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domingo, 6 de dezembro de 2009

E deu flamengo. - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Ali pelas três da tarde o Rio começou a esvaziar suas ruas. Não tanto quanto uma copa do mundo, mas uma evidente vazão. A não ser as poças de gente ao redor dos bares, em praças.

Agora aqui no entorno do meu ouvido só escuto a festa do povo. Buzinas, tambores, gritos, cantos, fogos, até o céu permanece azul apesar de já estarmos com um intenso dourado no pôr do sol. O Rio viveu um dia especial de futebol: o Vasco voltou à primeirona, o Botafogo e o Fluminense não se rebaixaram.

Mas o grito que ecoa nos céus é o flamengo. Meu filho, de volta do marcanã, acaba de me telefonar ainda da estação do Largo do Machado: foi sofrido pai. Ouviu Carlos Esmeraldo, foi sofrido, o Grêmio não deu mole não. Não tinha motivo para dar mole. Claro que tinha motivo de derrubar esta potência de torcida em pleno Maracanã. Não quero exagerar, mas seria igual a um Uruguai (aliás são tudo daquela região mesmo) nos tirando a copa de 50 em pleno Maracanã.

E o melhor de tudo. Sabe pela cabeça de quem? De um caririzeiro. De um caririense. De um cabra humilde que, chorando, disse para as câmaras da globo: é algo especial, eu como jogador, eu como torcedor do flamengo viver este momento. Nesta horas eu queria ter a cabeça de um Ronaldo Angelim.

Maracanã Cheio: FLAMENGO CAMPEÃO - por José do Vale Pinheiro Feitosa

O sábado foi concentrado. Choveu a maior parte do tempo. À noite explodiram as luzes da Árvore de Natal da Lagoa. Pareciam anunciar o espetáculo do dia seguinte. Somos milhões ali no quarto em que ouvia os fogos, no apartamento de baixo e no de cima, na esquina, belo bairro, na cidade e no Brasil.

O domingo acordou claro com nuvens brancas numa brejeirice de chorinho. São tantas esperanças. A vitória e o campeonato depois de tantos anos. Mandingas. Afeições aos objetos com os quais se viram as vitórias que conduziram os flamenguistas até hoje. Atos de fé. Tudo como uma imensa certeza, pendente dos deuses do futebol, imprevisíveis e marotos.

O Grêmio cede. Ninguém no futebol pode passar para a história fazendo corpo mole. O Peru passou uma boiada de gols argentinos na copa de 78 e até hoje amarga uma decepção de sua torcida. O Equador e a Bolívia têm muito mais graça. Contando, é claro com a localização de suas capitais, pois Lima fica no nível do mar igual ao Rio de Janeiro.

O flamengo tem de ser campeão com as próprias pernas. Comandado pelo Andrade aquele do timaço dos anos oitenta. O primeiro negro a comandar um time de futebol no olimpo da pelota brasileira. As coincidências são tantas e os desejos iguais que o domingo de Maracanã ficará para a história. Será o grande evento antes do gigante adormecer para reformas até a copa do mundo aqui no país.

Á noite, rouco, com a alegria plantada bem aqui no meu peito. Estarei vitorioso. Terei conquistado o mundo. A vida, a posição no arco das incertezas do improvável mundo. Certo que nesta noite tudo estará resolvido. Encaixado. O mundo é bem luminoso como ontem foi a árvore de natal da Lagoa.

Mas e se não for assim? Se a derrota baixar como um temporal no meu ser? Se a noite se prolongar no silêncio dos torcedores do flamengo? Se nos bares chorarmos os lances que poderiam e não foram? Se for uma madrugada de frustrações e a segunda uma enxurrada de gozação dos adversários?

Não tem nada não. Numa sociedade que nos obriga a ser vencedor. Que detesta os perdedores. Que vangloria as estrelas. Numa sociedade tão competitiva como nos vendem, estarei coletivamente entre os derrotados. Somos tantos e milhões que a nossa derrota se torna a limpeza destas derrotas a conta gotas do dia-a-dia em nossas profissões e no salário que não termina o mês.