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segunda-feira, 31 de maio de 2010

A mercantilização da medicina - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Pronto está revelada a mercantilização da medicina tal qual o é. Culturalmente, como símbolo e imaginário da população, o ato médico se associa tanto a normas para prevenir-se de doenças como a medidas para se recuperar de problemas. O ato médico está revestido de certa divindade herdada de tempos remotos, cujo significado antropológico é o do poder da cura. Ainda recentemente circulou pela internet um PPS que era uma verdadeira oração perguntando-se pelo “meu médico” aquele de antigamente, tão próximo das famílias, tão disponíveis nos sofrimentos, tão carinhoso no drama da vida.

Vejam os resultados desta pesquisa do Conselho Regional de Medicina de São Paulo: 48% dos médicos paulistas e 71% dos profissionais de saúde acatam a propaganda das indústrias do setor. Ou sejam, prescrevem, usam e adotam conceitos e tecnologias apenas pelo que dizem os agentes fabricantes de insumos de saúde.

Existem mestres universitários renomados, que venderam todo o seu prestígio entre os colegas médicos para divulgar interesses dos laboratórios. Os Congressos Médicos são financiados essencialmente por empresas produtoras, tudo se torna uma feira para venda de pequenas novidades, muitas das vezes que não acrescenta nada ao que já se tem, mas custa mais caro e o consumidor vai pagá-lo, pois seu médico a indicará.

Aí alguém certamente se escandalizará: ora em que isso seria diferente de uma feira de tecnologia para a indústria, para o setor de informática, de agropecuária e assim por diante? Em nada, mas aí é que se encontra o problema. A saúde é gasto, as demais produzem riquezas. A saúde nos EUA, o leviatã de todos os modelos de desperdício do mundo, logo atingirá 15% do PIB americano.

O assédio da indústria em volúpia de vendas aos consultórios médicos paulistas certamente divide espaço com os horários das consultas de seus pacientes. Da amostra realizada, 80% dos médicos receberam em média 8 visitas por mês. Leram com atenção: oito visitas por mês. E pior de tudo: 93% desta amostra de médicos paulistas afirmou ter recebido produtos, benefícios ou pagamentos da indústria no valor de até R$ 500,00, nos últimos 12 meses.

A nota boa é que a pesquisa foi realizada por um órgão de classe médica envolvido com a questão da ética que no caso poderá influir em medidas públicas contra as empresas. A verdade é que a formação deste comportamento médico compromete o outro componente essencial da sua credibilidade, que é a sua boa formação e fidelidade à ciência.

Mas volto à questão: o Ministério da Saúde do Brasil, juntamente com as Secretarias de Saúde dos Estados e Municípios, têm grande responsabilidade sobre a regulação deste problema, tanto através das suas agências quanto de seu papel relevante de consumidor desta indústria. As compras do SUS são tão altas que por si representam enorme poder para as autoridades públicas. O resto são “escândalos de sanguessuga”.

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