Depois na universidade estive na geração que pela esquerda política tentou enfrentar o trágico momento do AI5 e no campo da universidade o Decreto 477. Anos depois me tornei grande amigo de Wilson Fadul que fora Ministro da Saúde de Jango e seu articulador no Congresso Nacional. Ele me contou detalhes da intimidade da articulação de Jango, JK e Lacerda na Frente Ampla. Interpretou o quanto a minha geração acirrara o processo com a luta armada.
Mas quem estava no meio do sufoco não via desta maneira, embora o equívoco político seja claro, mas não havia equívoco na qualidade dos quadros e na razão da luta. Enfim a maior parte daqueles anos fomos derrotados. Todos os dias e uma derrota perigosa, pois muitos amigos morreram, fugiram e uma grande maioria se acabrunhava de medo, vivia com a cruz da justa análise e nada por fazer.
Mesmo quando o processo eleitoral aconteceu os vitoriosos não nos convinham e era difícil vencer máquinas eleitorais e a repressão política. Aos que perdem eleições apenas tomem consciência que uma geração inteira foi derrotada anos após anos. A esquerda brasileira de qual matiz tenha foi derrotada a cada eleição e a cada dia da tentativa de se organizar.
A vida não foi fácil, mas a sobrevivência política aconteceu a ponto de elegermos Brizola no Rio e depois um conjunto de políticos banidos pela Ditadura. Termos feito as manifestações pelas Diretas Já e termos perdido na ora fatal. Quando veio a eleição do primeiro presidente civil, foi indireta e a primeira direta fomos derrotados.
Paro aqui. A derrota das esquerdas não impediu que ela formulasse. Que contribuísse para este momento do país, inclusive com a Constituição de 88. O motivo principal é que uma vez havendo base social, em algum momento a influência aparece. Nenhuma força desaparece num processo eleitoral, ao contrário, cresce.
Se fizermos uma reforma política e eleitoral que preserve as forças minoritárias, o Brasil tem muito a lucrar. Muito mais do que aquele bipartidarismo excludente e sufocante que pode estreitar muito a margem de transformação como parece acontecer nos EUA.
Em resumo: eleições não é jogo, embora usem o termo com alguma frequência. Não tem vitoriosos e perdedores no sentido dos jogos. Eleições têm projetos em disputa que por serem votados transformam-se um em face do outro. O jogo situação e oposição continua sendo o mais rico da história. Mesmo quando forças políticas se tornam hegemônicas por muitos anos, elas se modificam dialeticamente pelo exercício do poder e pela ação da oposição.