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domingo, 29 de junho de 2008

Obrigado, Violeta - por Tasso Jereissati ("O Povo" 29-06-2008)


É certo que temos muitos exemplos de mulheres que se destacaram nas artes, outras tantas comandaram grandes movimentos e programas sociais, muitas mais brilharam na vida acadêmica e na intelectualidade. Há também aquelas que se destacaram na política e hoje mais da metade dos cargos executivos de grandes empresas é ocupada por mulheres. Entretanto, confesso que não me vem à memória alguém que tenha se destacado tanto, e durante tanto tempo, em tão variados setores da vida nacional, quanto Violeta Arraes. Do Araripe onde nasce, passando pelo Recife, pela PUC do Rio de Janeiro até o Centro Internacional de Economia e Humanismo, na França, onde conhece seu marido Pierre Maurice Gervaiseau, Violeta construiu as bases de sua cultura universal.

Nela o refino intelectual europeu serviu principalmente para a compreensão da realidade brasileira, em todos os seus aspectos. Por outro lado o seu ser sertanejo nativo, não a deixava conformar-se, indo fundo na busca das causas e razões de nosso atraso, para depois tentar mudar esta mesma realidade. Nesse sentido, Violeta era múltipla, agia em todas as áreas em que de alguma forma, pudesse emprestar sua força e seu talento contra tudo que ela considerasse errado ou injusto.

Houve uma Violeta que conheceu o ainda Padre Helder Câmara, tornando-se sua assistente no Secretariado Nacional da Ação Católica. Outra Violeta que vai se dedicar às causas da educação, iniciando, com Paulo Freire, o Movimento de Cultura Popular, enveredando inclusive pelos caminhos do cinema novo e nos movimentos literários da vanguarda de então. Havia ainda a Violeta que vai se engajar politicamente trabalhando, ajudando e aconselhando seu irmão Miguel Arraes em inúmeras campanhas, mandatos e governos. É a mesma Violeta que vai lutar pela liberdade, pela anistia e pelo retorno à democracia. A Violeta do exílio, mão amiga de tantos despatriados, ainda encontra tempo para exercer a psicoterapia, na Clínica do renomado Dr. Widlocher.

Surge então a Violeta que se torna adida cultural da embaixada brasileira em Paris, criando o Projeto Brasil - França, que entre inúmeras iniciativas e movimentos artísticos e culturais, dá luz e vez à cultura nordestina. Vem então a Violeta Arraes que eu vou ter o privilégio e a honra de convidar para ser Secretária de Cultura do Estado do Ceará em 1988. É bom lembrar a situação do Estado, sem dinheiro nem para pagar a folha salarial. Violeta assume o desafio, com vitalidade juvenil e projetos revolucionários. À falta de recursos, ela emprestou seu nome e credibilidade junto a entidades internacionais de apoio à cultura, obtendo verbas para inúmeros projetos, revolucionando conceitos e estruturas.

O mais marcante, o que pode resumir o que representou o trabalho de Violeta para o Ceará, foi a recuperação do Theatro José de Alencar, um símbolo para os cearenses, que se encontrava completamente abandonado. É dela o mérito de tudo de positivo que representou o renascimento daquele templo da cultura cearense. Não se tratava apenas da obra em si. Violeta idealizou uma série de projetos paralelos como os cursos de recuperação de obras de arte, em pintura e escultura, em madeira, ferro, bronze. A População vibrava e acompanhava de perto a obra e os projetos paralelos, num misto de descoberta e orgulho.

Foi memorável o espetáculo de reinauguração do Theatro, idealizado por ela, em que o Maestro Koellreutter conduziu uma peça composta especialmente para a ocasião, que foi "executada" pelos operários da obra, utilizando os seus próprios instrumentos de trabalho.

Houve tempo ainda para a Violeta Reitora, dedicando os últimos anos de sua vida à Urca, onde distribuiu seu vasto conhecimento, formando gente e inspirando sonhos. À todas essas Violetas, o Brasil e em especial o Ceará hoje rendem homenagem, reconhecendo a força e o trabalho de uma mulher admirável, que vai fazer muita falta. A todas elas, o nosso muito obrigado.


Tasso Jereissati - Senador/PSDB-CE

Um comentário:

Dihelson Mendonça disse...

O Senador Tasso Jereissati fica lindo com essa estátua de Padre Cícero por trás, colocada ali, até parece que ele é um profundo devoto do padre.

Que Lindo!!!
Fiquei Emocionado!

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