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quarta-feira, 19 de maio de 2010

COMPOSITORES DO BRASIL



CARTOLA

“O lirismo na melhor tradição
da poesia popular”(José Ramos Tinhorão)

Por Zé Nilton

Muita gente torce o nariz para as predileções musicais do crítico José Ramos Tinhorão. Ele é, diz-se, nacionalista demais, regionalista demais, popular demais quando o assunto é música.

Cá pros meus botões, eu gostava de ver Tinhorão franzir a testa, ficar possesso, furibundo mesmo quando entrava na defesa da Música Popular Brasileira de raiz. E para ele música de raiz é aquela música que nasce do telurismo dos vários brasis. Ele amava Patativa do Assaré.

A meu ver Tinhorão refundou uma escola tipificada numa crítica ácida na defesa da música brasileira seguindo as pegadas de um Ary Barroso, continuada num Flávio Cavalcanti, num Zé Fernandes, numa Aracy de Almeida, para citar alguns que me chegam à memória neste momento.

Não nego uma certa queda por sua posição ideológica de víeis intransigente na defesa da nossa musicalidade diversa. Ou seria melhor dizer: de sua intransigência de víeis ideológico... Para mim dá no mesmo. Certo é que tenho muita confiança em pessoas que aliam teoria e prática como discurso e vivência.

Bem, Tinhorão, ao falar de Cartola, e de tantos outros compositores brasileiros, o faz de forma coerente com sua visão materialista da História, situando o sujeito na sua condição de pertença às diversas classes sociais hierarquizadas no capitalismo.

Sobre Agenor de Oliveira – Cartola – escreveu no encarte da História da Música Popular Brasileira: “Negro, pobre, desprovido de beleza física, educação escolar limitada ao primário e jamais integrado de forma duradoura à estrutura do trabalho (foi aprendiz de tipografia, pedreiro, pintor de paredes, guardador e lavador de carros, vigia de edifícios e contínuo de repartição pública), o compositor do morro de Mangueira parece ter tirado exatamente de todas essas desvantagens o vigor de sua criação”.

E que criação a desse compositor de voz temporã na Música Popular Brasileira!

Sobre Cartola há muita informação nos sites de música, letras e vídeos na grande rede. Vale a pena saber mais sobre esse homem que “cultivou o lirismo na melhor tradição da poesia popular”.

No programa musical desta quinta-feira, na Rádio Educadora do Cariri, de 14 as 15 horas, Compositores do Brasil comentará algumas obras do mestre Cartola, tais como:

DIVINA DAMA, de Cartola com Chico Buarque
O SOL NASCERÁ, de Cartola e Elton Medeiros, com Nara Leão
TIVE, SIM, de Cartola com Ciro Monteiro
TEMPOS IDOS, de Cartola e Carlos Cachaça com Cartola e Odete Amaral
NÃO QUERO MAIS AMAR A NIGUÉM, de Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda com Paulinho da Viola
ACONTECE, de Cartola com Gal Costa
QUEM ME VER SORRINDO, de Cartola e Carlos Cachaça com Carlos Cachaça
ALVORADA, de Cartola e Carlos Cachaça com Carlos Cachaça
O MUNDO É UM MOINHO, de Cartola com Cartola
AS ROSAS NÂO FALAM, de Cartola com Cartola
ENSABOA, de Cartola com Cartola e Creusa
AUTONOMIA, de Cartola com Elizeth Cardoso.

Quem ouvir verá!

PROGRAMA COMPOSITORES DO BRASIL
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Rádio Educadora do Cariri – 1020
Quintas-feiras, de 14 às 15 horas
Apoio: Centro Cultural Banco do Nordeste – Cariri
Retransmissão: www.cratinho.blogspot.com

3 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

O Zé Nilton, mais do que Antropólogo, é um humanista. Mas um humanista sem aquele badulaques de uma passividade em estado de quase inércia. É um humanista quando, até para apresentar um programa musical, logo vincula a arte com o fator humano gerador. É humanista quando busca o entremeado de particularidades com as quais se necessita para entender o mundo e que muitos vêm apenas o padrão dominante. Por isso é que quase fala mais do Tinhorão do que do Cartola. Isso virá pelas músicas no próprio programa de rádio. Mas abordar Tinhorão é balançar de uma maneira muito particular, aqueles "jovens" iconoclastas da música pop, que se imaginavam vanguarda, mas não conseguiam enxergar nada além de suas classes sociais. Tinhorão era polêmico, muito mais preparado do que a turma da televisão que o Nilton cita, tinha um acervo imenso de registros fonográficos e de textos sobre a cultura musical. Aliás um dos acervos que aconselho examinar é o da Moreira Sales que comprou do Tinhorão. Finalmente comprei uma coleção primorosa em CD do Fado Português e já havia um texto em polêmica justamente com Tinhorão quando se tratava das origens sociais e geográfica do próprio fado.

Sobre Cartola nem se fala. Cartola e os poetas da mangueiras, inclusive aqueles do asfalto com Hermínio Bello de Carvalho. Aquele mesmo que faz a segunda parte do belíssimo alvorada: Você também me lembra a alvorada, quando chega iluminando os meus dias tão sem vida, o que me resta é bem pouco quase nada, de seguir assim vagando numa estrada perdida. Alvorada.

As pessoas, retornando ao humanismo de Zé Nilton, são, de fato, a alvorada dos nossos dias.

Zé NIlton disse...

Ave, Zé do Vale, como você é pródigo(generoso). Só você para, num instante, fazer a gente refletir sobre aquilo que nem pensamos em existir após o que dissemos.
Me pego besta com as suas sacações e arrumações de nossos discursos que às vezes parecem desconexos.
Abraços.

Carlos Rafael Dias disse...

Zé,

Cartola é um gênio da raça. Por isso, tiro a cartola para você por este programa imperdível.