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sábado, 28 de junho de 2008

O começo do fim das FARC


Colômbia: Farc ampliam ações políticas

Sábado, 28 de junho de 2008, 20h56
O terrorismo é uma ação total. Os planejadores militares e os estrategistas de imagem das organizações terroristas desenvolvem operações coordenadas em todos os níveis, tendo sempre em mente objetivos muito específicos -mas esses objetivos não são expressos de maneira direta e não devem ser claros para o Estado e a sociedade que estão sob ataque. No plano político, o terrorismo é sempre uma ação em larga escala cujo objetivo é iludir. Nas democracias contemporâneas, ações humanitárias têm sido utilizadas repetidamente pelos terroristas como forma de coagir a sociedade. Na Colômbia, esse tipo de ação se converteu em um argumento final e em uma forma determinada de guerra prolongada.
Em "El Impostor", romance de Jean Cocteau Thomas, uma das personagens, a princesa de Bormes, "percebe que lhe estão negando os feridos de que necessita para manter seu lugar na guerra"; desde então já existiam setores que desejavam se beneficiar da violência por meio da suposta prática do humanitarismo - "ocupar um lugar no esforço de guerra". O propósito desses grupos não é a paz, e sim obter vantagens dos diferentes momentos de um conflito, se tomarmos por base a idéia de que as intervenções humanitárias prolongam as guerras indefinidamente ao moderar sua intensidade e evitar de maneira sistemática a possibilidade de que alguma das partes se saia vitoriosa. Nesse caso, o objetivo seria evitar que o Estado colombiano obtenha uma vantagem militar decisiva, que permita a consolidação definitiva do modelo de democracia liberal que a maioria da população apóia, de acordo com sua vontade expressa nas urnas. Nesse sentido, a Política de Segurança Democrática é uma estratégia integral que tem a grande virtude de estar conduzindo o país na direção da paz, na medida em que as esperanças de sucesso militar para as forças irregulares parecem fadadas a desaparecer, e portanto a busca de um acordo político definitivo pode começar a lhes parecer mais atraente do que continuar a procurar uma vantagem pela força das armas".
A democracia é um fato intrinsecamente moral. Trata-se de uma aplicação política derivada de um conceito sobre a ética: existiu antes como axiologia e apenas posteriormente como política. Essa natureza impossibilita que uma democracia concretize plenamente um "acordo humanitário". Ela pode facilitar ou realizar ações humanitárias em favor de terceiros, mas de forma alguma ser parte de um acordo, porque isso pressupõe intrinsecamente que está ou estaria levando a cabo ações não humanitárias, ou contrárias ao humanitarismo, o que é intrinsecamente contrário à natureza da democracia. É por esse motivo que é tão difícil ao governo fixar uma posição quanto ao chamado "acordo humanitário", porque ou bem todas as suas ações atuais e futuras são humanitárias ou bem não o são e nem poderiam ser, o que tornaria o governo antidemocrático em sua essência.
A afirmação acima obviamente se aplica em termos gerais, e pressupondo sempre que aquilo que exista de puramente humanitário interesse apenas ao Estado, porque, para as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc) e para aqueles que tomam a palavra em sua defesa, "acordo humanitário" é simplesmente um eufemismo para definir uma ação de reocupação militar de um território, com base na premissa de que o Estado perdeu sua legitimidade tendo em vista suas obrigações para com os seqüestrados, e que portanto deveria considerar como um mal menor a autorização para ocupação armada de uma porção estratégica de seu território, o que obviamente significaria uma reversão do sucesso fundamental que a Política de Segurança Democrática vem obtendo. Já que as forças da guerrilha estão literalmente impossibilitadas de retomar territórios por meio de ações militares diretas, agora elas concentram suas tentativas de obter espaço nas ações políticas.

Para as Farc, o tema da ocupação territorial tem uma importância extraordinariamente crítica, já que o fato de que não dispõem de território impossibilita que concretizem qualquer ação política. Por mais que suas forças operem em regiões de selva, o espaço em que atuam não tem valor estratégico, e mesmo nele elas estão sob ameaça, o que leva as força a criar uma frágil retaguarda nos territórios de países que lhes são aliados, o que só serve para promover uma defesa passiva.
As elites intelectuais que estão batalhando por um acordo humanitário na Colômbia certamente não agem de boa fé. Ao criar distinções e prioridades entre as vítimas de seqüestro das Farc e ao reunir em um mesmo discurso causas humanitárias e a justificação do terrorismo, elas conseguiram que a opinião pública nacional não pressione pelo sucesso de um acordo humanitário sob os termos propostos, e provocaram um prolongamento dos sofrimentos que afirmam querer reduzir. Na verdade, os porta-vozes políticos da guerrilha vêm realizando um esforço sustentado para valorizar determinados seqüestrados como ativos políticos.
O propósito real das atividades de Piedad Córdova quanto a essa linha é manter e possivelmente aumentar ainda mais o valor político e militar dos seqüestrados, e suas gestões de maneira alguma têm por objetivo conseguir que sejam libertados. David Moss, em seu seqüestro sobre o político italiano Aldo Moro pelos guerrilheiros de seu país, diz que "o poder de estabelecer o significado simbólico de um ato violento é tão crucial quanto a capacidade de encetar o ato em si"; no caso da Colômbia, o trabalho humanitário tem por objetivo estabelecer um significado simbólico, e exatamente por isso representa uma ação militar cujo objetivo é debilitar a vontade da sociedade no sentido de obter uma solução militar que ponha fim ao terrorismo.
A situação que vivemos gerou uma crise de prestígio no que tange às ações humanitárias. Seja porque as intervenções mencionadas transformam os conflitos em guerras endêmicas, seja porque facilitam a realização dos objetivos dos grupos terroristas, ou bem ainda porque o resultado final tenha sido o de favorecer os interesses de minorias violentas e de grupos de pressão alheios ao interesse geral da sociedade.

No caso da Colômbia, o acordo humanitário promovido pelas Farc se enquadra nas três características.

Terra Magazine

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