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sábado, 8 de maio de 2010

Pensamento para o Dia 08/05/2010


“O sabor dos alimentos não pode ser apreciado se a pessoa está doente ou se a mente está imersa em outra coisa. Da mesma forma, mesmo se você estiver envolvido em práticas espirituais, você não experimentará o contentamento se seu coração estiver cheio de más qualidades. Você pode saborear a doçura havendo açúcar na língua. No entanto, se houver mesmo um traço de amargura na boca, toda sua boca terá o gosto amargo. Portanto, aqueles que aspiram alcançar a Santa Presença do Senhor devem cultivar bons hábitos, disciplina e nobres qualidades. As costumeiras formas habituais de vida não o levam a Deus automaticamente. Você deve praticar disciplina espiritual (Sadhana) para modificá-la da maneira adequada.”
Sathya Sai Baba

As bases da crise do socialismo no fim do século XX - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Não sendo um substitutivo religioso, o que aconteceu com os partidos que lutavam pelo socialismo nos séculos XIX e XX? Em primeiro lugar, é importante se ter a noção que o socialismo, como idéia política mais bem constituída, surgiu na própria Revolução Francesa. Destacam-se Babeuf, com a Conspiração dos Iguais; os socialistas utópicos franceses e ingleses lá no início do século XIX (Fourier, Saint Simon, Owen etc.) e os Cartistas ingleses que foram os primeiros a incorporar idéias socialistas de democracia, igualdade e coletivismo em movimentos de trabalhadores.

Após a revolução de 1848 na França, quando efetivamente a classe dos trabalhadores enfrentou as estruturas da burguesia, começa, de fato, o movimento socialista que repercute até hoje e que nasce de um documento seminal que é o Manifesto Comunista de Marx e Engels. Deste modo, o socialismo deixa de ser encarado como um ideal para o qual se podiam fazer planos de um futuro Canaã, e passa a ser produto das leis do desenvolvimento do capitalismo. Entenda-se este desenvolvimento com as mesmas bases que Darwin aplicou à evolução da espécie. Ou seja, a transformação que implica em novas formas de estrutura e função. Aliás, em discurso no enterro de Marx, proferido por Engels, ele comparou o papel científico de Marx ao que Darwin tinha feito nas ciências naturais.

Para simplificar, as bases da luta pelo socialismo estavam no desenvolvimento do próprio capitalismo. Nada mais dialético, no sentido filosófico do modo alemão de estabelecer uma análise e um pensamento complexo para o comum da época. Neste desenvolvimento implicam-se as contradições que toda estrutura produtiva tem, qual sejam, os seus limites a partir dos quais deixam de ser. Entre elas grandes questões como: a migração rural urbana gerando excedente de pessoas ao sistema produtivo; o trabalho (infantil, da mulher, jornada, acidentes e doenças etc.); a renda, a aposentadoria, a emergência tecnológica e assim por diante.

A verdade é que todos estes limites, quase quatro séculos de capitalismo, estão presentes em todo o planeta. E nisso é que surge a crise do socialismo histórico em duas fases, antes da primeira guerra mundial e depois da segunda. A primeira crise efetivamente foi o surgimento dos partidos de natureza social democrático, que bebiam nas teses do socialismo. À proporção que estes partidos foram adquirindo natureza de massa, foram tendo que negociar dentro do parlamento e tendo que incorporar os segmentos que emergiram no século XX como a classe média. Com isso se passou a um plano moderado da luta revolucionária e se adquiriu uma natureza extremamente reformista, negociada nos termos do limite do capitalismo e que, por isso mesmo, não só o preservava, como o modernizava e reduzia seus choques com os trabalhadores.

A outra foi a Revolução Russa se tornando a força hegemônica no movimento comunista internacional. Antes que você perceba, esclarecerei uma questão: o movimento comunista internacional não era de natureza idealista, era uma estrutura de análise racional das contradições do desenvolvimento capitalista. Então, a Revolução Russa ao se tornar a força dominante, praticamente subordinou o cenário da luta internacionalista aos objetivos da grande União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Esta contradição foi, ideologicamente, muito bem explorada pelas forças organizadas do pensamento liberal e capitalista.

Quando a União Soviética caiu e todos os Estados que estavam sob sua esfera de influência, mais do que a derrocada do comunismo ou de sua forma autoritária e totalitária, o que se viu foi a emergência de outra fase do capitalismo. Chamado globalizado, criando um sistema de trocas amplas no mundo, envolvendo capitais e mercadorias, além de pessoas de um lado para outro. Quando, por outro lado, os comunistas acabrunhados, passando por intenso revisionismo, se abespinhavam diante da quebra da hegemonia, de modo independente surgiam novas forças contraditórias em todo mundo. Exemplos: o movimento pela preservação do meio ambiente, as lutas contra a globalização, o “terrorismo” islâmico, os embates por ocasião dos encontros do G7 e assim por diante.

A concentração da renda, a liberdade dos capitais e a hegemonia do liberalismo em bases mais sofisticadas de Estado mínimo e da quebra dos direitos sociais, atingiram o outro componente da crise do socialismo, que foi a Social Democracia. Os direitos sociais, mediados pelos Estados Nacionais por meio de suas moedas, estão sobre forte ataque da roda do fluxo financeiro desta nova fase do capitalismo.

O fim da União Soviética não significou apenas o fim do modo de produção socialista, mas o reforço da nova fase do capitalismo, que é o imperialismo. Imediatamente, surgiram pólos alternativos a esta hegemonia, tais como a União Européia e a China. Isto, em 2010, está em plena ebulição. Os EUA, maior representante da forma imperialista está em crise, bem como a União Européia; por sua vez a China se encontra numa encruzilhada, ou bem se acerta no resto do mundo ou se volta para dentro de si.

Na próxima semana, tentarei abordar a difícil questão do que acontecerá, tomando como marco o momento atual. É difícil, porque toda a análise socialista sempre teve, no fundo, a questão da crise final do capitalismo e isso não se viu na prática. A chamada crise final foi, para muitos socialistas, aquilo que os Judeus e depois os Cristãos sempre esperaram, ainda em vida, o retorno do Messias.

No coração da gente - Emerson Monteiro

Passadas se foram situações emocionais e, por vezes, permanecem no âmago do peito, bem no crivo do coração, retardatárias, incoerentes, as mesmas impressões de intenso fervor indefinido nas palavras silenciosas que gritam. Há pouco, impactos vividos no mais profundo da alma pediam gritantes explicações sem resposta, pois dependiam do outros, que duraram dias, meses, existências.
Quais zumbis de qualidade e cores estridentes, tons maiores de ansiedade e desprezo, tais formações nodulosas, invadem a serenidade apenas aparente do cotidiano, filhos diletos das paixões universais, no palco interior desse peito, se arriscam percorrer, por tempo descomunal, os intermináveis corredores dos recônditos lugares do corpo, entra na trilha dos pensamentos através de excursões permanentes de retorno intermitente.
Nisto, bestas solitários portadoras de saudades sombrias, arrastam consigo bolsas pesadas de dúvidas impermeáveis, mágoas fragorosas, culpas sepulcrais, exigências endurecidas, vastas penumbras recorrentes, e, contra a vontade, nos transportam a dimensões reservadas de cavernas escuras, quais guerreiros de dramas ancestrais, postigos de chapéus empoeirados nas jornadas sórdidas da experiência, largados ao abandono diante do monturo supérfluo de horas mortas.
Restos das refeições felizes ali se mexem encarquilhadas, larvas da série da gente nos instantes saboreados quase sempre ao lado de criaturas humanas bonitas, charmosas, fragmentos fantasmas de espelhos desbotados que amareleceram, pétalas secas de livros atirados nas gavetas esquecidas; eles a nos esfregar a cara de palpites pegajosos, reclamos de outras margens impossíveis, erros aflitivos de lances duvidosos, digamos em resumo.
Nalguns momentos, funcionam, sem quaisquer cerimônias, de inimigos da paz interna das tréguas, a chutar contra o patrimônio pessoal. Noutros, agem parecido com micro e dolorosos incidentes suspensos no horizonte do tórax; convergem nuvens de chumbo que teimam em não chover jamais; máscaras de azia, bolos estomacais, cólicas, coceiras...
Só raramente advérbio de modo providencial, menos denso, chega-nos desconfiado em socorro, trazendo notícias de jardins ensolarados, alentos ainda tardios, nervosos, a nutrir de reparo às frustrações lancinantes, marcas vermelhas na vastidão das ilhas abandonadas, testemunhos inconvenientes de perdidos sonhos, amores equivocados, inúteis paisagens das insônias, constelações do universo distante, nos mundos inconscientes; esperanças, talvez, de acasos fortuitos, portais reencarnatórios das soluções futuras, tropel harmonioso dos degraus da verdade eterna.
São os vultos sorrateiros de si próprio, matéria vigorosa da individualidade prepotente, sentimentos, digamos assim, elaborados na ausência da ternura, na busca de termos melhor categorizados.
Bom, nisso de identificar os tais estilhaços flutuantes da corrente sanguínea do ser abstrato e sua dor de existir, império talentoso dos casos clínicos particulares das criaturas atuais, invade-se o tempo da eternidade, nos seis pontos cardeais do intrépido infinito; se chora sozinho, se chora pelos cantos; elaboram-se cantilenas melodiosas, versos quadrados, modernos, perpassados de litanias fragorosas, vendavais insubmissos de súplica que varrem impiedosos as superfícies emolduradas nos eufemismos culturais de letras maiúsculas, decentes, dos valores imortais. Elaborações filosóficas exemplares trabalham as lufadas de tempestade, transformando-as em brisas suaves de manhãs inesquecíveis, conceito civilizado da persistência, feras descomunais extintas se nos mudam mais mansos animais de estimação; quadros fortes de museus; livros encadernados e suas lombadas brilhantes, dose certa depositada nas prateleiras das academias públicas, pedaços conservados nos sarcófagos das gerações futuras; fogueiras apagadas viram rescaldos mornos, a encher de lágrimas doces olhos ardentes...
E cada um rompe o hímen da cena seguinte, com as faces das corujas atormentadas, porém calmas no esquecimento de quem vive com pressão cardíaca nas raias da normalidade, medidas ideais do expediente, destemor na ponta da língua afiada, épicos do espetáculo revivido, máquinas da permanência, seres eficientes do inesgotável destino, altivos palatinos da utopia, páginas de velhos almanaques, último lançamento de grife, etc. Sentimento, generosidade, coração. Expressão, animação, vida. A alma perpétua deste mundo. Veemência de sentimento; entusiasmo, arrebatamento. Pessoa, indivíduo... Arre, quanta letra em espaço tão pequeno só para dizer que dói viver, e angustia sentir paixão não correspondida...