Seja colaborador do Cariri Agora

CaririAgora! é o seu espaço para intervir livremente sobre a imensidão de nosso Cariri. Sem fronteiras, sem censuras e sem firulas. Este blog é dedicado a todas as idades e opiniões. Seus textos, matérias, sugestões de pauta e opiniões serão muito bem vindos. Fale conosco: agoracariri@gmail.com

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A inteligência alimentar - Emerson Monteiro

Nós humanos buscamos um jeito bom para equilibrar os elementos da natureza, para achar nisso as fórmulas ideais de viver em harmonia, no mínimo face ao mundo que nos rodeia. Arrumamos defesas que facilitem passar os dias longe dos conflitos que engolem as pessoas. Aqueles mais sabidos rompem obstáculos intransponíveis, exercitando a capacidade que possuem de cruzar as situações e abrir margens e alternativas. E os alimentos que ingerimos também se enquadram nessa ginástica, nestes tempos industriais que desafiam pela propaganda, marcas oferecidas em cada esquina, por meios ardilosos de pouco critério. A luta é fugir das regras químicas de comer o que aparece na nossa tela sem qualquer chance de pensar de outro modo.
O resultado desse totalitarismo alimentar em que se transformaram as ofertas do que sobrou para comer implica, agora, numa aventura radical de saúde fragilizada, corredor lotado nas entradas de um sistema único de saúde assoberbado e filas intermináveis à porta dos consultórios médicos.
Há países de seculares tradições que mantêm a rigidez dos hábitos de alimentação como quem cultiva verdadeiras religiões de sobrevivência. São povos educados nas linhas rígidas e familiares impostas pelos ancestrais e pela comunidade. Veem os costumes quais peças-chave de preservação da natureza a partir da criança e do jovem, impondo respeito às leis das origens milenares, na intenção de uma medicina preventiva. Acreditam serem doenças os sintomas do desequilíbrio imposto ao sistema orgânico através de hábitos errados, guardando, com isso, a conservação da ordem química do corpo à medida que evitam cair em transformações equivocadas e fora de fundamentos conhecidos, inteligentes.
Na fase ocidental dos modos industriais, no entanto, o lucro prevalece acima de tudo, a todo custo, comer casca e nó, levando de eito o que surgir pela frente. As florestas que o digam, após a febre destruidora das reservas a pretexto de exercitar práticas de mercado da madeira e produção de carne, depois seguida dos agronegócios, da soja que domina a colonização amazônica.
Comer e beber hoje se tornam, a cada ano, em atividades de risco jamais imaginado pelos pessimistas. A mesa virou campo de prova de sobrevivência; os pratos, bombas-relógios de que não conhecemos os termos de finais para na saúde. Nossos avôs, às refeições, adotavam a expressão “peixe é que morre pela boca”. No entanto a humanidade parece haver se transformado num rumoroso cardume de variados peixes expostos aos caprichos das bolsas de mercadorias, vagando tontos na maré dos acontecimentos imprevisíveis da civilização.

O MITO DA SOCIEDADE ORGÂNICA - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Composto de partes que podem desempenhar funções diferentes, distintas e coordenadas.” (Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia – André Lalande). Mesmo que seguindo transformações as questões orgânicas não resultam do acaso, mas da organização, teria certo determinismo. Além disso o orgânico se opõe ao mecânico nos termos da filosofia romântica alemã ao se desenvolver resultando de uma força única e não de uma ação exterior ou de uma soma de ações adicionais. Em biologia se refere aos corpos capazes de exercer as funções da vida: alimentação, reprodução, sínteses etc.

Estaríamos vivendo uma metáfora social, antropológica e econômica do orgânico: August Comte chegou a pensar num organismo social – coordenação complementar de seres diferentes que cooperam em virtude destas diferenças. Mesmo quando criticada a metáfora da sociedade como um organismo ela se deitava sobre a visão hegemônica da sociedade burguesa, imaginando-se o “fim da história”, aquele momento em que todos estavam organicamente ligados, sem contradições, pois até mesmo a teoria das defesas, orgânicas como a imunidade, poderia ser utilizada para extirpar a “células cancerosas”.

Vejam que agora mesmo na guerra do alemão no Rio de Janeiro, esta visão deitou e rolou, mesmo entre pessoas com boa crítica às contradições da história. Não muito tempo fui surpreendido com a condenação moral da luta de classes, como se esta fosse meramente uma opção ideológica fundada pelo pensamento marxista e não a erosão da vida real das pessoas.

Este tema é interessante por que a organização do mundo parece cada vez mais ter os riscos orgânicos inclusive a fragilidade do que filosoficamente já se identificava como a “força única”. Hoje mesmo o Wikileaks revela os centros nevrálgicos da defesa americana no mundo todo. Até o cabo de fibra ótica da costa brasileira que faz um nó na costa de Fortaleza é considerado “vital” para a sociedade americana. Estão elencados oleodutos na Rússia, minas de Manganês no Brasil, mineração de ferro, minas de cobalto no Congo e assim por diante, como “órgão” do grande organismo imperial americano.

Agora mesmo vejam a dimensão do que acontece neste momento comigo. Estou aqui escrevendo num computador, conectado na rede mundial, pesquisando automaticamente na rede e na minha biblioteca, para depois enviar para os sites do Cariri. Antes das 10 horas alguém já estará lendo aquilo e ainda estou neste período. Então, imaginem se um simples cabo se romper: nada do faço e farei poderia acontecer. Mesmo que a sociedade ainda tenha “colaterais” para desviar o fluxo de informações para chegar ao destino.
Enfim, estão nos passando uma visão de organicidade global e totalitária tão somente para que se torne aceita a desigualdade econômica e social entre as pessoas e que cada vez mais as cabeças se tornem meras células da aceitação da versão do mundo forjada pela cultura dominante. Hoje se estima que a perseguição dos EUA ao Wikileaks pode gerar uma nova “Internacional” anti-hegemônica, anti-globalização que traduza cada pessoa em seu diferencial na sociedade.

Mesmo a visão de Gaia, a terra como um organismo vivo pode sofrer críticas.