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terça-feira, 10 de junho de 2008

VIDA E MORTE DO JORNALISMO

Robert Fisk, jornalista inglês do The Independent, é a expressão exata que aindaesperança nesta selva de "versões", de "servilismo", de "ativismo" que tenta manipular os fatos para sustentar determinadas políticas de Estado ou de classes sociais e econômicas. Fisk é o correspondente do jornal no Oriente Médio, faz jornalismo como referência humana, como sistematização de regras e instrumento da reflexão dos seus leitores sobre os fatos. Em recente artigo Jornalismo’ de dizer o que é... como se não fosse*, traduzido no blog do Bourdoukan é lição de como as velhas práticas do nazifascismo e do stalinismo ainda são prevalentes no jornalismo mundial, especialmente o americano. Isso ele não disse, mas é muito evidente nas revistas semanais brasileiras e nos jornais diários. Vejam como ele vai fundo nesta questão:

"A cobertura manipulada torna mais fácil aceitar a guerra, e, há muito tempo, os jornalistas tornaram-se cúmplices dos políticos e governantes, no trabalho de tornar aceitáveis, para os públicos audientes e leitores, o conflito e a morte. O jornalismo de televisão, assim, se tornou armamento letal, adjunto no ofício de matar.

Antigamente, ainda podíamos crer – e cremos, não foi? – que os jornalistas devíamos “dizer o que é como é”. Leiam o grande jornalismo de guerra da 2ª Guerra Mundial, e entenderão o que digo. Os Ed Murrows e Richard Dimblebys, os Howard K. Smiths e Alan Moorheads não algemavam as próprias palavras nem mudavam os fatos que narravam, nem se engasgavam com a verdadeporquealgum leitor ou ouvinte ‘preferia’ não saber ou ‘preferia’ saber coisa diferente do que de fato acontecera.


Portanto, é preciso dizercolônia”, para o que é colônia; “ocupação” é ocupação; “muro” é MURO. Um dos últimos modos humanamente decentes de reportar a realidade da guerra é fazer-ver que guerra não é questão de vitória ou derrota. A guerra sempre é manifestação horrenda do total fracasso do espírito humano. Sempre é."


Com estas palavras Fisk encerra o seu artigo que se referia ao diálogo que tivera com um colega americano por ocasião da mudança deste do Oriente Médio. Achando que o colega iria com a sensação de ter perdido um grande assunto, Fisk ficou surpresa com a sua resposta: "guardasse meus lamentos para o jornalista que viria substituí-lo. Que partia com sensação de enorme alívio. Que, longe do Oriente Médio, estaria livre da tarefa de alterar a verdade, porque a verdade irritava muito alguns leitores muito falantes, do seu jornal."


E o colega de Fisk enumerou uma série de "censuras" nas palavras que eram promovidas com a finalidade de modificar a realidade em benefício do agente agressor. "Sempre escrevi que o Partido Likud, de Israel, é “da direita” – ele continuou. “Masalgum tempo meus editores insistem para que eu não escreva... o que eu escrevia. Muitos leitores têm protestado.” E daí?, perguntei. “Daí... O jornal aboliu a expressão “da direita”, se se fala do Likud.” E assim a semântica para enganar foi ocorrendo por exemplo quando se fala na expropriação de terras dos palestinos: "colônias" virou "assentamento" que virou "bairros judeus". Do mesmo modo "terra palestina ocupada" virou sob a égide do ex-secretário Colin Powell "território disputado". O "MURO" que se constrói para separar os palestinos, invadindo o território deste povo, devido ao mal estar do Muro de Berlim, se tornou "barreira de segurança". Falando a respeito Fisk: "Assim, os palestinos que protestem violentamente contra cerquinhas e portões ficam automaticamente estigmatizados como pervertidos ou loucos. O modo de usar a língua escrita e falada contribui para a condenação dos palestinos."

Fisk lembra muito bem da semântica que diariamente inunda nossos jornais televisivos, em diversos assuntos, especialmente na guerra do Iraque: "Jornalistas dos EUA, praticamente todos, falaram emsoldados dos EUA”, nos primeiros dias do levante no Iraque — referindo-se às tropas norte-americanas invasoras; e falaram sempre emrebeldes”, “terroristasouremanescentes”, ao se referir ao regime deposto."

Quando recordo este tipo de matéria aqui no nosso blog regional, não pretendo levar ninguém à exacerbação. Não tenho a intenção de dizer que estas técnicas são males de uma determinada ideologia ou política. Apenas quero dizer que isso faz parte da massa de informações que recebemos diariamente. Que nenhum povo do mundo tem o passe livre apriorístico de uma vez tendo sido vítima de tais falácias, não as venha, também, cometê-las. Espero apenas que nosso espírito crítico seja qualificado sobre tais coisas, para que possamos nos humanizar ainda mais no sentido da nossa liberdade de expressão e de construir um futuro mais real e mais igualitário.

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