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domingo, 4 de maio de 2008

TANTA UNIVERSIDADE E NENHUMA UNIVERSIDADE – José do Vale Pinheiro Feitosa

A Universidade não é uma universidade. Como instituição existiram, ao longo da história, papéis diferentes para ela, tanto no tempo como nas sociedades. A cada sociedade um tipo de "universidade" era instituído para a missão que seu projeto de povo ou, posteriormente, nação requeria. A universidade Européia foi se tornando de fato em algo universal, à proporção em que a herança do mundo greco-romano foi se espalhando, a idade média expandiu esta herança além das ordens religiosas, o renascimento as urbanizou e finalmente chegou-se ao que se chama cultura ocidental. Com a organização das modernas ciências, mais experimentais e o avanço rápido das tecnologias de base científica ao passo da industrialização pela mudança na produção e pelo capitalismo na ordem econômica a universidade mudou de patamar. Ficou mais estratégica para os fundamentos dos Estados Nacionais. E foi assim que no século XX as universidades americanas surgiram, como um instrumento político, social e econômico do processo de acumulação daquela nação.

A URCA, salvo erro de avaliação, quando ainda não era uma universidade começa como um prolongamento avançado do ensino de base católica, tanto do seminário São José quanto dos diversos colégios religiosos. É bem verdade que outras iniciativas como a do comércio pela Escola Técnica tenha também o seu papel. Na verdade o projeto de universidade foi se modificando no próprio processo. Há que se considerar que o Nordeste brasileiro, nos idos dos anos 50 e 60 era um centro otimista da idéia de planejamento que lhe redimisse do estágio atrasado para um patamar de capitalismo mais estruturado. Sem dúvida que a idéia de uma universidade regional nasce como concepção de uma tecnocracia central que pensava avançar as sociedades interioranas. O problema é que no mundo real não havia um movimento local que correspondesse a tal e nem a proteção deste mesmo movimento no campo externo a ele. O mais patético exemplo talvez seja o Projeto Morris Asimov em que as unidades industriais foram caindo uma a uma.

Para que a Universidade Regional do Cariri cumpra o seu papel de desenvolvimento regional talvez tenha que enfrentar alguns fantasmas internos, a fraqueza da gestão política regional, a fragmentação da vontade social e o modelo de ensino e pesquisa de terceiro grau que se desdobra em concorrência ao invés de confluência. Abordando cada uma das questões.

Os fantasmas internos da URCA tão variados, mas certamente não são piores que o de outras universidades, especialmente no item autonomia universitária. Na realidade política e social do nordeste a autonomia pode se tornar mera justificativa para a burocracia central empobrecer a universidade de recursos. A saída é lógica, a URCA tem que ir além dos seus muros e se fortalecer junto às forças sociais, econômicas e políticas da região. O mero processo de obediência orçamentária em disputa anual não permite um salto, apenas pela pressão é que os recursos virão. O segundo é parte de um certo vício que atinge quase todo o espectro ideológico que compreende o corporativismo cuja tradução mais conservadora é o "finge que trabalha que finjo que te pago". A luta salarial se tornou, por este viés a própria amarra que prende o corpo funcional da universidade a ela mesma e a tecnoburocracia do governo estadual. Isso tem levado, em outras universidades, a um insulamento dos pesquisadores, do professores e dos projetos de extensão em relação ao continente da realidade regional.

A URCA se tivesse possibilidade de vencer a sua inércia, poderia promover excelentes debates com os agentes econômicos, sociais e políticos em torno de projetos regionais aproveitando o momento eleitoral. É um momento especial, pois é nele que os projetos do executivo municipal são negociados, assim como seus gestores e a escolha da representação política. Uma prática continuada da Universidade neste campo seria de grande importância, inclusive para a cura dos próprios vícios internos da academia. Em outras palavras, a URCA estaria refletindo sobre a questão da gestão política regional. Qual o papel do Cariri, seu presente e futuro? E antes que alguém me mostre o pessimismo em relação a isso ao considerar a politização partidária que se hostiliza no interior da universidade, volto para o fato que isso tem importância pela própria fraqueza do projeto acadêmico.

A fragmentação da vontade social é um problema não regional. Ele é nacional e se agrava pelo corporativismo, pelo próprio papel paternalista do Estado e pela ação patrimonialista que ainda teima em sobreviver sobre os valores sociais. Isso leva a uma inércia, especialmente na oportunidade de debates e na eficiência das lutas sociais que podem rapidamente se hierarquizar sob a modalidade de representações e lideranças que fatalmente degeneram em peleguismo e outros tipos de vícios que desarticulam a gestão social. Como a URCA poderia vencer os próprios vícios, levar seu corpo funcional ao debate e seus alunos a uma visão que o futuro não é simplesmente um título de graduação? Eis um grande desafio que não se resume à universidade, mas para o qual ela tem algo a dizer.

Outra questão é a fragmentação regional do ensino, pesquisa e extensão acadêmica. Quem irá coordenar esta mistura de entes estaduais, federais, privados e caça níqueis em que se tornou o ensino universitário no Cariri (eu sei que não é no Cariri). O governo estadual através da sua burocracia? Algum órgão federal? Não. Mas algo tem que ser feito no rumo desta coordenação e até mesmo regulação na oferta e no direcionamento do projeto acadêmico. Para que se mantenha a unidade regional é preciso que o projeto acadêmico se unifique em termos de território: ou seja, espaço geográfico e povo. Como fazer isso? Criar um fórum permanente de deliberação regional? Instituir, através das municipalidades, novas organizações voltadas para o desenvolvimento regional? Algo precisa ser feito e não será num texto que se descobrirá o quê. Apenas com a mobilização e o debate é possível.

Enfim, a questão é política, social e econômica. E apesar da base ser econômica, não resta dúvida que a questão política é o começo de tudo. Atenção a questão é política e não apenas partidária, mas sem que se excluam os partidos e as diversas maneiras de desejar e organizar o futuro.

3 comentários:

Armando Rafael disse...

Caro José do Vale:
Por oportuno, veja a situação das universidades públicas cearenses. Abri há pouco a Internet e veja o que eu li:

1 – MATÉRIA DO JORNAL “O POVO” EDIÇÃO DE 6/5/2008:
AULAS SUSPENSAS
Mais famílias ocupam terreno do campus do Pici da UFC

Um grupo de cerca de 600 famílias invadiu o campus da UFC, no Pici, na noite de 24 de abril.

O terreno foi invadido pela parte de trás do campus, na rua Piauí. Os invasores derrubaram um muro de 450 metros. Os ocupantes disseram que queriam construir casas no terreno.

No dia 25 de abril, o juiz federal Felini de Oliveira Wanderley concedeu liminar, determinando reintegração de posse do terreno à UFC em 72 horas.

Na terça-feira, 29, já eram 600 metros de muro derrubado. Outra invasão tinha ocorrido na noite anterior, na rua Pernambuco.

O prazo para a desocupação da UFC começou a contar a partir do dia 28, quando a liderança do movimento foi comunicada por um oficial de justiça.

Na última sexta-feira, 2, mais famílias se juntaram às ocupantes. A Reitoria estima que o prejuízo causado à instituição é superior a R$ 1,7 milhão.

2 – NOTA - DE HOJE - DO BLOG DO JORNALISTA TARSO ARAUJO:

O texto abaixo consta de um release que está sendo divulgado pela Urca, à imprensa:

“O reitor da Universidade Regional do Cariri (URCA), Plácido Cidade Nuvens, fará parte da comitiva que irá Osnabruck, na Alemanha, no mês de junho, participar da 3ª Conferência Internacional de Geoparks. Na ocasião, será pleiteada a realização da 4ª Conferência em 2010 no Brasil, na região do Cariri. Esse tem sido o propósito da nova administração da universidade, que desde o momento que assumiu a URCA vem atuando no sentido de fortalecer a instituição de forma aberta e democrática, com transparência de suas ações. Também participa da comitiva o gerente do Geopark Araripe, João de Aquino”.

Ora, é de domínio público que aos atuais gestores da Urca, quando formavam ferrenha e radical oposição à administração do ex-reitor André Herzog – implantador do Geopark Araripe – ironizavam esse empreendimento, chamando-o de “geoplacas” e previam o fracasso da iniciativa afirmando que era tudo “turismo para inglês ver”...
A verdade, é que o atual reitor, Prof. Plácido Cidade Nuvens, por falta de investimentos para mostrar depois de quase um ano à frente da administração daquela universidade, usa, agora, iniciativas da administração passada, como é o caso do Geopark Araripe.
São essas as notas divulgadas sobre nossas universidades...

Dedé Cariri disse...

O senhor precisa se informar melhor de onde, em que gestão da URCA e de quem partiu a idéia de criação de um Geopark Araripe.Garanto que não foi na dinastia Herzog não!!

Dedé Cariri disse...

A gestão Herzog foi o que se pode chamar de uma verdadeira TSUNAMI na URCA.