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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Flamengo e Coríntians - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Que palavras para falar de Flamengo e Coríntians ontem no Pacaembu? Jogo de noventa minutos, prá cima, pressionando, arrumando, pelo centro, laterais, na risca do campo. Penalidade feita de má fé? Nem sei se houve, mas alguém pode achar e me calo. Mas as faltas que aconteceram foram de disputa, no drible, no desarme, na faina para atingir a meta da rede.

Os cartões amarelos foram mais do poder de disciplina do juiz do que deslealdade dos jogadores de ambos os campos. Nem provocação entre jogadores, que não apenas aquelas do entrechoque, e o jogo não era qualquer um. Tratava-se dos times das principais torcidas nacionais, uma no Rio e resto do Brasil e a outra em São Paulo.

O Coríntians vinha no embalo, crescendo no campeonato, mereceu a classificação para esta fase. O Flamengo era como certo Exército Brancaleone, atrapalhado, como que avançando na probabilidade e acertando na sorte. A torcida acreditava, é da natureza de toda torcida, acreditar para soltar o grito com mais força ainda, contra os ouvidos de quem duvidava.

E veio o jogo do Maracanã. Apenas um bobalhão como eu, que não vinha de partida em partida, somente tomava pulso pelas manchetes, nem lia a matéria, disse: o Flamengo tira o Coríntians. Sem base qualquer, referência alguma, apenas um sentimento do passado e o Flamengo do tamanho do Maracanã. Opa! Esta figura é banal?! Tamanho do Maracanã, mas não falei das dimensões físicas do estádio. Quis dizer do tamanho de espírito de jogo e do volume de credo na camisa do Flamengo.

E ontem o Coríntians precisava de dois gols e o fez com a maior categoria, abafando a perplexidade do time do flamengo, terminando o primeiro tempo com agenda marcada para a fase seguinte. A torcida do Coríntians era de uma beleza que só existe no futebol e no Brasil. Importam as besteiras policiais do pós jogo, mas falo daquele momento. Dos rostos em felicidade e este substantivo é tão importante que se inscreveu até mesmo na enxuta Constituição dos EUA. A felicidade pode se inscrever entre os direitos fundamentais da humanidade.

O segundo tempo começou com o treinador do flamengo dizendo que o time voltaria completamente diferente. Confesso que desdenhei a esperança do técnico. Mas não tive oportunidade de conjugar os tempos do verbo desdenhar, o Flamengo era outro em campo e nem passei da primeira pessoa, quando o Coríntians levava um gol. E tudo em campo mudou e o Coríntians, embora ganhando no jogo, perdia no campeonato.

E eis que o efeito causado pela psicologia coletiva, pelo histórico dos embates entre ambos, pelo peso da camisa frente à esperança frustrada da torcida, dar aos eventos de bola toda uma “sorte” cujo dado parece viciado. Uma jogada certa, precisa, se frustra por centímetros. Um ataque perfeito esbarra no bate e rebate, meio atordoado, do adversário e, resulta em nada. Ao contrário, o adversário mesmo quando erra, tem por efeito perigo às traves que não podem levar gol naquele momento.

E foi assim que minha alegria de torcedor foi se amargurando com os olhares sofridos dos Corintianos. Com suas unhas moídas na ponta dos seus dentes, ora de um dedo da mão direita e em seguida, para outra mão e nem tinha acabado os restos das unhas anteriores. A moça chorando no abraço ao namorado. Aquele rosto por trás da tela do campo, um pouco na sombra, profundo como as crateras da lua.

Se tivesse o dom de sustar a dor dos Corintianos, não o trocaria certamente pela alegria de torcedor do Flamengo, mas o faria com a compreensão de quem é o Coríntians. Não o seu passado de glória, mas a sua presença, da glória deste povo sofrido da periferia desta descomunal cidade. Deste povo que é feliz e por assim o ser, diz de uma humanidade mais plena e menos artificial.

Mas, confesso, no Rio sou Flamengo, em São Paulo Coríntians e no Ceará, sou Ceará. E do mesmo modo tenho a compreensão pelos outros que não são perfeitos.

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