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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cordas de Aço - Cartola e uma Bengala - José do Vale Pinheiro Feitosa

O compositor Zé Nilton toda semana reboca a nossa alma com os sons mais belos da música popular brasileira. É um esforço certamente prazeroso para ele, mas tem uma dimensão de luta pessoal apenas comparável àqueles sertanejos que levam até cinco meses entre encoivarar, queimar, plantar, limpar e colher. É que ele planta sobre uma cultura consumista e fugaz, na qual as próprias pessoas perderam a noção de sua própria permanência.

Quando peguei esta bengala para me postar ereto ao lado desta Cartola, tudo me pareceu sem sentido. Não havia um motivo para publicá-la. Até que pensei no Zé Nilton e agora tranquilamente o faço.
















Quem sabe como o mundo se assenta em nós. Porque esta batida de samba canção fluindo pelo Alto do Seminário e serpenteando no vale pelas ruas da cidade até o Barro Vermelho. Bem no alto o céu estrelado acima da igreja de São Francisco, a cidade e sua mulher desejada. Aquela que trava um gosto amargo, nem precisou da penumbra das ruas mal iluminadas, simplesmente dobrou a esquina, deixando minha alma espichada no curtume.

E sobre os arcos da ilusão acaricio meu violão e a voz solta:

Ah, essas cordas de aço
Este minúsculo braço

E dentro de mim, pelas cordas vocais como um verbo divino, ela ressurge com seu corpo de tecer futuro. As curvas da acústica vida que faz dela um calcanhar que Aquiles tão bem resguardava:
Do violão que os dedos meus acariciam

Ah, este bojo perfeito
Que trago junto ao meu peito

E nestas cordas de aço, travas e notas, encurtando meus momentos desafinados, agravando minha solidão de tempos já vividos e daqueles que teimam ecoar como toda caixa que repercute:

Só você violão
Compreende porque perdi toda alegria

E por me ausentar das multidões e contigo sussurrar as esperanças que ela levou pela esquina quando a dobrou:

E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho

Quando dobrou a esquina e sua presença nos deixou, levou com ela a nossa ausência e, agora, meu pinho, eis que:

Aquela mulher
Até hoje está nos esperando

De pronto em pé e agora que a esquina se desfará nos passos destas notas a subir novamente o Alto do Seminário:

Solte o teu som da madeira
Eu você e a companheira

Na madrugada iremos pra casa
Cantando...

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