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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Por estradas poeirentas – Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

A primeira vez que eu fui a São Paulo e Rio de Janeiro, foi um presente de quinze anos que ganhei dos meus pais e do meu tio Osório Ribeiro da Silva. Este me deu as passagens até São Paulo, através da sua empresa de ônibus Real Caririense. Restou a meus pais a parte financeira, que não era muita porque eu ia me hospedar na casa de familiares.

Ainda hoje sou agradecida àquelas pessoas que me proporcionaram essa agradável viagem. Para uma menina de quinze anos, tímida, que o lugar mais distante que conhecia antes era Fortaleza, foi uma grande aventura conhecer Rio e São Paulo.

Naquela época, até Feira de Santana a estrada não era asfaltada. Os ônibus viajavam de dia e pernoitavam nos hotéis. Foram muitas as aventuras, percorrendo muitas estradas, passando em vários estados e cidades, atravessando o Rio São Francisco numa balsa e tantas outras experiências que serviram para meu crescimento.

Não viajei sozinha, fui recomendada por meus pais à professora dona Lourdinha Esmeraldo, pessoa que gozava de grande respeito e prestígio na cidade do Crato pela bondade que possuía. Ela viajava também na compainha de dona Assunção Esmeraldo e da jovem Teresinha Esmeraldo. Três pessoas maravilhosas com quem eu convivi durante a viagem e, que me deram exemplos de bondade, amizade e solidariedade.

Na primeira noite que pernoitamos num daqueles hotéis, que chamávamos de “hotéis de beira de estrada”, quando nós quatro chegamos ao quarto, observamos que havia três camas e uma rede. Ainda bem que cada uma de nós levava dois lençóis: um para se enrolar e outro para forrar a cama, que sabíamos não ser higiênica. A rede exalava aquele mau cheiro por ter sido usada muitas vezes sem lavagem. Mas a boa educação nos manda que devemos tratar bem os mais velhos e por isso, eu me ofereci para dormir na rede. Dona Lourdinha logo disse que gostava mais de rede. Mas desconfio que ela, por ter tanta bondade no coração, quis nos poupar eu, dona Assunção e Teresinha de dormir na rede suja. Eu fiquei aliviada.

Quando chegou perto de Canudos, num local que só tinha um bar que servia café e bebida, o ônibus “deu prego”. Ficamos a manhã toda e parte da tarde nesse local, que não tinha o que comer. Dona Lourdinha, com a praticidade dela, perguntou o que tínhamos levado para a merenda. Eu tinha biscoito e uma lata de leite condensado, as outras tinham pão e mais biscoitos. Ela, como uma boa bebedora de leite, como a maioria dos Esmeraldo, gostou, porque misturando o leite condensado com café dá um gostoso café com leite.

Dona Lourdinha fez amizade com o motorista do ônibus e com os demais passageiros, medicando quando alguém adoecia, pois prevenida e experiente como ela era, tinha tudo que precisasse numa emergência: remédio para dor de barriga, dor de cabeça, mal estar e tudo mais. Eu e todos os demais passageiros sentíamos segurança em viajar com ela, uma verdadeira líder, ajudando a todos, que com a convivência se tornaram além de companheiros de viagem, amigos.

Depois de muita estrada, paradas para almoços, jantares e banhos chegamos a São Paulo. Dona Assunção ficou em Taubaté na casa de um filho. Dona Lourdinha, Teresinha e eu fomos para casa de meu tio Osório, que no outro dia, iria nos levar de carro ao Rio de Janeiro. Ele nos levou para jantar em um grande restaurante, mas chovia e o frio era tão intenso, que eu não pude aproveitar aquela noite, pois não tinha levado agasalho. Como eu era acostumada ao calorzinho do Crato me tremi de frio.

No outro dia seguimos viagem para o Rio de Janeiro. Dona Lourdinha ficou hospedada na casa de um irmão dela em Copacabana, juntamente com Teresinha. E eu fiquei na casa da minha tia Lili, bem próximo. Esta fez todos os passeios turísticos comigo: Pão de Açúcar, Corcovado, praias, cinemas e outras coisas mais. Com dona Lourdinha e Terezinha fui também a muito locais e pontos turísticos.

Tudo para mim era novidade, até o picolé Kibon, que ainda não tinha no Crato. Também foi a primeira vez que comi pizza. Lembro-me que Dionê Albuquerque, amiga de mamãe, que estava de férias no Rio, me telefonou convidando para almoçar uma pizza. Achei uma delícia!

Um passeio que muito me marcou foi conhecer a ilha de Paquetá, com suas charretes e tantas belezas naturais. Vendo aquelas lindas paisagens da ilha, lembrei-me do romance “A Moreninha” de Joaquim Manoel de Macedo, que ali era passado.

Meus primos cariocas me levavam para tomar sorvete e ficavam puxando conversa comigo, talvez me achando tímida.

Essa viagem me deu oportunidade de aprender muitas coisas e até fiquei mais desenrolada, vencendo um pouco a minha timidez. Aprendi a pegar ônibus sozinha para encontrar Dionê e juntas assistirmos a uma comemoração na praia. Era a festa dos quatrocentos anos do Rio de Janeiro. A praia estava lotada de gente para assistir as acrobacias dos aviões. Tudo muito bonito, quando de repente um dos aviões fez uma manobra tão baixa, que não conseguiu levantar vôo. Ouvimos um forte barulho. Era o avião caindo no mar. Todos ficaram calados, chocados por terem presenciado essa tragédia tão de perto, e saber que o piloto havia morrido ali na nossa frente. Eu fiquei assustada e trêmula por presenciar aquela tragédia. A multidão se dispersou e as comemorações foram canceladas naquele momento.

Toda a viagem, desde o momento que saí do Crato, e mais os dias que passei no Rio de Janeiro foram um aprendizado e uma aventura para mim. Convivi com pessoas que tinham um modo de vida diferente. E isso foi importante para o meu crescimento e amadurecimento pessoal.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo



A CELEBRAÇÃO DO ENCANTAMENTO

Veja recente atualização da lista de homenageados na festa "A Celebração do Encantamento" no link: http://cariri-encantado.blogspot.com/

Ouvimos todos e consideramos algumas sugestões.

Luiz Carlos Salatiel
Presidente da OCA – Officinas de Cultura e Artes

O grande negócio da saúde - por José do Vale Pinheiro Feitosa

O fato de reconhecermos que praticamente todas as grandes atividades humanas se tornaram negócio no imenso mercado do capitalismo global, não as exime de profundas críticas. A questão dos transgênicos, por exemplo, aguçando a monocultura, é muito mais, pois é a reserva da natureza em mãos de multinacionais ávidas por lucro. Com isso “escravizam” ao comércio as coisas essenciais para a vida, como águas e alimentos.

Isso acontece nas coisas do “espírito” como a cultura e as artes. Absorve as normas gerais da sociedade como a ética e atinge quase toda a subjetividade que seria o território do indivíduo. A vida, desenvolvida por meio da troca mercantil é uma redução a preços e renda. Quem tem renda, pode pagar o preço; quem não tem, está fora.

Além de tudo, com o “espírito selvagem” do acúmulo monetário, uma subjetividade travestida de realidade, estabelece-se, como em compartimentos definitivos, as classes dos que podem e não podem. A competição como regra, gerando o mais capaz, apenas diz isso que a frase diz: seleção do mais capaz. Em absoluto não fala do mais ético, do mais solidário, da maior irmandade ou da mais perfeita humildade. Fala tão somente da capacidade de ganhar, acumular e daí impor sua vontade aos demais. Portanto é antidemocrático.

A falácia do mais capaz se camufla com a “fama”, o “sucesso”, a “hegemonia”, o “domínio”. Todas são características do autoritarismo, do totalitarismo e da agressividade sobre os demais. Portanto falamos do estímulo à violência, à canalhice, ao comportamento predatório. Por isso ao gerar este tipo de gente, a dinâmica origina inimigos da população, senhores da exploração do trabalho, rebaixamento dos valores éticos e morais e submete, como todo totalitarismo, toda a religiosidade remanescente, especialmente a institucional das igrejas estabelecidas.

Uma das críticas mais agudas é o que resultou na medicina mercantil. Modelo adotado no Brasil, inclusive por força Constitucional. Esta medicina é um grande campo para exploração das multinacionais da tecnologia de base científica. Tem os seus “capitães do mato” com uma voracidade desmesurada para o lucro, transformando qualquer erisipela num perfeito objeto de exploração e vantagens. O fetiche da mercadoria na saúde se tornou um dos mais cruéis possíveis. Assemelha-se muito àquele do Complexo Industrial Militar.

O objeto da medicina moderna é o procedimento, é este medidor de preço que move toda a ação. O velho termo “paciente” da medicina liberal cai como perfeição à exploração mercantil. O paciente está no centro cirúrgico – calcule os lucros -, se encontra no CTI – multiplique as cifras -, é mero procedimento ambulatorial – invente outros procedimentos adicionais. O modo como tudo anda, especialmente o Brasil, este continente dividido entre a “ética” européia e a americana, a “venda” é mais importante que a saúde.

O mais grave é que mesmo numa situação em que uma geração de profissionais de saúde que lutaram por um modelo mais Social-Democrata, que dirige o Ministério da Saúde, ainda não foi capaz de regular profundamente o uso da tecnologia em volúpia de lucro. Não existe nada que enfrente o atual modelo de exploração por procedimentos e isso é tão intensivo que tornou a Saúde Pública feita pelo Estado e a Saúde Suplementar financiada por fundos mútuos privados, em coisas absolutamente iguais. Os consultórios, as emergências, as enfermarias e os compartimentos de alta complexidade são iguais no SUS e na Saúde Suplementar. Aliás, tem uma pequena diferença na Saúde Suplementar: grandes “armários” vestidos de paletó preto com rádios transmissores na lapela, dispostos em portarias, portas de elevadores e corredores.

E tem uma coisa mais grave e que os partidos políticos não enfrentam. Os trabalhadores com carteira assinada caíram na grande rede do fetiche da mercadoria. Até mesmo o atual Presidente da República não consegue enxergar o problema. A verdade é que sindicatos cada vez mais negociam Planos de Saúde em substituição a ganhos em salário. A inversão da pauta é perfeita: ao invés de um imposto universal para financiar uma saúde pública nos termos primários da Constituição, os trabalhadores deixam de ampliar sua renda pessoal, em benefício do grande negócio da saúde.

Grande negócio cuja finalidade é o lucro. Nem marginalmente se pode considerar como “produtor” de saúde esta dinâmica mercantil.

Pensamento para o Dia 27/05/2010


“Cada pessoa deve levar sua vida de modo que não cause nenhuma dor a qualquer ser vivo. Esse é o dever supremo. Além disso, é dever de todo aquele que teve a chance deste nascimento humano de poupar uma parte das suas energias ocasionalmente para oração e repetição do nome do Senhor. É preciso dedicar-se a uma vida de verdade, retidão, paz e boas obras a serviço dos outros. É preciso ter medo de fazer atos que sejam prejudiciais a outras pessoas ou ações que causem pecado, assim como se tem medo de tocar fogo ou perturbar a cobra. Deve-se ter muito apego e firmeza na execução de boas obras, em fazer os outros felizes e adorar ao Senhor, do mesmo modo como agora se tem para acumular ouro e riquezas. Essa é a ação correta (Dharma) de cada ser humano.”
Sathya Sai Baba