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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CONVERSA NA BEIRA DO RIO

Foto de Cacá Araújo
Um grupo de pessoas discutia à beira de uma das enormes crateras abertas pela força das águas do Rio Grangeiro, no centro da cidade do Crato. O religioso atribuía o caos aos castigos divinos em virtude dos pecados humanos nesta parte do mundo. Um político que se opunha ao prefeito, vendo que muitos circunstantes os ouviam, soltou, com aquela característica empolgação de palanque, depois de pigarrear ridículo de canastrão, um discurso em que se comprometia a honrar suas responsabilidades de homem público buscando soluções junto a seus aliados nos governos do estado e do país. Já um bêbado, ainda segurando um pedaço de casca de laranja na ponta dos dedos, disse que não acreditava nessa cambada de vereadores, deputados, senadores e nem no governador, pois se eles gastassem a metade do que investiram comprando votos daria para amenizar ou quem sabe resolver o problema. Depois de mais uma golada de cachaça, olhou em volta e perguntou pelo governador. Veio um desses aduladores de plantão e informou que sua excelência estava de férias no exterior, mas que havia mandado seu vice visitar a cidade, e, inclusive, ordenando que despachasse cem mil reais para ajudar no prejuízo catastrófico sofrido pelas famílias e comerciantes. Um estudante ia passando e de imediato protestou alegando que o governador não tinha contrato de trabalhador, mas função de gestor público e que esse negócio de férias não estava correto. Alfinetou, ainda, dizendo ser uma piada, insuficiente e humilhante o valor que o governo havia liberado. Com lágrimas nos olhos, uma professora alertou para a situação das famílias desabrigadas, das crianças e velhos sem agasalho e comida, e conclamou todos a se unirem numa campanha de solidariedade, até que os que se acham donos do poder resolvam ouvir o clamor da sociedade que agoniza e espera. Convicto, o ambientalista afirmou que eram necessárias a completa desocupação e revitalização das áreas onde outrora fora o leito original do rio, construção de moradias em localidades seguras para as famílias removidas, e urgente o combate ao desmatamento da Floresta Nacional do Araripe, proteção de morros e eficiente educação ambiental. Refeito um pouco de sua embriaguez, o bêbado gritou de seu canto afirmando que dinheiro para fazer tudo isso existe, sai do Cariri em forma de vil arrecadação para os cofres estaduais e federais e para retornar em benefício do povo é uma novela sem fim. A prefeitura não tem recursos e eles só liberam considerando a filiação partidária do administrador municipal, somou o nosso ébrio questionador. Um poeta que a tudo assistia tomou a palavra e deu o mote para a conquista do merecido respeito e do atendimento às reivindicações populares: o povo tem que sair às ruas, protestar, exigir a execução de medidas corretas para a reconstrução da cidade e prevenção de novos desastres. Ao redor dos debatedores já estava se reunindo uma multidão de populares, quando recomeçou a chuva e todos se dispersaram temendo a fúria das águas. O religioso se benzeu, segurou forte seu terço, correu e se trancou na igreja ao som de trovoadas retumbantes.

Cacá Araújo
Professor, Folclorista e Dramaturgo
Diretor da Cia. Cearense de Teatro Brincante
Crato-Cariri-Ceará-Brasil, em 1º de fevereiro de 2011.       

2 comentários:

Zé NIlton disse...

Meu caro Cacá.
Você escreveu uma parábola. Inteligente que é, disse tudo da precariedade do problema. Eu não saberia dizer melhor. Até porque há um nariz levantado de todos da atual administração de nossa urbe.Não se pode sugerir, criticar ou apontar responsabilidades. Tudo é levado para questões pessoais.
A imprensa local tem, salvo raras excerções, procurado amenizar a questão dizendo que o "o problema é histórico", como se histórico fosse a complacência com a desgraça humana. Que nada, como você sabe, como bom marxista, que tudo nesta terra é produto de certas construções...
E para não dizer que não falei de flores,agora mesmo eu estou do lado dos empresários Zé Nilton do alto da Bananeira e de Kael, que está investindo na Bebida Nova, e que botou sua máquina para desobstruir a passagem de acesso para além da cascata.
Acabo de fechar um acordo de cooperação com, pela ordem, Jacy (fotógrafo), Zézé (empresário), Roberto Siebra (prof. da Urca), Aurélio (Secretário de Desportos de Juazeiro), Augusto (prof. da Urca), afora os amigos como Nêgo de Abêia, Irene, Nilo Doido, Luciano... e tantos que moram na subida do Sítio Rosto, para "fazer" o acesso, para que possamos transitar até nossas casas.
Isto é demonstração da comunidade em ação, naquilo onde o poder público não aparece (ou só aparece pra buscar votos).
Tenho mais para dizer.
E se não puder dizer no Crato, seguirei a trajetória de uma cidade pequena que o que falta por aqui tem SEMPRE na cidade vizinha. Irei para lá falar das faltas do Crato, sem pejo.
Zé Nilton

1 de fevereiro de 2011 14:03

Zé NIlton disse...

Meu caro Cacá.
Você escreveu uma parábola. Inteligente que é, disse tudo da precariedade do problema. Eu não saberia dizer melhor. Até porque há um nariz levantado de todos da atual administração de nossa urbe.Não se pode sugerir, criticar ou apontar responsabilidades. Tudo é levado para questões pessoais.
A imprensa local tem, salvo raras excerções, procurado amenizar a questão dizendo que o "o problema é histórico", como se histórico fosse a complacência com a desgraça humana. Que nada, como você sabe, como bom marxista, que tudo nesta terra é produto de certas construções...
E para não dizer que não falei de flores,agora mesmo eu estou do lado dos empresários Zé Nilton do alto da Bananeira e de Kael, que está investindo na Bebida Nova, e que botou sua máquina para desobstruir a passagem de acesso para além da cascata.
Acabo de fechar um acordo de cooperação com, pela ordem, Jacy (fotógrafo), Zézé (empresário), Roberto Siebra (prof. da Urca), Aurélio (Secretário de Desportos de Juazeiro), Augusto (prof. da Urca), afora os amigos como Nêgo de Abêia, Irene, Nilo Doido, Luciano... e tantos que moram na subida do Sítio Rosto, para "fazer" o acesso, para que possamos transitar até nossas casas.
Isto é demonstração da comunidade em ação, naquilo onde o poder público não aparece (ou só aparece pra buscar votos).
Tenho mais para dizer.
E se não puder dizer no Crato, seguirei a trajetória de uma cidade pequena que o que falta por aqui tem SEMPRE na cidade vizinha. Irei para lá falar das faltas do Crato, sem pejo.
Zé Nilton

1 de fevereiro de 2011 14:03