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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Que é isso? Um leão que reza? – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Poucas famílias cultivam o saudável hábito de agradecer a Deus as refeições que fazem. Aliás, não somos muito de agradecer as graças que Deus constantemente derrama sobre todos indistintamente. Nós pedimos em demasia, mas pouco agradecemos os benefícios recebidos.

Há alguns anos, reunidos com um grupo de amigos, refletíamos sobre a necessidade de agradecer a Deus e pedir bênçãos pelo alimento de cada dia. Alguém leu numa revista, uma pequena história que ficou martelando minha cabeça. Numa época em que se pretende promulgar uma lei que deveria existir no coração de cada pai e mãe, qual seja: formar e educar os filhos com amor e não com palmadas, vi nessa história uma forma diferente, criativa e sem violência de como um pai deve instruir os filhos. Principalmente quando se pretende impor alguma regrinha que eles não desejam cumprir.

Um pai de três crianças, ao participar de um retiro religioso, retornou à sua casa decidido a fazer orações de agradecimento antes das refeições. “De hoje em diante nós vamos rezar antes do almoço e do jantar.” Ordenou o pai, sob protestos imediatos dos filhos. “Xi, pai, rezar? Isso é muito careta!” Protestou um dos meninos. Então o pai com muita habilidade perguntou: “Está bem, mas contar uma historinha pode?” “Ah, será muito legal!” Disseram todos a uma só voz. E o pai contou a seguinte história.

Um caçador estava numa floresta da África fazendo uma grande caçada. Quando já retornava para casa, deu de cara com um enorme leão à sua frente. Não perdeu tempo. Todo trêmulo, apontou a espingarda bem na testa do leão e deu um tiro. Mas errou. Era a última bala que havia. Então fechou os olhos e esperou ser devorado pelo leão. Passados uns dois minutos, que lhe pareceram séculos, pensou que o leão havia desistido de lhe devorar e fora embora. Mas quando ele abriu os olhos, o leão estava à sua frente, de joelhos, mãos postas e olhando para o céu dizia: “Meu Deus, eu vos agradeço este alimento que colocaste na minha mesa.” As crianças gostaram muito da história.

No dia seguinte, à hora do almoço, os meninos já estavam sentados, quando o pai ordenou: “Levantem-se todos!” Em seguida perguntou: “Como foi que o leão disse diante daquele caçador lá na África?” E as crianças responderam: “Meu Deus, eu vos agradeço este alimento que colocaste...”

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

CRIAR MUNICÍPIOS PRÁ QUÊ E PRÁ QUEM? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Aqui na distância parece que existe um furor separatista no cariri. Distritos desejam emancipar-se e os deputados, com vistas às suas campanhas eleitorais deste ano, aprovam, pois tudo se justifica quando o objeto da justificativa é o voto popular. Um desejo histórico de possuir “currais eleitorais” entre os futuros munícipes.

Aí se pensa em mais uma partilha nos diversos fundos dirigidos aos municípios, nos gastos com a burocracia necessária e para fazer funcionar os poderes. Não imagine que tudo vai se resumir ao legislativo e ao executivo municipal: tem repercussões deste o endereçamento postal até no judiciário e nas políticas estaduais.

A criação de municípios é tão grave que não poderia ser objeto apenas da representação política, mas sim da democracia direta. Por que todos os eleitores do Crato não podem votar num plebiscito para saber se é conveniente criar o município de Ponta da Serra? Qual é a lógica por trás desta decisão?

Alguém dirá que Ponta da Serra está prejudicada por ser distrito do Crato. Vamos discutir o assunto? Apresentar os argumentos. Então Santa Fé poderia igualmente pensar em algo. E toda a região do Belmonte com a encosta criando um município de terras altas? Deste modo a justificativa pode ser qualquer uma. Mas é preciso parlamentar com o povo.

Vamos que Ponta da Serra não tenha o que merece. Isso se resolverá com a separação? De modo algum estará garantido. Não existe uma racionalidade de eficiência neste furor de criar municípios no Brasil. Agora que tal os nossos representantes na Assembléia Legislativa promulgar e regulamentar uma lei na constituição do estado que garanta a plena defesa dos distritos em relação às suas sedes e ao poder executivo municipal?

Por que não se aperfeiçoam os mecanismos de exercício municipal criando orçamentos distritais, políticas distritais, controles sociais e outros instrumentos que garantam o equilíbrio entre as partes? Isso garantiria muito maior eficiência na gestão do que a criação de mais uma máquina a consumir meios para a função dela mesma.

A discussão da criação destes municípios está fora de lugar e me chamou muito atenção que entre aqueles que escrevem nos blogs, só o Pedro Esmeraldo tocou no assunto. E o mais grave um assessor da prefeitura do Crato chegou a justificar a criação do município de Ponta da Serra e eu não entendi mais nada. Ou entendi tudo?


“Pobre não é um
Pobre é mais de cem
Muito mais de mil
Mais que um milhão
E vejam só...
E só de vez em quando
Pobre é feliz”
(Cicatrizes, Zé Kéti)

ZÉ KÉTI

Por Zé Nilton

Em dezembro de 1964 o parafuso da ditadura militar implantada no Brasil em 31 de março daquele ano ainda não havia iniciado o aperto ao madeiral das artes e dos artistas no país.

Estamos no momento do grande movimento no teatro brasileiro com repercussão significativa para a Música Popular Brasileira. Dois renomados compositores compunham o elenco do Show Opinião – João do Vale e Zé Kéti. Duas trajetórias de vida com origens de classe e de cor parecidas. Igualmente donos de uma musicalidade a serviço da transformação do homem e do mundo.

O inspirado compositor e poeta José Flores de Jesus – na carteira de identidade do Brasil de baixo - confirmam a tese do eminente crítico Tinhorão. Os compositores cariocas são oriundos das classes subalternas da sociedade, sobrevivendo de pequenos ofícios ou de empregos de baixo status no funcionalismo público. Zé Kéti chegou a largar a vida de artista para trabalhar como soldado de Polícia no Rio nos começos da década de 1940. Assim como Lupicínio Rodrigues e tantos outros, a corporação não segurou a inquietude rolando na cabeça do soldado Flores.

Cantou o mundo em que viveu e por via de conseqüência produziu uma vasta obra de inegável valor para a identidade de nossa musicalidade. O morro, a periferia, os botequins, os lugares dos pobres são espaços marcantes na poética denunciadora deste excelente compositor brasileiro.

Naqueles idos dos anos de chumbo e até recentemente a nossa classe média acalentava o sonho (o discreto charme da burguesia?) de transformação social de realidade teimando buscar nas raízes culturais brasileiras seu suporte teórico para a ação revolucionária. Foi nesta que o Teatro de Arena – lá estão Augusto Boal, Oduvaldo Viana, Armando Costa, Paulo Pontes, Tereza Goulart, CPC da Une – elevou o experiente compositor Zé Kéti à condição de artista cênico.

A peça Opinião foi baseada na sua música. A opinião de um caboclo que reinventa o cotidiano “apesar de você” e dos dissabores da vida de pobreza:

“Daqui do morro eu não saio não
Se não tem água eu furo um poço
Se não tem carne eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar”
...(Opinião).

Igualmente, suas músicas são transformadas em trilhas sonoras nas películas de Nelson Ferreira dos Santos, Roberto Santos, Leon Hirszman, Cacá Diegues...

Nossa homenagem ao renovador da Música Popular Brasileira, no programa Compositores do Brasil desta quinta.

De conversa em conversa, apresentaremos um pouco de sua história enquanto ouviremos:

ABERTURA, com Zé Kéti, Nara leão, João do Vale etc.
CICATRIZ, Zé Kéti e Hermínio Belo de Carvalho com Zé Kéti
PEÇO LICENÇA, de Zé Kéti com Zé Kéti
A VOZ DO MORRO, de Zé Kéti com Os Demônios da Garoa
O FAVELADO, de Zé Kéti com João do Vale, Zé Kéti e Nara Leão
MALVADEZA DURÃO, de Zé Kéti com Elizeth Cardoso
PRAÇA 11, BERÇO DO SAMBA, de Zé Kéti com Zé Kéti
VOCÊ NÃO FOI LEGAL, de Zé Kéti e Celso Castro, com Wilson Miranda
DIZ QUE FUI POR AI, de Zé Kéti Hortêncio Rocha, com Zé Kéti
OPINIÃO, de Zé Kéti com Zé Kéti
NEGA DINA, de Zé Kéti com Zé Renato & Alcione
MASCARADA, de Zé Kéti e Elton Medeiros, com Zé Kéti
MÁSCARA NEGRA, de Zé Kéti com Zé Kéti

Quem ouvir verá!

Informações:
Programa Compositores do Brasil
Sempre às quintas-feiras, de 14 horas as 15 h.
Rádio Educadora do Cariri – 1020 kz
Pesquisa,produção e apresentação de Zé Nilton
Retransmitido pela www:cratinho.blogspot.com

A coisa certa, na hora certa - Emerson Monteiro

Tantas vezes nos pegamos a considerar se agora estamos onde deveríamos estar, que, ao menor sinal de desencanto, queremos logo saber qual seria um outro jeito de agir e procurar alguma inspiração que satisfizesse as nossas ações improvisadas. Por isso, existem os jogos de azar e os ledores da sorte espalhados neste chão.
As voltas que dá o mundo impõem condições rigorosas no uso do tempo e da liberdade. E uma palavra dita fora de hora, ou de maneira equivocada, corre o risco, não raras vezes, de cobrar preços elevados em termos de sofrimento, o que leva a pensar se haveria outros modos de trabalhar a vida e acertar com mais frequência, sem a presença tão rotineira do erro.
As considerações filosóficas criam esquemas de as pessoas funcionarem com mais sucesso quando gastam idade e saúde, estudos esses que demonstram, em mil doutrinas, religiões tradicionais, saídas particulares e até aventuras errantes, desastrosas, quanto à existência.
Os autores mergulham fundo nessa busca de rever o tempo que passou nas suas vidas, um esforço extremo de consertar aquilo em que falharam, e recuperar a fase auspiciosa da juventude, através dos frutos aprendidos nas experiências. No entanto, o que passou, passou; não volta mais; no que pesem as belas produções artísticas disso resultantes. Lindas melodias, raros livros, telas afamadas.
Os rastros deixados na estrada desta vida significam aquilo em que se transformaram os verdes anos de cada criatura, marcas fixadas no próprio corpo das pessoas, sobretudo na face engelhada, olhares cansados, caminhar incerto; nos dentes perdidos, barriga aumentada, frágil musculatura.
- Ah, se, quando jovem, eu soubesse do que agora sei tudo seria bem diferente na minha história, – afirmam de alguns espectadores arrependidos. Se, palavrinha poderosa, contudo, neste caso, ineficaz para gerar novas consequências. O que significa mesmo já ficou gravado nas trilhas da eternidade, restos de saudades, frustrações, lembranças.
Daí essa dúvida recorrente de saber sempre do lugar certo e da coisa certa ao se encaminhar durante cada momento. Parar e pensar, calcular, planejar, pois todo cuidado é pouco, na utilização dos dons preciosos de existir e dispor da saúde enquanto andamos nesta jornada cotidiana.
Uma crença positiva e as largas esperanças enchem os dias, alegram o espírito e alimentam o trato com os nossos semelhantes, isto sem preconceito e com animação e respeito, nutrientes essenciais da boa convivência. Naquilo que ignoramos, a realidade ensina que sábio é quem planta o bem para depois colher as dádivas da santa felicidade.