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quarta-feira, 21 de maio de 2008

CULTURA E MEIO AMBIENTE

O discurso humano tem repercussão prática no mundo. Tanto no mundo material quanto no espiritual para quem acredita que ele exista. De qualquer modo, a evolução da neurociência consolida uma teoria em que se demonstra claramente que o cérebro humano não é um mero receptor de informações. Ele na verdade reprocessa a informação com a sua própria ótica e reage ao mundo por ela. Então esta vontade interior pode ser o que sempre se chamou espírito, alma, cultura, é a origem do discurso e por ele mesmo, por efeito reverso, também é influenciada.

Esta introdução a respeito da notícia que envolve o Instituto Chico Mendes e a tradicional festa do Pau da Bandeira em Barbalha. Na verdade a ação institucional com normativos externos à região ocorre na prática do mundo real. E faz parte do mundo real a cultura. Nela a vontade dos povos, dos indivíduos em si, mas agora feito vontade coletiva.

Neste contexto é que as políticas ambientais devem atuar. Como parte igual e não sobrenadante à realidade do cotidiano. Não é incomum que a burocracia estatal ou privada se coloque acima, com uma espécie de consciência superior. Particularmente neste assunto da preservação e do desenvolvimento sustentável, isso é notado, especialmente entre aqueles que viram a questão pela primeira vez e antes de todos.

Faz parte da natureza dos primeiros iluminados pela verdade um certo messianismo que pretende arrastar para si, como uma força de gravidade a sua própria consciência. Neste momento não percebem que os outros corpos também possuem a sua própria gravidade e por ela também se influenciam.

Assim a questão do pau da bandeira em Barbalha deve ser encarada. Como uma vontade da cultura regional em diálogo com a preservação da chapada do Araripe. Não pode ser de outra maneira e o Instituto Chico Mendes para melhor se instituir deve compreender que não pode lançar mão do seu poder de polícia para esgarçar o centro de uma das realidades da região. Sem domingos e feriados, o instituto deve dialogar, andar e agir. Jamais o Instituto deve cair naquela falsa premissa que têm a razão e o conhecimento e que precisam fazer "educação ambiental" para o incultos cidadãos do Cariri.

Um comentário:

Armando Rafael disse...

ABAIXO MATÉRIA PUBLICADA NESTA 5ª FEIRA NO "DIÁRIO DO NORDESTE":

Depois de muita polêmica, Ibama autoriza corte de um Angico para servir de mastro da bandeira de Sto. Antônio

Barbalha. Ontem foi cortado o pau que servirá de mastro para a bandeira de Santo Antônio, padroeiro deste município. É um Angico, com 23 metros de comprimento, pesando mais de duas toneladas que foi retirado do Sítio São Joaquim, na Área de Proteção Ambiental do Araripe. O corte do tronco foi acompanhado pelo chefe da Unidade de Conservação da APA-Araripe, Jackson Antero, que justificou a retirada da árvore explicando que o Angico não faz parte das espécies que estão com o corte proibido.

No dia 1º de junho o mastro será carregado nos ombros de devotos de Santo Antônio e fincado em frente à Igreja Matriz, abrindo oficialmente a festa do padroeiro. O cortejo para o carregamento do pau da bandeira reúne cerca de 50 mil pessoas de todo o Cariri. A festa terá prosseguimento, no parque da cidade e na Rua da Matriz, com quermesses, leilões e novenas, até o dia 13, dia de Santo Antônio, com uma grande procissão que celebra também todos os santos padroeiros da cidade e da zona rural.

O ritual do corte do pau da bandeira foi iniciado às 6 horas, em frente à Matriz de Santo Antônio, onde padre Renato Simoneto benzeu os cortadores do pau. O corte só foi iniciado depois das 8 horas com a chegada do analista ambiental da Floresta Nacional do Araripe, Pedro Augusto Monteiro, que autorizou o corte.

Ao redor do Angico, sob o comando do “capitão do pau”, Rildo Teles, os cortadores rezaram um Pai Nosso e uma Ave Maria. O primeiro corte foi por Reginaldo Bezerra, um dos mais antigos participantes do ritual. Em seguida, o machado foi entregue ao capitão do pau. Daí para frente, os cortadores se revezaram até o fim.

O corte foi interrompido, durante quase uma hora, porque a corda-guia, que direciona a queda da árvore, quebrou-se. Os carregadores tiveram que esperar outra corda que veio da sede de Barbalha.

Depois do corte, o Angico foi arrastado pelos cortadores até uma vereda, onde um trator puxou o tronco até a chamada “cama do pau”, onde a madeira é colocada para secar, a fim de ser carregada, posteriormente, pelos devotos no próximo dia 1º de junho.

Tradição

Após o corte, o ambientalista Pedro Augusto disse que não houve nenhum dano à natureza. O representante da Floresta Nacional do Araripe defende o corte do pau como uma tradição religiosa que está arraigada à cultura do povo. Ele diz que discussão em torno do assunto é uma forma de chamar a atenção da comunidade sobre a necessidade de preservação do meio ambiente.

O corte do mastro da bandeira foi antecedido de um debate em torno da devastação ambiental causada pela presença dos carregadores dentro da mata. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sugeriu que, ao invés de cortar uma árvore nativa, fosse utilizado um Eucalipto. Foi proposta ainda a utilização do mesmo pau nas diversas festas de padroeiros realizadas no âmbito do município.

O capitão do pau explicou que o corte faz parte da tradição religiosa do povo. “Os carregadores não aceitavam trocar o mastro pelo Eucalipto. Além disso, o ritual do corte faz parte da festa”, justificou. Rildo mostrou que não há devastação. Enquanto era feito o corte do Angico, garis da Prefeitura de Barbalha faziam à limpeza do local na mata nativa.

Enquete
O que o Sr. acha do corte do Angico para a festa?

Antônio João de Lima
21 ANOS
Carregador
"A festa é do povo. A minha maior alegria é cortar e carregar o pau da bandeira de Santo Antônio. É nossa religião."

Antônio Roberto de Souza
32 ANOS
Jogador
"A festa é um orgulho para a cidade. Esta tradição não pode se acabar. O ´Viva Santo Antônio´ manifesta alegria."

Gilberto Timóteo
44 ANOS
Radialista
"O corte não é tradição religiosa. Há 10 anos, este corte era feito discretamente por dez pessoas. Agora, virou festa."

ANTÔNIO VICELMO
Repórter

Mais informações:
Unidade da APA-Araripe
Praça Filemon Teles, (88) 3521.5138
Rildo Teles, capitão do pau
(88) 9966.4215