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quinta-feira, 27 de maio de 2010

O grande negócio da saúde - por José do Vale Pinheiro Feitosa

O fato de reconhecermos que praticamente todas as grandes atividades humanas se tornaram negócio no imenso mercado do capitalismo global, não as exime de profundas críticas. A questão dos transgênicos, por exemplo, aguçando a monocultura, é muito mais, pois é a reserva da natureza em mãos de multinacionais ávidas por lucro. Com isso “escravizam” ao comércio as coisas essenciais para a vida, como águas e alimentos.

Isso acontece nas coisas do “espírito” como a cultura e as artes. Absorve as normas gerais da sociedade como a ética e atinge quase toda a subjetividade que seria o território do indivíduo. A vida, desenvolvida por meio da troca mercantil é uma redução a preços e renda. Quem tem renda, pode pagar o preço; quem não tem, está fora.

Além de tudo, com o “espírito selvagem” do acúmulo monetário, uma subjetividade travestida de realidade, estabelece-se, como em compartimentos definitivos, as classes dos que podem e não podem. A competição como regra, gerando o mais capaz, apenas diz isso que a frase diz: seleção do mais capaz. Em absoluto não fala do mais ético, do mais solidário, da maior irmandade ou da mais perfeita humildade. Fala tão somente da capacidade de ganhar, acumular e daí impor sua vontade aos demais. Portanto é antidemocrático.

A falácia do mais capaz se camufla com a “fama”, o “sucesso”, a “hegemonia”, o “domínio”. Todas são características do autoritarismo, do totalitarismo e da agressividade sobre os demais. Portanto falamos do estímulo à violência, à canalhice, ao comportamento predatório. Por isso ao gerar este tipo de gente, a dinâmica origina inimigos da população, senhores da exploração do trabalho, rebaixamento dos valores éticos e morais e submete, como todo totalitarismo, toda a religiosidade remanescente, especialmente a institucional das igrejas estabelecidas.

Uma das críticas mais agudas é o que resultou na medicina mercantil. Modelo adotado no Brasil, inclusive por força Constitucional. Esta medicina é um grande campo para exploração das multinacionais da tecnologia de base científica. Tem os seus “capitães do mato” com uma voracidade desmesurada para o lucro, transformando qualquer erisipela num perfeito objeto de exploração e vantagens. O fetiche da mercadoria na saúde se tornou um dos mais cruéis possíveis. Assemelha-se muito àquele do Complexo Industrial Militar.

O objeto da medicina moderna é o procedimento, é este medidor de preço que move toda a ação. O velho termo “paciente” da medicina liberal cai como perfeição à exploração mercantil. O paciente está no centro cirúrgico – calcule os lucros -, se encontra no CTI – multiplique as cifras -, é mero procedimento ambulatorial – invente outros procedimentos adicionais. O modo como tudo anda, especialmente o Brasil, este continente dividido entre a “ética” européia e a americana, a “venda” é mais importante que a saúde.

O mais grave é que mesmo numa situação em que uma geração de profissionais de saúde que lutaram por um modelo mais Social-Democrata, que dirige o Ministério da Saúde, ainda não foi capaz de regular profundamente o uso da tecnologia em volúpia de lucro. Não existe nada que enfrente o atual modelo de exploração por procedimentos e isso é tão intensivo que tornou a Saúde Pública feita pelo Estado e a Saúde Suplementar financiada por fundos mútuos privados, em coisas absolutamente iguais. Os consultórios, as emergências, as enfermarias e os compartimentos de alta complexidade são iguais no SUS e na Saúde Suplementar. Aliás, tem uma pequena diferença na Saúde Suplementar: grandes “armários” vestidos de paletó preto com rádios transmissores na lapela, dispostos em portarias, portas de elevadores e corredores.

E tem uma coisa mais grave e que os partidos políticos não enfrentam. Os trabalhadores com carteira assinada caíram na grande rede do fetiche da mercadoria. Até mesmo o atual Presidente da República não consegue enxergar o problema. A verdade é que sindicatos cada vez mais negociam Planos de Saúde em substituição a ganhos em salário. A inversão da pauta é perfeita: ao invés de um imposto universal para financiar uma saúde pública nos termos primários da Constituição, os trabalhadores deixam de ampliar sua renda pessoal, em benefício do grande negócio da saúde.

Grande negócio cuja finalidade é o lucro. Nem marginalmente se pode considerar como “produtor” de saúde esta dinâmica mercantil.

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