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sábado, 20 de agosto de 2011

O FEITOR MALAQUIAS

Pedro Esmeraldo

Quando percorro as ruínas do antigo Engenho de meu pai, no sítio Pau Seco, neste município, recordo-me das peripécias infantis, onde se fazia as diabruras, já que habilitavam-se ao cair nas confusas brincadeiras no meio da bagaceira, em companhia de outra meninada que morava ao redor deste sítio, vem à tona a lembrança das lutas árduas dos principais trabalhadores desse engenho.
Naquele tempo, não havia moleza e os trabalhadores não eram protegidos pelas intempéries e trabalhavam servilmente para os seus patrões e não ofereciam meios defensivos e tinham que completar com bravura os seus serviços. Todos trabalhavam incessantemente sem parar. Não possuíam acordo de prestação de serviço, porque não havia lei que protegesse da carga de trabalho pesado e perigoso. Comumente havia acidente e os patrões tinham que proteger os trabalhadores às suas próprias custas.
O trabalhador de antigamente era considerado como sendo herói; se sujeitava às imposições, estabelecidas pelos patrões, provocando rigidez e exigência na execução de suas tarefas. Todo trabalhador tinha como obrigação cumprir com assiduidade as tarefas determinadas por eles (patrões).
Também recordo da capacidade de cada um. Observava a maneira de exercer o seu serviço com responsabilidade e com bom comportamento ético.
Por isso, desejo enaltecer uma figura notável que tinha habilidade e conhecimento prático do manejo da agricultura. Era o feitor Malaquias, habilidoso e determinava mais vivacidade que os outros componentes do trabalho.
Possuía um corpo franzino, executava sua tarefa com equilíbrio e era mais habilidoso que todos os outros companheiros. Logo foi determinado como feitor da turma. Conhecedor profundo dos trabalhos agrícolas, agia com determinação e honestidade.
Nasceu no sítio São José no ano de 1902. Portanto, um ano mais novo que o meu pai. Era compreensivo e bondoso. Tornou-se a maior figura no trato das pessoas e amparava o trabalhador, dando respeito e segurança. Trabalhava com freqüência de homem sério e quando encontrava as aflições do trabalho agia com segurança e tenacidade.
Após a morte de meu pai, o feitor Joaquim Malaquias não abandonou a família, ficou na luta cotidiana prestando serviço com força e coragem, praticando as mesmas atividades de outrora.
Recebeu como doação uma gleba de terra no sítio São José e uma mini-fazenda numa localidade denominada São Tomé, no município de Milagres-Ceará.
Após vários anos de luta, alquebrado pelo peso da idade, o feitor Malaquias teve que se afastar do serviço e sobreviveu com o produto da pequena propriedade e da sua aposentadoria até sua morte no final da década de 90.

Crato-CE, 19/08/2011