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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

145 anos de Ibiapina nas terras caririenses



Este mês de  outubro marca os 145 anos de início da ação missionária do Padre Mestre Ibiapina em terras caririenses. Uma data que, até o momento, passou despercebida. Infelizmente, não costumamos cultivar nossa memória. Padre Ibiapina com certeza foi o maior cearense do século XIX. Numa época em que a Igreja vivia atrelada ao estado e o clero vivia longe do povo, Padre Ibiapina rompeu com esse modelo e, conforme escreve José Comblim, ele rompeu “radicalmente com essa estrutura eclesiástica. Na idade em que muitos sacerdotes já pensam no seu estabelecimento definitivo, numa função sedentária que lhe permita economizar as energias declinantes, Ibiapina escolhe a vida itinerante no interior. No momento em que o Brasil oficial se concentra ao redor de uma vida urbana nascente, Ibiapina escolhe o Brasil ainda não formado e vai para um interior ainda totalmente desorganizado”(Ibiapina, o Missionário. In: Georgette Desrochers & Eduardo Hoornaert. Padre Ibiapina e a Igreja dos pobres. São Paulo: Paulinas, 1984).

Padre Ibiapina: um resumo biográfico

José Antônio Pereira Ibiapina nasceu a 5 de Agosto de 1806, na Vila de Sobral, no norte da Província do Ceará. Era o terceiro filho(de um total de oito) do casal Francisco Miguel Pereira e Teresa Maria de Jesus. Em 1816 sua família se transfere para a vila de Icó, a mais povoada da Província do Ceará, naquela época. Nesse mesmo ano Ibiapina é matriculado na Escola do Prof. José Felipe. Nessa vila seu pai, Francisco Miguel Pereira trabalhou com tabelião público, sendo convidado, em 1919 para ocupar o cargo na recém criada Comarca do Crato, pelo seu primeiro Ouvidor, José Raimundo do Paço de Pórbem Barbosa. Em Crato, Ibiapina teve aulas com o José Manuel Felipe Gonçalves. No entanto, diante das agitações políticas pós Revolução Pernambucana de 1817, que teve na vila de Crato um de seus pilares no Ceará, o pai de Ibiapina, em 1820, resolve enviar o filho para recém criada vila de Jardim para que o mesmo estudasse com o latinista Joaquim Teotônio Sobreira de Melo. Em 1823 seu mestre o enviou de volta a Crato, recomendando que o mesmo estava apto a ingressar nos estudos do Seminário de Olinda. Nesse mesmo ano toda a família se transfere para Fortaleza. O Ano de 1823 é marcado ainda pelo falecimento de sua mãe e pelo seu ingresso no Seminário de Olinda, onde permaneceu por um curto período (10/11 a 15/12).

Em Fortaleza seu pai e seu irmão mais velho, Alexandre Raimundo Pereira Ibiapina, se envolveram no movimento republicano Confederação do Equador. O pai foi fuzilado, em 1825, e o irmão preso em Fernando de Noronha, onde morreu pouco tempo depois. Ibiapina, que voltara ao Ceará no inicio de 1824, a chamado o pai, teve que assumir e manter financeiramente a família. Segundo o estudioso e bibliógrafo Padre Francisco Sadoc de Araújo, foi nessa época que foi acrescentado ao seu nome de batismo o sobrenome Ibiapina, uma homenagem do seu pai à povoação de São Pedro de Ibiapina, na Serra da Ibiapaba (como também fizeram outros confederados para homenagear topônimos regionais).

Em 1828, Ibiapina retorna ao Seminário de Olinda para continuar os estudos. No entanto, ele permanece apenas 6 meses, de 03/02/1828 a 05/08/1828. Após o seminário, Ibiapina ingressou no Curso de Direito do Recife, concluindo o mesmo em 1832. No ano seguinte, Ibiapina exerceu o cargo de professor substituto de Direito Natural na Faculdade de Olinda, foi eleito Deputado Geral para a legislatura de 1834 a 1837 e nomeado, em dezembro, Juiz de Direito da Comarca de Campo Maior (Quixeramobim) do Ceará. Assumiu efetivamente esse cargo durante o período do final de 1834/início de 1835.

Concluídos os trabalhos legislativos, em 1837, Ibiapina voltou para o Recife e resolve exercer a advocacia. No entanto, ele passa a exercer efetivamente a profissão na Paraíba, nos anos de 1838 e 1839. Em 1840 volta ao Recife e continua a exercer a advocacia. A partir de 1850, no entanto, após dez anos atuando como advogado, Ibiapina resolve abandonar seus trabalhos forenses e inicia um período dedicado à meditação e exercícios de piedade. Esse retiro espiritual durou três anos.

Ordenação Sacerdotal e Ação Missionária

Após três anos de meditação e reflexão Ibiapina decide-se pelo sacerdócio. Nesse sentido, em 12 de julho de 1853, aos 47 anos de idade, ele solicita ao Bispo de Pernambuco, Dom João da Purificação Marques Perdigão, permissão para ordenar-se padre, sem, no entanto se submeter aos exames. A princípio o bispo não aceita. Porém, com a intermediação de amigos, Ibiapina consegue a permissão, sendo ordenado em 26 de julho de 1853.

Logo após sua ordenação, o Bispo Dom João da Purificação o nomeia Vigário Geral e Provedor do Bispado, e professor de Eloqüência do Seminário de Olinda. Segundo Eduardo Diatahy B. de Menezes “tais cargos e honrarias não seduziam Ibiapina, que logo renuncia a eles para dedicar-se ao seu projeto missionário de viajar, doutrinar, educar e construir algo concreto para as populações abandonadas dos sertões nordestinos.” (Pe. Ibiapina: Figura Matricial do Catolicismo Sertanejo no Nordeste do Século XIX, Revista do Instituto do Ceará, 1998). Em 8 de dezembro de 1855, quando já tinha tomado a decisão de ser missionário, por ocasião da celebração do primeiro aniversário do dogma da Imaculada Conceição, Padre Ibiapina alterou o seu nome civil, trocando o sobrenome Pereira pelo de Maria, passando a ser chamado de Padre Antônio José de Maria Ibiapina. Com esse ato ele consagrava toda sua vida a Maria Santíssima e ao seu filho, Jesus Cristo.

Padre Ibiapina começou então seu trabalho missionário pelo interior do Nordeste. Entre os anos de 1856 até sua morte, em 13 de fevereiro de 1883, ele peregrinou por cinco Províncias (Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba). Em cada lugar ele pregava, orientava, promovia reconciliações, construía açudes, igrejas, cemitérios, cacimbas, dentre outras tantas obras, conforme as necessidades de cada lugar. Em diversas vilas construiu as famosas Casas de Caridade, destinadas a receber moças pobres. Nessas Casas as moças eram educadas para a fé, para o exercício dos trabalhos domésticos e para o casamento. No Ceará ele missionou no período de 1862 a 1870. Primeiro na região norte, na vila de Sobral e adjacências. Depois no Cariri, sul da Província.

No Cariri, o Padre Ibiapina esteve em três momentos. O primeiro teve inicio em 14 de outubro de 1864, na vila de Missão Velha, estendendo-se até o inicio de fevereiro do ano seguinte. Durante esse período ele visitou, alem de Missão Velha, a vila de Barbalha e a o povoado de Conceição do Cariri(atual Porteiras). Como principal obra dessa primeira visita ao Cariri, Padre Ibiapina inaugurou em 02 de fevereiro de 1865 a Casa de Caridade na região da vila de Missão Velha. Desse ato participou o jovem Cícero Romão Baptista, à época com vinte anos de idade, que segundo os mais diversos estudiosos foi fortemente influenciado pela pregação do Padre Ibiapina e pelo seu exemplo de serviço ao povo pobre e humilde.

A segunda visita ao Cariri ocorreu no período de maio de 1868 a agosto de 1869, passando, portando mais de um ano na região. Nessa etapa, ele visitou Missão Velha, Barbalha, Caldas(vila de Barbalha), Crato, Goianinha(atual distrito de Jamacaru), Jardim, Porteiras, Milagres, Brejo Santo e Vila de São Pedro(atual Abaiara). Principais ações: construção de capelas, recuperação de igrejas e três Casas da Caridade(Crato, Milagres e Barbalha).

A terceira e última visita ao Cariri ocorreu no período de 9 de fevereiro de 1870 a 25 de abril do mesmo ano. Esteve visitando as Casas de Caridade implantadas na região(Missão Velha, Crato, Barbalha e Milagres). Depois dessa data, o Padre Ibiapina não missionou mais no Ceará. O padre peregrino continuou seu trabalho missionário até 1876, quando acometido de doença, ficou paralitico, não podendo se locomover sozinho. Passa então a residir na Casa de Caridade de Santa Fé, na Paraíba. Nessa Casa ele viveu sete anos, participando ativamente da vida da comunidade. Faleceu no dia 19 de fevereiro de 1883.

Atualmente, encontra-se na Congregação das Causas dos Santos seu processo de canonização. Ele já é oficialmente reconhecido como Servo de Deus, após o documento ´Nihil Obstat´ da Santa Sé, emitido a 18 d e fevereiro de 1992. No último dia 17 de setembro, por ocasião da visita ad limina os 22 bispos do Regional Nordeste 2 da CNBB (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), tendo à frente o arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes, solicitaram celeridade no processo de canonização do Apóstolo do Nordeste.

Referência Bibliográfica: Além das referências citadas no corpo do texto, pesquisei essas informações no trabalho do Pe. Francisco Sadoc de Araújo. Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade. Fortaleza: Gráfica da Tribuna do Ceará, 1995.

Autor: Océlio Teixeira de Souza

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