está incluída no Programa de Desenvolvimento Sustentável para o Semi-Árido e a Bacia do rio São Francisco. A prioridade, para o governo federal, é melhorar as condições de vida da população que vive às margens do rio ou tem no São Francisco o seu meio de sobrevivência. Hoje as obras de transposição já é realidade e caminha a passos largos. No entanto, o orçamento de 2005 encaminhado pelo governo federal ao Congresso previa recursos da ordem de R$ 1 bilhão para a revitalização do rio em 2006. Em 2006, para 2007, também o valor foi próximo a esse, que é inexpressivo considerando um rio com 2,8 mil km de extensão.
Na avaliação do secretário-executivo do Comitê do São Francisco, Luiz Carlos Fontes, o grande desafio do governo é conciliar a revitalização do rio com a sua transposição. Para Fontes, é preciso ter uma medida justa para revitalização, um compromisso que assegure que isso não vai ficar apenas restrito a um primeiro momento. Contudo, diversos ambientalistas, pesquisadores e técnicos, entre outros, afirmam que a transposição contemplará mais o agronegócio voltado para a exportação do que as famílias nordestinas que mais carecem. Estima-se que 90% das 200 cidades que estão em estado de emergência devido à seca continuarão em igual situação. Além disso, as áreas mais propícias à prática da irrigação estão sendo compradas por produtores do modelo de produção empresarial, estimulando, indiretamente, o êxodo rural e a urbanização.
Sabe-se que seca, o grande problema do semi-árido, não se resolve com grandes reservatórios, por que existem milhares de povoados isolados e dispersos na região que não são e não serão atendidos por eles. E é impossível geograficamente, fazer uma transposição capilarizada que atenda a todos. Muitas vezes, os dutos com água passam ao largo das pequenas propriedades e vão desaguar nos grandes reservatórios de grandes propriedades do modelo empresarial.
Para responder ao questionamento levantado no início do artigo, faz-se uma nova pergunta: afinal, a quem interessa a transposição das águas do rio São Francisco?

* Ambiente Brasil

publicado nosite : Adital

Textos sobre a viagem de Cid Gomes

Jarbas Oliveira/AE
Cid (acima, com a sogra, o sogro, a mulher e a mãe no seu casamento): a viagem a Saint-Martin ainda precisa de
uma explicação convincente

O governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes, é um genro exemplar. Nesta segunda, ele comemora dois anos de casado com a advogada Maria Célia Moura. Nesse período, Cid fez de tudo para agradar à família de sua mulher. No Carnaval, fretou um avião no qual levou a sogra, Pauline Habib Moura, em uma excursão "a trabalho" pela Europa.
O jato foi alugado à empresa de um dos correligionários do governador e pago com 388.000 reais dos cofres cearenses. Na semana passada, Cid justificou a carona. "Foi um pedido da minha mulher. Peço desculpas, mas quero deixar bem claro que não existe nenhuma norma que impeça esse tipo de procedimento. Minha esposa tem 27
anos e uma ligação muito estreita com a mãe", disse. Não foi o único mimo que o governador fez à sua sogra. Em 2007, o primeiro ano de sua gestão, Cid empenhou 2,6 milhões de reais à Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais do Ceará, uma ONG presidida por ela, a sogra do coração, Pauline Moura. Para os padrões
da federação, a contribuição foi de uma generosidade, digamos, filial. No ano anterior, a mesma ONG havia recebido apenas 150.000 reais do governo cearense. Em 2005, a doação foi de 1.500 reais. VEJA procurou Pauline para saber o motivo do aumento da contribuição e o que havia sido feito com tanto dinheiro. A sogra do governador mandou avisar, porém, que ficou deprimida com a divulgação de sua excursão pela Europa e, por isso, não quer falar.

O procurador Francisco Leitão Moura, sogro de Cid, também não tem razão para reclamar do genro. O governador o nomeou coordenador da ExpoCrato, que é a maior feira agropecuária do Ceará e movimenta 15 milhões de reais na cidade de Crato. Cid realizou um sonho do pai da mulher, que havia quinze anos tentava sem sucesso chegar ao posto. Uma das tarefas de Moura é arranjar patrocinadores para a feira. Neste ano, convenceu a empresa de táxi aéreo Easy Air a bancar o evento. Mas isso não parece ter requerido muito esforço. A Easy Air, cujo proprietário é Antônio Disraeli Ponte, amigo de infância de Cid Gomes, conseguiu decolar graças ao governo estadual. A empresa comprou seu primeiro avião em agosto do ano passado. No mês seguinte, alugou outro a fim de participar de uma concorrência de 1,5 milhão de reais para prestação de serviços de táxi aéreo ao governo cearense. A Easy Air ganhou um contrato oficial que sustenta sua operação. Agora mantém três aviões. É uma potência. "A Easy Air presta serviços para o governo do estado mediante licitação", desconversa o amigo de Cid.

Marcos de Paula/AE
Ciro Gomes: a "referência ética" do generoso Cid

O governador não tem mesmo medido esforços para manter satisfeitos seus familiares e amigos mais íntimos. Quando assumiu, encontrou uma restrição na legislação estadual para nomear o chefe da Casa Militar. Pela lei, ele deveria nomear um coronel para o posto. Cid mudou-a para permitir que a função fosse ocupada pelo tenente-coronel Francisco Rodrigues, que o acompanha há mais de dez anos. Ele também colocou Ivo, seu irmão caçula, na chefia do seu gabinete. No Carnaval do ano passado, embarcou com a família e os filhos do deputado Ciro Gomes, seu irmão mais velho, para passear em Saint-Martin, uma paradisíaca ilha no Caribe. O governador permaneceu dois dias na ilha e, depois, seguiu para os Estados Unidos. Passou quatro dias lá e voltou para
Saint-Martin, a fim de levar a parentada de volta a Fortaleza. Cid diz que foi aos Estados Unidos em missão oficial, mas sua ida a Saint-Martin só se tornou conhecida na semana passada. O chefe da Casa Civil de Cid, Arialdo Pinho, diz que o governo estadual pagou apenas o pedaço da viagem entre Saint-Martin e os Estados
Unidos. Segundo ele, o governador teria pago do próprio bolso o trajeto entre Fortaleza e a ilha do Caribe.

A explicação oficial tem dois problemas. Primeiro, o Diário Oficial do Ceará não registra a viagem do governador nem discrimina o desembolso dos recursos que pagaram a "perna" Saint-Martin- Estados Unidos. Confrontado com a divergência, o chefe da Casa Civil alegou que, por inexperiência, usou recursos previstos exclusivamente para a manutenção de sua pasta para pagar as passagens de Cid do Caribe para os Estados Unidos. O segundo problema pode ser mais difícil de explicar. O deputado Nilton Martins afirma que o governador e sua família viajaram de jatinho. Se tiver razão, o transporte dos Gomes para Saint-Martin custou, no mínimo, 250.000 reais, o que equivale à metade do patrimônio do governador declarado à Justiça. Cid se recusa a dar maiores explicações sobre essa viagem e tem pouco a perder com isso. Quarenta e quatro dos 46 deputados estaduais o apóiam. Chegaram a editar um decreto que o desobriga de comunicar suas viagens e de prestar contas sobre o que faz quando está fora. Imune às críticas, Cid disse, na semana passada, que não cometeu crime e
declarou sua fonte de inspiração: o irmão mais velho. "Ciro é minha referência política. Temos os mesmos padrões morais e éticos." Cada um tem a referência que pode.