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terça-feira, 3 de junho de 2008

Da série: Coisas do Brasil

Sem fábrica. E sem pequi!

(O GLOBO - Carlos Alberto Sardenberg)

Deu numa pesquisa da Nielsen: no ano passado, nada menos que 600 mil domicílios brasileiros passaram a comprar refrigerantes.
É isso mesmo: não compravam, ganharam renda e passaram a consumir refrigerantes.
Todos os dados confirmam. Cresceu a produção dos fabricantes de bebidas e a renda do trabalhador, segundo dados do IBGE, está em clara recuperação. O consumo das famílias está crescendo mais que a expansão do Produto Interno Bruto.

Confiante na manutenção desse quadro, a AmBev resolveu instalar mais uma fábrica no país. Topou com os obstáculos à brasileira.
A empresa escolheu o município de Sete Lagoas, em Minas, para construir a nova planta. Comprou o terreno, por R$ 3,5 milhões, e anunciou um investimento total de R$ 240 milhões, com a criação de 800 empregos diretos e 1.200 indiretos.


Dançou


O terreno tem 410 árvores de pequi.
Na solicitação das licenças, verificou-se que estava em vigor uma lei estadual que ninguém sabe bem como foi aprovada.
Mas foi. E diz que é proibido cortar árvores de pequi.
A AmBev propôs então plantar dez mil pequizeiros, em lugares indicados pelos órgãos ambientais, em substituição aos 410 do terreno.
Não pode. O Ministério Público Estadual embargou os processos de licenciamento ambiental, pois a lei não prevê a substituição. Diz apenas que não se pode cortar uma árvore sequer.
A prefeitura de Sete Lagoas e lideranças locais ainda estão tentando mudar o quadro. Foram a Belo Horizonte apoiar um projeto de lei que estabelece a regra da substituição (dez árvores plantadas para cada uma arrancada, menos do que a proposta da AmBev). Mas o projeto acabou saindo de pauta, porque foram apresentados vários substitutivos, provavelmente tentativas de aproveitamento político do episódio.

O fato é que a companhia está procurando terreno em outro lugar
Vai acabar saindo a fábrica. A AmBev é uma enorme companhia, pode absorver sem dificuldades esse tipo de prejuízo e, afinal, o mercado continua aí. Para a população de Sete Lagoas, porém, o prejuízo será irreparável, caso a empresa se decida por outro município, como parece.
Para salvar 410 pequizeiros, Sete Lagoas terá perdido uma fábrica, empregos, renda, impostos e... 9.590 árvores de pequi.
Estupidez serve para definir a situação? Podem procurar: situações como essa se repetem pelo país todo, no micro e no macro. Com uma agravante: empresas grandes têm recursos e pessoal para lidar com essas adversidades. Pequenos e médios empresários simplesmente ficam pelo caminho.
Esses problemas se tornarão cada vez mais evidentes. Em um país com inflação de 5% por semana, moeda mudando de tempos em tempos, demanda lá embaixo, esses fenômenos microeconômicos eram a última preocupação.
Na medida, porém, em que foram controladas as principais variáveis macro (inflação domada — estamos discutindo se será de 4,5% ou 5,5% neste ano — contas externas resolvidas e contas públicas equilibradas, embora à custa de dívida e impostos, crédito restabelecido), aqueles fenômenos passam a ser os mais importantes.

Aqui aparecem essas legislações simplesmente absurdas, que provocam o resultado contrário. Pois está claro que empresas informais, por exemplo, não vão perguntar aos órgãos ambientais se podem trocar um pequizeiro por dois mil novos.
Provavelmente ninguém contou, mas sou capaz de apostar que existem hoje em Minas menos pés de pequi do que havia antes da promulgação da lei.
Pressão Quando o presidente Lula e seus ministros garantem que não faltará energia nos próximos anos, estão contando com o suprimento de três novas usinas hidrelétricas, as de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, e a de Belo Monte, no Xingu.
As duas primeiras têm licença prévia, foram licitadas, mas não têm as demais licenças necessárias para o início da obra. Belo Monte não tem sequer a primeira.
Ainda assim, o governo diz que Belo Monte será licitada no ano que vem e que as obras das outras duas começam este ano. E conta com a energia destas já a partir de 2012.Se isso não acontecer nesses prazos tão rápidos para obras tão grandes, vai faltar energia.
É esta a primeira pressão que está posta sobre o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A mesma que contribuiu para o desgaste de Marina Silva.

Um comentário:

Carlos Rafael Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.