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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um holocausto diante dos olhos de cada um - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ontem na CADEG de Benfica (um mercadão cheio de “pé-sujo” com comida ótima) um garçom cearense me dizia: eu sou de Cariré e lá ninguém quer trabalhar mais. Vêm para o Rio, ficam seis meses e chegam lá com uma Hilux (como se vê é o objeto do desejo do cearense). Como pode, só querem roubar. Ninguém pode ter nada que eles tomam.

Quem primeiro levantou o problema foram as seguradoras de automóveis: pessoas seguradas tendiam a ficar mais displicentes com seus veículos. Então as companhias inventaram a partilha do sinistro com o nome de franquia (mas o prêmio não foi partilhado). A esse comportamento humano deram o nome de Risco Moral (Moral Hazard).

A base do pensamento liberal (e os neo são iguais) é que o mercado eficiente funciona por que as pessoas serão felizes pelo que se esforçarão. Estado de bem estar social é como aquele pessoal do Ceará que deseja um atalho pelo roubo e não pelo trabalho. Esquemas coletivos ou mutuais ou de outra natureza como seguros são frouxos por que vicia o cidadão no atalho.

A matriz disso tudo se baseia numa só visão dos seres humanos. São alienados da própria realidade que vivem e não percebem que não existe almoço de graça. É a conclusão com base em meia verdade. O trabalho efetivamente é o grande meio transformador do ser humano. A sua inteligência, o conhecimento do mundo, o poder transformador que como espécie humana tem, além da cultura com língua e tudo é uma potência do trabalho. Por isso mesmo é um besteirol sem limite achar que o Marx sujeitou de modo totalitário todas as coisas à leis da economia política. Mas isso é outro assunto.

Ora aí é que está a meia verdade: vivemos num mundo de classes sociais determinadas pelo apropriação dos capitais. Existe uma classe de gente que trabalha (e quando trabalha), mas leva do trabalho muito mais do que a maioria das pessoas. Elas estão na matriz da volúpia da gastança e da destruição do meio ambiente. Não imaginam o bem comum como igual ao seu. O delas sempre está no topo de uma montanha, com carrões turbinados e gastadores de combustíveis, aviões particulares, ilhas de veraneio, a especulação, o jogo e o desperdício generalizado.

Estas classes se tornam tão poderosas que a democracia é impossível. Vamos fazer um teste? Imagine a Dona da Daslu que desviou uma montanha de recurso em impostos e lesou a sociedade e aquele jovem ladrão que tentou puxar o cordão de ouro do Ministro do STF Gilmar Mendes. Que será apenado com certeza e com todo vigor?

Por isso os jovens de Cariré tentam o atalho. Preferem morrer fuzilado dentro de uma Hilux do que sobre uma moto. Lá na traseira da sociedade desigual, querem chegar ao carro chefe num pulo cujo vôo é tracejado por balas fatais. 80% das vítimas de armas de fogo são jovens, homens, pobres, mulatos ou negros.

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