Isso quer dizer que estamos perdendo valores fundamentais? Acho que em parte é isso, mas não chega a ser toda a verdade. Na verdade a humanidade se transforma há mais de quinhentos anos num ritmo muito mais acelerado do que antes. Neste processo valores se tornaram obsoletos e outros nasceram, além de que muitos mais foram reforçados.
Vejamos a questão do holocausto judaico. A condenação ao genocídio passou a ser um valor universal e muito se deveu à própria luta do povo judeu e de novas vozes a denunciar os regimes políticos e as guerras como momentos tirânicos. A condenação ao genocídio atingiu idéias políticas chaves do século XX, como o Nazifascismo e o Comunismo e até mesmo instituições milenares como a Igreja Católica.
Uma questão chave para a nossa compreensão do momento é a própria internet e o telefone celular. Passamos a ter maior interação entre nós, mais versões sobre o mundo, maior possibilidade de receber e perder informação por substituição dado o enorme fluxo no mundo. Vivemos o momento em que recebemos a informação por via horizontal, bidirecional, entre nós mesmos.
Outro fato é que passamos a ler e ver coisas que antes não vinha a público. A própria noção do público e do privado se modifica, pois o lapso entre os dois universos se estreitou. O próprio conflito ficou mais evidente e o estranhamento mais freqüente, mas certamente, mas tolerante. É que, de fato, não precisamos mais das velas dos navios para explicar a curvatura da terra, existem fotos. Não precisamos de uma única versão, existem várias.
Sobre a questão da responsabilidade. Não imagino que seja um problema de exposição, pois este é um momento de exposição em si. A questão se encontra mesmo é na perseguição pessoal, no ataque a um dos lados da natureza mesmo da comunicação nos dias de hoje (horizontal, bidirecional, entre duas pessoas). E é preciso entender que a própria liberdade de expor implica em aceitar o contrapor. E o contrapor não é negar o outro, nem diminuir sua natureza de troca de informação, mas lhe opor o que expôs.
De vez em quando vemos na internet certo comportamento moleque, carregado de pedradas e palavrões. Isso nunca foi novidade na nossa cultura e há muito soubemos trabalhar estas práticas. Não é incomum que um grande furor argumentativo surja na defesa das idéias. Mas tratar de virulência, também, não é novidade, isso nós sabemos.
Portanto continuo achando que a liberdade na internet é tudo. Até para dizer besteira. O que se pode no máximo é preservar as margens do rio, nunca represá-lo.