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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sinais da Guerra - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Os brasileiros ainda não sentiram na pele, mas o centro do sistema capitalista mundial está em crise: EUA e Europa. Estamos apegados ao crescimento da China e a certo protagonismo dos emergentes incluindo os chamados BRICs. Diante de mudanças de fundo enormes, inclusive se tomarmos os dados recentes, com o surgimento, por exemplo, da Turquia nos eventos destes últimos 20 dias, relembrando o velho Império Otomano. Aliás, os brasileiros estão ávidos por turismo na Turquia, inclusive aquele religioso. Tudo isso reflete enormes mudanças em curso.

O pensador português Boaventura de Sousa Santos analisando a situação da Europa identifica o ressurgimento das lutas de classe que haviam se reduzido no continente em razão da social-democracia. Finalmente, nos últimos 60 anos a antiga luta de classe entre o operariado e a burguesia capitalista havia chegado a acordo mutuamente vantajoso para os dois lados: “o capital consentiria em altos níveis de tributação e de intervenção do Estado em troca de não ver a sua prosperidade ameaçada; os trabalhadores conquistariam importantes direitos sociais em troca de desistirem de uma alternativa socialista. Assim surgiram a concertação social e seus mais invejáveis resultados: altos níveis de competitividade indexados a altos níveis de proteção social; o modelo social europeu e o Estado Providência; a possibilidade, sem precedentes na história, de os trabalhadores e suas famílias poderem fazer planos de futuro a médio prazo (educação dos filhos, compra de casa); a paz social; o continente com os mais baixos níveis de desigualdade social.”

Agora com as reformas neoliberais sustentadas pelo capitalismo financeiro, levando ao corte nos benefícios sociais (só este ano Portugal fechará 900 pequenas escolas), redução da proteção aos desempregados e estiolamento dos direitos trabalhistas a luta de classe ressurge, a revolta operária toma as ruas e certamente evoluirá para novas formas de violência. Neste ponto o pensador pondera, ou a classe operária, atualmente fragmentada, se junta aos diversos movimentos da sociedade, faz um articulação continental, pois os Estados Nacionais europeus não mais se sustentam, inclusive desvinculando o capital produtivo do especulativo, ou a saída neste clima é o fascismo.

Robert Fisk, célebre jornalista inglês, em artigo de ontem, analisa a tibieza dos governos e aponta o poder popular de volta à cena política ao comentar a ação de ativistas confrontando o bloqueio de Israel à faixa de Gaza. Isso tudo remete para aquele clima de luta de classes e de grandes articulações na luta popular. Por outro lado a situação dos governos e da política mundial é assustadora e os sinais da guerra estão todos à mostra.

Façamos um paralelo entre o cerco Israelense à Faixa de Gaza e aquele dos exércitos nazistas à cidade de Leningrado que não exageramos. Façamos o mesmo, no reverso, do cerco dos russos a Berlim no final da guerra, quando EUA e Inglaterra tentaram furar o bloqueio para que alemães não fosse igualmente vitimados como haviam sido os russos de Leningrado. Isso é o que se encontra por trás desta questão de gaza.

Agora vejam os sinais de guerra: os EUA, que protegem Israel como uma parte de si mesmo - Israel é cada vez mais algo como um Havai que apenas não vota diretamente nas eleições americanas, mas têm uma enorme influencia recíproca – se comportam do modo mais vil possível. Menos de dez dias após querer sangrar o Brasil e a Turquia por uma missão de paz, humilha a inteligência mundial com seus argumentos diante deste ataque de Israel à flotilha que pretendia furar o bloqueio e realizar ajuda humanitária diretamente. Hillary Clinton anunciou, ontem, a mais incrível das idéias: ela quer uma investigação isenta e clara dos acontecimentos sobre o comando de Israel. Israel é quem deve realizar as investigações e apresentar as conclusões.

Qualquer um que leia os embates diplomáticos do início da segunda grande guerra vai encontrar este mesmo cinismo com a finalidade única de confrontar o inimigo. Israel irá camuflar sua ação de bloqueio com a análise do que deu errado na operação. Mas calma, não é o que deu errado por existir o bloqueio ou ter realizado uma operação ilegal em águas internacionais. O errado que apontarão: são aqueles táticos e a suficiência da força necessária para sufocar, num primeiro momento, a reação dos ativistas. Eles não querem saber do principal, mas apenas apagar os assassinatos cometidos contra bolinhas de gude e estilingues.

Como sempre há vida no lado do povo. O simbolismo que representa a cineasta brasileira Iara Lee (antes que alguém diga, ela tem dupla nacionalidade é, também, americana) nesta frente internacional é importantíssimo para o nosso próprio juízo. Além do mais a carta que o cineasta Silvio Tendler, ele um orgulhoso judeu, fez ao governo de Israel mostrando o dissabor com suas práticas diz bem da capacidade que supera o cinismo e a truculência.

O maior símbolo de todos: é Hedy Epstein, judia, de 85 anos, radicada nos EUA desde 1948, que fugiu da Alemanha Nazista e teve a família trucidada no campo de concentração de Auschwitz. Ela já tentou furar o bloqueio à faixa de gaza três vezes antes. No dia do embarque foi proibida de entrar num dos barcos da flotilha pelas autoridades Cipriotas. Agora tentará tomar um barco Irlandês que ficou para trás por questões mecânicas e rumará para a faixa de Gaza, mais uma vez em desafio.

Os ativistas mundiais estão cada vez mais parecidos que os judeus que resistiram à opressão na segunda guerra mundial.

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