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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Viva a situação e a oposição - José do Vale Pinheiro Feitosa

Passadas as eleições não é tempo de se acomodar. Se fosse isso deixaríamos de justificar aquilo que motivou a disputa de projetos e visões de mundo. Quando tinha quatorze anos de idade vi a ruptura institucional com o Golpe de 64. Ainda não tinha consciência de tudo que representava aquilo, mas foi evidente que um grande evento na história do meu futuro acontecera.

Depois na universidade estive na geração que pela esquerda política tentou enfrentar o trágico momento do AI5 e no campo da universidade o Decreto 477. Anos depois me tornei grande amigo de Wilson Fadul que fora Ministro da Saúde de Jango e seu articulador no Congresso Nacional. Ele me contou detalhes da intimidade da articulação de Jango, JK e Lacerda na Frente Ampla. Interpretou o quanto a minha geração acirrara o processo com a luta armada.

Mas quem estava no meio do sufoco não via desta maneira, embora o equívoco político seja claro, mas não havia equívoco na qualidade dos quadros e na razão da luta. Enfim a maior parte daqueles anos fomos derrotados. Todos os dias e uma derrota perigosa, pois muitos amigos morreram, fugiram e uma grande maioria se acabrunhava de medo, vivia com a cruz da justa análise e nada por fazer.

Mesmo quando o processo eleitoral aconteceu os vitoriosos não nos convinham e era difícil vencer máquinas eleitorais e a repressão política. Aos que perdem eleições apenas tomem consciência que uma geração inteira foi derrotada anos após anos. A esquerda brasileira de qual matiz tenha foi derrotada a cada eleição e a cada dia da tentativa de se organizar.

A vida não foi fácil, mas a sobrevivência política aconteceu a ponto de elegermos Brizola no Rio e depois um conjunto de políticos banidos pela Ditadura. Termos feito as manifestações pelas Diretas Já e termos perdido na ora fatal. Quando veio a eleição do primeiro presidente civil, foi indireta e a primeira direta fomos derrotados.

Paro aqui. A derrota das esquerdas não impediu que ela formulasse. Que contribuísse para este momento do país, inclusive com a Constituição de 88. O motivo principal é que uma vez havendo base social, em algum momento a influência aparece. Nenhuma força desaparece num processo eleitoral, ao contrário, cresce.

Se fizermos uma reforma política e eleitoral que preserve as forças minoritárias, o Brasil tem muito a lucrar. Muito mais do que aquele bipartidarismo excludente e sufocante que pode estreitar muito a margem de transformação como parece acontecer nos EUA.

Em resumo: eleições não é jogo, embora usem o termo com alguma frequência. Não tem vitoriosos e perdedores no sentido dos jogos. Eleições têm projetos em disputa que por serem votados transformam-se um em face do outro. O jogo situação e oposição continua sendo o mais rico da história. Mesmo quando forças políticas se tornam hegemônicas por muitos anos, elas se modificam dialeticamente pelo exercício do poder e pela ação da oposição.

A emoção da arte - Emerson Monteiro

Visitei o Salão de Outubro do Crato em sua sexta edição, ora sob a coordenação da artista plástica Edilma Rocha, que lidera equipe de pessoas identificadas com a iniciativa, gerando resultados de sucesso.
Numa grata surpresa em termos da qualidade das obras expostas de autores inclusive de outros estados brasileiros, vivi de perto a emoção da boa arte que toca o sentimento e transcende as coisas só físicas e materiais. Nos trabalhos oferecidos aos olhos dos visitantes, pinturas a óleo, aquarelas, técnicas mistas, esculturas, há um passeio pelo mundo da eloquência visual, nestes tempos de tanta tecnologia e indústria, grafismo e mercado de produtos e consumo, velocidades, rumores, vídeos. O clima ocasionado pela arte clássica de telas e objetos trazidos à mostra propicia viagem aos campos das galerias e dos museus que consolidaram o vigor da história da Arte.
Na galeria da RFFSA, em espaço organizado com esmero, senti a força que tem Edilma e seus sonhos das artes plásticas, frutos do talento e da herança familiar que, no Crato, garantiu lugar de destaque na pintura e na fotografia, legenda reconhecida noutras terras, legado de algumas gerações iniciado com o avô Júlio Saraiva, e prosseguiu através dos seus genitores, Edílson Rocha e Telma Saraiva.
Cabe a mim isto de reconhecer aqui o carinho e a dedicação ao VI Salão de Outubro demonstrados por quem este ano o conduziu. Em duas edições da mesma mostra, nos anos de 1977 e 1978, participei de sua organização, juntamente com Luiz Karimai e outros artistas, com exposições situadas no então Parque Municipal, hoje Praça Alexandre Arraes.
O Salão de Outubro deste ano corresponde, pois, em tudo por tudo, ao bom nível das mostras anteriores, reforçando, nesta fase de revitalização depois de algumas décadas, o ímpeto artístico da comunidade cratense dentro do universo rico de criatividade e das produções culturais da Região caririense.