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terça-feira, 2 de março de 2010

Penitentes rezam por chuvas na região do Cariri - Postado por Océlio Teixeira

Perda quase total de plantações de feijão no Cariri são verificadas na região. Agricultores desacreditam no inverno

Porteiras. Preocupado com a falta de chuvas, um grupo de penitentes acompanhou procissão da Igreja Matriz deste município até o Alto do Sanharol, onde foi fincado um cruzeiro que marca a passagem do segundo milênio. O foco central da peregrinação, segundo o padre José Sampaio, vigário de Porteiras, é a animação das comunidades católicas com o objetivo de conhecer mais de perto a pessoa e o projeto de Jesus Cristo, por meio do estudo do Evangelho, para amá-lo, segui-lo e testemunhá-lo a todos, dando assim um sentido verdadeiro à vida.

No entanto, o grupo de penitentes, tendo à frente o decurião Pedro Cândido dos Santos, ressalta que a presença deles na procissão faz parte também dos seus rituais, de suas penitências contra as calamidades. Pedro Cândido lembra que a Ordem dos Penitentes foi implantada no Cariri pelo padre Ibiapina que, nas grandes secas, orientava os católicos a cumprirem penitências.

O decurião diz que "a seca é um castigo de Deus". Ele conta que, no próximo sábado, o grupo de devotos vai se reunir, a partir das 23 horas, com a finalidade de cumprir a programação penitencial da Quaresma e rezar para que Deus mande chuvas para o sertão. Aí sim, eles vestem as roupas próprias da ordem religiosa, colocam os capazes no rosto e varam a madrugada nas estradas sertanejas, rezando nos pés das cruzes e cruzeiros na beira das estradas e visitando os cemitérios. O ritual é uma tradição secular, que é mantida por número cada vez menor de devotos. As novas gerações não demonstram interesse em preservar a prática.

Produtores desiludidos

"Perdi o dinheiro, o trabalho, a roça e a esperança". A lamentação do agricultor Ribamar Correia, residente no Sítio Moquém, entre Porteiras e Brejo Santo, reflete a desilusão da maioria dos pequenos produtores rurais do Cariri que não acredita mais no inverno deste ano. Correia acrescentou que na região de Porteiras e Brejo Santo a perda é quase total. "Mesmo que chova de hoje para amanhã, o quadro não muda", diz o agricultor José Urias da Silva, destacando que está caracterizada a "seca verde" na região do Cariri.

No Sítio Sanharol, município de Porteiras, a conversa é a mesma. Com a enxada nas costas, Pedro Inácio da Silva lembra que a seca neste ano parece que vai ser pior do que a de 58. A diferença, segundo afirma, é que o povo não está desamparado. "Hoje, em toda casa tem um aposentado ou um integrante do Bolsa Família". Ao fazer esta avaliação, o agricultor observa que o prejuízo só não é maior porque muita gente não plantou, antevendo um ano de poucas chuvas.

O problema começa com a má distribuição de chuvas. De acordo com a Ematerce no Crato, nos dois primeiros meses deste ano, choveu mais do que no mesmo período em 2009. Foram 302 milímetros agora contra 180mm do ano passado.

O técnico da Ematerce, Junival Saraiva de Alencar, diz que houve veranicos no primeiro bimestre deste ano. Um deles com duração de 13 dias, provocando perda de plantio nos cultivos antecipados na região.

ENQUETE
Perda de safra

"A penitência foi orientada pelo padre Ibiapina contra as calamidades. A seca é um castigo de Deus"
Pedro Cândido dos Santos
72 ANOS
Decurião

"Perdi tudo, o trabalho, o dinheiro, a roça e a esperança. De Porteiras a Brejo Santo, está quase tudo perdido"
José Ribamar Correia
65 ANOS
Agricultor

"A seca deste ano é pior do que a de 58. A diferença é que em toda casa tem um aposentado, ou alguém do Bolsa Família"
Pedro Inácio da Silva
62 ANOS
Agricultor

Reportagem e foto: Antônio Vicelmo
Fonte: Diário do Nordeste

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