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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre brigas, debates e o "martelo do juiz" - por José do Vale Pinheiro Feitosa

O Dihelson Mendonça diante do acalorado da disputa eleitoral do ano, ele mesmo um dos fogueiros, da altura de seu “martelo de juiz”, condenou, no Blog do Crato, as manifestações que dizem aos dois lados em campanha. Chamar o clima de pré-campanha convenhamos é pura ironia.

Anoiteceu e não amanheceu uma postagem do Zé Flávio que não passava do que já era conhecida na grande imprensa, uma matéria do Le Monde. Acontece que Der Spiegel também, abordando com alguma variação no mesmo tempo. Aliás, a Folha de São Paulo numa matéria do Kennedy toca, na versão da mídia, o mesmo problema. Então o “martelo do juiz” se pudesse levantaria vôo desde o palácio municipal, martelaria toda a imprensa brasileira, mas isso seria pouco, desceria célere sobre o mundo todo.

Acontece que todo censor tem um amor. Amantes da censura, que enaltece, sentem-se aliviados não pela interdição das brigas, mas por não ter de sofrer as contradições do lado que tão intensamente se apegou. Quando o debate resvala para a briga alguns querem chamar o cassetete sobre os briguentos, mas outros podem tomar o conteúdo do debate como a voz do objeto que se pretende. E o que se pretende?

Vamos por parte meus amigos? Antes que me respondam vou tentar. Em primeiro lugar o mundo está numa crise econômica, social e política sem igual. Normalmente quando dizemos crise não basta criar remédios como se fosse uma patologia. É preciso reconhecer a natureza profunda da crise para que a percepção se transforme em ação e esta seja parte, inclusive da própria crise que apronta outro momento na história. Não existe outro modo de fazer isso que não seja pelo debate, embate e formando uma consciência coletiva que se torne essencial ao reconhecimento das mudanças.

O segundo é que as práticas eleitorais são parte deste processo citado, inclusive se diga as manifestações de rua, as revoltas e toda modalidade de se fazer política, inclusive a greve geral. Por isso as eleições este ano no Brasil não pode ficar aprisionada a qualquer “martelo de juiz” ela tem de evoluir, inclusive no que se refere à qualidade do debate. Vejamos a questão, no caso do Cariri e na maior parte do Brasil como se encontra.

Acontece que o Brasil tem muitos partidos e muitos têm candidatura própria, inclusive de personalidade de grande qualidade como Plínio de Arruda Sampaio no PSOL. A própria Marina Silva tem uma abordagem que interessa neste momento. Portanto partimos do pressuposto que existem muitas candidaturas, mas o debate se desdobra em apenas duas questões.

Mais ainda. O debate, mesmo quando existe em alguma medida, é muito mais da questão federal do que estadual e, no entanto, existem inúmeras candidaturas majoritárias para governador e senador. Qual a razão disto tudo? Ao meu entender é a crise internacional, que valoriza os Estados Nacionais como um todo. Afinal são eles os tomadores de empréstimo e abonadores de tudo que depende para a sobrevivência do sistema financeiro. São eles que, no território, mantém as políticas trabalhistas e sociais, além de proteger os interesses dos capitais locais.

A outra questão é a própria natureza do Governo Lula e esta natureza, não tenham dúvida, se encontra no modo como ele tratou a crise mundial. Mais uma vez ela. O país está crescendo a ritmo acelerado, isso o tornou visível ao mundo e, claro, sua liderança. Então acontece que as eleições, apesar de ter um leque de opções partidárias, termina por confluir, por tudo que foi dito, para o embate entre duas propostas eleitorais.

Como se viu, não adiantou a tática de campanha do candidato do PSDB em tentar criar uma força através do discurso do avanço do que aí se encontra. Não deu por vários motivos, mas principalmente pelo fato de que o partido foi, estes anos todo, feroz adversário do governo Lula. Por isso a disputa se resumiu ao toque entre o a favor ou contra o governo Lula. O debate pode se empobrecer diante do fato maior da crise, isso pode, mas não existe fórmula mágica para retirar da frente do eleitor o fato da economia se encontrar crescendo e de que o Brasil, apesar dos pesares, tem fortes instituições.

Outro dia refleti e até testei a reflexão com alguns políticos amigos: se o crescimento da candidatura Dilma, poderia estimular os eleitores que se opõem ao governo Lula a migrar o voto para a Marina Silva. A reflexão me pareceu frágil por vários motivos, sendo o principal o próprio protagonismo nacional do PSDB quando em face do nanico PV.

Então, o país está analisando dois caminhos para o futuro: um oposicionista, mais liberal, que reduz o papel do Estado, flexibiliza o patrimônio nacional, os direitos trabalhistas e sociais e acredita na virtuosidade da autonomia do mercado. O outro mais social, que usa o Estado para dinamizar a economia, nacionaliza mais as riquezas, atualiza, até de modo desfavorável, os direitos trabalhistas e sociais, mas se sustenta exatamente nisto; acredita no mercado, mas tem a confiança na primazia da política.

Nestas duas vertentes existem muitas opções diferentes, mas que não são hegemônicas no momento. As outras visões podem até crescer e a depender do andar da crise, pois ela se mantém no seu curso de destruição e criação.

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